É
tido e sabido que não só os tiranos, mas, principalmente, os fanáticos
radicais, ficam extremamente mobilizados pela pungência das armas do humor.
Ou
alguém já se esqueceu da ira que as charges do jornal Pasquim causava aos
detentores do poder na época da ditadura brasileira?
A
rigor, o mundo inteiro repudia os atos abomináveis de terror recentes na
França, mas, como bem disse o seu presidente Hollande, “não acabaram as ameaças
com a simples morte de seus três
extremistas assassinos”.
A
morte de dois, três ou mil terroristas, por si só, não elimina a enorme onda de
violência que sempre existiu no mundo e que agora recrudesce.
As
palavras de Hollande no tocante “à liberdade e ao pluralismo”, são as únicas
que, de fato, vão ao encontro do espírito europeu.
O
que realmente apavora o mundo é a xenofobia, assim como o aumento de todos os
tipos de preconceito e a intolerância religiosa, no momento voltado contra o
islamismo.
Tudo
isso forma o caldo ideal para nutrir a indústria bélica, sempre muito atenta a
não diminuir os seus lucros.
Guerras
religiosas, insanas, sempre em nome de Deus, pertença Ele a esta ou aquela
crença, têm assolado a humanidade desde os seus primórdios.
O
que é de se estranhar é que esse fanatismo, fruto da intolerância e da
ignorância, não tenha conseguido absorver nada do mundo atual, com sua
tecnologia de ponta, onde somente o pluralismo como seita poderá sobreviver.
Nada
mais triste do que ver todo esse ódio apenas porque as pessoas pensam e sentem
diferentemente o mundo.
Afinal,
qual o inimigo que nos ronda? Qual a sua cara e os seus propósitos?
Essas
são perguntas que todos nós nos fazemos. A resposta aponta para uma só: a
manutenção da miséria cultural enorme em quase todo o planeta.
Em
muitos países a religião se mistura ao governo, e as consequências disso são
desastrosas.
O
fanatismo é estimulado para que súditos continuem vítimas felizes de seus
algozes.
A
caça desenfreada na Europa aos muçulmanos, como apregoam alguns partidos
centro-direitistas, apenas aumentará o ódio entre as raças e as diversas
religiões. Há anos vimos assistindo a este filme.
A
proposta, primeira no gênero, de um grande encontro entre chefes de estado de
vários países, filósofos, pensadores de diversas etnias, chargistas, enfim,
cabeças habituadas a pensar em todo o planeta, me parece o único caminho para
lidar com essa avalanche de insanidade que sacode a humanidade.
O
inglês está chamando isso de “brainstorm”, ou seja, uma tempestade mental
necessária para encarar novas ideias, novas opiniões, novas formas de lidar com
o fanatismo crescente de diversos grupos.
Talvez,
revalidando os valores civilizatórios de todos os países, num firme propósito
de desvincular as tarefas do estado dos
problemas religiosos.
Enquanto
não houver essa dicotomia, novos e muitos inocentes “Charlies” serão
brutalmente ceifados.
Claro,
o uso da força é necessário no momento da agressão, mas, sozinha, ela não trará
a paz que todos almejamos.
Sem
ela, a existência perde todo o seu sentido.
Gabriel
Novis Neves
10-01-2015
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