quinta-feira, 30 de junho de 2011

SANTOS FESTEIROS

Durante as festas juninas tudo fica em um segundo plano.

É a época do reinado do pé de moleque, cocada, milho verde, pamonha, paçoquinha, pipoca, canjica, bolo de arroz, de queijo, espetinho de carne bovina, maria izabel, sarapatel, farofa de banana, quentão, além dos vestuários e músicas próprios da celebração.

Toda a cidade durante esse mês de trinta dias, no meio do ano, só sabe comer, beber e dançar. Se der tempo, namorar.

No Brasil, oficialmente, são quatro os santos festeiros juninos - Antonio, João, Pedro e Paulo.

Para nós, cuiabanos, acrescentamos o São Benedito, cujos festejos iniciam-se em fins de junho e encerram-se no primeiro domingo de julho.

As festas para Antonio, João, Pedro e Paulo, geralmente são noturnas. São festas alegres, com muitas brincadeiras, especialmente aquelas de adivinhar o futuro amoroso das moças e rapazes, o casamento na roça, a lavagem do Santo, a comilança e as danças. O quentão sempre presente - o combustível da noite.

Missas com a ida do santo da casa do festeiro até a igreja, acompanhado de fiéis cantando os hinos religiosos, banda de música e foguetório.

São Benedito prefere as missas das cinco da manhã e, nesta época de temperatura amena, obriga muitos cuiabanos a chegarem à igreja com cheiro de naftalina.

Depois da missa é hora do chá com bolo, admiração de fé do mastro do santo e músicas tradicionais.

Santo Antonio é casamenteiro, São João é fogueteiro, e ambos são muito populares.

São Pedro e São Paulo são mais discretos - são da devoção de famílias, e não populares, embora haja festividades nos dias programados como seus.

A popularidade de São João é tão grande, que durante meses comemoramos com festas, o São João atrasado. Dizem ser o santo da fartura, daí essa espichada.

São Benedito é o santo queridinho de todos os cuiabanos. É a unanimidade. Sempre é chamado para testemunhar uma verdade, com esse desafio: “Se for mentira, São Benedito pode furar seus olhos?” Aí não tem jeito de mentir e, pela fé, ficar cego.

Junho, que bem antigamente era de férias escolares e festas dos santos, não está mais sendo respeitado na sua tradição.

As greves justas dos trabalhadores do Estado da Copa, cujas obras estão mais atrasadas que as da Rússia 2018, a violência incontrolável(?) pelo poder público tiraram do foco essas festas.

Os assassinatos diários, estupros, e a nossa grande especialidade no cardápio do crime - os arrombamentos dos caixas eletrônicos dos bancos, são o nosso arroz com feijão da violência atual!

Somos campeões nessa modalidade de crime de arrombamento, atraindo turistas, digo, bandidos de todo o Brasil.

Só falta incentivo fiscal e consultorias especializadas para esses bandidos. O apoio logístico está funcionando às mil maravilhas.

Esse setor está tão bem estruturado, que todo mundo sabe que o arrombamento de caixas eletrônicas é diária, e ninguém no Estado é capaz de fazer a prevenção.

Aí tem - comenta o fuxiqueiro da padaria.

A ONU acaba de divulgar que grande parte da cocaína que abastece o mundo sai do Brasil e, preferencialmente, entra no país pelo nosso desprotegido Estado.

O problema da entrada das drogas no nosso território é do Brasil, e para o meu conforto, e de todos os brasileiros, uma delegação da Agecopa está de viagem marcada a Rússia tentar negociar a compra de aviões vigilantes.

Seriam utilizados na nossa imensa fronteira, onde o país do cocaleiro amigo, vende e troca drogas por carros roubados, automaticamente legalizados.

Com essa informação, a sensação que tenho é que perdemos para os bandidos a nossa tradicional festa junina.

Dá para pensar no nosso futuro, São João?

O nosso futuro, como estamos hoje, é sem o amanhã.

