terça-feira, 1 de março de 2011

Queda anunciada

Passei pela Praça Popular, onde o preço do metro quadrado é o mais valorizado e o local um dos mais chiques da ex-Cidade Verde.

Encontrei a pracinha semi-destruída pela queda – anunciada - de uma das suas mais antigas e frondosas árvores.

Ela desempenhava o papel de um imenso guarda-sol, protegendo o seu público matutino, composto, na sua imensa maioria, por crianças e idosos.

Um parquinho era a única diversão das crianças com idade inferior aos seis anos de idade. De tão simples e frágil, lembrava os brinquedos dos presépios natalinos da minha infância.

Uma cerca de madeira, de uns cinquenta centímetros de altura, toda pintada de branco, protegia os pequerruchos de uma possível fuga ou de uma agressão de cães vadios, tradicionais habitantes das praças públicas.

O local da tragédia anunciada era desolador.

As humildes trabalhadoras que passavam por ali paravam e ficavam contemplando a árvore caída, como que numa homenagem por tantos benefícios proporcionados à população com a sua beleza e proteção.

Perguntei a uma dessas senhoras o tempo da morte da árvore. Ela me respondeu: "mais ou menos três dias".

Notando o meu interesse em saber a causa do óbito, foi bem direta.

- Todo mundo que passava por aqui sabia que isso iria acontecer. O funcionário da prefeitura responsável pela limpeza e conservação da pracinha cansou de avisar ao seu chefe que a árvore iria cair se não houvesse uma poda e um fortalecimento e proteção das suas raízes. Ninguém o atendeu, e o resultado é isso que o senhor está vendo. Nós sabíamos de tudo. Até remédio para matar formiga o pobre do funcionário é obrigado a pedir aos moradores.

Revoltada, a pobre mulher lança um desafio:

- Será que até a Copa de 2014 os restos mortais da maior e da mais antiga árvore da Praça Popular serão removidos?

É triste viver em uma terra em que as tragédias são anunciadas e nada é feito para evitá-las.

E tem gente acreditando que daqui a dois anos teremos um moderno aeroporto, solução para a mobilidade urbana, uma Arena Pantanal - a mais bela do Brasil -, modernos hospitais, com aumento do número de leitos, aumento da rede hoteleira e, até, proteção do Portão do Inferno.

Adeus minha árvore! Assassinada pela negligência e desinteresse de gerações de cuiabanos.

A sua queda foi anunciada, não despertando na nossa gente nenhum sentimento de solidariedade.

Abandonando a pracinha em direção ao seu serviço, a humilde mulher, numa mistura de revolta e provocação, me pergunta:

- O senhor ainda acredita na Copa numa cidade que não tem condições nem de evitar a queda de uma árvore?

Não esperou a minha resposta e saiu caminhando, sem ao menos virar-se para trás, com toda a certeza para não ver a árvore estendida no chão da pracinha.

Gabriel Novis Neves

23-02-2011

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