quarta-feira, 30 de setembro de 2015

TV DESEDUCATIVA


A televisão brasileira poderia ser uma grande fonte de disseminação cultural. Mas, infelizmente, está, e sempre esteve, a serviço do grande capital, o que é totalmente aceito pelas leis do mercado.
Lembrei-me do relato de um amigo. Disse-me ele que, em 1981, durante uma viagem à China, voltou encantado com a programação televisiva, totalmente dedicada à cultura e a ensinamentos no campo da prevenção de doenças.
Eram horas a fio de música clássica e regional, aulas focando várias matérias, inclusive, o ensino de vários idiomas.
Ficou impressionado com o número de pessoas cantando em português músicas de Chico Buarque, na época em grande prestígio pelo mundo.
O resultado está aí, depois de trinta e quatro anos, um país recém-saído da mais absoluta miséria, despontando como a segunda maior economia do mundo.
Enquanto isso, nós aqui na terrinha, continuamos em níveis insuportáveis de pobreza, de falta de saneamento básico, de saúde, de educação, de violência e de injustiça social.
As grandes nações não se fazem sozinhas, é necessário que suas lideranças exerçam o seu verdadeiro papel, tal como em uma orquestra, que não funciona harmoniosamente sem a regência de um grande maestro.
Infelizmente, no Brasil, os incentivos culturais são ínfimos, o que faz com que a população se torne cada vez mais vítima de propagandas enganosas e, portanto, cada vez mais alienada.
População menos culta e menos educada é sempre mais fácil de ser manipulada. É tudo o que interessa ao poder constituído, que nada faz para mudar esse estado de coisas.
Os nossos programas de auditório são deprimentes! Exemplo: são recheados de vídeo cassetadas, que nada mais conseguem senão exaltar a baixa autoestima de uma população que, de tão achincalhada, submete a si e a sua família a situações humilhantes, apenas por uma meia dúzia de trocados.
As emissoras não estão preocupadas com as mensagens subliminares que são passadas desde a infância através dessas práticas pseudodivertidas, tampouco pelo mal que elas podem causar a quem a elas se vendem por absoluta ignorância e ingenuidade.
Jamais uma criança, na pureza de suas atitudes, poderia se divertir com tombos fabricados e quedas algumas vezes perigosas e que visam apenas a diversão de uma população imbecilizada.
Há que se assinalar também na mídia televisiva, a falta do tênue limite que separa o erotismo da pornografia. Ele reside, fundamentalmente, no bom gosto.
O que se tem visto em alguns programas de auditório é exatamente o contrário disso. Letras de músicas de cunho e expressões corporais nitidamente pornográficas são disseminadas para uma plateia formada pelas mais diversas faixas etárias e de maneira agressiva.
As crianças, em casa, participam desse festival de mau gosto, exibindo também as suas habilidades, cujo conteúdo intui sem entender.
Com certeza isso é um desserviço à cultura.
Importante frisar que não se trata de um insight liberal ou conservador, mas sim, da responsabilidade das diversas mídias em propagar a ética e o bom gosto.
Um pouco de requinte não faz mal a ninguém e até embeleza a vida, hipertrofiando, inclusive, o erotismo em detrimento da vulgaridade.
Que crianças querem formar ao insuflá-las ao baixo nível e à pobreza cultural? Com certeza se transformarão em adultos pouco éticos e despidos de sensibilidade.
Sem educação, seremos sempre aquele gigante adormecido há cinco séculos.

Gabriel Novis Neves
15-09-2015

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Efeitos do calor


Quando estamos em casa, com um inverno de quarenta graus, somos obrigados a nos recolher em quartos refrigerados e umidificados.
Após o jantar, os solitários não têm alternativa – vão para a cama assistir televisão. Logo aparece o sono e a vontade de dormir.
Estou em uma fase em que procuro não contrariar mais as minhas vontades. 
Com o “inverno” prolongado, comecei a dormir bem antes das nove da noite, e a minha necessidade de sono é de seis horas.
Aprendi a administrar o tempo da madrugada inspirado em experiências de contemporâneos que passaram pela mesma situação.
Brigar com o corpo que rejeita a cama? Jamais!
Então levanto, tomo um guaranazinho ralado, como uma laranja lima, retorno ao leito e durmo mais um pouquinho.
Por volta das quatro e trinta da madrugada não é mais possível permanecer deitado. Vou à rotina das tarefas.
Antes, um copo de água e uma bananinha.
Ligo o computador para a leitura dos jornais nacionais pela Internet. É o melhor despertador para um novo dia de calor.
A lua ainda não se escondeu, e ele já se faz presente.
Após meia hora de leitura dinâmica pelos principais jornais, vem a tristeza de constatar que vivemos em um país muito desigual e sem líderes!
Ninguém mais se entende na área econômica, e as medidas adotadas para enfrentar a crise que criaram são simples placebos para um paciente terminal.
Aqui no nosso Estado a turma do asfalto continua em conflito com o pessoal da poeira.
Greves, violência, desemprego e, o pior, a falta de esperança por dias melhores que nos atormenta.
Vamos torcer para que este ano termine rapidinho e surja algo de novo no próximo que, com certeza, será calorento.
Não custa escrever uma carta ao “bom velhinho” implorando por um alento para todos nós, inclusive, regulando a temperatura solar.

