quinta-feira, 31 de março de 2011

Rei da Jordânia

O presidente Obama e família escolheram o último final de semana do verão carioca, para uma visita ao Brasil.

A primeira parada, lógico, foi em Brasília, para as formalidades habituais.

A GloboNews reuniu em seu estúdio todo o corpo docente de direito internacional, religião, estratégias militares, economistas, para as suas categorizadas análises, muito interessantes ao povo brasileiro. A Rede Globo fazia a transmissão de cinco em cinco minutos.

O povo brasileiro ficou sabendo, por exemplo, que o presidente americano é vegetariano. Já a sua esposa, segundo fontes oficiais, adora uma boa picanha.

Enquanto o homem mais poderoso do mundo cumpria, exemplarmente, o protocolo de visita de um chefe de Estado de país civilizado, a sua companheira, segundo as mesmas fontes, mesmo sendo doutora pela universidade de Harvard, divertia-se com os capoeiristas contratados pelo Itamarati.

Nossa gentil presidente convidou para o encontro com o presidente visitante, todos os ex-presidentes, assim como os governadores dos Estados.

Uma pena a ausência do cara! Esqueceram de avisá-lo que, mesmo ex, teria direito a um tradutor, a exemplo do romancista da Academia de Letras e o nosso famoso ex-topete.

Terminado a necessária introdução diplomática em Brasília, a família Obama deslocou-se para a Cidade Maravilhosa onde pousou na Base Aérea do Galeão.

Daí embarcou no furgão-helicóptero da Marinha Americana, com destino final no gramado do Flamengo, onde foi presenteado pela presidente do clube com uma camiseta vermelha e preta.

Obama não imitou o gesto do nosso ex que, sempre ao ganhar um mimo desses, imediatamente fazia uso do presente recebido. Ao longo dos últimos oito anos, pudemos presenciar o nosso ex com bonés, camisetas, chapéus, faixas comemorativas do campeonato brasileiro de futebol - para a felicidade geral dos fotógrafos, e do ex, muito chegado a um holofote.

Uma coisa logo chamou a atenção dos brasileiros. A primeira-dama americana fala! E fala de tudo, de educação infantil a armamentos nucleares. Ficaram hospedados em Copacabana - não no Palace.

Depois da fala de improviso - concisa e curta - no Teatro Municipal, foi passear pelos pontos turísticos do Rio. Mandou avisar ao governador e ao prefeito que não gostaria de ser fotografado ao lado deles.

O nosso Cristo Redentor foi privatizado para receber Obama e seus familiares. Nenhuma foto com aqueles pássaros, chamados de papagaios de pirata.

O Presidente dos Estados Unidos escapou de um passeio pelo piscinão de Ramos, mas não conseguiu evitar uma visita pelas favelas do Rio. O Brasil adora mostrar suas singularidades!

Finalizada a visita ao Brasil, o presidente americano continuou a sua tournée pela América do Sul, e foi para o Chile. No embarque, nada de fotos de despedidas.

No outro dia cedo, sintonizado na rádio Jovem Pan de São Paulo, escuto o âncora do programa conversando com o correspondente em Washington. Este relata que todos os jornais americanos e as principais redes de televisão dos Estados Unidos, concederam generosos espaços para enaltecer as belezas naturais do Rio de Janeiro.

Ao concluir o seu boletim internacional, mostrando como que o mundo viu Obama no Brasil, uma decepção.

Segundo analistas políticos americanos que acompanharam o presidente americano, o fato mais importante acontecido no Brasil durante a sua visita, foi ele ter atendido a um telefonema do Rei da Jordânia.

Gabriel Novis Neves

22-03-2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

FILA

Leio na revista Veja, de 23 de março de 2011, na página 10, uma notícia que me chamou a atenção como médico e conhecedor do funcionamento do SUS.

Todo o povo brasileiro sabe que, o teoricamente, fantástico SUS, na realidade não funciona.

Tanto é verdade, que nenhum defensor do SUS, principalmente os políticos de Brasília e dos Estados e integrantes dos outros poderes, jamais procuraram o SUS, nem para um simples curativo.

O sucateamento do SUS, que é o plano de saúde de todos os cidadãos brasileiros, só é procurado pelos pobres e miseráveis.

Repito, o problema da saúde é nacional, e o próprio governo Federal chuta a Constituição Brasileira - “A saúde é um direito de todos e um dever do Estado.”

Há um ano trocamos o governador de Mato Grosso, com a saída do titular para assumir uma carreira solo, bem distante dos nossos problemas.

