segunda-feira, 29 de junho de 2015

Medo


Descia de elevador no meu prédio e logo ele parou para a entrada de uma criança de uns doze anos de idade.
Ela era franzina, sem sinais físicos da puberdade, vestia camiseta e short e sandália de dedo, vendendo inocência.
Cabisbaixa, “viajamos” até o andar térreo.
A impressão que a menina me passou é que tinha realizado uma das fantasias da infância – dormir na casa de uma amiguinha.
Fui criança, pai, avô e sei perfeitamente que, em sua maioria, as crianças têm essa necessidade emocional, puramente cultural.
A minha surpresa ocorreu quando, ao abrir a porta do elevador no andar térreo, ela me perguntou com olhar e voz de medo: “é perigoso andar na rua”?
Era uma manhã de domingo, mais ou menos às nove horas, com sol escaldante e pessoas na rua em suas andanças matinais.
Indaguei onde morava e, para meu espanto, respondeu que era na mesma rua do meu prédio, a uma distância de três quadras.
Acalmei-a dizendo que poderia seguir tranquilamente para a sua casa, já que o movimento na rua era intenso. 
Gente indo para a missa, outros para a padaria da esquina, sendo ainda grande o número de atletas de final de semana caminhando e correndo pelas calçadas do bairro.
Ela saiu andando, porém, demonstrando certo medo. Eu entrei no meu carro para visitar um amigo. 
As palavras e a imagem de medo naquela criança despertou em mim um antigo questionamento: criança tem medo? Este medo que nós adultos sentimos ao sair na rua? 
Pude constatar através daquela criança que, sim, as crianças têm medo de andar pelas ruas sozinhas. Apesar de ser de manhã, em uma rua movimentada e ser considerado bairro de classe média alta.
Lamentavelmente, esta atitude infantil traduz o grau do temor em que se encontra a sociedade em geral.  Ninguém confia em ninguém.
Depois, uma espécie de remorso tomou conta de mim.
Apesar da minha vontade, tive medo de oferecer uma carona àquele pequeno ser e ser mal interpretado. Principalmente pelos pais.
Passei o resto do dia revendo conceitos educacionais e a realidade social a que chegamos, onde impera a violência, especialmente, contra as mulheres e crianças.
A conclusão é a que venho repetindo nos meus escritos: “a humanidade não é viável”.
Pobres crianças amedrontadas! Precocemente tiveram de substituir o medo do bicho-papão pelo medo a um simples e pequeno caminhar pelas calçadas de sua cidade!
Estamos num mundo cruel com uma sociedade alienada.
Impossível pensar em futuro melhor para nossos descendentes!

Gabriel Novis Neves
02-06-2015

TEMPO DO NÃO


Vivemos em pleno tempo do não. Tudo por aqui não aconteceu.
A violência não diminuiu, a saúde pública não melhorou, a educação vai de mal a pior, a inflação não foi corrigida, a taxa de desemprego não melhorou, a reforma política não foi aprovada, a corrupção não foi dizimada e o ajuste fiscal não ficou como queria o Ministro da Fazenda.
O “não” tomou conta de todos os espaços da mídia, nada restando para as desejadas e esperadas ações afirmativas.
Até a FIFA não é mais padrão mundial de ética e transformou-se em centro avançado de corrupção, com a colaboração efetiva da nossa Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Diante de tantas negativas o jeito é nos contentarmos com promessas que sabemos que não serão cumpridas, como melhores condições de trabalho e salários para todos os trabalhadores brasileiros.
Os preços dos mercados não param de subir e os impostos também. Antes trabalhávamos quatro meses por ano para sustentar as mordomias do governo. Agora, tudo que se arrecada ele nos toma, proletarizando, cada vez mais, os responsáveis pelas riquezas deste país.
Não dá mais para suportar os assaltos do governo com os seus pornográficos impostos drenados para o esgoto da corrupção com impunidade.
O pior é que não vemos uma luz no final do túnel.
Comissões e grupos de trabalhos são constituídos diariamente para esperar por dias melhores e justificar o não feito aos pagadores de impostos.
Datas são marcadas para funcionamento de equipamentos sociais indispensáveis à população, só que antes um grupo de alto nível irá estudar e detalhar a possibilidade de liberação de recursos.
Única coisa que não para é o sofrimento humano diante de tanta injustiça social.
Brasil “não”! Tão diferente do país que um dia foi “sim” para a esperança!

