sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Esperança


“A esperança tem duas filhas lindas: a Indignação e a Coragem. A Indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a Coragem, a mudá-las”. Santo Agostinho.
Foi assim que a população brasileira votou nas eleições do segundo turno para a Presidência da República.
Esse voto foi sonhar com o impossível, pois, não acreditamos que a curto e em médio prazo teremos um país mais digno e justo.
Estamos no fundo do poço, envoltos no lamaçal das injustiças sociais, mas com a Esperança de ter tentado pelo voto dias melhores para as gerações futuras.
À vencedora do pleito, que representa a continuidade desse melancólico cenário em que vivemos sobressaltados com os escândalos diários praticados por agentes públicos, os problemas serão colocados e cobrados.
Momentos difíceis nos esperam, e só um milagre nos tirará deste mar de lama.
Nossas Instituições estão desacreditadas e não representam os anseios da nossa gente.
Temos um país dividido, onde o ódio foi implantado. Não há espaço para o diálogo e muito menos para a tolerância.
Nossos aliados são nações oligárquicas, ditatoriais, que nada tem a nos ajudar.
Pertencemos ao pequeno grupo de países contra a modernidade.
É triste constatar que só diplomaticamente somos ouvidos nas nossas eternas e arcaicas lamúrias.
Estamos atolados na maior crise moral da nossa história.
Perdemos nossa autoestima e não mais nos entusiasmamos com as belezas naturais e generosidade do nosso povo.
Restam-nos apenas as nossas duas “lindas filhas” para mudar este país.
Tomara Deus que o povo brasileiro tenha decidido bem reelegendo a continuidade, no sentido de nos devolver a Esperança perdida.

Gabriel Novis Neves
20-01-2015

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

FUZILAMENTO DE UM CONTERRÂNEO


Acaba de ser executado por fuzilamento o primeiro brasileiro na Indonésia - umas das sessenta nações que ainda mantém esse tipo de pena de morte.
Realmente, entrar num país com treze quilos de cocaína escondidos nos tubos de uma asa delta, não pode ser considerado um ato banal.
Para nós aqui na terrinha essas coisas passam batidas e, a rigor, fazemos vista grossa para essas filigranas, já que o mercado das drogas, bem como o das armas, são os mais rendosos no mundo.
Nossas fronteiras são mal vigiadas e com frequência figuras do alto escalão aparecem beneficiadas por esse comércio robusto.
Temos dificuldade de entender que países onde as leis são obedecidas se comportem diferentemente.
O rapaz em questão, oriundo de família da alta classe média brasileira, aliás, com bastante influência política nas décadas de cinquenta e sessenta, estava preso na Indonésia desde 2004, tentando se livrar da pena de morte, solução adotada pelo país para esse tipo de crime.
Eu, pessoalmente, sou contrário à pena de morte, pois não acredito na justiça dos homens. Ninguém tem o direito de tirar a vida de seu semelhante.
Consigo entender que países como a Indonésia, de índices baixos de criminalidade, queira combater a entrada de drogas para a sua população, o que já vem ocorrendo de forma preocupante.
Apesar de toda comoção que nos causa perder um brasileiro no auge de sua vitalidade de forma tão cruel, isso não deve chegar ao nível de desentendimento entre os dois países, como querem sugerir as nossas autoridades diplomáticas.
Afinal, leis existem para serem cumpridas, a menos que optemos por um estado anárquico cujas consequências bem sabemos quais são.
Mesmo solidários com a família desse rapaz, importa que não transformemos determinações legais de outros países em crises internacionais graves.
Não mostramos tanta comoção quando sabemos que a nossa polícia é uma das que mais mata no mundo.
Como as populações da periferia, menos favorecidas, são as mais atingidas, nunca vi nenhuma figura do poder estabelecido se insurgir contra essas injustiças que, de tantas, já nem comovem mais a população.
É bom que façamos essa reflexão antes de nos arvorarmos em defensores da ética e dos direitos humanos enquanto ainda permanecemos bem distanciados disso em nossa própria pátria.

