terça-feira, 16 de junho de 2015

Os três tempos da vida


Diante do meu terceiro tempo de vida, passo dias e dias em intensa reflexão, coisa para quem tem todo o tempo do mundo e se dispõe a passar a limpo os encantos e os desencantos de suas vivências.
Sim, estou em plena “fase da reflexão”!
Quando chega ao mundo, o ser humano, para convivência com os da sua raça, entra na “fase da formação”.
Nos primeiros seis anos de vida ele forma todos os seus valores e, o que é pior, muitos desvalores passados pelos familiares, pelo meio em que vive, pelas religiões que lhe são impostas e por todas as caretices criadas pela sociedade com suas ambivalências e suas idiossincrasias.
Enfim, despidos de qualquer capacidade decisória, o homem torna-se naquilo que determina o sistema.
De um modo geral, já em período escolar, o ensino tradicional não contribui muito para desenvolver a criatividade.
Matérias obsoletas e desnecessárias compõem um currículo que de pouca utilidade  se mostrará na vida adulta.
Estatísticas mostram que 80% das pessoas não trabalham no que realmente gostam.
Discussões filosóficas fundamentais para a vida não são feitas nas escolas nem no meio familiar.
Passada essa fase da formação, surgirá o adulto pronto na sua nova “fase da ação”.
Tudo é muito dinâmico, pouco pensado, impulsionado pelo sexo, pelo poder e pela força.
Certamente ele virá repleto de mentiras e hipocrisias, portador de máscaras para cada momento de sua vida futura, sempre calcada no sucesso financeiro que, segundo o que lhe foi transmitido, representa a felicidade total.
Foram absorvidos, ou não, condicionamentos patológicos dos mais diversos tipos, e eles os acompanharão pela vida afora.
Cheios de prepotência, não pararam para discutir se o que aprendeu foi certo ou errado, e apenas repetem os modelos neuróticos que aprenderam a usar em função do tão buscado “sucesso na vida”.
O outro passa a ser apenas um detalhe e é atropelado sem culpa, desde que isso se imponha para o crescimento pessoal.
Dessa forma, criam-se bandos e bandos de egoístas compulsivos que, tendo se comprometido a uma convivência civilizada, transformam o mundo num lugar tenso, angustiante, sujeito a todo tipo de violência.
Apenas na velhice, nesse terceiro ciclo da vida, começamos a vivenciar “a fase da reflexão”.
Essa sim deveria ser a fase em que, já sem as tarefas da procriação e do dinheiro que o mundo exige, o ser humano poderia se dedicar ao aprimoramento da sua vida emocional.
Pena que nessa fase muitos indivíduos sofrem a interferência dos chamados “familiares bem intencionados” que, imbuídos de uma compaixão desnecessária e inexistente, passam a interferir na privacidade do idoso, duvidando, portanto, da sua perfeita capacidade de autogestão.
Isso acontece inconscientemente e, algumas vezes, nas melhores das intenções.
Alguns idosos aceitam essa poda física e emocional, enquanto outros, mais reflexivos, questionam esses comportamentos, tornando-se difícil a convivência com os circunstantes.
É como se ele (o idoso) não tivesse mais capacidade de reflexão, justo na fase em que ela aparece com total intensidade.
Com a plena consciência de que não há mais tempo a perder, a idade demanda pressa e interesse maior por tudo que a rodeia.

Gabriel Novis Neves
04-06-2015

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