Gabriel Novis Neves
04-09-2015

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O HOMEM E A TARTARUGA


Acordei numa dessas manhãs, imagino que como a maioria das pessoas, enojado com toda essa miséria política que nos tomou de assalto nas últimas décadas.
Assalto, na verdadeira acepção da palavra, mas também na metafórica.
Tudo se desanuviou quando um grande amigo, sobrevivente de um grave AVC (Acidente Vascular Cerebral), me chama ao telefone logo pela manhã, uma das várias cinzentas dessa época do ano.
Sequelado por uma disartria bastante importante confidenciou-me, com dificuldade, uma enorme preocupação. Ele estava angustiado porque não sabia quem, porventura, iria sepultar o seu animal de estimação quando ele morresse - uma bela tartaruga com quem se habituou a conviver há alguns anos.
Emocionou-me o fato de tudo ter acontecido após ele ter lido o meu artigo sobre o cão de Ipanema que, depois de perdido, encontrou novos donos e descobriu uma vida de glória e de muitos amigos.
Imediatamente, ao se dar conta de sua finitude, lembrou que as tartarugas são longevas e que, provavelmente, o seu animal de estimação não teria a  sorte do cão do Posto 9. Esse pensamento deixou o meu amigo muito mobilizado.
Impressionante como a sensibilidade desses pacientes fica hipertrofiada, atrelando-os fortemente à natureza e a tudo que, no mundo dos saudáveis, parece adormecido.
Seus sintomas de riso e choro espasmódicos refletem essa imensa sincronicidade com o universo.
Tamanha solidariedade com um bicho de pouca, ou nula, comunicação com os seres humanos, foi algo que me deixou emocionado e pensativo. 
Comecei a pensar que todo e qualquer vínculo pode tirar o homem de sua miséria existencial.
Na velhice e na doença esses vínculos vão se tornando cada vez mais necessários, já que a sensação de solidão é progressivamente proporcional à finitude.
Enfim, foi um telefonema que me fez pensar nos segredos dessa energia vital que nos mantém atrelados uns aos outros, ainda que pertencentes a ramos diferentes da espécie animal.
O universo é um só, e ainda que não pensemos nisso, precisamos de tudo e de todos a todo tempo.
Pena que a onipotência da juventude não nos deixava ver tudo isso antes.
Daí, o dito popular: “se os jovens soubessem e se os velhos pudessem”...

Gabriel Novis Neves
22-09-2015

Histórias


O governo do Estado, no período de 1966-1971, acreditava que o desenvolvimento das nossas cidades se daria em direção a São Paulo, a capital do progresso.
Assim, seus grandes projetos eram alocados ao longo das rodovias, cujo destino era a cidade da garoa.
A construção das duas “Cidades Universitárias”, hoje sedes da nossa Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) em Cuiabá e Campo Grande, respectivamente, são provas desse momento histórico.
Ambas estão às margens das vias com destino a São Paulo.
Falando de Cuiabá, o antigo distrito do Coxipó da Ponte passou a ser um bairro charmoso da capital.
Inúmeros núcleos habitacionais, restaurantes, casas de diversão e comércios de grande importância econômica foram implantados na região revitalizada, assim como os primeiros condomínios.
A cidade crescia nessa direção, até que o governador José Fragelli resolveu apostar no equilíbrio da cidade e implantou, em “pleno mato”, a sede do governo do Estado.
Projeto audacioso para a época, hoje totalmente consolidado com bairros periféricos, cuja população só perde para Cuiabá e Várzea Grande.
Refiro-me ao CPA, verdadeira cidade dentro da capital.
No início da transferência do emblemático Palácio Alencastro, que representava o poder, para uma área pioneira, a digestão não foi fácil.
Passados quarenta anos da histórica decisão ninguém mais discute o acerto da opção.
Por ocasião da última Copa dos 7X1, quando fomos uma das subsedes, perdemos a oportunidade de ocupar um grande vazio na nossa região metropolitana.
Se a nova Arena tivesse sido construída em área ainda virgem de grandes equipamentos sociais, como hotéis, restaurantes, shoppings e bairros novos, equilibraria o crescimento e desenvolvimento da nossa cidade.
O passado não se discute, mas as prioridades estão em contínua mutação.
Isso é o que nos ensina a história.

