quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O AMOR NA VELHICE


Apesar de pouco alardeado, o amor entre pessoas idosas é mais um dos inúmeros preconceitos que envergonham a humanidade.
Sob a perspectiva de uma capa protetora, geralmente mal identificada, amigos próximos cerram fileiras contra qualquer possibilidade de novos encontros afetivos de um idoso.
E ele, já alquebrado pelas perdas naturais que a vida foi lhe trazendo, mostra-se incapaz para buscar novos caminhos que possam aplacar a sua enorme solidão.
Afinal, onde está escrito que amar, ainda que no outono da vida, trás menores satisfações de alegria, saúde e prazer, do que na mocidade?
Muito pelo contrário. Estudos recentes mostram que o desejo acompanha o indivíduo até os dias finais de sua vida.
Talvez por vergonha ou pudor muitos idosos abdiquem desse final prazeroso, e não porque seus amigos passam a reagir histérica e irracionalmente contra as suas pretensões amorosas.
A mesquinharia e a agressividade com o idoso, aumentam os estados depressivos comuns nessa faixa etária.
A natural alegria de ver alguém próximo feliz é substituída pelo rancor e inveja de pessoas que geralmente lidam mal com as suas frustrações amorosas, incapazes de exorcizar as suas próprias inseguranças.
O velho, como nada de muito forte tem a perder, costuma se jogar intensamente nessas relações afetivas tardias, como tábuas de salvação atiradas a um náufrago.
Penso estar aí a razão da imensa inveja dos jovens, na maioria tão centrados em si mesmos e, portanto, incapazes de vivenciar a plenitude do verdadeiro amor.
O genial Shakespeare definiu muito bem em algumas de suas peças esse desprezo oculto pelo idoso, tornando-o um objeto descartável de consumo, apenas valorizado pelos bens adquiridos durante a vida e que justifiquem a sua presença como futuro doador.
Realmente, não é fácil amar e, principalmente, entender que esse sentimento não pode e não deve se confundir com posse.
Entendo que a única forma de amar é querer ver o outro feliz. Toda e qualquer outra forma de amor é apenas dominação e poder e, assim sendo, inválida.
Alguns poucos privilegiados e corajosos, apesar de todas essas cargas sociais, conseguem viver os seus últimos anos de vida impactados por um amor renovado.
Sim, porque o amor é sempre o mesmo, apenas se apresenta de diferentes formas e, portanto, tão belo ou mais que os anteriores.
Esses poucos valentes enfrentem os preconceitos sociais que muitas vezes insistem em rotulá-los de dementes ou esclerosados.
Recebem como prêmio o brilho do olhar, única beleza que nenhuma plástica consegue jamais trazer nessa faixa etária.
Numa sociedade saudável, o nosso grande prazer deveria ser a visão de pais, avós e, até mesmo, bisavós, cumprindo as suas viagens aqui na Terra de uma maneira lúdica e leve, desde que as disposições físicas assim o permitam.
Nunca massacrados por preconceitos imbecis, despidos de qualquer razão.
Talvez nos falte um pouco mais de ciência e de sabedoria para lidar com a alegria e abandonar definitivamente a culpa judaico-cristã que tem massacrado a humanidade por tantos anos.
Amor é, fundamentalmente, respeito ao outro.
 “Posse e dominação” configuram apenas “mesquinharia” e “desamor”.
“Viva e deixe viver" - esse deveria ser o lema de todas as pessoas bem intencionadas.

Gabriel Novis Neves
15-10-2014

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Um lugar


Diante do quadro de violência que tomou conta do nosso país, idealizamos sempre encontrar um lugar onde possamos viver com tranquilidade e paz.
O número de vítimas fatais ocorridas pela violência urbana é equivalente, ou maior, do que o de muitos países em guerra.
Impressionante as estatísticas de morte por arma de fogo.  Tornamo-nos prisioneiros desse terrorismo.
Há pouco tempo, uma morte violenta em nossa cidade era comentada durante meses. Este ano, só na Grande Cuiabá, já tivemos quase quinhentos óbitos decorrentes da violência urbana.
A maioria das desgraças acontece com jovens envolvidos com o tráfigo e com o consumo das drogas ilícitas produzidas em quantidades industriais pelos nossos vizinhos.
São mortes inúteis, de inocentes. Mas, condizentes com o descaso de um país que não protege as suas fronteiras internacionais.
Adultos embrutecidos não percebem a gravidade da situação por absoluta falta de sensibilidade e educação social.
O mundo está violento. O Brasil faz parte da lista dos países mais violentos do planeta. Ocupa um triste lugar entre os vinte e cinco países que possuem a maior taxa de homicídios por ano.
O povo está cansado, muito cansado e alarmado.  Não à toa que nossa imaginação insiste em voar para longe, para um lugar onde possamos viver em harmonia e sem sobressaltos. 
Viver de sonhos. Parece que nossa vida se tornou uma eterna utopia. Fazemos de conta que não pertencemos a esse mundo da violência e da desigualdade.
Mas, na vida real, a sensação é de que navegamos sem rumo, onde nenhum vento nos é favorável.
Há vontade até de se fazer um pacto com a solidão, na vã tentativa de se proteger da violência.
 “Nenhum tempo e nenhum lugar nos agrada como o tempo que não existe, e o lugar em que não estamos”. Marquês de Maricá.