Gabriel Novis Neves
21-06-2015

Os emojis


Estamos nos tornando cada dia mais interessados em destruir tudo o que aprendemos como válido - muito em função da pressa que o mundo moderno demanda.
O alfabeto por nós usado tem vinte e seis letras. Cada pessoa tem, em média, um vocabulário em torno de duas mil e quinhentas palavras.
Com isso contávamos durante séculos, até o aparecimento do mundo digital.
Eis, entretanto, que surge a linguagem pelos emojis, criação brilhante da mente japonesa.
Os pequenos símbolos, que dispensam um mínimo de tempo para a sua confecção, logo se tornaram uma coqueluche no mundo da comunicação através das redes sociais.
Pena que aqui na terrinha não avisaram aos internautas que alguns desses símbolos dizem respeito apenas à cultura asiática, tais como figuras relacionadas aos calendários.
Aliás, talvez pelo excesso de informações, vivemos um processo de saturação do nosso HD, que já não mais comporta tamanho acervo, principalmente com a velocidade com que ele se apresenta.
Talvez por isso estejamos economizando, progressivamente, a nossa capacidade mental, seja na palavra falada, seja na palavra escrita.
Basta lembrar, com tristeza, que, de dez livros vendidos atualmente no mundo, nove são para colorir. Um recorde lamentável, que corrobora essa atrofia mental progressiva.
Nossos antepassados foram muito preocupados em divulgar uma linguagem universal em que todos os povos pudessem se inter-relacionar, o esperanto.
Tornamo-nos tão únicos e tão sós, que já não mais nos interessam as formas tradicionais de relacionamento.
Emoções, para quê?  Olho no olho, para quê?
Tudo rápido e descartável, sem a perspectiva de qualquer envolvimento.
Chegar ao Nirvana apenas através de símbolos e cores, essa é a meta.
Eu e alguns amigos da minha faixa etária continuamos fascinados pela beleza das palavras e, mais ainda, pela riqueza das emoções que elas podem desencadear.
Tudo isso me faz lembrar o grande Raul Seixas e sua belíssima música “metamorfose ambulante”.
Sem essa metamorfose seremos seres em extinção bem mais rapidamente.

Gabriel Novis Neves
24-06-2015

quarta-feira, 24 de junho de 2015

PORTEIRAS FECHADAS


Quem já passou por todas as fases do desenvolvimento humano e teve o privilégio de ancorar na faixa seleta dos idosos, sem a Doença do Alemão, lembra-se de tudo que aconteceu na sua vida, embora, poucas recordações estejam disponíveis nas prateleiras do consumo.
Certa ocasião, alguém, só para contrariar o grande poeta Vinícius de Morais, disse que “viver é melhor que ser feliz”.
Uma verdadeira blasfêmia para quem procurou, insistentemente, a felicidade, divulgando em poemas e canções populares a sua verdade liberticida.
Certa ocasião, entrevistado por uma jovem e inexperiente repórter na mesa de um bar, o poeta da canção, já no horizonte da sua despedida, respondendo a uma pergunta sobre o que ele achava do seu estado atual, afirmou que era um idoso e que, felizmente, a juventude era breve.
Apenas um momento de incertezas e descobrimentos, sendo o melhor dele aquele que já passou.
Depois dessa fase de explosão hormonal e sentimentos, tudo fica mais lento e ninguém tem pressa de nada.
É como se estivéssemos na madrugada da vida, sem vontade de ver o novo dia chegar.
O idoso sabe que o futuro somos nós, e o tempo não espera.
Daí o fascínio que esta fase da minha vida me causa.
Isso nada tem a ver com a chamada “melhor idade”, termo pejorativo para mim.
É a fase da compreensão e da doação, em que sabemos que não possuímos o dom de mudar o mundo, muito menos a vida das pessoas.
Nós é que mudamos com a idade.
A vida nada nos dá ou nos deve. Nós é que estamos nela.
É sempre emoção.
Será que escrevo apenas para tornar a minha vida mais excitante?
Pelos descaminhos da vida tentamos, frequentemente, abrir porteiras fechadas que, entretanto, bastava que tivéssemos um pouquinho mais de sensibilidade para compreender que elas estavam totalmente trancadas e que seria em vão o nosso esforço em tentar abri-las.
Aprendemos nessa fase outonal, que tudo que nos encanta deve estar harmoniosamente escancarado.
Não há mais tempo para tentar decifrar o indecifrável e, muito menos, para tentar mudar qualquer coisa que funcione como obstáculo.
É só partir para o futuro, quem sabe qual, mas, sem o compromisso de derrubar as porteiras fechadas dos sentimentos.
Que venham com força todas as emoções verdadeiras, pois elas é que nos darão forças para manter a alegria de viver.
O nosso futuro é hoje! 