Gabriel Novis Neves
17-01-2015

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Guarda compartilhada


Mais uma lei interferindo no esquema familiar dos cidadãos acaba de ser promulgada: a da guarda compartilhada.
Suponho que países mais desenvolvidos nem tenham necessidade desse tipo de lei, já que um melhor nível cultural proporciona um maior discernimento quanto às condutas mais adequadas aos filhos provenientes de uma relação afetivo-sexual.
Quanto mais subdesenvolvido o país maior a necessidade de ingerência doestado nas organizações familiares de seus habitantes.
Ele esquece, porém, que o foco principal da questão é a criança. Como ela não tem poder decisório passa a funcionar como um joguete na mão de pais inescrupulosos, incapazes de priorizar o seu bem estar.
Pela própria fisiologia feminina a mãe tem sempre laços mais profundos com as suas crias.
Os pais, mais preocupados com a sobrevivência da célula familiar, mantêm-se mais afastados em função de seus atributos de provedor.
Dessa forma, a criança, normalmente, cria elos afetivos mais profundos com a mãe, principalmente nos primeiros quatro anos de vida.
Com a revolução industrial a mulher foi inserida no mercado de trabalho passando assim a desempenhar uma tarefa dupla, a de mãe e a de provedora.
Atualmente ela já domina 50% desse mercado.
Em função dos laços biológicos fortes, no casal, a mulher permanece proeminente em termos afetivos, não raro determinante do comportamento ético daquele futuro adulto.
O homem, quando de uma separação, geralmente começa a prover novas famílias e consegue se desligar mais facilmente de laços anteriores. Isso, de um modo geral.
A criança, fruto do primeiro relacionamento, nem sempre é aceita pelos componentes dessa nova família formada pelo pai, o que a tornará insegura e desconfortável.
Bem mais lúcido seria fazer uma avaliação psicológica dessa criança na tentativa de buscar as suas preferências afetivas ao invés de querer transformá-la num objeto de disputa para qualquer um dos pais, principalmente por imposições legais.
Leis desse tipo nada mais fazem do que aumentar as pendências e as desavenças familiares e, mais do que isso, contribuem para transformar pequenos seres em futuros adultos neuróticos, párias sociais.
Ideal seria que toda pessoa que se dispusesse a formar uma família tivesse a dimensão da responsabilidade no futuro de seus rebentos e que no caso de uma separação futura priorizasse o absoluto bem estar deles, inclusive em detrimento de suas vaidades pessoais.
Entretanto, vivemos numa sociedade promíscua, pouco ética e principalmente pouco esclarecida que, lamentavelmente, tem pouco ou nenhum acesso à educação.
Uma coisa é certa, aumentará, e muito, o movimento das bancas de direito de família.

Gabriel Novis Neves
23-01-2015

MURO DE BERLIM


Em novembro de 1989, a Alemanha, e o mundo inteiro, comemorava, finalmente, a queda do Muro de Berlim, símbolo vergonhoso que separava a Berlim Ocidental (capitalista) da Berlim Oriental (comunista).
Conversando com amigos que lá estiveram nessa época sombria, pude constatar o enorme abismo que separava os dois países.
O contraste era de tal intensidade que os turistas, em geral sediados na parte Ocidental, ficavam perplexos ao cruzar a fronteira.
Aliás, isso era permitido apenas para visitantes (raros) quantas vezes quisessem, e para parentes ou amigos alemães apenas uma vez por ano.
Era uma situação angustiante e, segundo os relatos que ouvi, os olhos lacrimejantes na pequena estação de trem aguardando a visita de um ente querido, apenas anual, era fato geral.
Ao desembarcar no lado oriental, segundo meu amigo, o cenário era bem diferente do que estávamos acostumados a ver nas grandes cidades do mundo capitalista.
Ruas desertas, pouquíssimos automóveis, hotéis sóbrios, com pouca ou nenhuma mordomia, rostos austeros.
Ausência de camareiras e, carregadores de bagagem, nem pensar. Turistas eram convidados a subir alguns lances de escada levando suas próprias malas.
Entretanto, lá estavam fábricas importantes, teatros, salas de música e o maior museu de arte grega da Europa.
Ao que consta, durante a segunda guerra mundial, foram “levadas” para Berlim as mais importantes peças do acervo grego.
Profissionais liberais aguardavam filas de oito a dez anos para compra de um carro.
Dado o pouco movimento, as ruas tinham aspecto fantasmagórico, principalmente ao anoitecer. Isso não impedia que alguns poucos restaurantes funcionassem das 17: 00h às 20: 00h, alguns até com música ao vivo para dançar.
Quando percebiam a presença de algum brasileiro no local, imediatamente mandavam tocar o “Tico Tico no Fubá” e faziam um gentil brinde ao visitante.
Segundo informações, a população, apropriadamente vestida para o clima, era extremamente solícita. Alguns, mais jovens, usavam jeans e óculos Ray Ban - sonho de consumo da garotada.
Claro, chegavam revistas trazidas por amigos as quais escancaravam, não só o glamour do mundo capitalista, como as inúmeras possibilidades proporcionadas pelo direito de ir e vir.
Isso fazia com que algumas pessoas quisessem morar o mais próximo possível da fronteira, visando a possibilidade de liberdade que um dia chegaria.
Não foi diferente o que aconteceu e, em pouco tempo, após a queda do Muro de Berlim, uma multidão se acotovelava rumo à integração e à emoção do reencontro com amigos e entes queridos.
Aliás, ali, naquele momento histórico, a humanidade chegou a sonhar com a possibilidade de paz mundial.
Logicamente, foram apenas sonhos. Logo em seguida surgiu a guerra que matou milhões de pessoas na antiga Iugoslávia, a Primavera em Praga e inúmeros outros conflitos pelo mundo afora.
Atualmente, o estado caótico em que se encontra o mundo, as perspectivas de paz são cada vez mais remotas.
O número de mortes e conflitos que se espalham pelo mundo, movidos pela ganância e pelo cinismo dos que detêm o poder, é uma realidade que ratifica a quase inexistente possibilidade de uma paz mundial.
A deusa das guerras, a indústria armamentista, não pode parar, apesar do clamor de alguns poucos líderes mundiais mais lúcidos.
Caiu o Muro de Berlim, porém, não caíram a imbecilidade e a mediocridade, que insistem em impedir que a humanidade cumpra a sua trajetória tranquila e feliz aqui na Terra.