Gabriel Novis Neves
20-12-2014

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

ANTAGONISMO


Charles de Gaulle dizia que “em política ou se trai o país ou o eleitorado”.
Perplexa com os últimos acontecimentos envolvendo a Petrobras, a população trabalhadora brasileira chegou à conclusão que o exercício do poder é incompatível com a ética e a moral.
Triste, mas, infelizmente esse é o sentimento geral após a divulgação das primeiras confissões dos envolvidos no assalto à estatal e beneficiados com a delação premiada.
A promiscuidade entre agentes públicos e empresários se estende a todos os contratos de obras existentes no Brasil.
A propina está institucionalizada e sua viabilidade é trabalho sofisticado de profissionais qualificados na arte de roubar, afirma didaticamente o Ministério Público através de gráficos.
O programa de desvio de recursos públicos, até a entrega aos favorecidos das suas cotas, era executado nos seus mínimos detalhes por especialista nessa tarefa.
O marginal responsável pela chegada do mimo às mãos dos felizardos espalhados por este país, inclusive no exterior, era chamado como passageiro do “voo da alegria” pelos insaciáveis “sortudos” sugadores do erário público.
Pela delação premiada ficamos sabendo das mais variadas estratégias montadas pelos receptadores do dinheiro ilícito.
Méritos para o entregador da encomenda, pela sua discrição, profissionalismo. Nunca foi barrado em nenhum aeroporto nacional ou internacional com toda aquela muamba.
Só foi possível apanhar esse personagem com a delação dos seus chefes.
Com a certeza que temos agora das ramificações do esquema criminoso contaminando todas as obras públicas desta nação, e do desinteresse do governo em exterminar com a impunidade, fica claro que política só se faz sem ética e moral.

Gabriel Novis Neves
14-12-2014

Compreender


Certa ocasião, o cartunista Ziraldo disse que para entender um idoso, só outro idoso.
Em razão disto, chamou dois outros idosos, os jornalistas e escritores Zuenir Ventura e Luis Fernando Veríssimo para juntos escreverem uma peça de teatro mostrando o lado divertido da idade avançada.
“Somos três velhinhos interessantes, que estão escrevendo um musical sobre a velhice”, disse Veríssimo.
Creio que eles estão se despedindo da velhice, pois a próxima etapa poderá ser - na pior das hipóteses - a senilidade, preocupante pela proximidade com a finitude.
Lembrei-me do poeta amazonense Thiago de Melo, que lamenta ter crescido. Não se conforma em seguir o ciclo vital e ter se tornado um adulto.
Em um dos seus poemas exaltou a sinceridade da criança, que sempre confia em outra criança.
Ela ainda desconhece a praga social da hipocrisia. Na sua pureza, se gostar de alguma coisa fala e, se não gostar, fala também.
Quando uma criança diz, ao se despedir de outra, que querem se encontrar no outro dia, pode ter certeza que este encontro acontecerá.
No mundo adulto esse desejo quando manifestado em simples despedidas de um encontro casual, falamos o conhecido chavão - “amanhã nos falamos”.
Quem promete e quem ouve, sabe que isso não é para valer, e temos dito.
Se adultos não compreendem que leis foram feitas para serem cumpridas, o que esperar de compromissos menores?
Até há pouco tempo uma lei proibia os nossos governantes de gastarem mais recursos que os arrecadados com impostos e taxas.
Bastou uma eleição acirrada para que o governo estourasse com as nossas reservas do Tesouro Nacional.
A solução para a infração cometida jamais seria aceita por crianças.
Os adultos então fizeram uma negociata e, para “não quebrar o Brasil”, outra lei foi aprovada às pressas pelo Congresso Nacional.
Só entende político, outro político!
Esta é a realidade em um país onde há leis que pegam e outras não.
A Lei da Responsabilidade Fiscal perdeu o seu prazo de validade, para satisfação dos poderosos.
E o pagador de impostos desistiu de ter voz, pois não é compreendido pelos responsáveis por esta nação.

