quinta-feira, 17 de março de 2011

Outra greve

Há menos de dois anos participei da primeira greve geral dos médicos de Cuiabá, fato até então impensável para mim.

Os problemas que levaram os trabalhadores de saúde às ruas foram incompreensões históricas dos detentores do poder para com as causas sociais.

O radicalismo chegou ao absurdo de uma greve, que mesmo juridicamente legal, foi extremamente injusta para com os pobres que dependem do serviço público.

Como falou recentemente um líder político com mandato federal, e flagrado praticando um ato ilícito: “quero que o povo se lixe”!

O nosso povo não aguenta mais ser lixado, com relação ao atendimento médico de péssima qualidade que lhe é oferecido pelo poder público.

Diante da intransigência dos poderosos, após meses de negociações, a única alternativa que restou aos médicos, para manter a dignidade dos pobres e do juramento de Hipócrates, mesmo com sacrifício pessoal, foi sair às ruas e clamar por justiça.

O pior nesta calamidade toda é que os lixadores profissionais já encontraram os culpados por essa trágica situação: os médicos chamados por eles de irresponsáveis e o povo sem vergonha que inventa estar doente.

O governo da continuidade, pelo menos até agora, está sendo dirigido por controle remoto.

Apresentou uma proposta de salvação para resolver sérias dificuldades operacionais, com um modelo de privatização dos hospitais regionais que favorece mais aos empresários inescrupulosos - futuros financiadores de campanhas políticas -, do que a situação precária dos nossos pacientes.

Nossas autoridades não têm a mínima noção prática do funcionamento dos serviços de saúde.

Nos últimos oito anos, médicos em atividades profissionais em contato diário com pacientes, não suportaram nove meses de gestão anti-humana, na Secretaria de Saúde.

O sistema que com os anos capengava, desmoronou por completo. Foi um período da história da saúde pública, que precisa ser esquecido.

Se fosse instalado um tribunal de Nuremberg, ficaríamos sabendo quem foram os principais responsáveis pelo desmonte da saúde pública no meu Estado.

Não acredito em CPI da saúde numa Casa de Leis que, em vinte e quatro horas, aprova mensagem do governo propondo a terceirização dos serviços dos hospitais regionais do Estado.

Na época da ditadura, existiam mensagens que saiam do executivo e ninguém podia alterá-las. O retorno se dava no prazo de quarenta e cinco dias.

Por analogia, estamos diante de uma ditadura original: a ditadura fisiológica.

A tal da terceirização proposta é uma demonstração que o nosso Estado é ingovernável.

Se hospital fosse um negócio rendoso, nossos políticos empresários não investiriam em comunicações, controle das estradas federais, agronegócio, minérios ou usinas termoelétricas.

Aliás, o governo dos incentivos fiscais, poderia muito bem propor à Assembléia uma lei de vinte e quatro horas - igual à da terceirização dos hospitais regionais - concedendo incentivos aos empresários que investissem em saúde.

Diante da ausência total dos governos, esse papel ficou para os médicos. Se não existisse a rede privada, por necessidade de trabalho dos profissionais de saúde, o jeito seria fazer o que fazem as nossas autoridades - procurar socorro por nossa conta nos hospitais do SUS em São Paulo, especialmente o Sírio Libanês.

Os médicos dos hospitais regionais de todo o Estado estão paralisados, assim como cerca de cinco mil servidores da Secretaria Estadual de Saúde.

Vamos acabar com a greve, governador?

Essa historinha que está sendo passada como sucesso em muitos lugares, é igual às histórias mentirosas que exportamos sobre a realidade do nosso Estado.

“Quem não te conhece, que te compre.”

Gabriel Novis Neves

11-03-2011

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