Gabriel Novis Neves
13-01-2015

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O soco do papa


Quase tão polêmico quanto o ataque islâmico à revista francesa Charlie Hebdo foi a entrevista do Papa Francisco.
Falando a jornalistas sobre liberdade de imprensa durante sua recente viagem às Filipinas, Sua Santidade disse que tem de haver limites no que tange à liberdade de expressão.
Ilustrou o seu discurso com a frase que correu o mundo: “se xingar a minha mãe, espere um soco”.
Dito pelo papa revolucionário, esse conceito metafórico chocou os intransigentes defensores da ampla possibilidade de se falar ou escrever sempre tudo o que se pensa.
Todo indivíduo, inclusive o papa, tem o direito de se manifestar livremente. Concordar ou não, é também um direito de todos.
O papa deixou bem claro que é contra a violência em todos os seus níveis e que ninguém está autorizado a matar o próximo, seja qual for a justificativa alegada.
O que complicou o entendimento da posição papal foi ter colocado como exemplo a mãe, quando a discussão central era sobre liberdade de imprensa.
Colocar a figura materna em abordagens é típico de estádios de futebol, onde é sempre caluniada a genitora do árbitro.
Grosseiramente, faz parte do folclore da nossa cultura futebolística e, ao contrário de manifestações racistas, neste caso não há punições.
Terminada a partida do esporte mais popular do mundo tudo é esquecido pelo juiz do jogo e torcedores.
No caso do soco, a impressão errônea que ficou é que o papa defende com restrições a liberdade de expressão, o que não é politicamente correto.
O ato de matar vem dos tempos bíblicos, onde Caim matou seu irmão Abel por motivos fúteis.
Sempre haverá mortes por assassinatos entre os humanos. O trabalho a ser realizado é o de aperfeiçoar as relações sociais.
Não é sem motivo que a maior indústria em faturamento seja a de armamentos.

Gabriel Novis Neves
19-01-2015

domingo, 25 de janeiro de 2015

BELEZA


Desde os mais remotos tempos a beleza é enaltecida. Artistas, poetas e romancistas nos contaram através dos séculos o que eles consideravam belo.
Tenho dificuldade em tratar desse assunto publicamente em artigos ou crônicas.
Será que não fomos educados para reverenciar a Beleza? Será que este tema, culturalmente, está restrito somente aos poetas e artistas? Não sei.
Lendo a “História da Beleza”, organização de Umberto Eco, me animei a escrever sobre o tema.
Na nossa turma de Medicina tínhamos poucas colegas. O curso ainda mantinha características masculinas.
Uma colega, porém, impactava o grupo, não só pela sua beleza física, como pelo conjunto da obra, comparável a um quadro de arte de artista consagrado.
Sempre discreta e sorridente, a todos tratava com elegância, sabendo da imensa emoção que despertava em seus colegas.
Não fazia distinção de classe social e era idolatrada pelo “baixo clero”.
Despertava paixão e liberava dopamina por onde passava com a sua empatia e simplicidade cativantes.
Sabia que representava o ideal de Beleza para aqueles jovens, na sua maioria do interior do Brasil.
Possuía o que os líricos gregos chamavam de “um tipo de graça feminino”.
Inibia os mais afoitos colegas a uma declaração aberta sobre a sua Beleza e o que ela representava para todos.
Os tempos passaram. O grupo se desfez, mas a bela da turma continua linda como sempre.
Mais sábia e amadurecida pelos embates da vida, manteve todos os ingredientes da juventude tornando-se uma mulher irresistível.
Considero-a uma obra prima da natureza, pois o belo é arte e é eterno.
A sua doce Beleza a imunizou das agruras da vida. Sofridos.