O novo governador interino, em plena campanha para a reeleição, foi obrigado a engolir cobras e lagartos. Tudo estava perfeito e funcionando muito bem em nosso Estado.

Algumas pequenas trocas foram efetuadas visando sempre o ganho político.

Convida para o cargo de Secretário de Saúde um dos médicos mais conceituados de Cuiabá, e reconhecido nacionalmente como um bom gestor em saúde.

No dia da posse, promete implantar o Programa Fila Zero para cirurgias eletivas. Tínhamos à época um numero vergonhoso de pacientes, numa fila que não andava.

Sabem como se encontra esse programa? O Secretário de Saúde não ficou um mês no posto, pedindo para sair sem dizer uma palavra de público.

Assumiu o seu lugar um bom gestor, não médico, e sem poder político.

A Fila do “Programa Fila Zero” para cirurgia proliferou de tal monta, que hoje temos 10 mil infelizes, aguardando por uma cirurgia eletiva.

Há quase três meses, o secretário é um médico, com carteirinha de deputado Federal.

Político experiente, o nosso colega secretário logo fez o diagnostico da saúde pública em nosso Estado. Começou a denunciar as coisas mal feitas nos últimos oito anos.

Foi lembrado que não poderia fazer isso, pois afinal era um governo de continuação em que todas as áreas da administração foram bem atendidas.

Nosso secretário que é médico legista do Estado fez a verificação de óbito no cadáver da nossa saúde.

Causa mortis: falência múltipla dos serviços públicos.

Com essa informação privilegiada, não seguiu o exemplo dos outros seus três colegas, que somando os seus mandatos, não conseguiram ficar dez meses no cargo.

Encontrou uma ótima saída política: jogar nas costas da Organizações Sociais (OSs), a responsabilidade sobre a gestão da saúde em MT.

Essa é uma pequena fotografia da saúde no Brasil.

Transcrevo a matéria da Veja: “Uma mulher de 38 anos, no início de abril vai se deitar em uma mesa cirúrgica para se submeter a um procedimento que transformará o seu corpo. De lá, ela sairá sem útero, ovários e trompas. Em data ainda a ser definida, passará pela extração das mamas. As cirurgias serão todas custeadas pelo SUS”.

Longe de mim a intolerância ou o preconceito. A medicina existe para minorar o sofrimento humano, tanto orgânico, quanto emocional, e a Constituição Brasileira garante a todos o tratamento pelo SUS.

Causa estranheza que uma cirurgia complexa para a retirada de órgãos sem nenhuma patologia gerando risco de morte fure a fila, e um portador de câncer do pulmão, fique meses na fila para fazer uma simples broncoscopia, para com o resultado histológico, iniciar a desesperada luta pela vida.

Todos os pacientes têm os mesmos direitos perante a Constituição. A única função do médico é disciplinar o atendimento.

Se, hipoteticamente, tivesse uma única vaga para cirurgia, diante desses dois casos, daria oportunidade ao paciente com câncer de pulmão.

Não seria notícia na Veja.

Gabriel Novis Neves

25-03-2011

* Publicado simultaneamente no www.gnn-cultura.blogspot.com

terça-feira, 29 de março de 2011

Lei do menor esforço

É muito difícil, no Brasil, revogar leis indecorosas, indecentes, ilegais, imorais, egoístas, colonialistas, como as que são manchetes da grande mídia, ou melhor, de quase toda a mídia.

Em países mais sérios, essas leis jamais existiriam. Por “descuido da natureza,” por aqui, nascem muitas dessas leis, concebidas para privilegiar, às vezes, um senhor.

É histórico o nosso envolvimento com esse tipo não republicano de leis estapafúrdias.

Não retrocedendo muito, no império a nobreza achava que o que realizava era bem superior às realizações dos não nobres, e só legislava para si.

Temos países com reis, rainhas, príncipes e princesas que nunca trabalharam; vivem dos generosos impostos pagos pelos súditos.

Todos os nossos governantes possuem em seus currículos centenas dessas leis por eles elaboradas.

Lembro-me da famosa lei de Vargas, que visava impedir a saída do Brasil de uma criança com a sua mãe. Motivo: o DNA da criança era o do temido dono dos Diários Associados! Pois bem, essa lei só seria aplicada nesse caso.

Essas leis direcionadas produzem, quando não anuladas, o aparecimento futuro de verdadeiros monstrinhos.

No momento só se comenta a aposentadoria de ex-governadores. O acúmulo delas com outras atividades públicas extrapolam, e muito, o tal do teto salarial constitucional. Tem também a aposentadoria daqueles que passaram por uma casa de leis, mesmo de relâmpago.