Triste realidade para o mês que um dia foi dos santos festeiros, das crianças, da fé religiosa e das tradições cuiabanas, e nunca dos bandidos impunes.

Gabriel Novis Neves

24-06-2011

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Governo desgovernado

Nas páginas de sangue dos jornais, diariamente leio notícias de carros, ônibus, carretas, lanchas, navios, trens, aviões que, desgovernados, causaram acidentes trágicos.

Está na minha memória o acidente do avião francês que caiu no mar sem sobreviventes.

A causa divulgada: a poderosa máquina voadora ficou desgovernada por alguns segundos, mas o suficiente para ela cair e afundar nas águas salgadas.

O resultado desse desgoverno todos sabem: nenhum sobrevivente.

Por aqui o desgoverno também está fazendo suas vítimas. Está tudo tão desgovernado, que até os sérios problemas de saúde pública que não foram resolvidos, como as filas para cirurgia que tinha prazo para terminar, aumentaram, mas ninguém mais toca nesse assunto.

A situação da saúde pública piorou.

O Estado perdeu ortopedistas, neurologistas, neurocirurgiões, psiquiatras, endocrinologistas, pediatras, entre outros.

A imprensa deixou de falar da sucateada saúde, seguindo um velho ditado popular para não perder tempo e controle emocional: "Daquele mato não sai coelho".

Os desgovernos, nos três níveis, ficam a propor leis, que são verdadeiras anedotas de mau gosto e um deboche para os nossos pacientes e trabalhadores da saúde.

Essa praga de desgoverno oficial contaminou a nossa acanhada rede privada de saúde, salvo raríssimas exceções.

Os últimos dias foram riquíssimos em acidentes causados pelo desgoverno.

Pipocaram mais greves dos trabalhadores do Estado do que fogos juninos.

Greve na educação, tratada em marcha lenta, confirmando que a educação não é prioridade nesse país, que tem uma das piores taxas de avaliação pelos organismos internacionais.

Alunos fora da sala de aula, embora o governo gaste uma fábula em propaganda, dizendo que lugar de criança é na escola.

Mas esse mesmo governo tira os professores das salas de aulas, para reinvidicarem um piso salarial de R$ 1.312,00, menos que o preço de uma diária de um bom burocrata, paga pelo tal cartão corporativo.

Os professores estão lutando por melhores condições de trabalho e, para não morrerem de fome, trabalham em três turnos e levam trabalhos escolares para corrigir em casa.

Esses mestres em extinção, detectados pelas suas ausências nos cursos oferecidos pelo MEC para formação de professores, e não preenchidos - num país sem educação - chega próximo a cem mil vagas ociosas.

Ninguém está interessado em ser professor na terra das impunidades e dos desgovernos.

Os mestres sabem que têm brasileiros, da primeira classe no governo, que ganham, até três vezes, o permitido pela Constituição Federal.

São exatamente eles, os paladinos da moral e dos bons costumes que negam o que a própria Constituição determina com relação ao investimento na educação.

A violência dominou o Estado, principalmente Cuiabá, transformado-a em cidade do crime organizado e do desorganizado.

As grandes redes de TV, ao tratarem da violência que tomou conta do Brasil, citaram os seis casos mais traumáticos ocorridos nos últimos dias.

Pasmem moradores da antiga Cidade Agarrativa e Linda! Dois deles tinham acontecido aqui. Um bom percentual para o Estado que persegue entrar no livro dos recordes - capítulo violência.

Quando trabalhadores da saúde, educação, meio-ambiente, pesquisa, assistência, extensão rural e segurança, jogam a toalha da tolerância e vão à greve, é sinal da total desgovernança do serviço público.

Caminhamos para o desastre programado. Vamos tentar uma parada técnica senhor comandante e, pelo menos, trocar a tripulação por uma menos cansada?

Não há mais espaço para os elogios falsos, interesseiros e tapinhas nas costas.

