A
violência contra a mulher é um problema cultural e vem afligindo a humanidade
através dos séculos.
A
grande repressão sexual, exacerbada a partir do século V até o século XV,
reafirmou no inconsciente coletivo a mulher como coisa, nunca levando em conta
os seus próprios desejos. Isso porque, desde a pré-história, e depois passando
pelos gregos e romanos, as sociedades eram predominantemente hedonistas,
colocando o prazer como mote prioritário de vida.
Com
a queda do império romano e o advento do cristianismo, inicia-se um ciclo de
ausência absoluta de individualidade e luta contra as tentações.
Amar,
só a Deus. A teoria do pecado original foi maciçamente difundida.
A
partir do século XII, com o renascimento, aparece o amor cortês, sempre
exaltando os prazeres do espírito em detrimento aos prazeres da carne. A
verdadeira mulher amada deveria ser inatingível ao toque e apenas venerada como
uma deusa. Apenas aí, o amor já se cogita como recíproco.
Os
últimos três séculos foram impregnados por todos esses conceitos arcaicos, que
faziam do sexo algo abominável. Até os dias de hoje, homens e mulheres ainda
sofrem muito com seus medos, culpas e frustrações.
Até
1950, a virgindade ainda era um valor. Apenas entre 1960 e 1980, a verdadeira
revolução sexual foi exercida, já que a pílula anticoncepcional estava presente
e ainda não havia o HIV.
A
partir do século XX, com o aparecimento dos grandes movimentos feministas e as
grandes mudanças econômicas mundiais, a mulher consegue entrar definitivamente
no mercado de trabalho em todos os setores e inicia assim o seu processo de
“descoisificação”.
Entretanto,
os estigmas de tantos séculos de opressão, não são assim removidos tão
facilmente quanto gostaríamos.
Por
outro lado, a mulher, despreparada para essa nova situação, começou a confundir
liberdade com libertinagem, extrapolando comportamentos agressivos, tidos como
masculinos, nunca antes exercidos e, principalmente, para os quais os homens
não estavam programados.
Paralelamente,
o mercado de consumo, ávido de novos lucros, jogou na sociedade a propaganda de
um erotismo exagerado e a tudo vinculado. Nem as crianças escaparam desse
projeto, sendo desde muito cedo estimuladas por suas mães a se tornarem
miniadultas, através de roupas e comportamentos inadequados para a idade.
Agregado
a tudo isso, a divulgação maciça de músicas com letras e coreografias sempre um
forte apelo sexual.
Seios
e bundas siliconadas, graças a esse grande mercado erótico, são oferecidos
abertamente a preços módicos e suaves prestações mensais, servindo de desejo a
mentes mais desavisadas, principalmente as jovens.
A
indústria pornográfica já é a terceira maior em crescimento no mundo.
A
violência familiar, exacerbada pelas drogas, legais e ilegais, só faz crescer.
Campanhas de descriminalização progressivas e sérias, como as que vêm sendo
feitas pelos países mais desenvolvidos, não conseguem se sobrepor aos
interesses de pequenas minorias que obtém grandes lucros com esse mercado.
Diante
de todo esse quadro, no mínimo propício, não é de se admirar que os instintos
animalescos, escamoteados pelas leis sociais, estejam recrudescendo com tanta
intensidade e frequência. A violência e os casos de estupro, em todas as partes
do mundo, têm aumentado, e muito. Países superdesenvolvidos como, por exemplo,
a Inglaterra, já mostram níveis assustadores desses casos, apesar das altas
penas infringidas aos infratores.
Aprendemos
desde muito cedo que onças não devem ser cutucadas com vara curta e sempre que
a sociedade se torna muito permissiva, a barbárie começa a imperar.
Já
vimos isso inúmeras vezes na história e sabemos os resultados desastrosos que
daí advém.
Os
conceitos de amor não são imutáveis e o histórico da humanidade está aí para
nos comprovar isso.
A
nossa vida sexual afetiva está sempre condicionada a atuações do inconsciente
cultural e social.
Gabriel
Novis Neves
18-05-2013