Gabriel Novis Neves
19-12-2014

APATIA


Estado patológico, a apatia, geralmente, é o grande precursor das profundas depressões.
O povo brasileiro, diante das denúncias de corrupções praticadas por alguns dos nossos governantes e agentes públicos, encontra-se desencantado, descrente e impotente.
Todos esses estados da alma levam à apatia. O povo brasileiro está apático, pois há anos está vivenciando esta situação.
O mais desalentador é que, apesar de todas as denúncias oferecidas pelo Ministério Público, as possibilidades de uma punição a contento ainda são bastante tênues.
O governo insiste em blindar seus altos executivos e políticos da base aliada – como o que está acontecendo com a presidente da Petrobras.
As mídias, todas, sinalizam que a ruptura deste modelo corrupto de governar, ainda vai continuar sendo, por um bom período, um pesadelo para a população.
A credibilidade nos poderes estabelecidos há muito desapareceu, e nos sentimos todos numa nau à deriva.
Já não confiamos em nada nem em ninguém, numa situação de extrema insegurança.
Nem a figura alegre do Papai Noel, símbolo das nossas fantasias infantis, consegue levantar o astral diante de tantos medos e incertezas que nos esperam em 2015.
Os brilhantes técnicos financeiros nos atiram em economês, presságios os mais assustadores.
O povo, coagido pelas incertezas, limita-se a tomar conhecimento dos escândalos de corrupção com um balançar negativo da cabeça, não querendo acreditar no que é dito.
Diante dessa enorme rede de corrupção montada pelo governo, só resta ao povo a indignação e a revolta, ou a apatia.
Ao que parece, a população perdeu a energia para se indignar e o desânimo para se revoltar.
Só restando a apatia. É, o povo está doente!

Gabriel Novis Neves
17-12-2014

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Mentira


Com a expansão da delação premiada a mentira voltou a ser o assunto do dia. Seu “Santo Padroeiro” aqui no Brasil prega o “eu não sabia”.
Aposentou, inclusive, uma antiga expressão de grande prestígio na época da “Inquisição”, que era “jurar de pés juntos que não fui eu”.
O ser humano mente inúmeras vezes por dia, afirmam os estudiosos em neurologia.
Muitas mentiras não contêm maldade ou intenção de enganar.
Citarei apenas uma: a do médico que mente ao seu paciente quanto ao diagnóstico e prognóstico de certas patologias incuráveis pela medicina científica.
Esta é chamada de mentira humanitária. A mentira médica tentando amenizar as dores do paciente é mais frequente entre os latinos que saxônicos.
Sou contra a mentira que nunca ajuda e, no caso citado, considero uma traição ao nosso fragilizado semelhante que sabe da gravidade do seu caso e percebe que o doutor está mentindo no seu otimismo para protegê-lo.
Mentiras inocentes são empregadas para evitar possíveis constrangimentos.
Mas, há as covardes, criminosas e tantas outras inventadas por esse “bicho” tão difícil de ser compreendido que é o ser humano.
A situação fica grave quando o mentiroso passa a acreditar nas suas próprias mentiras.
Entre a mentira e a ficção vivem crianças, adultos e certos profissionais como artistas, escritores e historiadores.
Entre os mentirosos sinceros estão os sonhadores e utópicos. Na prática suas mentiras não funcionam.
As pessoas mentem tanto, que a verdade parece um fenômeno exótico, arcaico, ultrapassado. É quase um defeito no mundo atual.
Nas Operações da Polícia Federal que varrem o território nacional, o objetivo maior dos transgressores das leis é de enganar o povo.
No momento o “eu não sabia de nada” está vencendo a verdade para o mal desta nação saqueada e dilapidada na sua honra por políticos, agentes públicos e corruptores do capital.
Até quando a mentira será a moeda deste país?
A sociedade civil continua como “o cego que não quer ver”.

