quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Novos cursos


Quando penso em novos cursos de medicina fico preocupado com a qualidade e com o número excessivo de autorizações concedidas pelo governo.
Em apenas cinco anos - de 2011 a 2015 - foram liberados para funcionar 79 novos cursos, segundo o Conselho Federal de Medicina.
Evidentemente não houve o mínimo cuidado das autoridades responsáveis com a qualidade desses novos cursos, pois um bom médico, não necessariamente, será um aceitável professor de medicina.
Só para se ter uma ideia dessa minha preocupação com a formação dos nossos futuros médicos, de 1808, quando foi criado o primeiro curso de medicina no Brasil com a chegada da Família Real, até 1994, foram abertos 82 estabelecimentos desse tipo.
Em 1960, quando terminei o meu curso de graduação em Medicina no Rio de Janeiro, na hoje UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), antiga Universidade do Brasil (UB), existiam em nosso país apenas 23 escolas médicas!
Tínhamos alunos de todo o Brasil e países vizinhos, além de excelentes professores com prestígio internacional.
Naquela época o curso de graduação era o ponto final para a formação do médico que nossa nação precisava.
O aluno deixava a faculdade com o seu diploma reconhecido pelo antigo Conselho Federal de Educação e com o título de médico, e não, de especialista.
Habilitado em Clínica Médica - Cirurgia, Pediatria, Ginecologia e Obstetrícia - apresentava condições para exercer a medicina no interior do Brasil com eficiência e humanismo, além de ser capacitado para implantar serviços como de Ortopedia e Traumatologia, Neurocirurgia, Cirurgia Torácica, Oftalmologia, Otorrino, Emergência e Urgência, todos com amplo conhecimento de clínica médica e cirúrgica.
Hoje, o aluno que conclui a graduação, necessita de Residência Médica, Especialização, Mestrado e Doutorado para conseguir entrar e permanecer no mercado de trabalho.
As nossas escolas médicas abdicaram da função de formar o médico de visão holística e optaram pelo especialista.
O paciente perdeu o seu médico de referência e tem dezenas de profissionais que o atendem sabendo muito de pouco.
É fácil constatar o que afirmo. Basta perguntar a um cliente quem é o seu médico. 
Por opção a esse tipo de política educacional temos nichos de medicina de excelência para os ricos, e para os pobres importamos “médicos” de países pobres.
O Brasil precisa de médicos hipocratianos - do corpo e das emoções - para povoar os mais de cinco mil e quinhentos municípios e restituir a dignidade daqueles que atendemos fragilizados.
Vamos criar a carreira de médico de atenção primária de saúde e sua prevenção?
As faculdades de medicina terão que se adequar, e o Brasil se humanizar no atendimento aos enfermos pobres, maioria entre nós.

Gabriel Novis Neves
04-11-2015

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