quinta-feira, 24 de março de 2011

MITO

Quando falamos em mito, logo nos vêm à cabeça aqueles personagens grandiosos e poderosos da mitologia grega ou romana.

Ou então, pensamos logo nos mitos que povoaram a nossa infância, e que fazem parte do folclore brasileiro. Aliás, o nosso folclore é muito rico em mitos e lendas.

Cresci convivendo com histórias do Lobisomem, Mula-sem-cabeça, Boto, Saci-Pererê, Curupira, Boitatá (tido como o primeiro mito do nosso folclore), e tantos outros. Cada região brasileira possui os seus mitos específicos, mas no geral, os mitos regionais, de tão forte simbolismo, acabaram se nacionalizando.

Estes mitos a que me referi acima, tanto os brasileiros, como os gregos ou romanos, são mitos profundamente enraizados no inconsciente coletivo. São, portanto, de difícil, ou quase impossível, desmistificação.

Não. Não vou falar sobre eles. Deixemo-los como estão. Quero falar sobre os mitos que nascem no nosso dia-a-dia, que nada mais são do que inverdades, e, de tão faladas, acabam se rotulando de mitos. Esses, pela sua inconsistência, podem e devem ser desmitificados.

Um desses em especial me chamou a atenção: o esqueleto – o mito das obras inacabadas. Aqui em Cuiabá é um mito muito forte, e está relacionado, na maioria das vezes, às obras inacabadas de hospitais.

A idéia de que um governo dificilmente termina obras de grande vulto iniciadas em governos anteriores, foi tristemente incorporada na cultura popular. Nasceu então o mito do esqueleto.

Desde 1992, esse mito assombra a nossa razão. O esqueleto da obra inacabada do nosso Hospital Central do CPA, é um exemplo. Era para ser o hospital referência para todo o Estado, e seria administrado pelo governo.

Mas, o mito que envolve este hospital inacabado, pode ser facilmente desmistificado.

Vamos aos fatos:

Na Rua 13 de Junho havia o esqueleto de um grande hospital. Assombrou muita gente entre 1945 e 1968. Aí então um governador, não cuiabano, resolveu concluí-lo. Em três anos, um moderno prédio arquitetônico, totalmente recuperado e equipado, foi entregue à população - o nosso saudoso Hospital Geral.

Na administração, uma sociedade sem fins lucrativos (OS), que viu o hospital falir em Janeiro de 2000. Passou então à gestão a uma empresa privada de ensino, após termo de concessão de comodato por trinta anos.

Cuiabá quase perdeu o seu hospital, apesar de ter perdido o seu perfil assistencial. Passou a ser de ensino, e reduziu, consideravelmente, o seu número de leitos.

Outro caso ocorreu nas matas do distante Bairro Alvorada. Um esqueleto de hospital ficou assombrando a população por ali de 1963 até 1984. Mas, finalmente, foi concluído e entregue à UFMT. É o Hospital Universitário Júlio Muller (HUJM).

Como se pode ver, este mito do esqueleto não se sustenta. E não assombra a mais ninguém. Antes, revolta. Pois sabemos que o que existe na verdade, é falta de vontade política do nosso governo para a conclusão das obras.

As nossas autoridades sabem muito bem o quanto custa à manutenção de um hospital de qualidade.

Preferem iludir a nossa gente, divulgando migalhas de doações a hospitais comunitários e filantrópicos, a assumirem a complexidade de gerir um hospital Estadual para atender pacientes do SUS.

É triste verificar que nesses últimos anos, refizeram várias vezes algumas das nossas estradas asfaltadas para escoamento da nossa produção. Até um elefante branco foi construído para a chegada do Papai Noel, e nenhum tijolo foi acrescentado ao esqueleto do nosso sonhado e necessário Hospital Central.

O tempo não é de caça às bruxas. É tempo de desmistificação. Para o bem do nosso Estado, precisamos fazer uma varredura nesses mitos perniciosos que se instalaram na nossa cultura.

Gabriel Novis Neves

19-03-2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.