Gabriel Novis Neves
21-12-2014

DEZEMBRO


Assim como as pessoas, os meses também apresentam suas peculiaridades.
Dezembro é o mês das festas de confraternização onde, quase sempre, reina a hipocrisia. Nunca se finge tanto como nos últimos dias do ano.
São votos de felicidades pra cá, abraços de alegria pra lá, troca de presentes sempre elogiados com sorrisos forçados.
Beijinhos de Judas, abraços de tamanduá e palavras sem compromissos com a realidade reforçam o falso cenário de solidariedade com decoração tradicional.
A festa do amigo oculto e o décimo terceiro salário são instrumentos para alegrar o consumismo induzido pela mídia.
Cuiabá tem onze mil pessoas com renda mensal inferior a setenta reais - considerado pelo governo federal como de extrema pobreza. Não contando vinte e cinco mil e quinhentas vivendo com recursos do Programa Bolsa Família e outras tantas já cadastradas e na fila de espera para receberem o benefício.
No mês em que os cristãos comemoram o nascimento de seu Cristo Jesus, a ajuda mútua entre pessoas inexiste.
Para alguns, dezembro é mês de alegria e comemorações.
Para mim, período de tristeza por observar tanta futilidade com aspecto de deslealdade.
Devemos ser iguais sempre, e não apenas artificialmente caridosos no mês-rei do consumismo.
A melancolia me maltrata neste período do ano, pois fica exposta a desigualdade entre as diversas camadas da nossa sociedade.
A reflexão necessária nesses dias ficou profanada pelo consumismo das promoções do comércio, com fundo musical das músicas natalinas.
O roliço profissional Papai Noel de barbas brancas, roupas e gorros vermelhos, carregando sacos de presentes, completam a alegria dos empresários e a ilusão das crianças.
Dezembro deveria ser um mês sagrado, e não apenas de idolatria ao consumismo inconsequente e profano.
Os vendilhões da felicidade um dia foram expulsos do templo por Cristo.
Nesse dezembro o que me encantaria mesmo seria vislumbrar dias com menos mentiras e mais realizações, coisas das quais o nosso país anda tão ressentido.
 “... ponde no coração do homem a compaixão e a caridade!” – assim rogava Cáritas.
Que o Papai Noel não traga presentes, mas traga ESPERANÇA.

Gabriel Novis Neves
14-12-2014

Futilidade


Segundo Houaiss, futilidade significa superficialidade, insignificância. Mas, o que seria do mundo sem esse substantivo feminino?
Leio em uma revista na sua página nobre, uma entrevista que é uma verdadeira homenagem a pessoas que possuem esta qualidade.
Tudo relatado pela papisa do Botox no Brasil. O texto é tão grotesco que logo associei à matéria paga. Ao iniciar a leitura o meu desejo foi de virar as páginas amarelas.
Lembrei-me do folclórico “Guaporé”, personagem da nossa infância. Ele era famoso entre a gurizada. A história era contada por uma ilustre educadora cuiabana.
Por isso “aguentei” ler toda a matéria, mas somente depois de ter liberado muita adrenalina, produzida pela agressão sofrida pelas minhas suprarrenais, e pude assim aferir o grau de insignificância da reportagem.
Entre os predicados da entrevistada está o orgulho de não revelar a sua idade, peso, altura, e confessa que não se deixa ver sem maquiagem, nem pelo marido.
Desde os treze anos de idade ela só usa sapatos de salto alto. Que belo currículo, hem?
Conta “causos” de consultório, onde sempre se faz aparecer como heroína. Nunca errou na sua profissão.
Ela Justifica as críticas que recebe como correção em tratamentos mal sucedidos realizados por outros colegas.
Recebe “bombas” de todo o país para “dar um jeito” e, muitas vezes, é impossível restaurar o erro cometido por outros.
Considera-se o centro do universo e cita nomes de clientes famosos para impressionar o leigo e dar uma pista dos seus honorários com a sua arte de enfiar Botox em corpos humanos com bom cartão de crédito.
Nesse show de futilidade só faltou dizer que ela corrige os erros cometidos por Deus ao fazer o homem e a mulher.
Na verdade esse espaço em revista de grande circulação mostra a tentativa de universalizar a beleza, tornando o seu mercado bastante atrativo agregando inúmeros interesses comerciais.
Infelizmente, explorar a vaidade de incautos foi sempre um negócio muito rendoso.
Mais uma vez cabe aos pais e ao sistema educacional darem à sociedade o substrato para a formação de pessoas seguras e com discernimento, afim de que não se deixem influenciar pela crueldade das diversas mídias, logicamente alimentadas por interesses financeiros.
Verdadeiros monstros deformados por essa ânsia desenfreada da juventude perdida vão povoar as várias gerações que nos sucederão. Aliás, já estamos começando a ver isso no nosso diário.
A busca do ego condescendente é a única saída para o inevitável desgaste das nossas carcaças.
O mais importante mesmo é cuidar da parte emocional e não somente da estética, compromisso maior de qualquer profissional de saúde.
Quem sabe um dia novos rostos serão criados em impressoras 3D, quando a autoestima de alguém estiver ligada apenas a razões tão fúteis.