O problema, digamos, técnico, dessas aposentadorias, é que o trabalhador comum tem que descontar de 30 a 35 anos para a Previdência Social para alcançar o benefício.

Há dois meses o governador atual teve a coragem de anular alguns decretos, piores que as leis. Parabéns, governador!

A lei mais utilizada hoje pelos detentores do poder, e anexos, é uma lei antiga, porém jamais esquecida: a famosa “Lei do Menor Esforço” para se vencer na vida.

Para vencer, há necessidade de trabalhar. Para qualquer tipo de aprendizado há uma regra infalível: 90% é esforço e 10% é talento!

Os gênios ficam na excepcionalidade, e não como os que são chamados assim pelo seu pai, como em caso recente.

Não vejo genialidade em se pagar, a um funcionário público, salário superior ao permitido pela constituição, chegando, em alguns casos, ao quádruplo desse valor, como os tais benefícios do Brasil Colônia.

Ganhei de um filho um iPad de última geração. Estou aprendendo a trabalhar com a nova máquina. Que sacrifício memorizar na minha idade os milhares de comandos do pequeno aparelho!

Gostaria de usufruir das conquistas do meu presente sem tanto trabalho, esforço e dedicação. Nesses casos, a lei não resolve. A lei do menor esforço é para privilégios a pequenos grupos de burocratas oficiais. Vou ter que estudar a vida toda, trabalhar com afinco, para não ser ultrapassado pelos avanços e conquistas tecnológicas. Os benefícios pelo esforço realizado compensam.

A lei do menor esforço não funciona no ensino-aprendizagem, mas é indispensável nas leis das maracutaias.

Gabriel Novis Neves

31-01-2011

segunda-feira, 28 de março de 2011

VIOLÊNCIA

Toda a população da ex-Cidade Verde está apavorada e preocupada com a violência que tomou conta da velha capital. E esta preocupação se estende a toda a população do Estado.

Percentualmente, a nossa classificação no mapa da violência surpreende até o mais otimista dos cidadãos.

No Brasil estamos no grupo dos oito Estados de maior criminalidade – que é imbatível na modalidade Caixa Eletrônica.

Em termos mundiais frequentamos a lista dos países árabes em conflitos.

Muitas autoridades colocam na conta do reduzido número de policiais a causa para a violência reinante. Também pudera! Um número expressivo deles está na segurança das nossas autoridades e familiares. Outro grupo, nada desprezível, se dedica ao trabalho burocrático.

E o pagador de impostos só vê nas ruas policiais trabalhando para melhorar o caixa do DETRAN.

Nas grandes visitas que a cidade recebe como a de funcionários da FIFA, todo o batalhão vai para as ruas, com radinho no ouvido, e até o helicóptero sai feito barata tonta sobrevoando o cortejo.

No mais, a nossa cidade está à mercê dos bandidos de todas as espécies.

Há uma crise muito séria de insatisfação na outrora famosa Polícia Civil de Mato Grosso.

Para relembrar: o serviço da polícia civil está centrado no delegado, investigador e escrivão. São todos portadores de curso superior, e o seu ingresso no serviço público é feito mediante concurso.

O novo estatuto dos delegados de polícia, aprovado em janeiro, marca uma vitória desses profissionais.

Os seus salários foram vinculados ao do governador do Estado. Iniciam a carreira num patamar digno profissionalmente, recebem um incentivo de produtividade - baseado no desempenho dos investigadores e escrivães -, e se aposentam com o salário de governador.

Estão satisfeitos, nada a reclamar.

Em compensação, os seus subordinados vivem no inferno dos descontentes. De todos os servidores do Estado, com nível superior e com carga horária semanal de 40 horas, são os de salário mais baixo, segundo pesquisa realizada pelo seu sindicato.

No holerite dos investigadores e escrivães, o valor bruto é de cerca de dois mil reais. Líquido, que é o que interessa, os reais ficam bem abaixo da linha dos dois mil.

Não possuem qualquer tipo de incentivo, nem plano de saúde. Os seus trabalhos são de risco - prender bandidos e interrogá-los.

Os antigos peritos ganham mais e estão na secretaria de segurança.

Essa gente para sobreviver se vê obrigado a fazer bicos, e é aí que mora o perigo: polícia fazendo bico, não dá certo.

O policial tem que ter um salário digno, e ser policial em tempo integral, até se aposentar.

Essa dupla militância não é favorável à sociedade. Acredito que essa parte tem que ser estudada, pois considero essa distorção um dos motivos do aumento da violência na cidade da Copa.

