Quando
menos esperava fui surpreendido por um acontecimento mágico. Após mais de meio
século, reencontro alguns colegas de turma da Faculdade de Medicina da Praia
Vermelha.
Ao
terminar o meu curso, em 1960, fiquei quase cinco anos no Rio preparando-me
para retornar ao interior.
A
minha efetivação, por concurso, como médico do Estado da Guanabara em 1961 foi,
a princípio, um fator determinante para que eu pudesse ser médico, e não,
especialista prematuro.
Espichei
então a minha permanência no Rio.
Trabalhava
também em uma maternidade em Jacarepaguá e era residente do hospital Pro Matre.
Na verdade eu era chefe do plantão da maternidade fundada por Fernando
Magalhães e dona Stella Guerra Duval.
A
turma era enorme e eu sabia que meus colegas, alguns mais próximos que outros,
tomariam rumos diversos. A grande maioria retornaria à sua cidade natal.
Existiam
grupos com mais vínculos de amizade: o grupo do CPOR, onde vivíamos como irmãos
de verdade; o grupo das várias equipes de plantão; o grupo dos interioranos,
com pouco dinheiro - habitantes das inúmeras pensões, cuja capital era o Largo
do Machado.
Havia
também a turma dos comensais do restaurante do SAPS da Universidade e, nos domingos
e feriados, do Calabouço.
A
nossa turma era basicamente formada de meninos. As meninas eram de número
reduzido, mas o suficiente para despertar paixões impossíveis.
Como
o mais tranquilo e sensato do grupo da pensão, após reunião prolongada, resolvemos
aceitar a realidade: a colega cobiçada pela classe não era menina para o nosso bico.
Também pudera! Andávamos sempre pendurado em estribo de bonde, comíamos no SAPS
e, não tínhamos um tostão extra para convidá-la a tomar, pelo menos, um
sorvete.
A
bossa nova estourava no Rio, assim como os grandes espetáculos do Walter Pinto
e do Carlos Machado.
Sapeávamos
muitos ensaios da boate Casablanca, que ficava próximo à nossa escola, e no
início da estação do bondinho para o Morro da Urca.
Daquela
enorme turma, quase todos se comportavam como as abóboras na carroça. Diz a
lenda que as abóboras estavam todas desarrumadas dentro da carroça. O cocheiro
nem olhava para trás, mas, à medida que a viagem prosseguia, os próprios
solavancos da carroça fazia com que as abóboras se acomodassem em seus devidos
lugares.
Assim
fomos nós. Apesar dos solavancos da vida, chegamos com relativo conforto ao
final da nossa viagem.
Muitos
colegas nos abandonaram prematuramente, por desígnios que a vida nos apronta.
Muitos, se “perderam” por esse imenso Brasil.
Sou
um dos perdidos - morando há 47 anos no antigo Portal da Amazônia.
Os
colegas do Rio nunca se esqueceram de nós. Sempre marcam uma reunião para
comemorar a convivência de seis anos. Só pude comparecer à festa dos 20 anos de
colação de grau.
Não
éramos mais os mesmos. Muitos que compareceram trabalhavam com os mesmos
valores. Aprendi que “é preciso mudar muito para ser sempre o mesmo”.
Deixei
o ambiente do reencontro com sentimento de tristeza. Aquela foi a única e a
última festa em que compareci.
Agora,
após outros longos anos de distanciamento, a comunicação com alguns antigos
colegas foram restabelecidas. Era o início de uma série de surpresas agradáveis
de um reencontro. Os momentos felizes não voltam mais, porém jamais serão
esquecidos.
Através
da Internet consegui resgatar a companhia – ainda que virtual – de colegas da
faculdade.
Em
pouco mais de uma semana desse reencontro, que não foi planejado nem
programado, tenho certeza que a distância não mata emoções e que ela – a
distância - não é inimiga do verdadeiro sentimento da amizade.
Melhor
que o Jacó que serviu Labão, pai de Rachel na poesia de Camões. Acho que
esperaria mais outro meio século para viver a felicidade que sinto neste
momento.
Gabriel
Novis Neves
09-04-2012
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