Gabriel Novis Neves
14-12-2014

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

DIA HISTÓRICO


Finalmente, depois de uma sucessão de conflitos, guerras, matanças e ódios, um ótimo dia histórico para a humanidade nesse tumultuado século XXI.
O presidente dos Estados Unidos, Obama, em meio a uma forte crise de desaprovação ao seu governo, proferiu um de seus mais belos discursos em prol da suspensão dos embargos econômicos e humanitários à bela ilha cubana do Caribe.
Horizontes de prosperidade são abertos para Cuba, que há cinquenta e quatro anos sobrevive a um dos maiores cerceamentos econômicos já vistos.
De parte do presidente cubano, Raúl Castro, houve uma proposta de atualização do sistema de desenvolvimento socialista da Ilha.
Todas essas negociações entre os dois países ocorreram, fundamentalmente, graças à intervenção do Papa Francisco e do governo do Canadá.
Realmente, mais que merecido o Premio Nobel da Paz para o Sumo Pontífice em 2015, que desde março próximo passado mantinha negociações sigilosas com as duas nações.
Entre as medidas anunciadas estão a permissão de viagens entre os dois países, estabelecimento de embaixadas e término dos embargos econômicos.
Nada mais promissor para ambos os povos, isso sem falar no afastamento de famílias inteiras que, em busca do sonho americano, formaram seus vínculos, deixando para trás seus entes queridos e suas raízes.
Parabéns aos dois mandatários! Um, da maior potência do planeta, e o outro, de uma pequena ilha perto de Miami, cujo povo foi condenado ao segregamento e à dificuldade de sobrevivência por tantos anos.
Graças à capacidade de leniência desse alegre povo caribenho, ele se manteve, apesar de todas as dificuldades e privações, num bom nível de saúde e de educação.
Parabéns, não somente aos cubanos, mas a toda a humanidade nesse dia histórico!
Coincidência ou não, o novo acordo entre os povos foi proclamado no dia do aniversário dos 78 anos do nobre Papa Francisco.

Gabriel Novis Neves
17-12-2014

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Último mês


Dezembro. O mês das festas natalinas.  Mês em que comemoramos o nascimento de Jesus, o Cristo do Planeta Terra.
Mês de esperanças renovadas e de paz; de entendimento e de harmonia.
Mês das festas de confraternizações. Mês da fraternidade. Mês em que todos se irmanam para socorrer aos mais pobres.
Mês que tem o dia 25 como sua data maior. É Natal, palavra que significa “nascimento”.
No entanto, infelizmente, o que vemos é a exuberância, não do sentimento religioso que as datas sagradas deveriam despertar em nós, mas sim, dos embrulhos e sacolas recheados de presentes.
Ser lembrado em dias especiais da nossa existência com o afago de alguma lembrança faz bem ao nosso ego.
No Natal, entretanto, observamos a vitória retumbante do consumismo, cobrado e aceito pela maioria da nossa população.
Não somos contrários a um pequeno mimo às pessoas queridas para marcarmos nosso carinho e amizade em datas importantes.
O difícil é concordar com essa verdadeira euforia de materialização do período do ano que deveria ser de reflexão e humildade.
Neste instante ficam mais evidentes as desigualdades e injustiças sociais.
Pouco ou nada para muitos e tudo para poucos. E pensar que o Cristo nasceu em uma manjedoura para nos ensinar a abnegação e a simplicidade.
Há quem diga que a fé se perdeu nas engrenagens da civilização e que a ciência na terra apagou a luz espiritual.
As pessoas mais informadas e estruturadas relatam enorme desconforto emocional com essas manifestações pagãs.
E a mídia comenta que o movimento no comércio está sendo superior ao do ano que se findou, mesmo diante da crise econômica internacional e com perversos reflexos em nosso país.
Com pesar, mais uma vez constato que dezembro se transformou no mês das compras e dos presentes.
São poucos os que ainda relembram o cântico de esperança de Jesus: “Glória a Deus nas Alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!”.