Gabriel Novis Neves
20-06-2015

Novas mães


O Dia das Mães, de uma maneira ou de outra, nos remete à origem da vida.
A maior parte da humanidade, tal como em todas as espécies animais, cumpre basicamente o seu papel reprodutor durante sua passagem aqui pela Terra.
Daí a tão falada frase de que o sexo é a mola que impulsiona o mundo.
O macho, com seu papel precípuo voltado para a reprodução em larga escala, procura honrar ao máximo a sua destinação na natureza fertilizando o maior número de fêmeas possíveis durante a sua existência.
Corroborando isso, a sociedade faz com que o homem se vanglorie de suas conquistas amorosas, tornando-o tão mais admirado e amado em função dessas “qualidades”.
A mulher, ao contrário, é desvalorizada pelo número de parceiros que ela possa ter tido. Muitas vezes são ferozmente discriminadas. 
Essa é a base da grande hipocrisia que tem atravessado os séculos e mantido as mulheres inferiorizadas e submissas com relação aos homens, detentores de um mundo sem limites.
Felizmente, nesse século XXI, após anos de lutas pelo seu reconhecimento, a mulher adquiriu uma nova identidade: guerreira, bela, inteligente, sensual, inserida no mercado de trabalho, pronta para todos os desafios, inclusive, a de ser mãe solteira e arcar com todos os ônus de sua prole.
Os homens devem se orgulhar dessas novas mulheres! Elas já entenderam que, para a harmonia predominar, é necessária a reciprocidade entre o homem e a mulher.
Era comum que alguns homens, na falta de possibilidades de trocas intelectuais e emocionais mais expressivas com suas esposas, procurassem as chamadas “hetairas”, denominação dada na Grécia Antiga a essas mulheres especiais que, além dos atributos físicos, proporcionavam aos seus clientes momentos de discussões filosóficas e culturais.
Portanto, desmistificando a imagem da “Rainha do Lar”, aquele ser antigo cheio de submissão e de tristeza, eu quero prestar a minha homenagem às mulheres que com a sua garra e coragem vêm tornando o mundo mais belo e menos preconceituoso.
Que os novos filhos sejam criados mais leves, mais livres, mais verdadeiros e cada vez menos atados aos ditames sociais inescrupulosos que insistem em deturpar o que há de melhor no ser humano.
Dessas novas mães, matrizes fundamentais da espécie, surgirão esses novos seres que, com certeza, serão o diferencial para a formação de uma sociedade mais plena e tranquila. 
Queixamo-nos muito de que vivemos em uma sociedade machista, mas quem, senão essas novas mães, poderão mudar essa ideologia, criando filhos que desde cedo aprendam a respeitar as pessoas, independentemente de seu gênero, de sua raça, de sua cor, de suas preferências sexuais ou religiosas.
No nosso país a cada minuto uma mulher é estuprada, quadro assustador.
Cabe a nós mudar essa realidade, ainda que inúmeros outros fatores contribuam para essa triste estatística.
Em vez de estímulos puramente comerciais enaltecendo o Dia das Mães, o que devemos ter em mente é uma campanha extensa e intensa de conscientização quanto ao papel que cabe às novas mães nessa luta por um ser humano melhor.
Amor e dedicação são atributos inatos das mulheres – esses seres tão privilegiados pela natureza!

Gabriel Novis Neves
18-06-2015

terça-feira, 23 de junho de 2015

GANHOS COM INTELIGÊNCIA


Vendo uma recente entrevista desse gênio da arquitetura moderna, o espanhol Santiago Calatrava, me dei conta da enorme diferença entre o ganho de capital e o ganho advindo do brilhantismo e da inteligência, enfim, do verdadeiro mérito.
Calatrava nasceu em Valência, numa família de classe média alta e se mostrou desde pequeno um desenhista compulsivo.
Teve desde cedo suas habilidades incentivadas e cursou Belas-Artes e Arquitetura. Aos 22 anos, não satisfeito com que havia apreendido, foi fazer Engenharia na Suíça.
Atualmente tem obras arquitetônicas importantes espalhadas por todo mundo, inclusive no Rio de Janeiro, que em breve será ostentada na zona portuária inovada.
Ao contrário dos empresários bem sucedidos que conhecemos, Calatrava mostra-se uma pessoa simples, tranquila, apenas encantada com suas obras.
Estamos mais habituados a vincular as grandes fortunas adquiridas ou herdadas apenas pela habilidade no jogo das atividades financeiras ou pelo uso da mais valia, ferramenta fundamental no capitalismo e, dessa forma, tendemos a não valorizar as verdadeiras fortunas, as advindas, automaticamente, da qualidade do trabalho de cada um.
Pais modernos têm a grande tendência a dirigir seus filhos para atividades que signifiquem sucesso financeiro rápido, desviando, às vezes, alguns reais talentos de suas aptidões prioritárias.
Como vivemos na era do “parecer ser”, e não, do “realmente ser”, a maioria dos pais têm mais orgulho em transformar os filhos em celebridades do que verdadeiramente em pessoas encantadas com as suas aptidões, ainda que não tão rendosas.
Feliz daquele que, sem temer qualquer tipo de sistema, pode sobreviver dignamente das suas habilidades profissionais e tornar-se independente dos lucros de capital e do trabalho alheio.

