quarta-feira, 16 de setembro de 2015

FALAR É FÁCIL


Durante a minha longa caminhada acumulei muitas experiências. Hoje elas fazem parte da constelação dos meus pontos luminosos - aqueles que Carlos Heitor Cony diz que são marcas jamais esquecidas.
Interessante como os jovens acham que as pessoas idosas são como um imenso almoxarifado, etiquetadas com situações vividas ao longo da vida.
Tudo que aconteceu conosco, desde nosso nascimento, está gravado e armazenado no nosso indecifrável cérebro, órgão de acesso difícil.
Através de anos de psicanálise, algumas vezes conseguimos extrair algo desse mundo ainda pouco conhecido pela ciência.
Entretanto, recordamos com facilidade as situações que muito nos marcaram, independente do tempo decorrido.
Parece que esses fatos estão sempre superficiais em nossas mentes, prontos a se exteriorizarem quando solicitados.
Por exemplo, não me lembro de absolutamente nada da festa dos meus treze anos de idade.
Tenho certeza que essa data foi comemorada pela minha família, com mesa de doces e salgadinhos caseiros e o bolo de velas para o “parabéns pra você”.
Porém, jamais me esquecerei do julho em que completei quarenta anos, onde não houve a tradicional mesa de doces e salgadinhos. O que houve foi o início da ingestão diária de aspirina de cem miligramas para evitar o infarto do miocárdio.
Na ocasião, a expectativa de vida era inferior aos setenta anos e a incidência por doenças coronarianas era elevada.
Foi o aniversário do medo.
O governador do “Novo Mato Grosso” - Pedro Pedrossian - certa vez, reuniu-se com alguns secretários em sua residência - único lugar em que conseguia trabalhar em paz - e determinou ao então Presidente das Centrais Elétricas de MT uma série de providências em relação à eletrificação da região da Grande Dourados.
Como Secretário de Educação eu a tudo assistia, sabendo que obras têm custo financeiro.
Concluída as solicitações do governador, que transformou o antigo Estado Curral em Estado Universitário - criando oportunidade para todos - o responsável pela estatal de energia perguntou ao chefe do executivo a fonte dos recursos para tamanha demanda.
Como resposta, a sua demissão. Ao ver concretizado o ato, retirou-se da reunião elegantemente e murmurou: “Pedro, falar é fácil, difícil é fazer”.
Mato Grosso, ainda não dividido e sem apoio do governo federal, vivia momentos difíceis em sua economia.
Existiam muitas frentes de trabalho em andamento, sendo bom lembrar a construção das duas Cidades Universitárias (Cuiabá e Campo Grande), além de Centros Pedagógicos em Rondonópolis, Corumbá, Aquidauana, Dourados e Três Lagoas.
Obras não se fazem apenas com projetos e vontade política, mas, principalmente, com dinheiro.
Ficou inesquecível para mim o “falar é fácil, difícil é fazer”.

Gabriel Novis Neves
27-08-2015

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