Gabriel Novis Neves
10-12-2014

CRIANÇAS E IDOSOS


No início do ciclo vital somos crianças. Os felizardos que conseguem cumprir todas as fases desse ciclo são idosos.
Nesses dois extremos os seres humanos, por estarem mais vulneráveis, ficam sujeitos às pressões e incompreensões, tanto por parte da sociedade quanto por sua própria família.
Nesse longo caminho biológico as etapas vão se sucedendo – infância, puberdade, adolescência e maturidade.
Uma grande parte de pais, mal resolvidos emocionalmente, projetam em seus filhos todas as suas frustrações, não raro tornando-os lesionados para o resto da vida.
Vi aqui em minha cidade várias crianças fantasiadas com uma criatividade assombrosa comemorando o “Dia das Bruxas”, tradição nitidamente norte-americana.
Nada a ver com a nossa cultura, a não ser o ranço colonialista de imitar a “Corte”.
Por outro lado, elas são condicionadas a transformar todos os seus dias em festas ou a preenchê-los com atividades desnecessárias para a sua faixa etária, roubando-lhes assim todo tempo que poderiam dispor para o exercício de suas fantasias.
Infelizmente, como tudo na vida, esse período passa rápido.
As inúmeras mídias contaminam pais e educadores com valores deturpados e, dessa maneira, mais um sem número de infâncias estará comprometido.
Os idosos, no outro extremo, já deram à sociedade tudo que ela lhes exigiu. Como não são mais produtivos, perdem o seu valor como cidadãos, passando a imagem de pessoas descartáveis.
Num país essencialmente de jovens, difícil entender que os idosos podem ser extremamente produtivos, desde que se lhes devolva a sua autoestima.
Sofrem muitas vezes uma marginalização social e suas atitudes são vistas com reservas.
Países que não cuidam das suas crianças e de seus idosos, jamais poderão ser considerados civilizados. 

Gabriel Novis Neves
15-12-2014

De repente


O tempo passou. A vida encurtou. Dezembro chegou nauseabundo, inquieto, com certa dose de melancolia para o balancete vivencial de final do ano.
No crepúsculo do dia, no clímax desse estado desagradável, recebo pelo telefone um choque de alegria.
O pai da minha neta caçula, muito emocionado, me comunica a vitória da danadinha. Conseguiu, aos dezoito anos, se classificar para cursar Medicina em uma universidade privada de Cuiabá.
A notícia propiciou a mim, velho pedreiro de obras educacionais um efeito de pitada de realização na sua já longa caminhada.
Como por encanto desapareceu o desânimo que inundava a minha alma e vi que a realidade me era, até certo ponto, muito favorável.
A contribuição a uma empresa privada para participar como diretor da implantação de uma escola médica após os sessenta anos de idade, vejo hoje que não foi um acidente na minha carreira de médico e educador.
Tonificado e emocionado, assisti a um lindo filme imaginário.  Fiz um longo passeio pelo passado.  Relembrei a história dessa menina guerreira, desde o seu nascimento até a sua atual vitória.
Percebi, espantado, como o tempo corre vertiginosamente. Hoje, aquela menininha que aparei nos braços, será minha futura colega!
Esforçada e obstinada, sempre acreditou no mérito do trabalho intelectual para conseguir o objetivo perseguido.
Sua escolha profissional não sofreu interferência familiar.  Foi escolha pessoal, exclusivamente da sua responsabilidade.
Dedicação foi a ferramenta que nunca lhe faltou para alcançar essa vitória em um vestibular nacional altamente competitivo.
Nunca indaguei dos motivos que a levaram a escolher uma profissão tão bela e incompreendida.
Acho que foi o desejo de participar das mudanças sociais tão necessárias neste país e que venham a favorecer, especialmente, aos mais necessitados.
Todo trabalho é digno quando exercido com despojamento pessoal, solidariedade e compreensão humana.
Espero que a minha mais nova futura colega, após longa e permanente caminhada em busca dos saberes, se qualifique para exercer a mais social das profissões.
Sinto-me recompensado e repaginado, mudando para melhor a minha leitura sobre o meu passado.
Felicidade e sucesso são tudo que desejo a você minha neta!
Fiquei sensibilizado com a sua conquista - que me fez entender que tudo aconteceu tão de repente...