Gabriel Novis Neves
20-06-2015

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Crise nas maternidades


O jornal do Conselho Federal de Medicina em sua última publicação mostrou dados alarmantes com relação ao funcionamento das maternidades brasileiras.
“A baixa remuneração paga pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pela saúde suplementar tem levado os hospitais a fecharem as suas maternidades, causando desconforto para parturientes e médicos”.
O levantamento mostra que de julho de 2010 a julho de 2014 foram fechados três mil e quinhentos leitos no país - a maioria em hospitais particulares ou filantrópicos conveniados com o SUS.
Segundo o CFM, fecharam nos últimos anos as maternidades São Camilo (SP), Barra D`Or (RJ) e Vita (PR), todas particulares.
A má remuneração, inclusive de hospitais, é uma das causas do fechamento dos leitos.
A situação atual é desumana para médicos e parturientes.
Enquanto isso, nossos dirigentes têm uma visão totalmente distorcida e autoritária sobre o problema.
Certa ocasião, diante de uma greve geral de médicos reivindicando melhores condições de trabalho e salário, o então governador do Ceará, Ciro Gomes, disse aos líderes do movimento não estar preocupado com a demissão em massa dos profissionais de saúde, pois, médico é igual a sal: “branquinho, tem por toda a parte e é barato”.
Recentemente, conversando com uma autoridade deste Estado sobre a dificuldade do serviço público atrair bons profissionais em medicina, este me respondeu que médico existe em excesso e é uma profissão em decadência, podendo ser contratado por salários irrisórios.
A verdade é que as maternidades continuam fechando ou diminuindo o número de seus leitos. O poder público não prioriza o investimento em saúde. Ficamos, portanto, numa situação difícil!
O grande prejudicado, como sempre, é a população pobre, que fica jogada e morrendo pelos corredores dos poucos hospitais públicos ou conveniados com o SUS.
A rede privada está exaurida!
O melhor é ter o plano de saúde dos privilegiados do poder, que conseguem ser atendidos nos melhores hospitais do Brasil e do exterior bancados com os impostos pagos pela nossa sofrida população.
Haja injustiça social!

Gabriel Novis Neves
13-06-2015

REFORMA POLÍTICA


Perguntaram ao Presidente Obama quando os Estados Unidos da América do Norte levantariam o embargue econômico a Cuba já que agora o país caribenho é amigo.
Ele respondeu, diplomaticamente, que tal fato histórico só será possível quando os democratas tiverem maioria no Congresso Americano.
Assim funciona a política em países democráticos do primeiro mundo. Existe uma ideologia partidária que é respeitada.
Aqui na terrinha todo inicio de governo fala-se e muito na necessidade de uma profunda reforma política para o Brasil se desenvolver.
Mensagens são encaminhadas ao Congresso Nacional e todos os seus membros são fanáticos defensores da tão esperada reforma.
Na hora da votação secreta predomina o espírito conservador e fica tudo como antes e, às vezes, até pior. 
Interessante a incoerência dos nossos partidos nessas ocasiões.
Muda-se de posição com a maior naturalidade, dando margens para que o eleitor mais atento pense que votações no Congresso tem sempre um preço.
O que antes era uma contribuição à modernização e ao desenvolvimento do país, agora é atraso.
Em compensação, aqueles que antigamente eram contrários a tais medidas por serem maléficas ao nosso país, agora são os seus mais ferrenhos defensores.
O resultado é que continuamos com o modelo político “toma-lá-dá-cá”. Devotos ferrenhos de São Francisco confessam que é dando que se recebe.
Como quem tem a chave do Tesouro é o governo, este faz e desfaz das nossas frágeis e promíscuas instituições.
Temos de cuidar com urgência do nosso futuro como nação desenvolvida e competitiva.
Precisamos reformar a mentalidade de muitos de nossos políticos, que só enxergam os seus umbigos e ignoram os grandes interesses nacionais.