Insatisfação no trabalho é uma forma de violência.

Dá para estudar esse assunto? Antes tarde do que nunca.

Gabriel Novis Neves

01-03-2011

domingo, 27 de março de 2011

Idade

Sou o primogênito de uma família de nove irmãos. Com exceção de três meses por ano, estamos sempre comemorando o aniversário de um dos nove. Considerando que todos são casados, e com inúmeros descendentes, os aniversários entre nós passaram a ser comemorados duas vezes por semana.

Já estamos na quarta geração da “dinastia” Irene – Bugre. Uma família bastante numerosa. Pois bem. Fui ao aniversário da minha irmã número cinco, em companhia do meu irmão número três. Na manhã seguinte à festa, mal o dia começava a raiar recebo um telefonema. Era minha irmã número dois. Queria saber as novidades da festa, pois não pudera comparecer - ficara cuidando do meu cunhado número um recém-operado. De cara foi logo me perguntando se o irmão número três tinha comparecido à festa. Claro que sim, respondi. E você também foi? Quis saber ela. Ora bolas! – retruquei – eu sou o acompanhante oficial dele, se eu não fosse ele também não iria. Dando prosseguimento ao interrogatório, me pergunta se tinha muita gente presente e quem estava lá. Mais uma vez sacio a sua curiosidade. Não sei muito bem o que ela entende por muita gente, mas para simplificar a conversa matutina respondi que não havia cadeira vazia. Parece que ela ficou satisfeita com a resposta. Agora, quanto a citar o nome de todos os presentes, aí já era abusar do meu senso de observação e lhe informei que era impossível citá-los.

Imaginando estar a minha irmã número dois satisfeita com o relatório, estava eu prestes a dar por encerrada a conversa, quando recebo o golpe fatal na minha santa paciência: a irmã número cinco compareceu? Ela me perguntou, e eu não acreditei no que estava ouvindo. Valha-me São Benedito! A irmã número cinco era justamente a aniversariante e a festa era na sua casa. Aí não teve jeito – entrei em convulsão.

O meu irmão número três que mora comigo, e entende tudo sobre diabetes e convulsão vem em meu socorro - pega a sua fitinha de medir glicemia, pensando tratar-se de crise de hipoglicemia. Com o resultado normal e eu acordando, ele me pergunta se está tudo bem comigo. Disse que sim. Ele então insinuou, jocosamente, que eu tive foi um ataque de histeria. Claro que concordei com ele! Eu precisava, naquele momento, era de uma fitinha para medir o meu teste de tolerância, que naquele momento estava zero, para perguntas desarticuladas. Voltando ao telefone - a irmã número dois ainda estava a postos, só escutando a balbúrdia – perguntei se ela tinha noção do absurdo da pergunta. Ela deu uma gostosa gargalhada e disse para perdoá-la pelo equívoco. Na verdade ela queria se referir à irmã número nove. Finalizou me dizendo num sussurro: “Também são tantos... na nossa idade as confusões agora são mais frequentes.” Vejam bem! Ela, ainda por cima de tudo, me incluiu no rol dos confusos.

Encerrando este maravilhoso colóquio matinal informei-a que a aniversariante número cinco estava muito feliz, e a que a cantora do conjunto era excelente.

Gabriel Novis Neves

06/03/2011

sábado, 26 de março de 2011

CICLOS

Como é bom contarmos com a generosidade de Deus para podermos vivenciar os vários ciclos por que passa uma vida humana!

Os ciclos constituem uma série de fatos que ocorrem periodicamente. São períodos, fases -, explica Houaiss.

Quanto mais idosa a pessoa, maior o número de ciclos vividos. E, a cada ciclo vivido, vamos adquirindo novos, ou adormecidos, sentimentos e emoções.

Já passei por vários ciclos, e estou entrando em um novo - o ciclo da fotografia. A imagem fala mais que a escrita, e eu quero viver este ciclo. Não estranhem se falo que a fotografia é um ciclo. Na verdade, o que eu quero dizer é que aprendi a ver o mundo – sob outros focos e lentes.

Durante a semana não tenho acompanhante nas refeições, o que é um ciclo novo para mim.

Na minha casa, o café da manhã, o almoço e o lanche da noite, são bem simples. Tudo muito rápido e gostoso. É o ciclo do viúvo. Mas, não. Não pensem que é o ciclo da solidão. Diria que é mais um aprendizado. Um aprendizado que nos mostra que é possível conviver com a saudade, sem nos tornarmos amargos e tristes.