A crítica é sempre destrutiva para se encontrar um caminho diferente.

Não caia, senhor comandante, no conto dos amigos do poder, ricos em fornecer o que não existe - a crítica construtiva.

Afaste esse cálice de nós, pois o governo tem como missão transformar este Estado de, desgovernado, em, governável.


Gabriel Novis Neves

23-06-2011

terça-feira, 28 de junho de 2011

NEPOTISMO NO BRASIL

No dia 07-06-2010, o presidente Lula assinou um decreto que define as regras sobre a vedação de nepotismo no Poder Executivo.

“De acordo com o decreto, está proibido a ocupação de cargos de confiança por familiares do ministro, dos dirigentes ou de ocupantes de cargo em comissão, função de confiança, chefia ou assessoramento”.

“As vedações do decreto atingem cônjuge, companheiro ou parente, por consanguinidade ou afinidade, até o terceiro grau.”

Também está proibido o “nepotismo cruzado.”

A maioria dos poderes não deu bola para o decreto presidencial, especialmente com o cruzado.

Conheço alguns casos de nepotismo punidos aqui no nosso Estado, assim como de muitos cruzados, segundo denúncias da imprensa.

O caso mais emblemático é o do motorista que perdeu o emprego porque o seu irmão foi eleito vice-prefeito.

Como não sou jurista, fico sem entender certas situações muito frequentes ocorridas por este Brasil.

O governador do Estado é eleito pelo povo. Com esse decreto assinado pelo Lula, ele pode nomear a sua mulher para ocupar uma secretaria de Estado, com todas as vantagens do cargo?

Acredito que, para assinar esse ato de claro nepotismo, tenha consultado os poderes competentes.

O motorista irmão do vice-prefeito do pequeno município teve que cumprir a lei, e as esposas dos governadores podem ser secretárias de Estado?

A armadilha do destino aconteceu para a minha confusão ou alienação, exatamente quando o decreto do Lula completou um ano.

Juridicamente deve estar com pareceres favoráveis da Procuradora Geral da República o ato assinado pela presidente, ao nomear para o cargo de ministro, a mulher de um já ministro.

O ato assinado pela autoridade maior desta nação é chamado de ato jurídico perfeito. É legal, mas me desculpem, não é moral.

É tão difícil entender essa lei, que o MEC (Ministério da Educação) deveria elaborar uma cartilha explicando o que é nepotismo.

Se colocasse no kit um filminho mostrando as diferenças entre o motorista irmão do vice-prefeito, das esposas dos governadores ocupando secretarias de Estado e o rumoroso caso do casal de ministros, ajudaria muito a população brasileira a exercer a sua cidadania.


Gabriel Novis Neves

13-06-2011

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Maquiavel

Em 1513, Maquiavel escreveu o manual da política "O Príncipe". Foi atribuída a ele uma frase até hoje muito empregada: “Os fins justificam os meios!”

Não concordo, mas é a lei pétrea da política.

Quem não estiver de acordo com esse mandamento, é melhor manter distância do poder.

A gente trabalha, cuida da família, mas tem que ficar de olho nos políticos - nos lembra o empresário Jorge Gerdau Johannpeter.

Do contrário, tudo que fizemos, eles estragam numa penada.

Continua Gerdau, “nos países mundialmente reconhecidos pela excelência da sua gestão pública, é prática nomear empresários para atuação técnica em órgãos vitais ao seu desenvolvimento.”

Esclareço que os empresários convocados nesses países são apenas empresários e não dublês de políticos com sobrenome de empresários.

Por aqui, estamos cheios de empresários sem empresas, lojistas sem lojas, médicos sem clientes, e por aí vai, nesse mundo maravilhoso das fantasias.

Os empresários de marca, e não os genéricos ou similares, conseguem, quando convocados pelo governo, dar transparência aos investimentos em infra-estrutura e, assim, ajudam a atrair estrangeiros com dinheiro, que fogem de países corroídos pela corrupção.

