domingo, 12 de junho de 2011

DOENÇA DA MODA

Tenho um amigo que está em recuperação de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). Já passou por todos os setores de um hospital de excelência e agora está em casa utilizando as suas teorias para melhorar das sequelas motoras.

A sua privilegiada inteligência permanece em estado olímpico.

Trocamos emails.

Ele, na difícil tarefa de me convencer que o AVC é a doença da moda. Em qualquer rodinha de conversa, sempre tem alguém que já teve essa doença, conhece alguma vítima do AVC, ou tem notícias de amigos que estão na fila para sofrer o acidente vascular cerebral.

Discordo do meu amigo, que não é médico. Basta ler jornais ou revistas para saber que até o mais saudável dos humanos está entrando na imensa fila dos depressivos.

A causa principal dessa doença é social, diferente do AVC, que é orgânica.

O AVC, temos como evitar, com auxílio de fármacos e orientação médica, mas a depressão não depende de nós, pois, como disse, na maioria das vezes, a causa é social.

Acabei de ler a última revista Veja e, sinceramente, se não tivesse uma farmaciazinha em casa, entraria imediatamente em depressão profunda.

Da primeira até a última página da revista, à medida que lia as notícias, sentia alterações no metabolismo das minhas endorfinas. Um desânimo tomou conta de mim, anunciando que deveria parar com a leitura.

Contrariando os sinais emitidos de alerta pelo meu sistema imunológico e, como estava no final da leitura, organizei as minhas forças para o último capítulo.

Foi aí que me dei mal: li a história do coronel, filho do general e irmão do ministro.

Não consegui terminar a leitura da matéria quando vi que se tratava de outra história de consultoria.

Fechei a revista e, catatônico, fiquei a pensar sobre o meu futuro. Sou de uma linhagem genética que curte a longevidade. Pelos meus cálculos, terei ainda uns vinte anos pela frente.

Mas, passar todo esse tempo em depressão? Tenho que decidir como administrar esses anos sem a depressão.

Vou contratar um consultor, recém demitido do governo federal, para me orientar.

Desligar-se do mundo - como aconselham meus amigos da padaria da esquina - é o mesmo que passar vinte anos em estado vegetativo. Não considerei essa possibilidade.

Mudar para uma cidadezinha perdida nos cafundós do mundo? Já foi solução. Hoje, com o satélite e a antena parabólica, os cafundós deste país é que sustentam, em audiência, a novela das oito e o Big Brother Brasil.

Não se esquecendo do radinho de pilha, o grande companheiro do homem do interior.

Um pequeno país, perdido nos oceanos, com língua bem difícil e escrita em desenho, talvez fosse a solução para o meu caso.

Estou na pior situação que um ser humano pode se encontrar - viver na dúvida.

Uma consultoria de alguém, que saiu de lá, com certeza me ajudaria nessa tomada de decisão.

Sei que vou pagar um alto preço por esse serviço, mas compensa. Viver vinte anos em depressão, não suportaria.



Gabriel Novis Neves

01-06-2011

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