Gabriel Novis Neves
25-09-2015

INFÂNCIA INTERROMPIDA


As mortes sucessivas que vêm atingindo cidadãos dos países do Oriente Médio e da África vêm horrorizando os habitantes do planeta Terra, mas, não a ponto de mobilizá-los definitivamente contra tanta crueldade.
A foto estampada nos jornais nesses últimos dias da criança síria morta, com o rostinho enterrado nas areias de uma praia turca é, no fundo, o retrato de todos nós - enterrados vivos, cobertos de vergonha.
Ela viajava em uma embarcação precária acompanhada por seus pais e por um irmão. A família tentava fugir da guerra em seu país e de todo os horrores advindos dela.
São imagens que ficam cravadas na nossa memória - tal como a da criança vietnamita nua correndo para o nada após bombardeio aéreo de napalm -, pois trazem à tona a barbárie e a insensatez quando passaportes e fronteiras invalidam a possibilidade de se viver em qualquer país do mundo, no mínimo, com dignidade.
O napalm é um líquido inflável à base de gasolina geleificada. Foi usado no Vietnan para desfolhar a floresta do delta do rio Mekong e desalojar vietcongues. Depois foi lançado diretamente sobre aldeias, onde só havia mulheres e crianças.
Onde estão os tão propalados direitos humanos? Atitudes que contrariam o que apregoam todas as religiões - cujo discurso tanto se distancia da prática.
Fotos como essas escancaram o que há de pior no sistema político-econômico que rege os países ditos desenvolvidos.
Não é possível continuar aceitando que as oitenta e cinco pessoas mais ricas do mundo detenham o mesmo poder aquisitivo dos outros sete bilhões de habitantes da terra juntos.
Enquanto existir tanta injustiça social e tanta apatia diante do crescente número de desvalidos no mundo, nada acontecerá, a não ser a humilhação que cobre parte da humanidade, esta sim, sensibilizada por rostos enterrados na areia inertes para sempre.
Famílias exterminadas, infância que não se completa, enfim, genocídio consentido por todos nós.
A criança síria morta é o retrato do flagelo humanitário deste início de século.
Cidadãos comuns são expulsos de seus países pelas guerras, pela fome e miséria e passam a vagar pelo mundo, mesmo diante da perspectiva da morte, em busca de uma simples vida de trabalho e de tranquilidade.
Quem sabe tenhamos no futuro um mundo em que todos tenham direito a uma vida digna em qualquer parte do planeta e livres de passaportes ou de fronteiras!
Sonhar é preciso.

Gabriel Novis Neves
19-09-2015

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Greve nas universidades


É difícil explicar a um estrangeiro que professores por aqui entram em greve por tempo indeterminado e que isso pouco incomoda ao país e à sociedade.
O poder público parece apático para resolver esse problema, e os maiores prejudicados, que são os alunos, aproveitam para descansar, deixando para os pais mais esta despesa extra. 
Fato curioso é que os salários dos professores continuam sendo rigorosamente pagos, e as reivindicações dos mestres são por melhores condições de trabalho, ensino de qualidade e salários dignos.
O ano acadêmico vira uma imensa maionese, onde no final os alunos, mesmo prejudicados, não são reprovados, com as festas de colação de grau coincidindo com os festejos do nosso calendário e os professores não sendo atendidos em suas reclamações.
Esta greve das federais, que já dura três meses, tem como verdadeiro motivo a tesoura do ajuste fiscal, que atingiu em cheio as casas de ensino superior, comprometendo o desenvolvimento do país.
Essas greves expõem também um processo antigo de politização nos campi, entre organizações radicais de estudantes e sindicatos de professores, quase sempre em oposição às reitorias.
A perda do padrão de qualidade do ensino é o filho desse confronto.
Nossas universidades federais, e algumas estaduais, como a USP, se transformaram em espaço de luta política, em que o ensino deixou de ser prioridade.
Estamos presenciando, sob os olhos indiferentes do governo federal, o desmonte das nossas universidades públicas, algumas de excelência.
Não há fonte de recursos externos consistentes, somente aqueles minguados e insuficientes vindos do Tesouro Nacional.
O pior é que o governo não está nem aí para o que acontece. Aliás, povo quanto menos qualificado mais fácil de ser manipulado.
A situação é grave e precisa ser enfrentada pelas pessoas sensatas que existem nessas instituições.
Isto tem de ter um basta, para o bem desta nação!