Gabriel Novis Neves
13-01-2015

sábado, 24 de janeiro de 2015

Canseira


O dólar disparou. A inflação aumentou. A violência, em todas as suas formas, está a nos preocupar.
Os espaços da mídia são ocupados pelo terrorismo internacional, e os escândalos nacionais sempre em linha crescente.
Ninguém está suportando tamanha carga negativa. O que resulta em um imenso cansaço mental.
Sem motivações, a única alternativa que nos resta é a de uma parada em nossa caminhada para uma profunda reflexão sobre o futuro incerto que nos aguarda.
O papel em branco da informação é sempre ocupado pelas velhas mazelas, parecidas com a repetição de desgraças antigas.
Não digerimos ainda o desmonte da Petrobras, e já se anuncia o próximo escândalo de dimensões maiores no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
É a malversação do dinheiro público.
Difícil um ser animal, dito racional, não se indignar com o covarde ataque a uma escola no Paquistão onde mais de uma centena de crianças foram mortas.
“Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos”. Winston Churchill.
A imbecilidade de atrocidades cometidas em nome da religião é um horrendo crime contra a humanidade.
O pior é que a nossa população, diante dessa verdadeira guerra mundial, aceita com desdém, e até com certa naturalidade, essas condutas, que já foram incorporadas ao nosso dia a dia.
Como dizia Abraham Lincoln, “no final, não são os anos da vida que contam, mas a vida que há nos anos”.
Como sou alguém que gosta de se comunicar com os meus semelhantes, confesso a difícil tarefa de tentar, desesperadamente, falar de coisas boas para todos.
Parece que, de bom mesmo nesse final de ano, foi só a perspectiva de rompimento do bloqueio econômico e emocional entre Cuba e Estados Unidos.
Afinal temos algo que parece vai dar certo em algum lugar do mundo.
Assim esperamos.

Gabriel Novis Neves
20-01-2015

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

OUTRO ANO?


A ilusão terminou no dia 31 de dezembro. Tudo continua como dantes.
Até os festejos do emblemático último dia do ano, de acordo com o nosso calendário gregoriano, são cópias autênticas às dos anos anteriores.
Queima de fogos com cronometragem para avaliar o Estado que mais torra dinheiro nessa noite. O recorde é comemorado, no “bom sentido”.
Esses não conhecem a “arte de viver consigo próprio ignorando o aborrecimento”.
Quanta irresponsabilidade social entrar um novo ano queimando fogos, sabendo que milhares de pessoas não têm o que comer e vestir, brindar e, muito menos, uma casa para morar! E muitos estão sozinhos.
Em algumas pessoas ainda resta a esperança, o mais nobre dos sentimentos.
Como bem nos ensina o professor Mário Sérgio Cortella, esperança é do verbo esperançar, que significa avançar. A outra é estática, a de não mudar nada, a de permanecer numa zona suposta de conforto. O pior é quando, ainda em vida, as pessoas a perde.
Há pessoas também que, por crenças religiosas, depositam todas as suas esperanças no grande mistério de variados planos espirituais.
As superstições povoam essas festas com procura de rituais nas praias com oferendas lançadas ao mar.
Batuques africanos chamando nossos guias protetores.
Branco é a cor predileta, sendo o amarelo muito lembrado pelos fãs do sucesso material. Outras cores são também lembradas, de acordo com o momento em que vivemos.
A lista de “obrigações” a serem cumpridas é extensa, incluindo tipo de alimentos, locais das comemorações - de preferência em ambientes abertos e altos - tudo com muita alegria, seja espontânea ou química, com músicas animadas, que sempre são a de velhos carnavais.
Nada de diferente, e falta de criatividade, que nos faça reconhecer o novo. As mesmas mazelas e misérias agravadas nos esperam.
As últimas notícias do ano que findou prometem grandes momentos de instabilidade política e social.
 “Felizes daqueles cujo conhecimento é livre de ilusões e superstições”. Buda.