Gabriel Novis Neves
06-12-2014

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

DELAÇÃO PREMIADA


Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, optou pela delação premiada para diminuir seus anos de cadeia pelos crimes cometidos contra o erário público.
Na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Congresso Nacional repetiu tudo que dissera à Polícia Federal do Paraná.
A mais chocante das suas revelações, já do domínio público, foi a afirmação de que trinta e cinco políticos estiveram envolvidos no assalto à nossa principal estatal.
Acrescentou que as irregularidades cometidas na empresa de petróleo acontecem no Brasil inteiro onde existam obras do governo - das rodovias às hidrelétricas.
Todo brasileiro desconfiava da roubalheira, mas o poderoso ex-diretor generalizou o deslize ético, deixando como suspeitos todos os políticos e empresas desta nação.
Isso veio corroborar com a declaração do advogado do doleiro encarregado das operações financeiras para a quadrilha quando disse que, por menor que seja o município brasileiro, não se assenta um paralelepípedo sem pagamento de propina.
Assim nasce o famoso custo Brasil, que é o encarecimento e a péssima qualidade das nossas obras.
A limpeza para salvar o Brasil da corrupção institucionalizada tem que ser ampla e irrestrita.
A pergunta que os pagadores de impostos fazem: - haverá vontade política para colocar os interesses nacionais acima dos pessoais?
O governo tem a faca e o queijo na mão para executar essa assepsia e promover mudanças urgentes e necessárias respeitando o estado de direito.
Diz um provérbio português que “A última gota d’água faz transbordar o copo”. Só um entendimento entre os três poderes da República e a sociedade civil pode evitar que o copo transborde.
Ou tomamos uma decisão drástica e imediata ou teremos de conviver com as consequências de uma inundação de insatisfações e indignações até que tenhamos o mesmo destino do Titanic.

Gabriel Novis Neves
03-12-2014

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

História do Brasil


Após a última redemocratização com o frustrante desaparecimento do Doutor Tancredo Neves, anotamos vários episódios que marcaram a nossa recente história.
Um de seus principais personagens foi o motorista do pequeno automóvel Elba do Presidente da República de então.
Os anões do Orçamento. Renúncias de importantes políticos do Congresso Nacional para prevenção de uma sumária cassação por atos ilícitos. O mensalão.
E agora, o escândalo da Petrobras, com a geóloga Venina jogando uma pá de cal no cadáver insepulto da ex-grande empresa.
Mulher corajosa essa funcionária de carreira da estatal, outrora orgulho de todo brasileiro.
De origem humilde, essa moça, nascida no subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, por mérito pessoal, galgou os escalões superiores da dilapidada empresa de petróleo.
Negou-se a participar do sofisticado e engenhoso esquema de corrupção que passava pelo seu setor de controle.
Sofreu represálias dos seus superiores que a acusaram de traidora e covarde, segundo divulgação dos seus emails confidenciais, encaminhados, sempre em caráter de urgência, à alta direção da estatal.
Como prêmio pelo seu “incompreensível” comportamento ético e coragem para alertar seus superiores das bandalheiras existentes, foi mandada para a Ásia chefiar um escritório da multinacional brasileira.
Lá constatou também irregularidades nos contratos e mais uma vez fez ciência do fato às nossas autoridades. Como resposta foi designada a deixar a chefia do escritório para fazer um curso de especialização.
Concluída essa etapa, veio recambiada para o Brasil e perdeu o cargo comissionado.
Assim mesmo continuou alertando aos altos escalões da empresa sobre as inúmeras irregularidades, cada vez cometidas em escalas crescentes.
Nada de resposta. Ameaçada de morte entrou de licença médica.
Sua confidencial correspondência foi divulgada por uma revista de circulação nacional, e causou revolta nos pagadores de impostos elevadíssimos e salários achatados.
A sujeira inundou este país.  Dias escuros nos esperam quando a geóloga for interrogada pelo Ministério Público.
A expectativa é de uma catástrofe com mudanças profundas no desgastado cenário político brasileiro, com um Congresso desmoralizado e o Executivo fragilizado.
A população, descrente dos seus líderes e instituições, exige uma solução ética, com punição exemplar para os assaltantes do erário público.
O que o povo almeja é, simplesmente, que a lei seja cumprida!

