quinta-feira, 30 de setembro de 2010

QUESTÃO DE COERÊNCIA

Somos um povo cordial e intimista. Assim fomos caracterizados por Sérgio Buarque de Holanda. Mas, a par dessas características, eu diria também que o brasileiro é espalhafatoso, alegre e apaixonado. Das paixões brasileiras destaques para o carnaval, futebol e política. E os feriadões? Produto genuinamente brasileiro - vem um agorinha mesmo se aproximando.

Mas, vamos falar da política, ou melhor, do período eleitoral. Nessa época, todo mundo dá o seu pitaco. Até eu que escrevo sobre amenidades, fui contagiado por esta paixão.

Dos nossos tres maiores candidatos ao governo do Estado, dois são velhos políticos profissionais e o outro nunca exerceu um cargo público e não é político profissional.

Sempre quis entender porque os velhos políticos nunca conseguiram resolver os nossos problemas básicos. Oportunidades? Tiveram, e muitas.

Temos certo candidato a governador que, quando foi legislador por oito anos, apresentou apenas dois projetos importantes ao povo de Mato-Grosso, especialmente ao de Cuiabá (ainda capital). Foi contra a Lei do Nepotismo no serviço público. Chegou a ir à Brasília, perante o Presidente do Supremo Tribunal Federal, protestar sobre a inconstitucionalidade e imoralidade da nova lei, que dificultava a ocupação familiar nos cargos públicos. E o que falar da lei da divisão de Mato-Grosso, roubando de Cuiabá o direito constitucional de ser capital do estado? De projeto só esses dois. O resto do tempo que passou na Casa do Povo foi todo consumido em assinar os famosos cheques conjuntos e estudar, creio que Direito. Por pudor nunca citou a Faculdade, horário, freqüência às aulas, locais de estágio e se tem carteirinha da OAB. Sabemos por declaração do próprio candidato, em rede de televisão para os 141 municípios do estado, que é proprietário da maior rede de comunicação do estado. Não declarou esses bens ao Tribunal Regional Eleitoral, pois segundo ele como parlamentar está impedido por lei. Na área esportiva, destacou-se como garupeiro do agricultor, que lhe deixou como herança o comando do governo, para o revezamento daqui a quatro anos. Promete se eleito, criar em Cuiabá, a Casa da Moeda para sustentação financeira dos seus arrojados e caríssimos projetos, que deixarei de citá-los por falta de espaço e por ser do conhecimento público.

Outro candidato ao governo foi a minha grande frustração. É meu amigo querido e sempre o incentivei na corrida ao Paiaguás. Sinto orgulho da sua biografia, e do moleque que nasceu comigo ser meu xará. Estivemos juntos até nas últimas eleições (1º e 2º turnos), para a prefeitura de Cuiabá. Infelizmente erramos, e ele errou demais no seu 2º mandato como prefeito. Desta vez ele recebeu cartão vermelho dos seus velhos amigos, por indisciplina. Uma ocasião conversando com um político, que durante 20 anos ficou afastado da política e retornou, ficando até morrer, ele me disse: “Na política, só existe a porta de entrada. Não há porta de saída.”

O terceiro candidato é aquele que nunca foi político profissional. Observo no momento um ataque de artilharia pesada em sua direção. Sempre diz com orgulho onde estudou, sente vaidade em dizer que começou a sua vida profissional com um diploma de uma universidade pública conceituada, numa indústria de fundo de quintal. Declarou todos os seus bens na Receita Federal e Tribunal Regional Eleitoral. Recebeu incentivos fiscais? Sim, como a maioria dos grandes empresários do agronegócio, frigoríficos, bebidas, cimentos etc. Receber incentivos fiscais não é crime, é lei. Esse empresário competente e vitorioso deve o seu sucesso única e exclusivamente ao seu trabalho.

Vamos cobrar os insucessos dos que estiveram no poder e fracassaram, ou dar oportunidade a um vencedor que demonstrou competência para pilotar a máquina pública?


Gabriel Novis Neves (7.5+84)

28-09-2010

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Imitação

Conheço e admiro muitos tipos de arte. A mais interessante de todas, é a arte da imitação. Como essa arte se alastrou por este país! Parece até uma pandemia. Os marqueteiros políticos são pródigos em ensinar esta arte aos seus clientes – visando o sucesso eleitoral. Aquele candidato que não possuir o dom para a imitação, o melhor é desistir de ser político, nem mesmo devem se aventurar a uma candidatura.