Gabriel Novis Neves
20-01-2015

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Metade do mês


Chegamos à segunda metade do primeiro mês do Ano Novo e os nossos desejos de dias melhores já desapareceram inundados pelos velhos problemas.
Terrorismo internacional, intolerâncias religiosa, econômica e cultural são as matrizes desse precoce desencanto.
Os poucos países ricos parecem estar atônitos e sem saber o que fazer ante a ameaça do inimigo invisível.
Aqui na terrinha tudo parado até o carnaval. Nada acontece, já que, como bons tupiniquins, estamos nos preparando para mostrar ao mundo a nossa alegria contagiante...
O pior é que a carneirada entra nesse espírito e aproveita para cortar todos os poucos laços morais que ainda conseguem aprisioná-la.
Os turistas, encantados com a baderna, ajudam a aumentar o faturamento da ex-Cidade Maravilhosa.
O governo, sem dinheiro, inventa mil e uma desculpas para justificar a sua incapacidade de gestão.
Corte no orçamento, principalmente naquele destinado à educação e à saúde. Demissão em massa de pequenos servidores.
A justificativa de “economizar” não procede. Nenhum dos trinta e nove ministérios desapareceu do “organograma da governabilidade”, assim como em alguns Estados as secretarias ornamentais e ociosas não impediram a criação de novas.
O aumento salarial para os chamados servidores intocáveis do primeiro escalão foi substancial.
A inflação disparou, com taxas dos serviços públicos nas alturas.
As despesas com o mercado diminuíram e as mordomias continuaram.
O resultado das provas do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) é de envergonhar qualquer republiqueta, porém, não causou surpresa a ninguém.
Na prova de redação mais de quinhentos mil alunos obtiveram a nota zero.
O mesmo fenômeno de rendimento sofrível comparando ao ano anterior foi observado em outras disciplinas, como a da matemática.
A educação brasileira vai de mal a pior, e o jornal Folha de São Paulo,em minúscula nota, informa que a tesoura federal fez uma grande poda nesses recursos essenciais ao desenvolvimento do país.
A saúde pública está desmantelada e a violência fora de qualquer controle.
Novos governadores dizem ter encontrado cofres vazios, sendo que nos Estados sede da Copa dos 7X1, o legado é impagável. Somente em longo prazo, e olhe lá!
O país está envelhecido e paralisado.
Carnavalização total e irrestrita.
Haja antidepressivo para suportar o que nos resta de 2015!

Gabriel Novis Neves
19-01-2015

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

ARMAS DO HUMOR


É tido e sabido que não só os tiranos, mas, principalmente, os fanáticos radicais, ficam extremamente mobilizados pela pungência das armas do humor.
Ou alguém já se esqueceu da ira que as charges do jornal Pasquim causava aos detentores do poder na época da ditadura brasileira?
A rigor, o mundo inteiro repudia os atos abomináveis de terror recentes na França, mas, como bem disse o seu presidente Hollande, “não acabaram as ameaças com a simples morte de  seus três extremistas assassinos”.
A morte de dois, três ou mil terroristas, por si só, não elimina a enorme onda de violência que sempre existiu no mundo e que agora recrudesce.
As palavras de Hollande no tocante “à liberdade e ao pluralismo”, são as únicas que, de fato, vão ao encontro do espírito europeu.
O que realmente apavora o mundo é a xenofobia, assim como o aumento de todos os tipos de preconceito e a intolerância religiosa, no momento voltado contra o islamismo.
Tudo isso forma o caldo ideal para nutrir a indústria bélica, sempre muito atenta a não diminuir os seus lucros.
Guerras religiosas, insanas, sempre em nome de Deus, pertença Ele a esta ou aquela crença, têm assolado a humanidade desde os seus primórdios.
O que é de se estranhar é que esse fanatismo, fruto da intolerância e da ignorância, não tenha conseguido absorver nada do mundo atual, com sua tecnologia de ponta, onde somente o pluralismo como seita poderá sobreviver.
Nada mais triste do que ver todo esse ódio apenas porque as pessoas pensam e sentem diferentemente o mundo.
Afinal, qual o inimigo que nos ronda? Qual a sua cara e os seus propósitos?
Essas são perguntas que todos nós nos fazemos. A resposta aponta para uma só: a manutenção da miséria cultural enorme em quase todo o planeta.
Em muitos países a religião se mistura ao governo, e as consequências disso são desastrosas.
O fanatismo é estimulado para que súditos continuem vítimas felizes de seus algozes.
A caça desenfreada na Europa aos muçulmanos, como apregoam alguns partidos centro-direitistas, apenas aumentará o ódio entre as raças e as diversas religiões. Há anos vimos assistindo a este filme.
A proposta, primeira no gênero, de um grande encontro entre chefes de estado de vários países, filósofos, pensadores de diversas etnias, chargistas, enfim, cabeças habituadas a pensar em todo o planeta, me parece o único caminho para lidar com essa avalanche de insanidade que sacode a humanidade.
O inglês está chamando isso de “brainstorm”, ou seja, uma tempestade mental necessária para encarar novas ideias, novas opiniões, novas formas de lidar com o fanatismo crescente de diversos grupos.
Talvez, revalidando os valores civilizatórios de todos os países, num firme propósito de desvincular as tarefas do estado  dos problemas religiosos.
Enquanto não houver essa dicotomia, novos e muitos inocentes “Charlies” serão brutalmente ceifados.
Claro, o uso da força é necessário no momento da agressão, mas, sozinha, ela não trará a paz que todos almejamos.
Sem ela, a existência perde todo o seu sentido.

