Era
estudante no Rio de Janeiro quando li nos jornais do Centro Acadêmico, as
primeiras notícias sobre o desvio do Rio São Francisco, carinhosamente chamado
pela população nordestina de o “Velho Chico.”
No
governo anterior de um nordestino, o assunto foi revitalizado, discutido,
debatido. Uns querendo, outros não, culminando com a greve de fome de um
religioso da região, inimigo mortal do desvio do Velho Chico.
O
poder do governo, sustentado por indicadores de pesquisas que deixavam o
presidente à beira da unanimidade, empurrou o início das obras.
A
palavra desvio foi substituída por transposição. Então a obra ficou conhecida
como transposição das águas do Rio São Francisco. Era um dos temas da campanha
presidencial.
Confesso
que, no momento, ou as obras estão muito aceleradas e em vias de serem
inauguradas, ou foi mais uma obra bilionária cancelada neste maravilhoso país
das fantasias.
Há
tempos não tenho notícias sobre o andamento desse projeto. Pelo silêncio, acho
que não vingou – acometido, talvez, do mesmo mal que atingiu o PAC I e PAC II
em Cuiabá: “inanição financeira.”
O
secretário de Fazenda do Estado, em entrevista coletiva, anuncia o desvio de
dinheiro dos cofres do bem protegido Tesouro do Estado.
Levei
um susto danado, pois, desvio, para mim, era de trajeto de águas. Desvio de
dinheiro público é um eufemismo para roubo.
Qualquer
alteração no desvio do Velho Chico, a imprensa noticiava e ecologistas
debatiam. O desvio das águas era visto a olho nu.
Desvio
de dinheiro público de um cofre fechado, onde poucas pessoas sabem onde fica e
somente alguns têm a senha para abri-lo, mereceu uma educada informação do
secretário aos donos do dinheiro, que são os pagadores de impostos.
Houve
desvio. Foi de lascar essa correta e transparente comunicação! Se o desvio de
um rio produzir seca em pequeno trecho, ou inundação, todo mundo vê e denuncia
em tempo real. Providências são tomadas e cobradas para sanar o problema.
Dinheiro
público desviado de um cofre forte, ninguém vê, ninguém sabe quando começou e,
o pior, ninguém sabe o valor do dinheiro vazado.
O
governo explica, ou tenta explicar, que este desvio vem acontecendo há muito
tempo, e, por isso, é quase impossível determinar, com exatidão, quando tudo
começou.
As
ruas, entretanto, comentam, com exatidão, quando tudo iniciou - com dia e hora
marcada.
Providências
do governo acerca do roubo: “serão feitos cuidadosos levantamentos para se
avaliar a extensão do tal desvio de dinheiro do cofre forte do Tesouro do Estado.”
Quando
todos se esquecerem dessa denúncia do secretário de Fazenda, os membros da
comissão de levantamento, que a esta altura já incorporaram esse trabalho no
seu holerite, darão o seu parecer.
Provavelmente
sem um diagnóstico conclusivo por falta de provas, e um suspeito: O velhinho
que vendia picolé de groselha.
Gabriel
Novis Neves
25-01-2012
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