Falei que a arte da imitação é muito interessante. Realmente. Só que tem um detalhe: a imitação pode ser feita de forma elogiosa, ou insultuosa. No caso específico a que me refiro, os marqueteiros optam pela forma mais paranóica de imitação. O que, ou a quem tentam imitar, ainda é um mistério. Mas, que os candidatos estão vestindo uma máscara, isto estão.

As regras do manual da imitação são simples e curtas. Citarei como exemplo alguns itens básicos a serem seguidos:

- procurar ao máximo ser prepotente e arrogante; quando for vítima de alguma pergunta sobre um assunto indefensável, dizer sempre não saber de nada e nunca ouviu falar sobre tal assunto; mentir o máximo que puder, pois a população brasileira não possui escolaridade para distinguir uma mentira de uma verdade; ensinar a população a fazer, o que você nunca fez; desestimular ao máximo os jovens a estudar; frisar que a profissão do futuro é ser lobista.

Com estes ensinamentos básicos as suas eleições ou re-eleições estarão garantidas – esclarecem os marqueteiros. O segundo passo é ensinar como administrar o poder: em primeiro lugar esquecer tudo o que disseram, por imitação, no período eleitoral; procurar se unir aos seus inimigos, e abandonar rapidamente os seus amigos; não se esquecer de lotear o governo e conceder aos auxiliares mais diretos, o credenciamento de um escritório de lobby - os escritórios são importantes para acelerar a lenta tramitação dos processos na pesada e ineficiente máquina burocrática do poder; conceder emendas para parlamentares, dentro do critério de aprovação de leis dos interesses do governo; não confundir nunca interesses do governo com interesses do povo; não aumentar o valor das aposentadorias dos velhinhos - interesse do povo e não do governo; diminuir benefícios adquiridos pelos funcionários públicos - interesse do governo; enterrar ou, melhor, evitar Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) para investigar roubos - interesse do governo.

Os imitadores, já no poder, ficarão desgastados perante a opinião pública, mas jamais esquecidos pelo governo. E a opinião pública é igual nuvem. Logo desaparecem.

Conheço vários exemplos da utilidade dessas regras básicas de imitação. Que o diga a senadora do Acre, e a única daqui.

Lembrem-se: os não partidários dos sagrados ensinamentos do livro da imitação, estarão sumariamente condenados ao ostracismo político, entre as várias ferramentas da retaliação, tão do agrado desse pessoal.

Infelizmente nestas eleições, vencerão os adeptos dessa estranha arte da imitação. Imitando algo que nem me atrevo a pensar.


Gabriel Novis Neves (7.5+79)

23-09-2010

terça-feira, 28 de setembro de 2010

CASA DA MOEDA

Não escapei de assistir ao debate político pela televisão. Se ficasse em casa, com toda a certeza teria dormido, pois o horário do “cão - bate” coincide com o do meu primeiro sono. Acontece que fui jantar com a minha linda neta loira, que comemorava a data do seu décimo oitavo ano de nascimento. Festa em casa, com jantar e telão como a grande atração do aniversário.

Nessas ocasiões o jantar é servido fora do horário habitual (não sei por que), e coincidiu com a atração da TV. Uma colherada aqui, e olhos e ouvidos lá, no telão. Ao término dos debates, uma lição ficou para mim. Nada de atitudes radicais. É saudável, mesmo sem motivação, conhecer todos os porões da vida. Esqueci do jantar, em compensação lucrei em conhecimentos gerais. A maior parte do que foi dito pelos candidatos eu desconhecia totalmente. E não é por falta de leitura, mas são acontecimentos secretos para resguardar a reputação ilibada da maioria dos endeusados pelo perfume do poder. Os candidatos prometeram tantas obras físicas para o nosso Estado, que fiquei bobo. Não sobrará nenhum problema para ser resolvido daqui a quatro anos. O Estado será comandado por um piloto automático. No ar apenas duas interrogações: não se falou em gente capacitada para pilotar tantos avanços tecnológicos e de onde virão os recursos financeiros para a construção de uma nova Dubai.

Felizmente o candidato que detém o poder, nas entrelinhas deixou transparecer que já possuía a solução! Se eleito for, o seu primeiro ato seria a criação da Casa da Moeda em Mato-Grosso. Emitiríamos o nosso próprio papel moeda, sem precisar ficar esmolando recursos e emendas parlamentares em Brasília. Com apenas onze representantes em Brasília, jamais as nossas mais puras reivindicações serão atendidas. Ainda mais agora com a Copa, onde o Estado terá que fazer fortes investimentos. As nossas possibilidades de novos empréstimos bancários estavam obstruídas. Graças a uma lei excepcional da Casa do Povo, retiramos do fundo do poço a última gota de recursos para construção de parte da Arena Pantanal.

