quarta-feira, 22 de junho de 2011

SOPA NO MEL

Todo o Brasil sabia, há dois anos, que a Copa do Mundo de 2014 seria realizada aqui. Seria um prêmio mundial de reconhecimento pelos esforços realizados pelo governo nos últimos anos.

A FIFA, inclusive, aceitou um pedido do presidente da República e dos governadores de Estado que estavam deixando o poder, para aumentar o número de cidades sub-sedes de oito para doze.

Seria a oportunidade de mostrar ao mundo o nosso avanço, não só na área econômica, mas principalmente, na social.

Alguns cansados de guerra, me alertaram para o perigo que corríamos com tantos canteiros de obras públicas neste gigante de mais de oito milhões de quilômetros quadrados.

Citaram o recente escândalo dos Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro. As obras, que foram inicialmente orçadas em um bilhão de reais, quando finalizadas, ficaram em mais de quatro bilhões.

A metodologia empregada no Rio foi aperfeiçoada e será implantada nas doze sub-sedes dos jogos da Copa.

Aqui na nossa cidade, além do passeio para assistir ao sorteio pro forma na Suíça - do Brasil como país sede da Copa - tivemos a farra pela TV do sorteio das sub-sedes, viagens internacionais do nosso pessoal e recebimento festivo, aqui, do pessoal de lá. A criação de uma autarquia para cuidar da Copa e a demolição do Verdão.

Por esses dias, o eterno e o atual presidentes da FIFA, virão à Cuiabá receber troféus, diplomas, títulos, enfim, tudo que um benemérito tem direito pelos relevantes serviços prestados ao Estado.

O tempo não anda, voa, e daqui a dois anos, teremos a Copa das Confederações, que é uma mini Copa do Mundo, para os países realizarem pequenos reajustes na sua infra-estrutura para o grande acontecimento.

Com exceção da demolição e reformas de alguns estádios de futebol, agora chamados de arena multiuso, nada mais aconteceu, não contando as brigas internas.

Dinheiro que é necessário para preparar a ex-Cidade Verde para o grande evento internacional, não existe, e a situação é a pior possível.

Quando Cuiabá foi escolhida para sub-sede, a prefeitura foi muito honesta. Disse que daria todo o apoio moral para a construção das obras e que, em parte, resolveria os seus problemas. Dinheiro? Nem pensar! Construir avenidas com apoio moral, só mesmo na minha cidade.

O governo do Estado, no dia da festa, disse que tinha economias para esse momento histórico.

O grosso dos recursos financeiros necessários para - tirando a arena – a construção de um novo aeroporto, a solução para o problema da mobilidade urbana, os serviços básicos de infra-estrutura, os incentivos para o turismo, a segurança e a saúde, até o momento não passou de discursos e jogo de empurra.

Descobriu-se que todo o dinheiro que o Estado tinha só deu para comprar dinamites para demolir o Verdão, pagar o premiado projeto arquitetônico e, quando do início da execução dos trabalhos de construção do estádio, reformulação de toda a sua estrutura, para que ele não viesse a desabar.

Isso evidentemente encareceu o projeto, cujo valor hoje não é mais o da placa da obra.

Na iminência de o Brasil perder a sede da Copa, a presidente encaminhou, em regime de urgência ao Congresso Nacional, um Projeto de Lei de Conversão de Medida Provisória, solicitando instituir um Regime Diferenciado de Contratação para as obras da Copa das Confederações, Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas.

A Câmara dos Deputados nem discutiu a matéria, que foi aprovada no mesmo dia, e subiu ao Senado para apreciação técnica de Sarney, Collor, Renan e outros senadores da ampla base aliada.

Foi um ato revolucionário esse pedido de dispensa de licitação, pois estava em jogo a honra da nossa pátria.

Ficou tudo mais fácil e rápido, por exemplo: o governo solicita um novo aeroporto em Cuiabá. A empresa escolhida faz o projeto, executa as obras, o governo paga, mas está impedido por lei de dizer ao contribuinte o valor da obra.

Os antigos, diante de um fato como esse comentavam: "É sopa no mel."


Gabriel Novis Neves

17-06-2011

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