segunda-feira, 14 de maio de 2012

Produtividade médica


É uma terminologia recente essa história de produção de serviços médicos.
Acredito que o termo, produtividade médica, tenha surgido no período auge do prestígio dos economistas na década de setenta, quando o bolo teria que crescer para depois se distribuir à população faminta.
A produtividade médica tinha uma meta. O médico teria que atender, em um período de quatro horas de contrato, dezesseis pacientes.
Geralmente, a divisão era mais ou menos assim: atendimentos de primeira vez, consultas de retornos e alguns acompanhamentos especiais.
O importante era atender os dezesseis pacientes no período estabelecido. Muitos colegas conseguiam atingir a sua produtividade em cinquenta minutos. Deixavam o posto de saúde, pois o seu trabalho estava cumprido, e eram avaliados como excelentes profissionais pelos gestores da saúde – grande parte deles, leigos no assunto.
O colega que cumpria as quatro horas de contrato no posto, e atendia de três a quatro pacientes, era mal visto pelo pessoal do posto e tido como preguiçoso pelos gestores.
Na produtividade médica, nunca é considerada a qualidade, e, sim, a quantidade de pacientes atendidos. O fator produtividade médica, até hoje em vigor e com direito adquirido de permanecer para sempre, é um dos fatores que não deve ser esquecido quando se avaliam a péssima qualidade dos serviços médicos, especialmente os públicos.
Um dos municípios mato-grossenses retrata bem a situação da saúde pública no Estado. Apenas para ficar registrado, este município, no momento, recebe especial ajuda financeira do governo do Estado para a saúde pública; tem uma ONG mantida pelo Estado para administrar o seu hospital Metropolitano, por absoluta incompetência dos gestores municipais; provocou, por falta de condições de trabalho e atraso no pagamento dos seus médicos, a maior debandada de demissões na história do município, além de projetá-lo nacionalmente com um especial do JN no Ar, mostrando a verdade da saúde de urgência e emergência para todo o Brasil.
No município em questão o PSF é uma enganação e as policlínicas não funcionam por falta de estrutura, de medicamentos e de médicos. Esta é outra das realidades escondidas.
Certo dia, o responsável pela saúde pública naquele município, ao ser questionado por jornalistas do porque da calamidade em que se encontra esta área de atendimento social, respondeu com esta pérola: que tudo estava praticamente resolvido, só faltava a colaboração dos médicos que não cumpriam com a sua produtividade – vale aqui repetir: médicos com salários atrasados e trabalhando em ambientes inadequados.
Entenderam o que é produtividade médica para um gestor comercial?
Eu respondo: apenas uma nota fiscal com o número de pacientes pobres atendidos.

Gabriel Novis Neves
27-04-2012
* Publicado simultaneamente no www.gnn-cultura.blogspot.com

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