Gabriel Novis Neves
10-01-2015

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Petróleo em baixa


Após seis anos de aumentos sucessivos, o preço do barril de petróleo cai para menos de cinquenta dólares na cotação mundial.
Festa nos Estados Unidos! A população comemora a queda significativa no preço do petróleo e do óleo diesel, pois ocorre um aumento da economia familiar.
As perspectivas são tão boas que já se fala num patamar de 3.8% para o crescimento econômico na terra do Tio Sam para o ano em vigor.
Os americanos descobriram que podem extrair petróleo do gás xisto, anulando assim a dependência que tinham da importação do ouro negro.
Nesse processo, países grandes produtores de petróleo, tais como o Irã, a Venezuela e a Rússia, já com as suas economias abaladas por crises políticas e econômicas sucessivas, caminham juntos para o caos.
Nós, aqui na terrinha, sempre na contramão dos acontecimentos, nada temos a comemorar. 
Muito pelo contrário! A nossa maior empresa petrolífera passa por um dos mais graves problemas de sua história, atolada num mar de corrupção e desmandos, inclusive, ameaçando o despertar do gigante adormecido que seria a retirada do pré-sal.
Como não somos autossustentáveis em termos petrolíferos, comprávamos o ouro negro a preços elevados e vendíamos no mercado interno a preços mais baixos, tudo em função de não poderem ser passados para a população aumentos antes do resultado da festa eleitoral.
Dessa forma passamos a subsidiar esse grande déficit.
Agora, definidos os donos do poder, tendo de enfrentar a realidade, não conseguimos nos beneficiar como os outros países dessa queda mundial e, infelizmente, sem qualquer alternativa, estamos sofrendo o baque dos aumentos de preços nos postos de gasolina e, portanto, mais inflação.
Para completar esse quadro econômico desastroso, foi registrado vinte e quatro bilhões de reais em perdas nas contas de poupança, a maior nos últimos anos.
Ainda bem, ou não, as mídias não nos permitem alienação contra fatos tão concretos e exposições tão frequentes da verdadeira situação do nosso país e que, apesar de tudo, amamos incondicionalmente.

Gabriel Novis Neves
09-01-2015 

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

ENTRESSAFRA


No período de transição entre um governo e outro é complicado escrever sobre notícias alvissareiras.
As novidades são as de sempre - repetitivas, ou melhor, não existem.
Páginas policiais, estas sim, cada vez mais preenchidas robustamente por crimes e escândalos sem precedentes.
A situação não motiva em nada a leitura. É um mar de hipocrisia explorando politicamente a crença de milhões de cidadãos.
Procuro, quando assim, seguir o conselho de Vinícius de Moraes que dizia ser a vida, a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.
Ainda madrugada eu telefono para o editor do “site que ninguém lê” para saber se há novidades.
Ironicamente o jornalista me responde que o Brasil pediu auxílio ao Papa Francisco para interceder junto ao governo da Indonésia na suspensão da execução do brasileiro pego em flagrante fazendo tráfico de cocaína naquele país.
Lá as leis são rígidas com relação a esse mercado de drogas e a punição é a pena de morte, após longo e prolongado processo.
O porta-voz do governo, aquele que ficou famoso quando da queda do avião da TAM em Congonhas, com morte de todos os passageiros e tripulantes, afirmou que o governo da Indonésia ficou muito mal não atendendo ao apelo da Presidente da República.
Diante de tanta ambiguidade fica fácil compreender o que acontece nesta nação onde leis não são feitas para serem cumpridas.
Não conseguimos entender que ainda haja lugares no mundo onde isso possa acontecer.
Para quem encosta-se aos 80 anos, olhar para trás é quase uma obsessão, já que a nostalgia é o mais curto caminho para o envelhecimento com perda de interesse pela vida.
Nada vislumbramos no futuro, que nos parece incerto e, nessa situação, o melhor é voltar ao passado - nos ensinam os psicoterapeutas.
Na maioria das vezes temos a ilusão que o que passou sempre foi melhor que o presente.
O sonho de encontrar as pessoas certas para os lugares certos é missão quase impossível no nosso modo de governar.
Nesse panorama caótico reconhecemos virtudes nas limitações dos escolhidos para o exercício do poder.
Torcemos para que esta entressafra moral e ética seja breve.
O Brasil não suporta mais esperar por dias melhores!