Gabriel Novis Neves
16-09-2015

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

CRISE MIGRATÓRIA


Cruel imaginar que, enquanto a União Europeia discute se são “imigrantes” ou “refugiados” os milhares de indivíduos que tentam abandonar seus países devido às guerras, a pobreza, repressão religiosa ou política, entre outros motivos, morram sem que ninguém se comova.
Os últimos acordos datam de 1970, quando a Europa fechou as suas portas para os expatriados, salvo em condições especiais – se eles fossem importantes para os países que os recebessem.
De lá para cá, o mundo se tornou mais violento e mais pobre.  Alguns países da África e do Oriente Médio foram se tornando inviáveis para as suas populações.
O que nos apavora é que o resto do mundo, mergulhado nas suas perspectivas capitalistas desumanas, não se sensibiliza, aparentemente, com esse verdadeiro genocídio.
As perdas de vidas são diárias nessa fuga desesperada. Famílias inteiras desafiam a morte através de caminhos marítimos ou terrestres.
A rota preferida por essas pessoas é: chegar à Itália ou à Grécia por meio de embarcações precárias, atingir, por via terrestre a Macedônia, daí para a fronteira com a Sérvia e, finalmente, para a Hungria, país que seria a porta de entrada final para a Alemanha e para os outros países ricos da Europa.
A Macedônia já se declarou em estado de emergência. A Hungria vem construindo uma imensa cerca de arame farpado para impedir a entrada desses imigrantes.
Acontece que as fronteiras de todos esses países já se transformaram em imensos campos de refugiados, com todos os problemas que isso acarreta para as suas devidas organizações.
A Organização Internacional para Migração (OIM) publicou um relatório mostrando que mais de 4.000 pessoas morreram em 2014 tentando migrar para outros países.
Em 2015 quase 1.000 pessoas já morreram em busca de uma vida melhor – segundo dados do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados)
A mais recente e chocante foi a morte de uma família síria em sua tentativa de fuga desesperada para o Canadá.
A imagem do corpo do menino sírio, de apenas três anos de idade, encontrado em uma praia da Turquia parece que, finalmente, acordou o mundo para este sério problema. Ele morreu juntamente com seu irmão de cinco anos e sua mãe. O pai foi o único sobrevivente dessa desgraça.
O Jornal britânico The Independent estampou em sua página: “Se essa imagem extraordinariamente poderosa de uma criança síria morta em uma praia não mudar a atitude da Europa com os refugiados, o que irá?”.
O jornal português também publicou a imagem chocante e justificou: “Vamos de forma paternalista proteger o leitor de quê? De ver uma criança morta à borda da água, com a cara na areia? Não sabemos se esta fotografia vai mudar mentalidades e ajudar a encontrar soluções. Mas hoje, no momento de decidir, acreditamos que sim”.
Eu também quero acreditar que sim. Quero crer que aquela imagem brutal e bestial do resgate do menino sírio Aylan Kurdi seja o início de tentativas sérias para se resolver esse grande problema.
Aquela imagem que chocou o mundo, já se tonou o símbolo da terrível crise migratória que hoje presenciamos.

Gabriel Novis Neves
20/09/2015

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Valores


Educar é muito mais do que ensinar. Educar é, essencialmente, passar valores.
O mundo moderno, onde tudo é consumido e descartado muito rapidamente, vive um momento atípico causado pela velocidade das mudanças em todos os níveis.
Tudo foi transformado muito mais intensamente nesses últimos setenta anos do que nos últimos quatro mil anos.
Somos uma geração que conseguiu sobreviver razoavelmente bem a essa enxurrada de novos conceitos e alta tecnologia.
Estamos falando, não somente dos valores tradicionais, tais como ética e moral, a maioria já obsoleta, mas, de um dos que considero da maior importância para a vida adulta, a autoestima.
Quantos de nós não vivenciamos a cultura do “não” e do sempre “insuficiente”?
Por mais que nos esforçássemos, estávamos sempre sendo cobrados por uma melhora, num aperfeiçoamento quase sempre inatingível.
Essa cultura repressiva, em que questões comportamentais não são discutidas e valores são passados sem questionamentos, continua ainda vigente em muitas escolas e lares pelo mundo afora.
Resultado: adultos inseguros, infelizes e com baixa autoestima, sempre descontentes com os patamares de sucesso para os quais foram programados.
Ao contrário, os incentivos elogiosos às iniciativas pessoais e à criatividade, produzem na vida adulta pessoas autoconfiantes, aptas às alternâncias e instabilidades que fazem parte do cotidiano, em que tudo é dinâmico em todos os momentos e nem sempre a nosso favor.
A autoestima e o conhecimento são, a meu ver, os maiores legados que podemos deixar para alunos ou familiares. 
Isso é tão patente que nos nossos relacionamentos logo reconhecemos os vitoriosos, os seguros de si mesmos, ainda que aparentem pouca intimidade com o “rebanho”, sempre muito submisso.
Essas reflexões me reportam a Oscar Wilde, quando se dizia muito preocupado quando concordavam com ele: era sinal que deveria rever seus conceitos.
Realmente, a humanidade não é preparada para a especulação. Ela prefere ficar numa zona de aparente conforto em que conceitos, mesmo arcaicos, devem ser seguidos sem maiores questionamentos, ainda que muito dolorosos no futuro.
Esse costuma ser o comportamento das massas.  Daí os modismos de todo tipo, sejam eles estéticos, sociais, sexuais, comportamentais.
O “todo” costuma englobar o “pessoal”. 
Nos dias atuais, em que nos chega tanta tecnologia, tanta informação e, também, tanta desinformação, é preciso ficar atento a que tipo de adultos a educação atual está formando - se totais submissos a dogmas e mitos ou seres pensantes, aptos ao novo, acreditando-se como transformadores do universo.
Isso é o que esperamos das escolas e, principalmente, da capacidade familiar de não minimizar as aptidões de seus descendentes.

