quinta-feira, 3 de março de 2011

Continuamos mal

“Fiz um tour pelo Pronto Socorro de Cuiabá”, me informa um colega professor universitário. Relatou-me o que viu.

Só vendo, ou vivenciando, o dia a dia dos pacientes e dos profissionais de saúde para se ter uma noção exata do descaso dos governos municipal, estadual e federal para com a cidadania, a humanização e a saúde da população.

Os nossos políticos, com poder de decisão (recursos), quando visitam os raríssimos hospitais públicos no Estado, especialmente o Pronto Socorro de Cuiabá, não ouvem nem enxergam nada.

Chegam protegidos por forte esquema de segurança, com políticos oportunistas para sair na foto, aspones, um batalhão de cinegrafistas, radialistas, fotógrafos e jornalistas.

O pessoal da casa visitada, com horário combinado, se encarrega do restante.

De prático, que é o que interessa à população, o governador nada viu em recente visita.

Na despedida, disse estar satisfeito com o andamento das reformas e das providências adotadas.

É de praxe, nessas ocasiões, prometer uma ajuda financeira, geralmente migalhas, que só Deus saberá quando serão liberadas, ou não.

Dizem por aqui que o que vale é a intenção, e que o inferno está cheio de pessoas bem-intencionadas.

Como conselho não se dá, pois se fosse bom seria vendido, vou escrever apenas: uma visita nesses locais só surte efeito se o governador aparecer de surpresa e sem comitiva espalhafatosa.

Aí sim, ele teria uma noção exata do campo de concentração em que foram transformados os nossos hospitais.

Pelo menos por alguns segundos deixaria de pensar na Agecopa e tanques para peixes, colocados como prioridades em um Estado onde a sua população está morrendo.

Sozinho, poderá conversar com os pacientes deitados no chão, com os velhos tomando soro em cadeiras de fios, verificar as UTIs fechadas.

Ouvir os médicos e trabalhadores da saúde, os grandes cicerones das mazelas históricas do hospital.

Quem iria faltar com o respeito ao nosso conciliador governador?

Os seus inimigos não estarão lhe acompanhando.

Invente essa moda de sair sem a tropa de choque, governador! O resultado lhe será positivo.

O país mais armado do mundo já teve presidentes assassinados. Sua cidade orgulho - Nova York - foi atingida por terroristas. O desastre só não foi pior porque não há crime perfeito.

O hospital é um centro de despojamento.

Títulos, honrarias, dinheiro - as misérias da vida não entram no hospital.

Lá todos são iguais, e mais próximos de Deus.

Nos jornais da televisão, à noite, após esse tour, vejo a ministra da Pesca pedindo urgência ao nosso governador para liberar a licença ambiental para a construção de tanques criadouros de peixes em nosso Estado.

E a urgência com a saúde?

Temos que rezar, ajoelhados no milho, para que não haja epidemia de dengue em Mato Grosso.

Caso contrário, a Piedade e o Parque Bom Jesus serão insuficientes para a população.

Em síntese, foi esse o depoimento do meu colega professor, que finalizou com esta advertência:

“Se algum estudante almejasse a profissão de médico, ou de qualquer outra na área de saúde, e fizesse um reconhecimento prévio desse local de trabalho e estágio, desistiria imediatamente da profissão.”

Gabriel Novis Neves

25-02-2011

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