Gabriel Novis Neves
17-01-2015

Futebol


Diante de tantas operações da Polícia Federal e delações premiadas, onde a podridão exala por todo o país, o melhor é escrever sobre futebol.
Até nessa arte, durante muito tempo privilégio dos nossos jogadores, estamos sem craques.
A geração de Reis, Príncipes e Imperadores desapareceu dos gramados dos nossos estádios, que foram transformados em pernósticas Arenas.
Com tristeza analiso a relação dos jogadores escolhidos pela FIFA para serem votados como os melhores do mundo.
Do país pentacampeão do Mundo, e dos 7x1, apenas cinco foram selecionados, todos jogando na Europa. O Neymar entrou na fila no início do número vinte, e os outros quatro ficaram na rabeira.
E entre nós aqui no Brasil? Quem são nossos craques?
Não temos. Possuímos apenas jogadores “bonzinhos” numa boa fase. Outros, ditos craques, são veteranos que atualmente jogam com o nome.
Nesse grupo podemos incluir: Rogério Ceni, Kaká, Dida, Pato e Ganso.
Estranho esse fenômeno! Não me surpreenderá se, em breve, perdermos também o título de “bambas do samba”.
Nossos cantores que fazem sucesso no exterior são ilustres desconhecidos para nós.
O nosso Rei da canção de há muito parou de compor, e vive do passado.
Atualmente, os cantores jovens de músicas sertanejas, as bandas ditas universitárias e a turma do Rap, são os que mais atraem público para seus shows.
De frustração em frustração não custa recordar que somos eternos aspirantes a um Prêmio Nobel.
Encerro o artigo mais triste se tivesse escrito sobre mais um audacioso escândalo de assalto aos cofres do Tesouro Nacional, patrocinados cinicamente por agentes públicos, políticos e empresários.
Mas, onde estão os nossos craques?

Gabriel Novis Neves
15-01-2015

FILME DENÚNCIA


A melhoria de qualidade do cinema brasileiro é a cada dia mais visível, para orgulho de todos nós.
A filha de Arnaldo Jabor, Carolina Jabor, acabou de fazer um filme que, eficientemente, denuncia a frequência do uso da droga legal prescrita sem culpa em todo o planeta.
Com um trabalho excepcional da atriz Deborah Secco, mostra-se na tela uma verdadeira aula sobre a engrenagem perversa de pacientes viciados em tranquilizantes e antidepressivos (enorme consumo mundial), impedindo-os de qualquer cura, tudo em função da máquina milionária que os sustenta.
O uso dessas drogas é um denominador comum no mundo moderno que, maldosamente, apregoa uma felicidade perene totalmente contraditória aos padrões sociais em que vive a grande maioria das pessoas.
Na verdade, o mundo dos viciados em drogas legais nem é discutido para não atrapalhar o negócio milionário.
Medicamentos com tarja preta são prescritos, muitas vezes, sem o rigor exigido, quando não adquiridos sem receituário nessa terra de corrupção em todos os níveis.
Forma-se uma cadeia perversa entre as indústrias farmacêuticas (superpoderosas), farmácias, médicos inexperientes ou pouco éticos, clínicas especializadas  e, finalmente, o paciente com poder aquisitivo suficientemente alto para frequentar esse mercado.
Como sempre, esse último é o grande prejudicado.
As mídias estão sempre mobilizadas pelas drogas ilícitas, que já deveriam ter sido descriminalizadas há muito tempo, como acontece nos países civilizados.
Do drogado legal, nem se fala! Milhões de pessoas no mundo morrem diariamente em consequência da deterioração mental e física que essas drogas provocam que, embora mais lentas, são tão graves quanto às provocadas pelas drogas ilícitas.
É claro que no Brasil, desinteressados que somos pela educação, há pequenas plateias para esse tipo de filme.
Parabéns Carolina pela coragem em colocar temas tão importantes como esse para uma possibilidade de discussão!
Sugiro que o filme seja visto e, mais do que isso, pensado.