Gabriel Novis Neves
10-09-2015

terça-feira, 22 de setembro de 2015

VIRAR O JOGO


De há muito não temos o que comentar sobre os acontecimentos locais.
São sempre os mesmos - greve dos médicos, escolas com qualidade de ensino não compatível com a nossa tradição, transporte coletivo a nos infernizar a vida, Estado de calor desértico, onde continuamos com o título de campeões de queimadas de parte da nossa floresta ameaçando, inclusive, o nosso Aeroporto de Várzea Grande, o Internacional.
Muitas obras não concluídas espalhadas pelas cidades, especialmente na capital. As que ficaram prontas estão precisando de reparos urgentes.
Reuniões daqui, comissões pra cá, lançamento de projetos de obras, constatação de outras paralisadas por falta de recursos, protocolos de intenções para políticas de desenvolvimento da região.
A violência continua desenfreada no Estado e, pisotear sobre esse assunto, é o mesmo que não ter notícias, pois, diariamente a mídia tupiniquim cobra providências sem resultados.
Como aquele ditado que diz, “quem não te conhece que te compre”, os grandes veículos de comunicação nacional, dia sim e outro também, têm nos premiado com esses assuntos que, para nós, parecem não mais incomodar.
Nosso Estado, principalmente sua capital, nunca foi tão divulgado como nesses últimos meses.
São denúncias contundentes feitas de longe, mas, os moradores da terrinha já metabolizaram a conviver com elas, e não chegam nem mais a se incomodar.
Habitantes de fora do Estado indagam sempre sobre o que aconteceu por aqui, motivo de tanta divulgação negativa.
Não sei explicar tamanha apatia diante de um assunto tão sério que é a imagem do local em que vivemos.
Talvez a forte crise financeira que nos atinge tenha induzido ao bloqueio a nossa rebeldia. Assim como, inflação, desemprego e projetos delirantes ao nosso desenvolvimento, como o transoceânico.
Os jovens, criados sem esperança, não estão nem aí para o que acontece em nosso Estado.
Os velhos acham que o seu prazo de validade para a luta está vencido.
O resultado é a humilhação diária que sofremos dos meios de comunicação nacional.
Como virar este jogo?

Gabriel Novis Neves
21-09-2015

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Medo burocrático


Não é mais segredo para ninguém que o nosso país é um dos mais corruptos do planeta Terra.
Como medida de “proteção” a esta criminosa sangria dos recursos dos cofres públicos, os governos (federal, estaduais e municipais) criaram um verdadeiro arsenal de leis, decretos, regimentos, normas e etc. para conter o avanço insaciável de certos agentes públicos e políticos ao nosso erário. 
Pessoas de bem só aceitam um cargo público importante se tiver a liberdade de trazer a sua equipe técnica de confiança para opinar, auditar e cuidar dos atos assinados pelo cidadão no exercício da sua função pública.
Temos inúmeras instituições e órgãos oficiais em condições de desempenhar essa tarefa com eficiência e probidade. No entanto, perdem, muitas vezes, a credibilidade por falta de condições políticas.
Hoje, famosos profissionais liberais são contratados, e muito bem pagos, para “proteger” esta ou aquela autoridade que deseja desempenhar o seu dever de cidadão e retornar ao seu escritório com a consciência do dever cumprido, sem aborrecimentos posteriores com os órgãos de fiscalização e repressão. 
A “defesa” do nosso governo é ampla e conhecedora da rotina burocrática, mas, mesmo assim, os ocupantes de altos cargos públicos não abrem mão de um “anjo da guarda” fora dos quadros funcionais.
Isso é muito mal para uma nação, especialmente para as que estão em crise, porque impede decisões importantes e rápidas.
A cautela exige, para um futuro tranquilo, um período de espera burocrática.
Estamos no último quadrimestre do ano e a fotografia do governo é essa.
Segurança total nos processos os mais diversos possíveis, e retrocesso nas decisões.
O medo de enfrentar a burocracia, também, está nos devorando.