Para fazer economia, diga-se de passagem, o nosso ponto forte, destruímos o Verdão e agora construiremos em outros locais dois centros de treinamento (exigência da FIFA). Com a notícia da criação da Casa da Moeda, aqui, fiquei mais tranqüilo para prestar atenção nas propostas. Fiquei muito satisfeito, com as intenções do governador-candidato para a área da saúde pública. Construirá em quatro anos, mais de cem Unidades de Pronto Atendimento (UPA) no Estado. Só para se orgulhar dessa proposta, o Brasil não possui hoje oitenta Unidades, em todo o seu território. E falou mais: a candidata a Presidente pelo seu partido no seu programa de governo, prometeu em quatro anos de mandato, construir, equipar e dotar de pessoal multidisciplinar para funcionar quinhentas Unidades de Pronto Atendimento no Brasil todo. Ela conhece as dificuldades financeiras e de material humano de qualidade para esse projeto. Tem mais para a saúde: o Estado irá construir vários hospitais Regionais com os recursos economizados nos últimos oito anos onde não se construiu nenhum, e tão pouco conseguiu colocar em pleno funcionamento os existentes. Aqui em Cuiabá o Estado comprou dois hospitais com pacientes e transformou-os para outros fins. Agora com a Casa da Moeda, fará até um que é da Universidade Federal, cuja obrigação é do governo federal!

Enfim foi uma noite memorável, cujo grande objetivo do debate, foi o de esclarecer ao eleitor, quem está mais preparado para o desafio de comandar o Estado, e expulsar do caminho os pessimistas de plantão. Há soluções para todos os nossos problemas. Falta é criatividade! - como essa de se criar uma Casa da Moeda, e ainda baixar os impostos.


Gabriel Novis Neves (7.5+77)

21-09-2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Quatro vezes

Em recente artigo escrevi que a Marina “salvou-se do analfabetismo aos 16 anos, e depois fugiu da morte.” Muitos contestaram a minha segunda afirmação. Estamos familiarizados, infelizmente, com o analfabetismo, e temos inúmeros exemplos de pessoas que conseguiram se salvar deste flagelo até com mais idade. Agora, um médico dizer que alguém fugiu da morte? Causou espanto e incredulidade em muito leitores. As críticas vieram de todos os lados. Até de leviano e antiético fui chamado. “Ah! Dá licença! Já é demais! Esse tipo de comentários eu recebi aos montes.

Agora, digo a vocês que a Marina não enganou e fugiu da morte somente uma vez, mas quatro vezes. E, depois dessa incrível façanha, teve um enterro simbólico – vejam só a ironia do destino.

Conheço bem a história da minha vizinha amazônica seringueira. O seu jogo de trapacear a morte começou quando ela tinha apenas 16 anos. Depois foi vencedora do mesmo jogo aos 19 anos. A seguir, já adulta em 1991, quando exercia o mandato de deputada estadual, outra vitória. E por fim em 1994, como senadora, malogrou a intenção da senhora morte pela quarta vez. E em 2007 teve o seu enterro simbólico em Belo Horizonte organizado pelos ambientalistas que a acusavam de traidora da causa. Um delírio deles!

Em rápidas palavras relatarei o calvário da Marina. Aos 16 anos teve uma hepatite, mas foi tratada como malária. O caso era grave e uma tia de Marina escutou o prognóstico do médico: “A alma dessa menina já está no inferno”. Ao saber disso Marina falou: “Eu não morro de jeito nenhum.” Após um ano de tratamento em casa, com o fígado destruído, mudou-se para Rio Branco, capital do Acre, abandonando o seringal em que trabalhava extraindo borracha. Curou-se.

Aos 19 anos, foi acometida por nova hepatite. Diante da gravidade do caso, foi internada. Outra vez o prognóstico negativo do médico: “Ela tem cirrose e vai morrer”. E Marina novamente disse: “Vou morrer nada!” Saiu do hospital, após assinar um termo de responsabilidade, e, com a ajuda de um religioso, mudou-se para São Paulo para tratar da saúde. Curou-se.

Como deputada estadual, em 1991, nova provação. A morte outra vez sondava a sua vítima. Depois de inúmeros exames foi diagnosticado contaminação por mercúrio. Resultado dos pesados remédios tóxicos que tomara para curar uma leishmaniose. Muito debilitada mudou-se para a casa da sogra em Santos. Durante o tratamento Marina fica grávida. Sentenciada de novo pelos médicos: “Ela não vai sobreviver ao parto.” E a resposta: “Não morro de jeito nenhum”. Teve parto prematuro, e salvou-se.