Gabriel Novis Neves
10-06-2015

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Educação federal


Tem toda razão, e o nosso apoio, o senador Cristovam Buarque quando chama a União para cuidar do ensino fundamental das crianças brasileiras.
“Assegurar educação de qualidade é estratégia fundamental para aproveitar o potencial econômico de talentos e quebrar a desigualdade social” - afirma o senador.
A maioria das prefeituras brasileiras é constitucionalmente responsável por esse ensino, porém, sem incentivos federais suficientes, não apresenta condições materiais e pedagógicas para ofertar, pelo menos, uma educação aceitável.
A população pobre, por sua vez, está impedida de acesso às escolas particulares, onde o ensino é de melhor qualidade, pois as suas mensalidades não são compatíveis com suas rendas familiares.
Se os prefeitos brasileiros conseguirem sensibilizar o governo federal a assumir essa faixa importantíssima da formação dos nossos jovens, com certeza teremos uma nação mais justa, com possibilidades de pobres competirem com os ricos.
Estamos contemplando um país onde existe uma luta de classes e a violência extrapolou o controle das nossas autoridades.
O medo é absoluto, tanto nas grandes, como nas pequenas cidades brasileiras.
Crianças pobres crescem sem perspectivas de uma ascensão social, já que lhes são negadas a ferramenta básica, a educação.
A vida para elas nada representa, a não ser a ilusão do dia vivido, muitas das vezes no mundo do crime.
“É imoral termos educação com diferença de qualidade em função de renda ou endereço”.
O Poder Executivo Federal assumir a educação das nossas crianças é política de governo, medida preventiva para evitarmos um conflito de dimensões incalculáveis e resultados desastrosos.
Não adianta termos uma economia forte com uma educação de péssima qualidade.
Lutemos com os prefeitos pela adoção federal das escolas municipais!
Só assim haverá desenvolvimento sustentável e paz nesta nação.

Gabriel Novis Neves
12-06-2015

quinta-feira, 18 de junho de 2015

DECISÃO


Conheço várias pessoas que não atendem ao celular. Usam apenas quando necessitam. Respeito esse comportamento um tanto quanto egoísta, embora não compartilhe do mesmo.
Talvez pelo fato de ser médico antigo, onde o profissional de saúde era sempre alcançável e estava à disposição dos seus clientes, adquiri o hábito de atender todas as chamadas telefônicas dos meus clientes, mesmo quando em consulta.
Sei que este ponto é polêmico, pois poderá demonstrar ao cliente certo desdém para com o seu problema. Para quem chama, o assunto é sempre importante e, às vezes, não o é para quem atende.
Tenho o cuidado de informar às minhas clientes que quando precisarem de mim estarei sempre disponível para um esclarecimento ou orientação que poderá, até, salvar vidas.
Esta é uma prática permanente na minha personalidade. Quando é impossível atender na hora da chamada, assim que posso faço o retorno.
Dia desses tive um problema com um equipamento tecnológico em casa. Chamei o meu técnico do setor que realizou o serviço a contento, deixando a máquina funcionando normalmente.
À noite, o defeito retornou, e como ainda era cedo, tentei por dezenas de vezes entrar em contato com ele para uma orientação. O celular indicava fora da área ou ocupado e quando consegui completar a ligação e relatar o sinistro, o sinal caiu e ficamos definitivamente incomunicáveis.
No dia seguinte comecei novas tentativas, todas sem sucesso. Precisava da palavra do técnico sobre o problema que, para mim, era importante.
Já tinha desistido quando, horas depois, ele retornou o chamado. Ouviu minhas queixas e se comprometeu a fazer outra visita para sanar em definitivo o desconforto da máquina estragada.
Fiquei animado e fui fazer mais um teste no aparelho.
Como por encanto, tudo funcionava normalmente.
Pelo celular tentei comunicar a novidade que, por sorte minha, ele não atendeu. Desisti e esperei a sua chegada horas depois.
Não disse nada e, ao ligar a máquina, ele verificou que realmente o serviço não estava completo, pois os defeitos objetos da sua vinda ainda permaneciam.
Fez novas incursões pelo aparelho e descobriu outra falha. Resolveu o problema, garantiu o seu funcionamento pleno e a minha tranquilidade por uma suada vitória alcançada.
Na vida nunca podemos ser radicais nas nossas atitudes, ou pouco solidários com aqueles que de nós necessitam