“A gestão pública tem que ser uma extensão daquilo que fazemos em casa”, frase de autor desconhecido que aprendi com os meus pais, e muita gente não da minha geração a utiliza como sendo de algum filósofo moderno.

É comum no nosso país os políticos e agregados mentirem aos jornalistas, dizendo que representam a opinião pública.

É um desgaste desnecessário, inoportuno, pois o jornalista descobre a verdade, e a crise, na opinião pública e poder, está formada.

Nos últimos anos tivemos muitos casos de mentiras, que apuradas terminaram com a demissão do mentiroso, para salvar a honra do dono da bola do jogo.

A população brasileira está tão descrente dos nossos administradores públicos, que não mais acredita nos caríssimos Informes Publicitários do governo.

Agora, com Mato Grosso na pauta diária do Jornal Nacional e do Fantástico, não adianta mentir.

Poucos homens públicos se comportam no poder como gestores domésticos.

Maquiavel deu a receita - os fins justificam os meios, mas exageramos na dose.


Gabriel Novis Neves

13-06-2011

domingo, 26 de junho de 2011

AS RUAS FALAM

Uma televisão local destacou um dos seus repórteres para entrevistar populares no centro de Cuiabá.

A pergunta foi feita para mulheres e homens de todas as faixas etárias e sociais.

Como por aqui, a única preocupação é com as obras da Copa do Mundo, a pergunta do jornalista aos pedestres, foi mais ou menos esta:

“Você conhece alguma obra que está sendo realizada para a Copa 2014?”

Não sei se a pergunta da produção do programa tinha como objetivo confirmar, através dessa pesquisa, que até agora nada foi feito - apenas propaganda do que se pretende fazer -, ou acordar o nosso governo.

Chamou-me a atenção a resposta negativa de um entrevistado, com um irônico sorriso.

A descrença da nossa população com relação às obras para modernizar a ex-Cidade Verde ficou evidente.

A unanimidade condenatória ficou por conta da demolição do Verdão, que não conseguiu convencer ninguém do seu acerto.

Dizem até que foi coisa de gente que não gosta de Cuiabá.

É um imenso buracão, respondeu uma senhora ao repórter sobre as obras da Arena Pantanal.

Outros entrevistados lembravam-se das promessas do novo Aeroporto, do exótico projeto de mobilidade urbana, sem projetos de custos das desapropriações e execução, além do misterioso recurso que viria do governo Federal.

O trabalho da televisão mostrou ao governo, e à população em geral, que ninguém acredita nas obras prometidas na época da eleição 2010.

Muitos dos entrevistados demonstraram receio de que a Copa nos deixará com um Tesouro mais anêmico de recursos financeiros, com dívidas desnecessárias e com mais um elefante branco.

As ruas falam, ao contrário das rosas, senhores governantes.

Gabriel Novis Neves

18-06-2011

sábado, 25 de junho de 2011

E eu chegando ao fim

Poucos se lembram dos versos musicados do grande poeta pernambucano Antonio Maria, imortalizados pela voz da cantora Nora Ney:

“Ninguém me ama

Ninguém me quer

Ninguém me chama

De meu amor.”

Essa canção é pré bossa-nova, da época em que predominavam as músicas dor de cotovelo.

A bossa nova apareceu depois, e falava do barquinho, Corcovado, chega de saudade, garota de Ipanema, etc.

Vivi essa transição - dor de cotovelo - com poesias de Vinícius de Morais.

Era o morro perdendo espaço na música popular brasileira para o poetinha e seus meninos universitários.

Conheci os famosos da dor de cotovelo, e aqueles que um dia seriam famosos da bossa nova.

“Ninguém me ama”, lembra-me muito a vida de um idoso saudável.

Pode parecer uma incoerência falar em idoso saudável, pois sabemos que o tempo vivido exige um preço, que pagamos com prazer, chamado de pedágio.