Hoje entendo que numa sociedade os indivíduos vivem em diferentes ciclos. Com isto me tornei mais tolerante, complacente e convicto de que cada ser vive de acordo com as experiências vivenciadas.

O fechamento de um ciclo da vida, longe de significar renúncia, é prenúncio de novos ciclos e conquistas.

Neste meu atual ciclo de conquistas, um merece destaque. Conquistei o sentimento da compaixão. Fiquei mais sensível ao sofrimento. Capto-o com maior intensidade, e compreendo-o melhor.

Quero ser merecedor da generosidade com que fui contemplado. Quero poder ainda ter a graça de vivenciar novos ciclos, para assim ter chance de ir lapidando novos e salutares sentimentos.

Quem sabe assim, consigo um vôo direto ao paraíso.

Gabriel Novis Neves

02-03-2011

sexta-feira, 25 de março de 2011

O crime compensa

Todos os indicadores oficiais da nossa realidade - socioeconômicos, políticos e culturais - me induzem a acreditar que o crime, aqui, compensa.

Esta conclusão não é leviana, tampouco afoita.

Diariamente a mídia publica crimes - os mais variados possíveis, imagináveis e inimagináveis. Desde o já esperado e institucionalizado sumiço do dinheiro público aos crimes contra a vida, a moral e a dignidade humana.

Ficam debitados na contabilidade irresponsável e comodista daqueles que, passivamente, os aceitam como “coisas que sempre existiram”.

Esse é o ânimo de numerosos brasileiros que desistiram de lutar para mudar. Parecem sofrer de paralisia ética com tantas frustrações sofridas. A decepção os deixa sem ação! Decepcionados com tanta coisa errada que vêem, enquanto os responsáveis pelos crimes continuam protegidos pela impunidade dominante neste país.

Exemplos existem aos montões. Vou relembrar um pequeno crime.

A maior fraudadora do INSS fugiu do Brasil. Foi recambiada após alguns anos, passou uma temporada no xilindró e, atualmente, segundo denúncias dos jornais, é alta funcionária pública no Rio de Janeiro.

É um pequeno exemplo de que o crime compensa no Brasil. Há livros sobre esse assunto.

Se os pequenos e micro empresários não conseguirem fechar suas contas, o caminho é a falência.

Um grande produtor rural, ou um banqueiro, se tiver um problema idêntico, o governo vem em seu socorro.

Pelo menos o governo deveria respeitar um dos itens do casamento. Aquele em que o padre lembra que o casal deverá permanecerá unido, na alegria e na dor, seja rico ou pobre.

Um bandido sem proteção política foge do seu país e a Interpol, comunicada, consegue o seu retorno.

Outro, condenado pela justiça de um país democrático, fugitivo, vem para o Brasil, a terra onde o crime compensa, e não é devolvido.

Triste, mas é a nossa realidade.

Gabriel Novis Neves

05-02-2011

quinta-feira, 24 de março de 2011

MITO

Quando falamos em mito, logo nos vêm à cabeça aqueles personagens grandiosos e poderosos da mitologia grega ou romana.

Ou então, pensamos logo nos mitos que povoaram a nossa infância, e que fazem parte do folclore brasileiro. Aliás, o nosso folclore é muito rico em mitos e lendas.

Cresci convivendo com histórias do Lobisomem, Mula-sem-cabeça, Boto, Saci-Pererê, Curupira, Boitatá (tido como o primeiro mito do nosso folclore), e tantos outros. Cada região brasileira possui os seus mitos específicos, mas no geral, os mitos regionais, de tão forte simbolismo, acabaram se nacionalizando.

Estes mitos a que me referi acima, tanto os brasileiros, como os gregos ou romanos, são mitos profundamente enraizados no inconsciente coletivo. São, portanto, de difícil, ou quase impossível, desmistificação.

Não. Não vou falar sobre eles. Deixemo-los como estão. Quero falar sobre os mitos que nascem no nosso dia-a-dia, que nada mais são do que inverdades, e, de tão faladas, acabam se rotulando de mitos. Esses, pela sua inconsistência, podem e devem ser desmitificados.

Um desses em especial me chamou a atenção: o esqueleto – o mito das obras inacabadas. Aqui em Cuiabá é um mito muito forte, e está relacionado, na maioria das vezes, às obras inacabadas de hospitais.

A idéia de que um governo dificilmente termina obras de grande vulto iniciadas em governos anteriores, foi tristemente incorporada na cultura popular. Nasceu então o mito do esqueleto.

Desde 1992, esse mito assombra a nossa razão. O esqueleto da obra inacabada do nosso Hospital Central do CPA, é um exemplo. Era para ser o hospital referência para todo o Estado, e seria administrado pelo governo.

