Os
dicionários nos dizem que vadio é aquele indivíduo que não tem ocupação.
Manoel
de Barros conseguiu reabilitar o vadio - que é quem pratica a vadiagem -
dizendo que certas profissões para serem bem exercidas há necessidade de não se
ter ocupação.
Diz
que trabalhou intensamente como fazendeiro durante dez anos, período que não
escreveu uma única palavra.
Tinha
como objetivo consolidar um patrimônio para poder vadiar e, somente assim,
ficar à disposição da sua inspiração poética.
Nunca
conseguiu fazer poesias, observar as insignificâncias se premido por
preocupações bancárias, notas promissórias, pagamentos de funcionários e
administração dos seus bens materiais.
Precisava
de uma renda mínima para a sua manutenção com dignidade e que lhe desse a paz
de espírito para fazer o que mais gostava - criar versos simples e belos.
Nessa
cota de vadiagem estariam contemplados o silêncio e a compreensão do seu núcleo
familiar.
Ao
contrário daquilo que muitos pensam, a criação intelectual é um trabalho que
exige muito esforço, disciplina e, finalmente, talento.
Tenho
observado que mesmo em um país onde não se incentiva a literatura como o nosso
e, refletindo na educação das nossas crianças que terminam em inaceitáveis
percentuais, é cada vez maior o número de jovens e adultos que conseguem
publicar livros com os seus sonhos e pesadelos.
Muitas
delas terminam seus currículos sem entenderem o que leram ou o que lhes foi
ensinado, tal a maneira obsoleta usada pelos métodos de ensino.
São
pessoas das mais diferentes camadas sociais que têm necessidade de registrar
fatos que marcaram suas vidas.
Os
primitivos se reuniam para contar suas histórias e a da sua gente. É uma
necessidade quase biológica escrever em determinada fase da nossa existência.
Apesar
de o ato ser prazeroso, é extremamente exaustivo.
Nélida
Pinõn relata que lê durante, pelo menos, quatro horas por dia. Sem leitura o
pensamento fica aprisionado, pressionando a nossa imaginação.
A
vadiagem é um pré-requisito importante para exercer na sua plenitude a função
de escritor.
“Minha alma quer sair para o infinito ou a
alma do mundo quer entrar em meu coração”. (Tagore).
Gabriel
Novis Neves
19-11-2014
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