Se paga, e bem, pelo tempo vivido. É o único bem que não há incentivo fiscal e impunidade.

O idoso todo o dia acrescenta uma novidade farmacológica em sua cesta básica de medicamentos.

Quando a Nora Ney encerrava, com a sua voz grave de grande fumante - ... “E eu chegando ao fim”, o garçom logo era chamado com o pedido de mais um.

É difícil, dizia o Maria, chegar ao fim da vida sem ser amado. Ele dizia que ninguém o amava.

O poeta foi vítima dos seus versos e, aos 43 anos, morreu sozinho, vítima do seu sofrido coração, na mesa de um bar.

Sempre que enriqueço a minha cesta básica de medicamentos, como agora, lembro-me da Nora Ney: cigarro nos dedos, na alta madrugada das boates do Rio, cantando nas mesas dos retardatários, vítimas da dor de cotovelo - “Velhice chegando e eu chegando ao fim.”

Bons tempos aqueles, em que cotovelos doíam por um amor perdido, e o remédio era uma boate ouvindo canções especializadas para a cura dessas dores.

Sinto dores nos cotovelos e nos punhos, não por um amor que já perdi, mas por uma queda nas calçadas das ruas da Copa 2014.

Assim é a vida por onde caminhamos. Só paramos quando ELE determinar que chegamos ao fim.


Gabriel Novis Neves

17-06-2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011

LIBEROU GERAL!

Os jogos Pan-Americanos realizados no governo anterior, no Rio de Janeiro, estavam com as suas obras orçadas em um bilhão de reais.

Houve a clássica enrolação do serviço público e no final, para não deixar o Brasil humilhado internacionalmente, o governo federal cuspiu dinheiro sem controle na ex-Cidade Maravilhosa para salvar “a honra nacional".

Esse “esforço” do governo Federal com o nosso dinheiro fez a felicidade de muita gente. Aquilo que estava orçado em um bilhão de reais ficou em quatro, oficialmente.

Os benefícios dos monstruosos investimentos no Rio de Janeiro ficaram num raquítico termo de comodato com o Botafogo, que alega que a parte externa do estádio está incompleta e o seu custo operacional é altíssimo.

Os alojamentos que foram construídos para os atletas, e depois entregues a população de baixa renda, merecem ser visitados.

O projeto de enriquecimento rápido de alguns, agora foi alterado para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas.

O contribuinte pagará as obras que serão executadas com o seu dinheiro, mas não irá saber o valor do seu investimento!

Só mesmo um país como o nosso teria tanta criatividade para bolar um projeto desses.

Uns dizem que a ideia foi dos aloprados, mas há controvérsias.

O pior é que essa ideia saiu do Planalto para a Câmara dos Deputados, que aprovou sem discussões e quase por unanimidade.

No Senado Federal, Sarney e Collor garantiram à presidente que não haverá problemas.

A alegação para essa pressa toda, segundo fontes oficiais, é que não há mais tempo a perder.

Está em jogo a dignidade brasileira com a comunidade internacional, onde alguns pensam que estamos bem na foto.

O que o Brasil está fazendo para realizar essa Copa são coisas que no Paraguai dá cadeia.

Fico sem saber com o que leio, ouço e vejo, como a dispensa de licitações para as obras públicas e o sigilo dos gastos.

Esse sistema, disse-me um amigo, é um cartão corporativo que o governo concedeu aos empreiteiros.

Tenho certeza que se essa experiência piloto der certo nas obras da Copa do Mundo, o governo estenderá a todas as obras públicas desse país.

Com essa nova medida, já está decidida as próximas eleições e a gastança está liberada na terra de Pedro Álvares Cabral.

Gabriel Novis Neves

19-06-2011

Roupa suja

A minha mãe teve nove filhos, todos no sistema escadinha. A diferença de idade, em média, era de um ano e sete meses.