Mas, o mito que envolve este hospital inacabado, pode ser facilmente desmistificado.

Vamos aos fatos:

Na Rua 13 de Junho havia o esqueleto de um grande hospital. Assombrou muita gente entre 1945 e 1968. Aí então um governador, não cuiabano, resolveu concluí-lo. Em três anos, um moderno prédio arquitetônico, totalmente recuperado e equipado, foi entregue à população - o nosso saudoso Hospital Geral.

Na administração, uma sociedade sem fins lucrativos (OS), que viu o hospital falir em Janeiro de 2000. Passou então à gestão a uma empresa privada de ensino, após termo de concessão de comodato por trinta anos.

Cuiabá quase perdeu o seu hospital, apesar de ter perdido o seu perfil assistencial. Passou a ser de ensino, e reduziu, consideravelmente, o seu número de leitos.

Outro caso ocorreu nas matas do distante Bairro Alvorada. Um esqueleto de hospital ficou assombrando a população por ali de 1963 até 1984. Mas, finalmente, foi concluído e entregue à UFMT. É o Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM).

Como se pode ver, este mito do esqueleto não se sustenta. E não assombra a mais ninguém. Antes, revolta. Pois sabemos que o que existe na verdade, é falta de vontade política do nosso governo para a conclusão das obras.

As nossas autoridades sabem muito bem o quanto custa à manutenção de um hospital de qualidade.

Preferem iludir a nossa gente, divulgando migalhas de doações a hospitais comunitários e filantrópicos, a assumirem a complexidade de gerir um hospital Estadual para atender pacientes do SUS.

É triste verificar que nesses últimos anos, refizeram várias vezes algumas das nossas estradas asfaltadas para escoamento da nossa produção. Até um elefante branco foi construído para a chegada do Papai Noel, e nenhum tijolo foi acrescentado ao esqueleto do nosso sonhado e necessário Hospital Central.

O tempo não é de caça às bruxas. É tempo de desmistificação. Para o bem do nosso Estado, precisamos fazer uma varredura nesses mitos perniciosos que se instalaram na nossa cultura.

Gabriel Novis Neves

19-03-2011

quarta-feira, 23 de março de 2011

Audiência pública

A audiência pública realizada na Assembléia Legislativa de Mato Grosso para debater a saúde pública em Cuiabá - convocada pela Câmara de Vereadores - pode ser considerada histórica. Foi a primeira vez que as autoridades competentes abriram espaço para que o povo pudesse se manifestar.

É notório o estado lastimável em que se encontra a saúde pública em Cuiabá. Após longos e sofridos anos de total ingerência nesta área, o governo achou por bem lançar um projeto de parceria com as Organizações Sociais para a saúde, e um hospital, ainda não concluído, foi o escolhido para desenvolver o projeto piloto.

Este projeto, baseado em lei aprovada em 2004, teve seu edital de convocação publicado numa sexta-feira de carnaval. Lógico, foi suspenso por um promotor de justiça. E foi também o estopim para o povo acordar.

O resultado? A convocação da audiência pública.

O plenário da Assembléia Legislativa estava lotado. Os trabalhadores da saúde, servidores públicos em geral, Conselhos e Sindicatos da área da saúde, enfim, todos os que, direta e indiretamente, foram atingidos pelo projeto carnavalesco, se fizeram presentes para tentar entender direitinho o que o governo pretendia com aquele projeto.

Muitos discursos. A platéia se manifestando ruidosamente. Por duas vezes, o presidente da Casa ameaçou encerrar os trabalhos.

O secretário de Saúde não se omitiu - nem poderia - e durante quase uma hora procurou defender o seu projeto de privatização dos hospitais regionais do Estado. Não obteve sucesso com a sua tese de lucros financeiros, pois o único lucro em discussão é o lucro da cura do paciente.

Quanto maior o número de pessoas atendidas, maior é o lucro. Mensurar a eficiência da saúde em números financeiros da tabela do SUS é um procedimento dos poderosos contra os humildes.

Não sei quanto custa o tratamento de uma pneumonia. Só sei que a corrupção, o desvio do dinheiro da saúde, a não aplicação dos percentuais constitucionais, o loteamento dos cargos técnicos entre afilhados políticos incompetentes, tudo isso é caríssimo, e mata.

O atual secretário de Saúde não é o responsável por este paciente em estado terminal que é a nossa saúde. Entretanto, eu acho, e todos os presentes também, que o remédio escolhido por ele não ajudará na recuperação do paciente. Há muitas contra-indicações.

