sexta-feira, 17 de junho de 2011

A ilusão de sexta-feira

Domingo à noite é melancolia; segunda-feira preguiça; terça-feira recuperação; quarta e quinta-feiras estabilização; sexta é ilusão e o sábado é o dia depois da sexta.

Assim classifico os dias da semana. Tenho uma simpatia pela sexta, pois consegue me transmitir um sentimento tão necessário à vida, que é a ilusão. Quem não gosta de viver uma ilusão, mesmo sabendo passageira?

A ilusão de acertar na loteria esportiva, de conseguir a mulher amada, de um mundo sem guerra, de uma paz que há muito perdemos e que outros, nem a conhecem?

Na sexta dormimos com a tranquilidade de que teremos duas noites sem despertador. Esse dia tem um carisma e um encantamento, que não encontro em outros dias. Parece-me que na sexta tudo é permitido e nada proibido, mesmo sabendo que essa sensação seja ilusão.

Mesmo os problemas da sexta, são resolvidos de comum acordo, na próxima semana. Sempre desconfiei daqueles que prometem resolver alguma pendenga na sexta.

É um dia tão especial, que os preços do lazer nesse dia são mais caros que em outros, além de todo mundo querer sair de casa, e a esticadinha após o serviço ser considerada normal, fazendo da sexta o dia mais longo da semana.

Restaurantes, que durante a semana simbolicamente apelidamos de “entregues às moscas”, na sexta, são verdadeiros formigueiros, com preços diferenciados para cima.

As noites de sexta são verdadeiras vitrines de produtos e de épocas as mais diferentes possíveis, onde predomina a beleza escondida durante os outros dias da semana.

Sexta de gente na rua, casas vazias, gente no vai e vem, tal como num garimpo, que é o símbolo universal da ilusão.

É o único dia da semana, em que a “loira” geladinha é mais valorizada que a nossa morena tropical, com a sua variação de nomes naturais: samambaia, melancia, jaca, moranguinho, jaboticaba, etc.

O poetinha da bossa nova, pedia que todas as mulheres fossem iguais à sua amada.

O velho do Cerrado implora ao clamor do Vinícius, que acrescentasse nos seus versos perfeitos, que todos os dias da semana fossem iguais às sextas-feiras.

Como faz bem a ilusão nos tempos em que vivemos!


Gabriel Novis Neves

03-06-2011

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