terça-feira, 15 de março de 2011

REFÉNS

No Brasil existem três classes sociais: a que abriga os cidadãos de primeira classe (que são pouquíssimos), a que abriga os de segunda classe (que engloba cerca de noventa por cento da nossa população) e aquela que abriga os miseráveis (pertencentes à terceira classe).

Na verdade, estes últimos só aparecem no Censo do IBGE e no momento são, oficialmente, dezesseis milhões de brasileiros.

A tal da primeira classe é refém de uma ala da própria primeira classe. A desunião entre seus pares é sua principal característica. Possuem uma ambição incomensurável, razão de permanente atrito. A arma favorita é a traição.

Nos primeiros dias do novo governo ficou bem claro o modo de agir dos cidadãos da primeira classe.

O salário mínimo, proposto sem discussões para a aprovação de outro grupo de cidadãos da primeira classe, teve um custo bem maior aos cidadãos da segunda classe, que terão que trabalhar mais para pagar essa disputa de gente superior pelas benesses do poder.

O Congresso aprovou, de um lado, o que veio da Presidente, com ordem de não mexer em nada.

Mas a Presidente teve que re-re-criar uma repartição pública totalmente inútil para um político velho que não consegue mais se eleger.

Também entregou ao Estado de menor Índice de Desenvolvimento Humano uma das mais poderosas estatais do país, que funciona como cabide de emprego para os eleitores de um senador que não é morador desse Estado.

Se os brasileiros de segunda classe pagarão a conta, os miseráveis de terceira classe nem lembrados foram para as migalhas, e nem ficaram sabendo do que acontece neste país tão solidário com os pobres do exterior.

Como rápido lembrete: o Brasil está reconstruindo a república democrática de Cuba com milhões de dólares. Só de miseráveis temos cinco milhões a mais do que Cuba.

Damos justo apoio às populações do Haiti e Nicarágua, que somadas, são inferiores aos miseráveis brasileiros.

Até quando sobreviveremos a este apodrecido modelo político?

Mudanças estão acontecendo, não pelas armas, mas pela consciência esgotada de um povo.

Os ditadores africanos, árabes, asiáticos foram sempre grandes parceiros do Brasil e cruéis com a sua gente. Todos estão sendo substituídos.

Sou, consciente, um cidadão de segunda classe.

Considero-me um refém da impunidade e dos desmandos dos cidadãos da primeira classe, vivendo em um país sem educação, saúde, segurança, justiça e oportunidade para todos.

Sou do grupo de reféns que é maioria, que trabalha muito, paga os impostos, não possui incentivos e respeita as leis do país, que foram feitas para serem cumpridas. Esse é o perfil dos integrantes da segunda classe.

Mas os piores reféns são justamente os da primeira classe, e por ordem hierárquica: Presidente, os Governadores e os Prefeitos.

Não conseguem trabalhar, pois, como reféns, não têm liberdade.

Cada mensagem do Executivo, para aprovação nas Casas das Leis, tem um custo fisiológico.

E essas Casas precisam de apoio técnico de outros poderes, criando o conhecido efeito cascata para beneficiar todos dos outros grupos da primeira classe.

Assim, os da primeira classe se anulam, e se tornam reféns um dos outros.

Os que pertencem ao Executivo usam o pragmático “ou dá ou desce”, recentemente estreado pela Presidente para aprovar o novo salário mínimo como queria, para não quebrar o Brasil! Sucesso total.

A turma da Casa das Leis votou favoravelmente, com o terço na mão rezando a oração de São Francisco: “É dando que se recebe”.

Entre “O dá ou desce” e “É dando que se recebe”, ficamos assistindo a tudo que nos é negado e a eles permitido.

Nesta terra, todos somos reféns.

Gabriel Novis Neves

24-02-2011

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