Em
novembro de 1989, a Alemanha, e o mundo inteiro, comemorava, finalmente, a
queda do Muro de Berlim, símbolo vergonhoso que separava a Berlim Ocidental
(capitalista) da Berlim Oriental (comunista).
Conversando
com amigos que lá estiveram nessa época sombria, pude constatar o enorme abismo
que separava os dois países.
O
contraste era de tal intensidade que os turistas, em geral sediados na parte
Ocidental, ficavam perplexos ao cruzar a fronteira.
Aliás,
isso era permitido apenas para visitantes (raros) quantas vezes quisessem, e
para parentes ou amigos alemães apenas uma vez por ano.
Era
uma situação angustiante e, segundo os relatos que ouvi, os olhos lacrimejantes
na pequena estação de trem aguardando a visita de um ente querido, apenas
anual, era fato geral.
Ao
desembarcar no lado oriental, segundo meu amigo, o cenário era bem diferente do
que estávamos acostumados a ver nas grandes cidades do mundo capitalista.
Ruas
desertas, pouquíssimos automóveis, hotéis sóbrios, com pouca ou nenhuma
mordomia, rostos austeros.
Ausência
de camareiras e, carregadores de bagagem, nem pensar. Turistas eram convidados
a subir alguns lances de escada levando suas próprias malas.
Entretanto,
lá estavam fábricas importantes, teatros, salas de música e o maior museu de
arte grega da Europa.
Ao
que consta, durante a segunda guerra mundial, foram “levadas” para Berlim as
mais importantes peças do acervo grego.
Profissionais
liberais aguardavam filas de oito a dez anos para compra de um carro.
Dado
o pouco movimento, as ruas tinham aspecto fantasmagórico, principalmente ao
anoitecer. Isso não impedia que alguns poucos restaurantes funcionassem das 17:
00h às 20: 00h, alguns até com música ao vivo para dançar.
Quando
percebiam a presença de algum brasileiro no local, imediatamente mandavam tocar
o “Tico Tico no Fubá” e faziam um gentil brinde ao visitante.
Segundo
informações, a população, apropriadamente vestida para o clima, era
extremamente solícita. Alguns, mais jovens, usavam jeans e óculos Ray Ban -
sonho de consumo da garotada.
Claro,
chegavam revistas trazidas por amigos as quais escancaravam, não só o glamour
do mundo capitalista, como as inúmeras possibilidades proporcionadas pelo
direito de ir e vir.
Isso
fazia com que algumas pessoas quisessem morar o mais próximo possível da
fronteira, visando a possibilidade de liberdade que um dia chegaria.
Não
foi diferente o que aconteceu e, em pouco tempo, após a queda do Muro de
Berlim, uma multidão se acotovelava rumo à integração e à emoção do reencontro
com amigos e entes queridos.
Aliás,
ali, naquele momento histórico, a humanidade chegou a sonhar com a
possibilidade de paz mundial.
Logicamente,
foram apenas sonhos. Logo em seguida surgiu a guerra que matou milhões de
pessoas na antiga Iugoslávia, a Primavera em Praga e inúmeros outros conflitos
pelo mundo afora.
Atualmente,
o estado caótico em que se encontra o mundo, as perspectivas de paz são cada
vez mais remotas.
O
número de mortes e conflitos que se espalham pelo mundo, movidos pela ganância
e pelo cinismo dos que detêm o poder, é uma realidade que ratifica a quase
inexistente possibilidade de uma paz mundial.
A
deusa das guerras, a indústria armamentista, não pode parar, apesar do clamor
de alguns poucos líderes mundiais mais lúcidos.
Caiu
o Muro de Berlim, porém, não caíram a imbecilidade e a mediocridade, que
insistem em impedir que a humanidade cumpra a sua trajetória tranquila e feliz
aqui na Terra.
Gabriel
Novis Neves
13-01-2015
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