A Matemática e a Numerologia não são áreas da ciência apropriadas para discutir a saúde. Mesmo assim, foi dito pelo secretário de Saúde que, em breve, seria entregue à população um pacote sortido de duzentos e sete leitos – que serão espalhados pela região metropolitana de Cuiabá.

Entretanto, temos que considerar que esta região, nos últimos oito anos, perdeu cerca de mil leitos...

A verdade nua e crua é que o governo do Estado não se empenha com afinco para construir um hospital estadual. Ele sabe que o custeio de um hospital não se faz por preços módicos, como no shopping do paraguaizinho no Porto.

Prefere um grande programa de construção de pontes.

A audiência pública foi encerrada poucas horas depois do seu início, e não foi concluída. O presidente da Casa suspendeu os trabalhos após a constatação da morte de um representante dos aposentados. Ele tinha acabado de discursar quando passou mal, foi socorrido de imediato, mas não resistiu.

No entanto, apesar do desfecho dramático da primeira audiência pública para a saúde, tenho esperança de que o projeto será revisto. O povo deu o seu parecer. E espero que ele seja acolhido.

Como bem disse publicamente uma deputada – que votou a favor do projeto –, foi tudo um grande equívoco.

Tenho certeza que o secretário de Saúde, com o prestígio que tem em Brasília, esclarecerá esse equívoco e se empenhará em realizar o grande sonho do mato-grossense – ter o seu Hospital de Clínicas.

Gabriel Novis Neves

18-03-2011

terça-feira, 22 de março de 2011

2003

No dia 1º de janeiro de 2003 a impressão que eu tive é que o Estado de Mato Grosso acabava de ser descoberto.

A única diferença é que desta vez não foi pelos bandeirantes. Não havia nada por aqui, a não ser alguns representantes da monarquia.

Os descobridores chegaram à Cuiabá após longas caminhadas pelo sertão, onde encontraram picadas feitas pelos índios, e alguns visitantes com interesses outros. Tudo estava ainda por acontecer.

Encontraram no Arraial um bando de gente despreparada e com ética colonial - onde o público é confundido com o privado.

Alguns, mais esclarecidos, interpretavam os moradores daqui como desonestos, especialmente com o dinheiro público.

Daquele dia em diante, tudo seria diferente e haveria quebras de paradigmas.

Quase 300 anos de história foram para o lixo.

Vendo imagens reais do nosso dia-a-dia pela televisão e ouvindo os necessitados sobre o sucateamento da saúde, educação, segurança, e transporte, acordei, pois tudo não passou de um grande pesadelo.

Hoje estamos piores que em 2003.

Falta esperança à minha gente, sentimento que nunca havíamos perdido.

As escolas, neste início do ano letivo, estão desabando, e as crianças dizendo nada entender daquilo que lhes é ofertado.

Fico com as crianças, que nem mais reclamam da qualidade do ensino oferecido, mas da impossibilidade de frequentar esses verdadeiros pardieiros apelidados de escolas.

Os doentes estão abandonados na fila da morte, sem rumo e sem destino, esperando um mandado judicial para uma internação ou aquisição de medicamento.

A violência é aferida na escala “Complexo do Alemão,” sem proteção da Força Nacional.

O pequeno efetivo da polícia militar está em desvio de função.

O morador desta cidade tem a sua segurança nas mãos de Deus.

Os descobridores aprovaram leis especiais para a sua proteção pessoal, da sua família e das suas propriedades.

Em arrombamento de caixas eletrônicos, já somos campeões brasileiros.

O paliativo nessas situações, e recomendável, é o uso do ópio.

E é exatamente o que os novos descobridores estão tentando implantar.

Nada melhor do que dizer, e divulgar, que todos os nossos problemas, reconhecidos por eles – culpando inclusive os índios de estar há tanto tempo por aqui sem nada fazer pelo crescimento do Estado -, serão resolvidos em apenas dois anos, com a realização da Copa.

A frustração do novo descobrimento em 2003 agora virá com a deficiência de recursos federais para a Copa 2014.

Desculpem-me. Foi outro pesadelo.

A verdade é que de frustração em frustração caminha o nosso Estado.

Apague 2003, que foi apenas mais um ano do nosso calendário.

Gabriel Novis Neves

15-02-2011

segunda-feira, 21 de março de 2011

Tiro de misericórdia

Li que o novo governo reconheceu o recebimento da nefasta herança da saúde pública do nosso Estado. Optou por uma solução em curto prazo.

