Meu afilhado, jovem arretado e com ótimo tino para negócios, me fez, certo dia, uma sugestão:
- Tio, por que o senhor não abre uma consultoria? O senhor tem um ótimo currículo para essa atividade. Ser consultor é bom para ganhar dinheiro.
Lembrei-lhe que ele nasceu em minhas mãos, e continuava parteiro. Ele exclamou vitorioso:
- Tio, os médicos estão em alta na bolsa! - e continuou eufórico: - A parte jurídica da firma eu faço, e fico com 1% da empresa. Tenho uma pequena sala com telefone e ar refrigerado. É o suficiente para ter uma carteira com grandes empresários. O resto eu faço.
Perguntei ao jovem provocador:
- O que farei? Onde irei redigir os projetos?
Ele respondeu sério:
- Tio, o senhor fará algumas palestras para o diretor da empresa que está te contratando, e fará muitas visitas e telefonemas aos seus amigos que estão no poder.
- Só isso? - retruquei meio incrédulo do sucesso da nova profissão.
- Sim – ele falou. Acertos, distribuição de lucros, declaração de imposto de renda e investimentos, ficam por minha conta.
Proposta ética, moral e tentadora para um médico acostumado a trabalhar muito e receber os seus honorários, não em dinheiro, mas por uma tabela mixuruca.
Começamos então o trabalho. De cara apareceram dois clientes: uma grande construtora e um banco dos espanhóis.
Perguntei o que desejavam, e a resposta foi tão simples que nem acreditei.
- Queremos conselhos, e não, consultoria. Acreditamos que informações privilegiadas têm poder, e trazem dinheiro às empresas. O senhor é a única pessoa a destravar certos interesses que temos no governo.
Aceitei o serviço por achar muito simples. O meu afilhado cuidou da minha logística e dos honorários da consultoria.
No mesmo dia resolvi os problemas, e quando o meu afilhado me falou do dinheiro que tinha recebido, não acreditei!
A verdade é que, trabalhando com esse tipo de consultoria, em quatro anos aumentei em vinte vezes o meu patrimônio, honestamente.
Fechei a consultoria para ajudar mais um pouquinho o meu país.
Única coisa chata: certos parentes, que não estão comigo na consultoria, inventaram uma série de mentiras para me difamar.
As corretas empresas que foram minhas clientes, que também aumentaram em muito o seu patrimônio, estão sendo chamadas pela Receita Federal para darem explicações.
A notícia chegou aos jornais e todo mundo está dando palpite sobre o assunto.
Leia o que disse Cláudio Abramo, presidente do instituto Transparência Brasil, sobre essa consultoria: “O legal e o imoral se misturam quando política e empresas se unem para obter favorecimentos. Embora não exista ilegalidade de confiabilidade entre políticos e empresas, sempre escondem interesses ocultos.”
O consultor é uma pessoa tão genial que, o “Cara” do Obama, veio defender o seu ex-ministro da Fazenda, que Ele demitiu para não perder o cargo, e por isso transformou-se em consultor financeiro.
O consultor é o Pelé da economia, mesmo para um fanático torcedor do Corinthians. Como gênio, cobra o que quer. Pretendo não dar explicações, e se me aborrecerem muito eu reabro a minha firma de consultoria com o meu afilhado.
Só tenho uma preocupação: não quero nem pensar em mudanças nestes próximos anos.
Gabriel Novis Neves
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