Gabriel Novis Neves
04-09-2015

sábado, 19 de setembro de 2015

NEM QUE A VACA TUSSA


É impossível achar agradável passar alguns momentos na sala de embarque do Aeroporto Internacional Marechal Rondon (Várzea Grande - Cuiabá).
Desconforto total! A começar pelos assentos, já que não podemos chamar aquelas armaduras de ferro de cadeiras ou poltronas.
Para nosso maior desespero, numa cidade cujo inverno alcança a invejável temperatura de quarenta graus centígrados e a umidade relativa do ar abaixo dos limites mínimos aceitáveis pela saúde pública, não existe um sistema de refrigeração compatível com o espaço destinado aos passageiros.
Nesse ambiente de total desconforto é que o governo aposta no turismo internacional para trazer divisas ao nosso Tesouro.
É uma vergonha, como diz o Boris Casoy, o desdém com que são tratados os visitantes e a população local quando necessitam de transporte aéreo. 
Empresários, turistas locais e alguns gatos pingados internacionais que eventualmente, atraídos pela mídia, caem na armadilha das belezas naturais que a região oferece, com certeza não se arriscam a uma nova experiência.
Não fosse a incapacidade dos nossos agentes públicos seríamos um dos maiores polos do ecoturismo nacional.
Essa omissão se reflete na baixa ocupação da rede hoteleira e na situação de quase inadimplência dos nossos restaurantes, bares e centros de entretenimento.
Triste pensar que algumas nações se desenvolveram e vivem com o turismo. 
O deslumbrante Pantanal com sua flora e sua fauna, a mata alta, o cerrado, os rios com pesca artesanal, as cachoeiras exuberantes, as cidades tombadas pelo patrimônio histórico, tudo desprezado por falta de gestão governamental para o turismo.
Será que nem um aeroporto humanizado seremos capazes de oferecer aos que nos visitam? E ainda temos o desplante de chamá-lo de Internacional!
Nem que a vaca tussa, nesse clima de grave crise financeira sem solução em curto prazo, podemos esperar dias melhores para o nosso tão almejado e necessário turismo!

Gabriel Novis Neves
10-09-2015

Até os cinquenta


Tudo de criativo que fazemos acontece até aos cinquenta anos, salvo as honrosas exceções para confirmar a regra.
Se passearmos um pouco pela história universal, com facilidade vamos constatar essa verdade.
Aqui na terrinha, apesar dos “coronéis”, os exemplos pululam desde o nosso descobrimento.
Leio em uma revista de circulação nacional que, aos quarenta e um anos de idade, o então Ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen, aconselhava, por escrito, o Presidente da República a dizer “não” a um Estado gastador e a um Presidente que apostava no investimento estatal – exatamente como Joaquim Levy em 2015.
Dizia Simonsen: “É a firme aplicação da terapêutica monetária e fiscal e uma paciência algo estoica, à espera dos resultados que, pela teoria e pela experiência, necessariamente virão”.
Trinta e cinco anos são passados e o Brasil não mudou.
Continuamos enfrentando os mesmos problemas, só que agravados com a crise política-financeira e a corrupção metastática.
O texto do Simonsen, guardadas as devidas diferenças do momento histórico, soa como uma advertência a Levy e a Dilma.
É ingrato lutar contra o tempo e a história. Poucos têm a grandeza de entender que os tempos são outros e o seu momento já passou, não esquecendo nunca os ensinamentos da história.
Steve Jobs, o gênio do século XX, dizia: “Felizes aqueles que sentem que o momento não é mais seu e tem de ceder o lugar aos mais jovens”. 
Encerrar com dignidade esse ciclo histórico de doze anos de governo está causando em muitos políticos enormes transtornos psicológicos, conturbando mais a vida desta nação envolvida em sua maior crise política, ética e financeira.
Os atores atuais têm de compreender que devem dar lugar aos jovens e aceitarem o julgamento da história.