Como senadora, em 1994, o estado de saúde de Marina continuava merecendo atenção. Muito debilitada foi para os Estados Unidos e internou-se no Massachusetts Hospital. Não melhorou. Retornou ao Brasil e escutou de seu médico particular: "A senhora não precisa de um médico. A senhora precisa de um milagre".

Um milagre realmente salvou Marina das quatro mortes profetizadas. Mas, neste milagre, a participação de Marina foi fundamental. Criou o seu mantra – “não morro de jeito nenhum”. De acordo com Mahatma Gandhi “o mantra se torna o cajado da vida de uma pessoa e a carrega através de cada provação. Tem o poder de alterar o nosso estado de consciência e entrar nos planos espirituais superiores e fazer as coisas virem em nossa abonação, ou seja, controlar o nosso próprio destino.”

Uma seringueira, nascida a 70 km da cidade de Rio Branco, em casa construída sobre palafitas, que conseguiu vencer a morte por quatro vezes, dona de uma fé inabalável, de uma determinação invejável, de condutas éticas inquestionáveis - está preparada para ser a Presidente do Brasil.


Gabriel Novis Neves (7.5+82)

26-09-2010

Em Belo Horizonte, no dia 23 de março de 2007, o caixão de Marina Silva percorreu algumas ruas da cidade num cortejo fúnebre promovido por ambientalistas. Tratava-se de uma encenação contra a transposição das águas do rio São Francisco.

O inferno astral de Marina Silva

A ministra do Meio Ambiente enganou a morte quatro vezes para ser enterrada simbolicamente por militantes ecológicos. Os desenvolvimentistas a acusam de inimiga do progresso. Os ambientalistas, de traidora da causa. Afinal de contas, quem é ela?

sábado, 25 de setembro de 2010

A VIDA

É tão curta e incerta que não merece desaforos. Trato o meu dia como se último fosse. Nunca deixo para amanhã o que posso fazer hoje. Amanhã? Existe, mas não é confiável. Os anos vividos faz a poeira da nossa inquietação assentar, e melhora a nossa visão para o que virá.

Após o golpe traiçoeiro, sempre nos referimos assim para a única coisa não esperada na vida - que é a morte de uma pessoa querida - passei por um período de amnésia. Não sabia se estava vivo ou não. Recuperei-me com auxílio da ciência e principalmente com a vontade de continuar subindo a escada da vida.

Herdei noções de informática. A solidão a transformou na minha inseparável companheira. É o meu brinquedo preferido e único. Sou a maior vítima das teclas do meu computador. Exponho nos meus artigos as minhas fraquezas humanas e a dos meus semelhantes. Procuro essas relíquias nas lentes do microscópio, das singelas atitudes despercebidas pelos caçadores de volumes: é uma palavra na fila da compra do pão; a surpresa do som de um instrumento de corda chorando em pleno feriado, da sacada do pequeno sobrado; a velha catadora de latinhas comentando sobre o que sabe. São pequenos detalhes captados sem nenhum planejamento, o combustível que utilizo para escrever. Se um dia for acometido de um acesso de vaidade em publicar um livro, a parte mais fácil será a bibliografia consultada: as ruas e seus personagens anônimos.

Acredito na necessidade de comunicação entre as pessoas. Utilizo ou tento utilizar o linguajar mais simples possível, sempre omitindo nomes dos personagens para não incomodá-los. Assim mesmo muitos vestem a carapuça que não os pertence. O que fazer?

Esforço-me em ser um simples narrador dessa delícia que é o nosso dia. Muitos se identificam com alguns fatos, que são sempre transmitidos pela cultura das ruas, e fazem reflexão. Outros vestem a carapuça que não lhes pertence, e ficam furiosos.

A vida é tão curta, que na minha agenda não há intenção de magoar alguém, como também não há espaço para a submissão aos plantonistas do poder.

Não posso e nem devo, é deixar de registrar os sentimentos sinceros da minha gente, sobre a “vida como ela é.”


