segunda-feira, 8 de junho de 2015

AMADA AMANTE


Só mesmo um país absolutamente surreal proporcionaria a cena de mau gosto explícito durante o depoimento de uma doleira, já presa e incriminada por transações ilícitas em várias ocasiões, em uma CPI que investiga as imbricações políticas da chamada operação “Lava Jato”.
Inimaginável para o compositor da famosa canção “Amada Amante” que um marqueting de tamanha  força fosse  ocorrer justo durante  uma sessão de alto interesse para o país e, portanto, com grande visibilidade.
A referida depoente, ao falar do seu relacionamento com um colega de profissão, também incriminado na mesma operação, foi acometida de um surto romântico e passou a cantar a bela música acompanhada por um dos componentes da CPI.
A simples palavra amante tirou da depoente ilações filosóficas, e imediatamente passou a  defender a beleza do termo.
Diante do quadro de estupefação geral, o presidente da mesa tratou de desligar os microfones. 
A ré mostrava-se desenvolta, segura, explicitando que o Brasil é um país movido à corrupção. Corroborava a tese com o argumento de que depois da operação “Lava Jato” o país entrou em franca recessão.
Isso mostra a total inversão de valores que se instalou em grande parte da sociedade brasileira, quando, um maior desenvolvimento econômico passou a ser associado à corrupção.
Realmente vivemos num país esdrúxulo que, além de estar com uma economia decadente, escancara conceitos cínicos e imutáveis, infelizmente compartilhados pela maioria dos envolvidos no esquema das corrupções violentas que provocaram  o rombo descomunal constatado nas contas públicas.
Quando imaginamos tudo ter visto, o que parece é que esse circo ainda trará muitos espetáculos, no mínimo, surpreendentes.
Aliás, essa capacidade para transações tenebrosas condiciona, pelo menos, a presença de  figuras com grande comprometimento psicossocial.

Gabriel Novis Neves
18-05-2015

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