Gabriel Novis Neves
21-05-2015

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Adequação


Não vejo muita gente preocupada com isso e muito menos mencionando esse termo.
Entretanto, constato que grande parte dos problemas interpessoais está calcada justo na falta de adequação, ou seja, na inadequação.
Pessoas que, incapazes de perceber a linha tênue entre cerimônia e intimidade, invadem com frequência a privacidade alheia.
Estão sempre se colocando numa situação acima daquela em que momento demanda, impondo-se em horas erradas.
São imediatamente rotuladas de mal-educadas, inconvenientes e invasivas. No entanto, no fundo, são apenas inadequadas.
A classe artística e alguns famosos sabem bem do que estou falando, pois, não raro, têm as suas privacidades invadidas nos momentos mais inoportunos.
Outros comportamentos equivocados aparecem também quanto ao traje usado para ocasiões diversas.
É o caso, por exemplo, de alguém que vai para uma entrevista de trabalho com roupas chamativas, decotes profundos, enfim, tirando o foco para as especificações demandadas para o trabalho.
Muito comum também é usar amigos comuns para pedidos despropositados.
Igualmente inadequados são aqueles que tentam exercer poderes de sedução em momentos em que a presa a ser seduzida está totalmente envolvida em questões adversas de vida. Isso é frequente, não só na vida amorosa, mas também na vida política.
Subserviência é outra coisa que incomoda, e coloca o subserviente em situação humilhante.
No meu entender, inadequação tem muito mais a ver com inteligência do que propriamente com bons modos e educação na convivência diária.
Um mínimo de policiamento interno e, até mesmo, de intuição, evitaria as inúmeras esparrelas causadas  pela falta de adequação à realidade da vida.

Gabriel Novis Neves
21-05-2015

MODISMOS


São tanto os modismos na sociedade de consumo e da competição desenfreada, que peço atenção especial ao atual uso indiscriminado de anabolizantes, fartamente empregados, especialmente pelos praticantes de esportes.
Esses fármacos dão a sensação que aumentam a competitividade e ajudam no tratamento das lesões musculares e ósseas.
Outros se viciam na droga simplesmente por questões estéticas, para aumentar a massa muscular de forma espetacular, dependendo das doses ministradas.
Como tudo em excesso, é perigoso à nossa saúde, pois podem propiciar lesões graves ao nosso organismo.
Os anabolizantes são derivados da testosterona, um hormônio predominantemente masculino que atua no crescimento celular e em tecidos do corpo, como o ósseo e o muscular.
Produzem também inúmeros efeitos colaterais que atacam o organismo como um todo, tanto na área física quanto na emocional.
O pior acontece entre os adolescentes, pois compromete o crescimento e a maturação óssea, entre outros efeitos indesejáveis. Só com orientação e controle médico essas drogas devem ser utilizadas.
Infelizmente, o que vemos é o uso indiscriminado dessas drogas nas academias de ginástica, na sua maioria sem controle das nossas autoridades sanitárias.
Os grandes campeões são submetidos ao exame antidoping e, a cada dia, vemos mais atletas famosos caírem na armadilha do desempenho turbinado visando à conquista de títulos que significam dinheiro e visibilidade social.
Muitos integrantes dessa elite esportiva receberam fortes punições e outros foram banidos das suas atividades.
No mundo competitivo, nada mais comum que essa verdadeira praga tenha atingido tantos seres humanos saudáveis. Tudo na ânsia da glória e da fortuna.
Estamos vendo na clínica um grande aumento das doenças ditas autoimunes, interpretadas pelos psiquiatras como o suicídio do organismo.
O fato é que não sabemos verdadeiramente ainda ao que relacioná-las.
Uma coisa é certa, aumentou, e muito, o uso indiscriminado de drogas, não só as ilegais, mas, principalmente, as lícitas, tomadas temerariamente pela humanidade a seu bel prazer.
Agora, é o consumismo e o modismo do culto ao corpo que agride e compromete organismos perfeitos, pensando seus atores em sair do anonimato pelas performances esportivas e outros produtos do sucesso.
Nossa sociedade está doente, isto sim, impregnada por falsos valores, necessitando com urgência de cuidados especiais psicológicos.
Por favor, pensem duas vezes antes de caírem na tentação de um visual pseudossaudável e tido como dentro dos padrões da sedução enganosa!
Só usem medicamentos com prescrições rigorosamente médicas!