Gabriel Novis Neves
13-12-2014

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O QATAR E A COPA DO MUNDO


O Qatar é um país árabe, conhecido como um emirado do Oriente Médio. Tem regime absolutista desde meados do século XIX.
Apenas a partir de 1971 deixou de pertencer a um protetorado britânico e tornou-se independente.
O país está envolvido pelo Golfo Pérsico e, ao sul, tem a Arábia Saudita como fronteira.
Graças às suas enormes reservas de petróleo e de gás, sendo essa a terceira maior do mundo, é conhecido como um dos países mais poderosos do planeta.
No momento, a presidente Dilma Rousseff usufruiu há pouco tempo das mordomias oferecidas por esse país.
Foi disponibilizada para ela a suíte presidencial do luxuoso Hotel St. Regis, em frente ao Golfo Pérsico, por modestas diárias de trinta mil reais.
Dessa forma, a nossa mandatária desfrutou de belos momentos na sua estada para a reunião do G20 na Austrália.
A população do Qatar, de aproximadamente um milhão e novecentos mil habitantes, está composta por apenas duzentos e cinquenta mil catarianos, os quais têm como característica principal não pagarem impostos (coisa rara no mundo).
Todo o resto da população é composto por trabalhadores estrangeiros - apenas 13% de outras nações árabes.
Os demais são principalmente oriundos da Índia, do Nepal, das Filipinas e, numa proporção menor, de outros países.
Atualmente, relatórios feitos pela Anistia Internacional, aliás, muito conceituados nos centros de pesquisa, denunciam a presença de trabalho escravo na construção de estádios para a Copa do Mundo de 2022 naquele país.
Segundo o que consta, esses trabalhadores ficam restritos aos locais das construções. Não podem circular pela cidade.
Seus passaportes são retidos pelas   empresas que os contratam impedindo assim qualquer rescisão antes do prazo estabelecido pelos empregadores.
Aliado a esta situação, denúncias de condições precárias de acomodações e alimentação.
Tudo muito triste saber que o país é detentor de um dos maiores índices de desenvolvimento  da humanidade.
A pujança do Qatar no momento, além do petróleo e do gás natural, se traduz por estar reunindo o maior acervo artístico do mundo, incluindo as mais valiosas telas de pintores famosos, principalmente impressionistas.
O poderoso país, sede da Copa do Mundo de 2022, havia sido questionado quanto à viabilidade do evento, o que já foi desmentido pela FIFA.
Com uma temperatura média anual em torno dos 40 graus, discutem-se muito os meses em que será realizada a festa da Copa – junho e julho. Esses meses são os mais quentes naquela região.
As autoridades locais já garantiram que todos os estádios serão totalmente climatizados.
Afinal, para um país tão poderoso, energia não significa problema.
Problema é a ausência de respeito aos direitos humanos em pleno século XXI.

Gabriel Novis Neves
12-12-2014

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Nem tanto


A situação de Cuiabá com relação aos hospitais públicos não é tão preocupante como nos parece.
Vejamos. No CPA (Centro Político Administrativo) temos um esqueleto robusto daquele que seria o Hospital Central.
Suas obras foram iniciadas há trinta e um anos e paralisadas completamente há doze.
Com decisão política e algum recurso poderia funcionar tranquilamente.
O atual HGU (Hospital Geral Universitário) também ficou inacabado durante quinze anos.
Em apenas três anos, o então Governo do Estado entregou o antigo Hospital Geral a uma Instituição Beneficente, servindo de orgulho, não só para a Grande Cuiabá, mas para toda a imensa região amazônica mato-grossense.
Hoje continua sendo útil à coletividade como Hospital Universitário.
Um esqueleto menor, correspondente apenas a sete por cento do projeto, está perdido na rodovia que liga Cuiabá a Santo Antônio do Leverger.
É o novo Hospital Universitário da UFMT que, sem recursos Federais ou Estaduais, o contrato com a firma construtora foi encerrado e, claro, as obras paralisadas.
Morreu prematuramente aquele que seria um hospital de referência de ensino por absoluta falta de dinheiro e interesse dos nossos políticos.
O Hospital São Benedito está pronto para o atendimento ao público após reformas e adequações, porém a Prefeitura de Cuiabá não possui recursos financeiros para o seu custeio e os governos federal e estadual não estão interessado no seu funcionamento.
Mesmo assim, a nossa Prefeitura lançou o projeto do novo Hospital e Pronto-Socorro, porém, o prefeito já avisou que não tem como bancar a obra, sintoma de que tão cedo esse novo hospital nem sairá da prancheta.
Finalmente, o novo governo do Estado se comprometeu a construir o tão sonhado e necessário Hospital das Clínicas, mas, com um problema - onde conseguir financiamento para executar o projeto?
Com todas essas obras hospitalares concluídas, Cuiabá ficaria com, pelo menos, mil leitos novos à disposição de todo o Estado de Mato Grosso.
Pelo andar da carruagem esse sonho me faz lembrar a antiga expressão “tirar o cavalo da chuva”. Ao que parece, mais uma esperança perdida!

Gabriel Novis Neves
12-12-2014