Gabriel Novis Neves
10-01-2015 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Empatia


Sensação rara que costumamos experimentar na vida com poucas pessoas.
É aquele grau de conexão mútua em que nada mais precisa ser falado ou insinuado. Apenas o olhar, o aperto de mão ou o som da voz são suficientes para nos colocarmos pelo avesso.
Determinados seres humanos, por algum tipo de afinidade explicada quimicamente, têm a capacidade de nos levar a esse estado emocional paradisíaco.
As palavras diminuem a sua importância, já que a comunicação está implícita nos gestos e nas transmissões neurais mútuas.
Seria tão bom se pudéssemos desenvolver isso no dia a dia, inclusive no meio familiar! Quantos desgastes seriam evitados!
Infelizmente, as amarras sociais estabelecidas desde o início de nossas vidas, fazem com que nos mantenhamos encaramujados numa carapaça espessa, que nos apontam como necessária.
Dessa forma, perdem-se as emoções mais intensas e os contatos mais verdadeiros.
E pensar que a maior parte da humanidade não se permite a esse desnudamento.
Por insegurança ou por vaidade não nos mostramos nem a nós mesmos, permanecendo nessa caixa escura e úmida tal como se não tivéssemos conseguido sair do útero materno.
A vida passa e a sensação de tê-la desperdiçado é cada vez maior.
Ao vivenciar um clima de empatia com alguém passamos a nos sentir livres, não mais vulneráveis a falsos julgamentos, já que, através da pura transparência, podemos passar ao outro a veracidade do nosso eu.
Quem disse que viver é fácil?
 “A vida não é uma pergunta a ser respondida. É um mistério a ser vivido”. Buda.

Gabriel Novis Neves
19-12-2014

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

AMBÍGUO


Passados alguns dias da posse dos novos governantes da terra de Pedro Álvares Cabral, o que mais escutamos e lemos são referências ao controle dos gastos públicos, aperto de cintos e sentar sobre o cofre do Tesouro Nacional.
Tudo bem!
Medidas moralizadoras que merecem o nosso aplauso, não fosse a ambiguidade com a realidade existente.
Os donos do poder, imediatamente, trataram de se autopromover com aumentos estratosféricos em seus salários, beneficiando os integrantes dos poderes legislativos e judiciário, altos escalões do executivo e congênere.
Tudo isso num efeito cascata abrangendo, com suas abomináveis exceções, mais de cinco mil municípios brasileiros.
Nesse pacote a embalagem é acompanhada por vários mimos, dentre eles: os cartões corporativos ilimitados, auxílio transporte, moradia, biblioteca, viagens e o melhor plano de saúde do mundo.
No reverso da medalha faz-se economia com demissões em massa de pequenos servidores por justa causa.
Suspensão por prazo indeterminado de compras inadiáveis e de pagamentos por serviços já prestados.
Controle da corrupção com a criação de secretarias especiais para fiscalizar funcionários de primeiro escalão, escolhidos entre os melhores por critérios puramente republicanos.
Parcelamento de salários de pequenos servidores atingindo, entre outros, médicos e professores, sendo que estes últimos devem “lecionar por amor”.
O perfil dos executivos para tirar o Brasil deste beco de difícil saída é o mais esdrúxulo possível. Analisar trinta e nove ministros ou dezenas de secretários por estado, não é tarefa para um simples artigo.
Alguns merecem menção honrosa como, por exemplo, “o novo Ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação Tecnológica” que, por ideologia, é contrário a essas conquistas.
Alega que o avanço nessa área representa ameaça ao emprego.  Corre o boato que já providenciou para o seu ministério a substituição de modernos computadores por máquinas de escrever não elétricas e mimeógrafos.
Segundo a ministra senadora pelo Tocantins, não mais existem no Brasil, latifúndios...
As tão desejadas mudanças passam por alterações técnicas semelhantes a um sonho de Natal.
O Brasil precisa de comando para sair desse mar revolto, onde em sua profundidade, nem camadas do pré-sal sobraram.
Continuaremos em 2015 com um discurso ambíguo entre o necessário e o real.

Gabriel Novis Neves
06-01-2015