Gabriel Novis Neves

terça-feira, 16 de junho de 2015

Os três tempos da vida


Diante do meu terceiro tempo de vida, passo dias e dias em intensa reflexão, coisa para quem tem todo o tempo do mundo e se dispõe a passar a limpo os encantos e os desencantos de suas vivências.
Sim, estou em plena “fase da reflexão”!
Quando chega ao mundo, o ser humano, para convivência com os da sua raça, entra na “fase da formação”.
Nos primeiros seis anos de vida ele forma todos os seus valores e, o que é pior, muitos desvalores passados pelos familiares, pelo meio em que vive, pelas religiões que lhe são impostas e por todas as caretices criadas pela sociedade com suas ambivalências e suas idiossincrasias.
Enfim, despidos de qualquer capacidade decisória, o homem torna-se naquilo que determina o sistema.
De um modo geral, já em período escolar, o ensino tradicional não contribui muito para desenvolver a criatividade.
Matérias obsoletas e desnecessárias compõem um currículo que de pouca utilidade  se mostrará na vida adulta.
Estatísticas mostram que 80% das pessoas não trabalham no que realmente gostam.
Discussões filosóficas fundamentais para a vida não são feitas nas escolas nem no meio familiar.
Passada essa fase da formação, surgirá o adulto pronto na sua nova “fase da ação”.
Tudo é muito dinâmico, pouco pensado, impulsionado pelo sexo, pelo poder e pela força.
Certamente ele virá repleto de mentiras e hipocrisias, portador de máscaras para cada momento de sua vida futura, sempre calcada no sucesso financeiro que, segundo o que lhe foi transmitido, representa a felicidade total.
Foram absorvidos, ou não, condicionamentos patológicos dos mais diversos tipos, e eles os acompanharão pela vida afora.
Cheios de prepotência, não pararam para discutir se o que aprendeu foi certo ou errado, e apenas repetem os modelos neuróticos que aprenderam a usar em função do tão buscado “sucesso na vida”.
O outro passa a ser apenas um detalhe e é atropelado sem culpa, desde que isso se imponha para o crescimento pessoal.
Dessa forma, criam-se bandos e bandos de egoístas compulsivos que, tendo se comprometido a uma convivência civilizada, transformam o mundo num lugar tenso, angustiante, sujeito a todo tipo de violência.
Apenas na velhice, nesse terceiro ciclo da vida, começamos a vivenciar “a fase da reflexão”.
Essa sim deveria ser a fase em que, já sem as tarefas da procriação e do dinheiro que o mundo exige, o ser humano poderia se dedicar ao aprimoramento da sua vida emocional.
Pena que nessa fase muitos indivíduos sofrem a interferência dos chamados “familiares bem intencionados” que, imbuídos de uma compaixão desnecessária e inexistente, passam a interferir na privacidade do idoso, duvidando, portanto, da sua perfeita capacidade de autogestão.
Isso acontece inconscientemente e, algumas vezes, nas melhores das intenções.
Alguns idosos aceitam essa poda física e emocional, enquanto outros, mais reflexivos, questionam esses comportamentos, tornando-se difícil a convivência com os circunstantes.
É como se ele (o idoso) não tivesse mais capacidade de reflexão, justo na fase em que ela aparece com total intensidade.
Com a plena consciência de que não há mais tempo a perder, a idade demanda pressa e interesse maior por tudo que a rodeia.

Gabriel Novis Neves
04-06-2015

segunda-feira, 15 de junho de 2015

SENSIBILIDADE


Com algumas diferenças de intensidade, todos nós temos algum tipo de sensibilidade ao nascer.
Com o passar dos anos, influências educacionais, tipo de instrução escolar e meio em que vivemos, essa sensibilidade vai se tornando nítida, a ponto de personalizar cada um como único.
Muitos de nós somos dotados de nobres sentimentos, como amor, solidariedade, cuidados especiais com os mais necessitados, amizade e a busca permanente pela felicidade.
Durante o nosso período de vida ativa, onde os encargos de trabalho para a sobrevivência da família são inúmeros e cansativos, quase nem tempo nos sobra para verificar como estão nossos sentimentos, totalmente submersos no mundo capitalista e competitivo que temos como modelo econômico.
Na calmaria relativa da vida idosa observamos que muitos sentimentos afloram em dimensões que, até então, desconhecíamos.
Os bons sentimentos, identificados como em telas gigantes, são louváveis e aplaudidos, mas, os mesquinhos também aparecem na tela em superdimensão.
Tudo no idoso é mais amplo, bastando reparar casais de jovens e idosos se acariciando.
Os idosos têm um diferencial que só a idade propicia, além de estarem mais libertos das amarras impostas pela nossa sociedade.
A importância de informações sobre a sensibilidade exacerbada dos idosos é exatamente para que mais facilmente se tornem compreendidos e ajudados.
Na pior das hipóteses, a não aceitação desse fenômeno natural pelos mais jovens, cria um abismo entre gerações.
O idoso geralmente demonstra ser bem mais afetuoso, carinhoso, dedicado, amigo, comprometido em não constranger ou maltratar os mais jovens, embora seja frequentemente vítima de preconceitos.
Todas as fases da vida, quando vividos com sabedoria, são lindas e plenas, entretanto, na maturidade nos tornamos mais intensos, e isso tem de ser visto como um prêmio, e não, como um castigo.

