terça-feira, 8 de março de 2011

MOMO

“O carnaval é a maior expressão da nossa cultura popular” (Eduardo Portela, durante discurso de uma colação de grau na UFMT).

A cultura a que o filósofo se referia não existe mais. Foi transformada em indústria de diversão.

As baianas dos morros foram substituídas por turistas com grana para arcar com o custo das caras fantasias.

Os desfiles nas ruas, com cordas de proteção, acontecem nos sambódromos.

A rainha da bateria, geralmente, é uma bacana siliconada.

Para “organizar” essa manifestação popular, o profissional tem que possuir curso de gestor de carnaval, que é ministrado em universidade.

Os seus maiores destaques não moram em favelas. Habitam a zona sul do Rio de Janeiro e têm um xodó danado pela Barra da Tijuca.

Essas transformações na nossa cultura carnavalesca, como se cultura se modernizasse, são as atuais responsáveis por essa manifestação comercializada.

Os seus descendentes diretos não participam da brincadeira dos turistas como atores; talvez, serviçais.

No carnaval industrializado, onde giram interesses políticos e dólares, o governo federal insiste, há anos, em vincular a festa cultural com uma festa de fins sexuais.

O governo conseguiu relacionar carnaval com sexo casual. Dá até a impressão que fazer sexo durante o carnaval é obrigatório.

Se isso fosse verdade, o carnaval seria proibido pelo Ministério da Saúde e a AIDS estaria extinta em nosso país.

Milhares de vidas seriam salvas e milhões de reais economizados para atender as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento).

É de extremo mau gosto o slogan “carnaval só com camisinha”! É só ligar a televisão e lá está o conselho, bolado por uma agência de publicidade.

Induz o incauto ouvinte ao errado conceito de que o amor tem dia, hora e local certos para acontecer.

Essa gente nunca ouviu o Caymmi afirmar que “o amor acontece na vida, quando estamos desprevenidos...”

Essa história de hora marcada é invenção das empresas de sexo.

Não deixemos que acabem com a cultura do nosso carnaval, industrializando-o com as suas histórias empresariais fantásticas.

É ridícula a alegria das autoridades de saúde distribuindo camisinhas e a mídia reproduzindo a sua quantidade.

Estatísticas sérias demonstram que nesse período cai escandalosamente o número de relações sexuais.

É o período do plantio e exposição do material a ser consumido durante o ano.

O resto é Carnaval.

Gabriel Novis Neves

05-02-2011

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