Como todos sabem o governo do Estado não tem nenhum hospital na Grande Cuiabá - que possui um milhão de habitantes. O perfil do Hospital Universitário (Federal) é mais voltado ao ensino e à pesquisa do que para a assistência. Segundo informações da mídia, o governo Estadual resolveu “ajudar” alguns hospitais da rede conveniada com o SUS com algumas migalhas, em troca do aumento do número de leitos. As famosas parcerias feitas pelo governo passado só trouxe lucros às empresas fabricantes de placas.

Existe uma UTI aqui na ex-Cidade Verde que foi inaugurada quinze vezes, com placas nas paredes. No momento, como sempre, está fechada para reformas!

O mesmo acontece com o hospital municipal do outro lado do rio Cuiabá.

Passar para a iniciativa privada um problema que, constitucionalmente, é obrigação do Estado, é crime.

Se pelo menos o governo inspirasse confiabilidade, vamos lá. Mas na prática, com a documentação jurídica em mãos, ele é useiro e vezeiro na prática do calote.

Este foi o motivo principal do fechamento em massa dos hospitais do interior e da capital na gestão passada.

Ninguém acredita em promessas de governo. Até as crianças morrem de rir quando ouvem pela televisão eles falando em reformas e marcando datas de inaugurações. Todos se lembram das inúmeras vezes em que o Hospital da Criança foi inaugurado.

A notícia do fechamento dos hospitais psiquiátricos do governo e do privado veio com embalagem da Daslu. A população pobre e necessitada abriu o presente e encontrou um aviso - só milionários teriam tratamento especializado em São Paulo, ou clínicas inacessíveis ao seu bolso.

Os pobres iriam pagar os seus possíveis pecados nas tais Casas de Apoio Psiquiátrico, que, jamais, um governante mandaria para lá um parente.

O pior é que alguns hospitais privados toparão o negócio, que irá refletir na qualidade do atendimento e nas condições de trabalho oferecidas. Os dois Prontos-Socorros públicos recebem qualquer tipo de esmola.

Sou totalmente contrário à privatização da saúde pública. Estive dos dois lados, e sei como isso funciona na prática: não funciona. A não ser que se usem novos parâmetros de atendimento médico, com os quais não concordo.

Uma sugestão prática: apelar aos ricos empresários para que invistam no setor hospitalar. Estaria resolvido o problema em nosso rico e próspero Estado. O governo daria exclusividade aos pacientes do SUS.

Seria o tiro de misericórdia em um problema que tanto nos humilha.

Gabriel Novis Neves

16-02-2011

domingo, 20 de março de 2011

NATHÁLIA

Tenho cinco netas. A caçula acabou de completar quinze anos. Isso significa que estou habilitado, pela natureza, a ser, em um ano, numa absurda hipótese matemática, penta bi-vô.

O tempo passou. Como estava distraído! As minhas meninas, que vieram ao mundo amparadas pelas minhas mãos, transformaram-se em moças.

Desse grupo de meninas, digo moças, uma já concluiu o curso superior, duas estão na universidade e uma deverá fazer o vestibular, ou o Enem, em dezembro.

A Nathália, que completou quinze anos, está no ensino médio, preparando-se para o competitivo ingresso no ensino de terceiro grau.

Embora sejam primas entre si, foram criadas emboladas como irmãs, mas noto algumas pequenas diferenças entre elas.

Apenas um exemplo: a escolha delas para a comemoração dos quinze anos.

Três escolheram a tradicional festa em clubes, com todo aquele cerimonial. Duas optaram pela simplicidade de um almoço familiar em casa dos avôs maternos para lembrar a data.

O que se passa pela cabecinha da Nathália, completando quinze anos?

Não tenho a mínima idéia. Nessa idade os jovens costumam ser vibrantes e cheios de vida, mas, também, bastante reservados – especialmente as meninas.

Não por acaso, Nathália ficou levemente ruborizada ao ouvir o tradicional e provocativo “com quem será...” durante o assoprar das velinhas.

Ruborizada, deixa transparecer que aquelas palavras atingiram o seu inocente coração com mais dúvidas do que com sangue, produzindo, de maneira incontrolável, dilatação dos vasos faciais.

É como se os seus amigos tivessem descoberto os seus mais ternos sonhos e desejos.

E na cabeça dos pais? O que se passa? Arrisco um palpite: a sensação incômoda de uma provável perda se aproximando, com o aparecimento de um estranho no ninho.

Assim continua a vida e a história das famílias.

Minha querida e única neta nascida de parto normal, felicidades! Viva seus sonhos!

Do vô, seu torcedor.

Gabriel Novis Neves

13-02-2011