Gabriel Novis Neves
21-05-2015

domingo, 14 de junho de 2015

Talento


Raro de ser encontrado, muito precocemente o talento é ceifado pelos progenitores, pela escola, pela religião e mais tarde pela sociedade.
Os comportamentos sociais ditos adequados devem se ater a um determinado “consenso”.
Nada mais castrador para o ser humano que o chamado “consenso”.
Pensar e agir como a maioria estabelece como ideal gera sempre a mediocridade que a todos sufoca.
O talento, para ser desenvolvido, precisa de liberdade, de riscos, de vencer medos, enfim, de romper as barreiras que costumam aprisionar as pessoas.
Não interessa às sociedades organizadas indivíduos talentosos, criativos. Ao contrário, apenas os obedientes, submissos, medíocres e conformados serão úteis ao sistema como um todo.
Seguir dogmas, mitos e regras, sem questioná-los é a chave de sucesso para as boas economias de mercado e sociedades de consumo.
Infringir  as regras do mercado que nos são impostas por propagandas subliminares, seria a destruição de várias indústrias tais como: a da estética, a da beleza, a da moda e tantas outras que ditam, através de lavagem cerebral, o que deveremos vestir, o padrão estético de beleza do momento, a maneira de usar os cabelos, o consumo de produtos que prometem a juventude eterna, enfim, toda uma gama de propaganda enganosa.
São criados modismos, e a carneirada totalmente alienada segue a qualquer custo o padrão estabelecido, formando uma única massa, isenta de singularidade e, o que é pior, atrofiada na sua capacidade pensante.
Dessa maneira, questionadores compulsivos impedem a transmissão da corrente de burrice necessária ao pleno desenvolvimento do modelo econômico que vivemos.
Imagine a humanidade cônscia de sua força e de seu poder!
Muito mais confortável é o pertencimento à grande massa anestesiada por tarefas desinteressantes, aquisição de objetos desnecessários, tempo de vida atirado ao não questionamento, totalmente dedicada ao autocentrismo.
Talvez por essa razão, desde sempre, sejam tão perseguidas no mundo as minorias, sejam elas indígenas, negras, asiáticas, gays, que têm a liberdade como um bem maior.
Não somos condicionados a aceitar as diferenças e, muito menos, a respeitá-las.
Certo grau de subversão da ordem vigente é a única possibilidade de crescimento da raça humana.

Gabriel Novis Neves
21-05-2015

sábado, 13 de junho de 2015

ABISMO INTRANSPONÍVEL


Li em algum lugar, sem mesmo me fixar no autor, algo que me fez refletir sobre a dinâmica do comportamento humano.
O texto dizia mais ou menos assim: “devíamos olhar as pessoas como elas são, examiná-las como elas gostariam de se ver e, finalmente, tentar entender esse abismo entre elas”.
Impressionante como algumas pessoas, e conheço muitas, se colocam num abismo amedrontador para si mesmas e sem uma causa convincente para os demais mortais.
Têm elas boa saúde, situação financeira estável, ou abastada, situação familiar dentro dos limites estabelecidos socialmente, sucesso profissional comprovado, vida amorosa invejável e, no entanto, vivem mergulhadas numa insatisfação desmedida em função de pequenos detalhes, desprezíveis, se vistos de fora.
Suas atitudes se movem independentemente de suas ideias.
A má interpretação é uma consequência lógica. São pessoas que, mesmo não sendo egoístas, são momentaneamente dominadas pelo autocentrismo.
A preocupação com o outro, apesar de sempre presente, se dispersa nas suas próprias autorreferências e vaidades.
Isso faz com que eu me lembre do grande filósofo grego Sócrates que costumava preconizar: “o que quer que você faça, vai se arrepender sempre”.
Para mim, isso é a negação de todo pensamento coerente.
Perdão pela ousadia em me contrapor ao pensamento de um dos maiores filósofos da história da humanidade.
Depois de uma longa viagem pela vida, mesmo tendo parecida fugaz, chego à conclusão que a única possibilidade de convivência é através da compaixão.
Não se farão amigos, sequer conhecidos íntimos, sem esse sentimento, tamanha é a diversidade da alma humana.
A compaixão - essa capacidade de entender e amar o próximo, independentemente do que gostaríamos que ele fosse - talvez seja o mais nobre dos sentimentos, ainda que venha travestida de uma arrogância complacente.
Entender, sem julgamento, que algumas pessoas não conseguiram fazer o distanciamento necessário entre a criança e o adulto que as habita, é absolutamente necessário, não só para viver, como também para livrar o outro de suas culpas involuntárias.

Gabriel Novis Neves
19-05-2015