Teve muita dificuldade em educá-los, mas acredito que alcançou os seus objetivos. Um dos princípios dessa educação era nunca, jamais, em tempo algum, permitir brigas em casa. Aquela de socos, tapas e pontapés.

Quando a desavença infantil caminhava para esse desfecho, ela intervinha e alertava:

“Querem brincar de brigar? Então vão lá para o quintal. Aqui dentro de casa não.”

Como me foi útil na vida essa frase!

Quando leio que há briga na sala de visita de uma casa, entendo como sinal de fraqueza dos pais, ou falta de união e educação dos filhos.

Estou me deliciando com a lavagem de roupa suja de dois importantes personagens em plena praça pública.

Um, representa um poderoso empresário e político de Mato Grosso no governo federal. Outro, é o nosso primeiro ministro, que acumula, temporariamente as funções de presidente-imperial da Agecopa.

Motivo da lavagem da roupa na rua: a Copa 2014 aqui.

O representante do empresário-político no governo federal, sentindo que a água está entrando no barco da Copa, reúne a imprensa e começa o seu trabalho de lavagem de roupa suja, que li no jornal A Gazeta:

O trabalho da Agecopa já deveria ter começado - e cita dificuldades para liberações de recursos federais, exatamente do seu departamento!

Destaca a demora das obras, questiona a proposta sobre modais, é contra o VLT ou BRT, e revela dificuldades para a liberação total de R$ 346 milhões destinados ao eixo da mobilidade urbana, com empenho, até agora, de apenas R$ 10 milhões.

Questiona o valor e o prazo para conclusão dos trabalhos de desapropriação dos imóveis. Ainda pergunta - quem vai pagar a conta, o Estado ou Município? - ambos sem caixa.

Lembrou da falta de empenho da nossa bancada federal em trazer recursos de Brasília para a Copa, jogando no fogo do desinteresse o seu próprio patrão-senador.

Por fim, já enxaguando as roupas lavadas, responsabilizou o nosso governador e o presidente da Agecopa pelo andar de cágado das obras da Copa.

O engraçado nessa comédia é que o dinheiro que não chega para as obras está no cofre do DNIT, e a chave está no bolso do seu diretor geral!

Ou, como ele gosta de dizer, guardado debaixo do colchão.

Nosso primeiro ministro, e presidente imperial da Agecopa, não come comida amanhecida, muito menos leva desaforo para casa.

Devolveu toda a responsabilidade das dificuldades enfrentadas ao acusador. Lembrou que todo esse rolo teve como causador o responsável pela autarquia federal.

Cabe a ele resolver o problema que criou e não cobrando a quem não deve.

Sabem por que os recursos federais não estão chegando à Cuiabá para a Copa 2014?

Segundo o presidente da Agecopa, o ilustre diretor do DNIT, fez o governo de Mato Grosso assinar um convênio com o departamento que comanda, sem autorização do Ministério do Planejamento.

Ainda, ele se comprometeu com algo que não é da sua alçada, conclui o explosivo presidente da Agecopa, que falava em nome do governo de Mato Grosso.

A população do Estado, com essa matéria do jornal A Gazeta, espera uma resposta tranquilizadora, que poderia ser da nossa atenta Assembléia Legislativa, ou do Conselho Regional de Engenharia de MT, onde o diretor é membro honorário e o assunto se refere a obras públicas.

Florianópolis, Goiânia e Campo Grande são cidades prontas para pegar o rebote de alguma desistência.

Por isso que a minha mãe sempre dizia que roupa suja lava-se em casa. Brigar de ficar de mal, pode ser no fundo do quintal.

Quem ganhou com essa troca de gentilezas para aferição de poder? Não vejo vencedor, mas um grande perdedor: Cuiabá.


Gabriel Novis Neves

14-06-2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

SOPA NO MEL

Todo o Brasil sabia, há dois anos, que a Copa do Mundo de 2014 seria realizada aqui. Seria um prêmio mundial de reconhecimento pelos esforços realizados pelo governo nos últimos anos.