Gabriel Novis Neves
04-09-2915

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

HUMOR


Uma das características da nossa gente é o bom humor, especialmente quando inteligentemente utilizado para crítica social.
Peças teatrais, programas de rádio e televisão, páginas de jornal, livros e revistas, além das conversas de botequim, usam e abusam desse privilégio saudável de apontar fraquezas humanas sem ofender ninguém.
Não é politicamente correto qualquer comentário social quando utilizado desse ingrediente do nosso DNA para denegrir o nosso semelhante.
Logo processos são instalados. Centenas de funcionários da justiça dão pareceres. E, no final, após meses de demandas, o arquivo é sempre o destino - por falta de convencimento da agressão alegada.
Brincadeiras envolvendo o gênero das pessoas, mesmo as mais ingênuas, são motivos de queixas ao judiciário.
No momento, muito se comenta o fato de uma cantora famosa estar sendo processada por ter postado em seu blog, em tom de ironia, que os homens atuais estão “muito devagar”.
Bastou o emprego dessa ingênua expressão, que significa sem pressa, suavemente, para que um grupo de senhores entrasse na justiça solicitando reparos por danos morais.
Como representante do gênero masculino não me senti ofendido, agredido, humilhado, muito pelo contrário, gostei do humor salutar da protagonista.
Que as mulheres de hoje vão mais à luta que os homens, ninguém duvida, porém, aceitar esse fato como ofensa grave para alguns, convenhamos, é demais!
A revolução feminina, após a descoberta da pílula anticoncepcional, veio muito mais intensa do que a esperada, transformando alguns homens em seres inseguros.
Com essa preocupação com o "politicamente correto”, a crítica social aos poucos está desaparecendo do nosso cotidiano, transformando os nossos jornais em apenas prontuários policiais.
Saudades do tempo quando o forte das mídias era o humor, muitas vezes, até, com desfecho trágico!
Conseguimos nos transformar em um país sem alegria, sem dinheiro, sem emprego, sem educação, sem saúde, sem solidariedade, sem segurança, sem futuro, sem esperança e sem humor.

Gabriel Novis Neves
18-08-2015

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Obediência corporal


Com a medicina aprendi que as ordens dadas pelo corpo não eram merecedoras de discussão.
Nossos perfeitos mecanismos internos, precisamente elaborados, nos avisam exatamente os momentos em que estamos desprezando os seus apelos.
Todas as doenças surgem bem antes que os sinais e os sintomas evidentes denunciem que funções importantes do organismo estão sendo desrespeitadas, quer por ignorância, quer por preconceitos arcaicos, que no final são a mesma coisa.
Os preceitos higiênicos mandam que o organismo funcione como um todo, sempre.
A nossa organização como sociedade vem distorcendo através dos tempos os nossos instintos animais, e os resultados disso têm sido bem prejudiciais à nossa saúde.
É uma sociedade que impulsionada, principalmente, pelas diversas religiões, demoniza a sexualidade e seus apelos, determina o celibato para alguns de seus representantes, incentiva a homofobia, enfim, apregoa promessas que não podem ser cumpridas pelas leis corporais que se transformam em doenças, ou na sua consequência mais comum, a loucura.
Difícil imaginar que nos dias atuais dezesseis milhões de meninas e mulheres, em alguns países do mundo, ainda sofram extirpação de órgãos sexuais (mais comumente clitóris) por simples convicções morais arcaicas.
Costumo avaliar alguém sempre pelos modismos que ele segue, ou melhor, pelos que ele não segue.
Macacoides que somos, acompanhamos sempre a carneirada em tudo que nos é imposto sem maiores questionamentos, daí a diferença entre as imposições sociais hipócritas que devem ser seguidas e as que não devem, por ameaçarem a nossa saúde física e mental.
A reflexão sobre a manutenção de uma boa higidez tem de ser uma tarefa diária, não com essa neura de corpos esculturais fabricados pelas propagandas das academias, mas somente, e, principalmente, por uma avaliação do nosso comportamento com relação a dogmas e mitos arraigados durante séculos e que tanto mal tem feito à humanidade.
Depois de muitos séculos de repressão surge um papa com espírito laico, e tem conseguido disseminar um pouco de luz nesse mundo até então mergulhado em trevas e entraves de todos os tipos.