A FIFA, inclusive, aceitou um pedido do presidente da República e dos governadores de Estado que estavam deixando o poder, para aumentar o número de cidades sub-sedes de oito para doze.

Seria a oportunidade de mostrar ao mundo o nosso avanço, não só na área econômica, mas principalmente, na social.

Alguns cansados de guerra, me alertaram para o perigo que corríamos com tantos canteiros de obras públicas neste gigante de mais de oito milhões de quilômetros quadrados.

Citaram o recente escândalo dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. As obras, que foram inicialmente orçadas em um bilhão de reais, quando finalizadas, ficaram em mais de quatro bilhões.

A metodologia empregada no Rio foi aperfeiçoada e será implantada nas doze sub-sedes dos jogos da Copa.

Aqui na nossa cidade, além do passeio para assistir ao sorteio pro forma na Suíça - do Brasil como país sede da Copa - tivemos a farra pela TV do sorteio das sub-sedes, viagens internacionais do nosso pessoal e recebimento festivo, aqui, do pessoal de lá. A criação de uma autarquia para cuidar da Copa e a demolição do Verdão.

Por esses dias, o eterno e o atual presidentes da FIFA, virão à Cuiabá receber troféus, diplomas, títulos, enfim, tudo que um benemérito tem direito pelos relevantes serviços prestados ao Estado.

O tempo não anda, voa, e daqui a dois anos, teremos a Copa das Confederações, que é uma mini Copa do Mundo, para os países realizarem pequenos reajustes na sua infra-estrutura para o grande acontecimento.

Com exceção da demolição e reformas de alguns estádios de futebol, agora chamados de arena multiuso, nada mais aconteceu, não contando as brigas internas.

Dinheiro que é necessário para preparar a ex-Cidade Verde para o grande evento internacional, não existe, e a situação é a pior possível.

Quando Cuiabá foi escolhida para sub-sede, a prefeitura foi muito honesta. Disse que daria todo o apoio moral para a construção das obras e que, em parte, resolveria os seus problemas. Dinheiro? Nem pensar! Construir avenidas com apoio moral, só mesmo na minha cidade.

O governo do Estado, no dia da festa, disse que tinha economias para esse momento histórico.

O grosso dos recursos financeiros necessários para - tirando a arena – a construção de um novo aeroporto, a solução para o problema da mobilidade urbana, os serviços básicos de infra-estrutura, os incentivos para o turismo, a segurança e a saúde, até o momento não passou de discursos e jogo de empurra.

Descobriu-se que todo o dinheiro que o Estado tinha só deu para comprar dinamites para demolir o Verdão, pagar o premiado projeto arquitetônico e, quando do início da execução dos trabalhos de construção do estádio, reformulação de toda a sua estrutura, para que ele não viesse a desabar.

Isso evidentemente encareceu o projeto, cujo valor hoje não é mais o da placa da obra.

Na iminência de o Brasil perder a sede da Copa, a presidente encaminhou, em regime de urgência ao Congresso Nacional, um Projeto de Lei de Conversão de Medida Provisória, solicitando instituir um Regime Diferenciado de Contratação para as obras da Copa das Confederações, Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas.

A Câmara dos Deputados nem discutiu a matéria, que foi aprovada no mesmo dia, e subiu ao Senado para apreciação técnica de Sarney, Collor, Renan e outros senadores da ampla base aliada.

Foi um ato revolucionário esse pedido de dispensa de licitação, pois estava em jogo a honra da nossa pátria.

Ficou tudo mais fácil e rápido, por exemplo: o governo solicita um novo aeroporto em Cuiabá. A empresa escolhida faz o projeto, executa as obras, o governo paga, mas está impedido por lei de dizer ao contribuinte o valor da obra.

Os antigos, diante de um fato como esse comentavam: "É sopa no mel."


Gabriel Novis Neves

17-06-2011