Gabriel Novis Neves
24-08-2015

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

FALAR É FÁCIL


Durante a minha longa caminhada acumulei muitas experiências. Hoje elas fazem parte da constelação dos meus pontos luminosos - aqueles que Carlos Heitor Cony diz que são marcas jamais esquecidas.
Interessante como os jovens acham que as pessoas idosas são como um imenso almoxarifado, etiquetadas com situações vividas ao longo da vida.
Tudo que aconteceu conosco, desde nosso nascimento, está gravado e armazenado no nosso indecifrável cérebro, órgão de acesso difícil.
Através de anos de psicanálise, algumas vezes conseguimos extrair algo desse mundo ainda pouco conhecido pela ciência.
Entretanto, recordamos com facilidade as situações que muito nos marcaram, independente do tempo decorrido.
Parece que esses fatos estão sempre superficiais em nossas mentes, prontos a se exteriorizarem quando solicitados.
Por exemplo, não me lembro de absolutamente nada da festa dos meus treze anos de idade.
Tenho certeza que essa data foi comemorada pela minha família, com mesa de doces e salgadinhos caseiros e o bolo de velas para o “parabéns pra você”.
Porém, jamais me esquecerei do julho em que completei quarenta anos, onde não houve a tradicional mesa de doces e salgadinhos. O que houve foi o início da ingestão diária de aspirina de cem miligramas para evitar o infarto do miocárdio.
Na ocasião, a expectativa de vida era inferior aos setenta anos e a incidência por doenças coronarianas era elevada.
Foi o aniversário do medo.
O governador do “Novo Mato Grosso” - Pedro Pedrossian - certa vez, reuniu-se com alguns secretários em sua residência - único lugar em que conseguia trabalhar em paz - e determinou ao então Presidente das Centrais Elétricas de MT uma série de providências em relação à eletrificação da região da Grande Dourados.
Como Secretário de Educação eu a tudo assistia, sabendo que obras têm custo financeiro.
Concluída as solicitações do governador, que transformou o antigo Estado Curral em Estado Universitário - criando oportunidade para todos - o responsável pela estatal de energia perguntou ao chefe do executivo a fonte dos recursos para tamanha demanda.
Como resposta, a sua demissão. Ao ver concretizado o ato, retirou-se da reunião elegantemente e murmurou: “Pedro, falar é fácil, difícil é fazer”.
Mato Grosso, ainda não dividido e sem apoio do governo federal, vivia momentos difíceis em sua economia.
Existiam muitas frentes de trabalho em andamento, sendo bom lembrar a construção das duas Cidades Universitárias (Cuiabá e Campo Grande), além de Centros Pedagógicos em Rondonópolis, Corumbá, Aquidauana, Dourados e Três Lagoas.
Obras não se fazem apenas com projetos e vontade política, mas, principalmente, com dinheiro.
Ficou inesquecível para mim o “falar é fácil, difícil é fazer”.

Gabriel Novis Neves
27-08-2015

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Perguntas sem respostas


Dias atrás li um artigo do Arnaldo Block. Ele nos desafia a responder a 100 perguntas – que, para ele, são irrespondíveis.
Escreve ele que “existem respostas para muitas perguntas, desde que se refiram ao mundo material. Se não fosse assim, não haveria tecnologia, medicamento que funcionasse, a matemática seria uma ilusão e os prédios castelos de areia”. 
“Todas as outras perguntas, porém, continuam sem respostas, a não ser que se recorra à fé, embora o próprio Papa Francisco tenha admitido, em livro, quando Cardeal, que não é possível crer em Deus sem duvidar de sua existência” – finaliza Block.
Selecionei algumas perguntas. Aquelas que eu julgo serem as mais conhecidas e questionadas por todos os seres pensantes.
Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?
Algo existe? Por que existe algo? Em vez de existir?
De onde vem o que existe? 
Se houve um começo? O que havia antes? Se antes não havia nada? Do que era feito?
Como é o nada? Como é o infinito? O que é o amor? O amor existe? Existe liberdade? O que é ser livre?
Uma coisa é capaz de pensar? O ser é melhor que um objeto? 
Existe o bem? Existe o mal? O bem e o mal são culturais? Alguma coisa é verdade?
A razão tem razão? A razão desconhece suas razões? Seremos máquinas? Somos máquinas?
Perguntas de difíceis respostas. Quase metafísicas!
Mas, não vamos longe! Atualmente, diante da situação de desordem e caos pelo qual passa o Brasil em todas as áreas do serviço público e segmentos da vida humana, deparamo-nos também com questionamentos de difíceis respostas. 
A população aguarda com ansiedade um retorno por parte dos nossos dirigentes e políticos às nossas indagações, principalmente àquelas que se referem aos desvios do dinheiro público.
Entretanto, sabemos que as respostas não virão tão cedo. 
Mas, é importante que os brasileiros se mobilizem para fazer o governo entender que a carneirada está despertando. Que temos uma população capaz de pensar e tirar conclusões. Que o povo está cansado de ser manipulado. Que a sociedade, de modo geral, exige respostas para os seus questionamentos e tomadas de decisões que interrompam a anarquia instalada.  
Enfim, não queremos que as nossas perguntas integrem a lista, já bastante extensas, do artigo do Block.

Gabriel Novis Neves
15-08-2015