Gabriel Novis Neves (7.5+64)

08-09-2010

Tim-Tim

Estava de saída para a academia, quando ouço o Tim-Tim do meu celular. Torpedo às cinco horas da manhã? “Hi! – pensei – só pode ser coisa séria. Alguém que não pode falar enviou-me uma mensagem.” Pego o celular e, com certa apreensão, abro a mensagem e leio. Ufa! Que alívio! Era o resultado de uma pesquisa interna, feito por um candidato - e que não seria divulgada. Era apenas para orientação e correção da campanha. Mais uma vez fiquei surpreso, pois aqui do meu cantinho só sei o que todo mundo lê no jornal e na internet. Enfim, como entrei na fase da outra vida, que é o período que vivemos entre os 75 e 100 anos, não discuto nada e também nada mais me surpreende. Passei desse ponto.

Os números da pesquisa traduziam o que sinto e ouço nas ruas: haverá 2º turno nas eleições para governador, e o baixinho de Rosário-Oeste está comendo o mingau pelas beiradas e parece até senador. O pára-quedas do grande favorito, que estava nas alturas, não quer abrir e temo por uma tragédia. Como pesquisa não é uma das minhas fontes favoritas para interpretar a tendência do eleitor, procurei um professor da área para traduzir aqueles números, e as suas mais variadas curvas. Após minucioso estudo recebo o laudo do especialista em interpretar números e tendências. Coincidiam com o sentimento das ruas, tão bem captadas pela minha intuição. O professor de pesquisa política me confidenciou que o seu resultado às vezes lembra um cavalo paraguaio disputando uma parelha. Aquele, que sai na frente desembestado, correndo sem medir esforços e logo se cansa, perde o fôlego e os páreos.

No futebol a história do cavalo paraguaio é muito empregada e lembrada. Este ano no Campeonato Brasileiro, temos vários times com cara de cavalo paraguaio. Assim estão as eleições majoritárias no nosso Estado.

Lembremos algumas historinhas muito mal contadas que realmente espantam o eleitor e tornam a previsão dos resultados das eleições majoritárias ainda mais difíceis: a compra das célebres máquinas, o presente do Papai Noel; a distribuição de gasolina no nortão; o almoço no garimpo; campanha política na hora do expediente; patrimônio não declarado por ser ilegal; os empréstimos dos computadores da Secretaria de Educação para reforma na Polícia. É, tá complicado! Acho que a fumaceira que encobre todo o Estado dificulta a tal da transparência. Tá tudo tão nebuloso!

Grandes turbulências estão previstas, e não custa nada avisar: “Apertem os cintos candidatos! Vamos passar por fortes áreas de instabilidade até as eleições!”

Taí. Gostei de receber mensagens pelo celular! Ainda bem que já tive esta aula, só falta agora aprender como enviar mensagens. Mas até o final das eleições eu aprendo. Pelo jeito que as coisas andam, vou ter muitas mensagens a enviar!


Gabriel Novis Neves (7.5+79)

23-09-2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ANTES SÓ...

É uma expressão popular com intenções evidentes de auto-ajuda, ou consolo. “Antes só do que mal acompanhado” foi incorporada à nossa cultura e freqüentemente a gente recorre a ela. Funciona como um placebo psicológico para aliviar a dor sofrida pelo nosso próximo.

Coloquei essa expressão, que em casos extremos utilizo, na pasta dos meus consolos. Houaiss nos explica que só é o mesmo que não ter companhia, solitário. Porém, existe a solidão na multidão, onde o profeta tem que se desviar dos beijos de Judas. Este tipo de solidão na multidão é uma doença gravíssima. Aquela sábia frase terapêutica - “antes só...” - não tem indicação nesses casos. Embora não acreditando no poder de cura do “antes só...”, em certas situações, especialmente nos desastres de forte apelo emocional, ela é muito lembrada, apesar de um pouco modificada: “Ainda bem que ele estava só.” O difícil é dizer: “Ele não estava só!”

A língua portuguesa é muito difícil, confesso. Vou morrer sem aprender. No céu, com outros professores, tenho esperanças de melhorar o meu entendimento. Também não estou com a mínima pressa de corrigir a minha forma de comunicação, mesmo sabendo-a deficiente.

Vou tentar relatar resumidamente uma notícia que outro dia li. “Dois arrastões políticos se encontram casualmente no mesmo horário em um bairro produto de uma invasão de terras. Caminhavam na estreita rua dois candidatos ao governo do estado, mas em sentido contrário. Segundo o imparcial articulista, um candidato a governador estava só com a sua esposa. Nenhuma liderança política expressiva o acompanhava, e sim cerca de três mil fanáticos cabos eleitorais. Sempre defendi a categoria de cabo eleitoral que só falta ser regulamentada para ser transformada em profissão. Na maioria são brasileiros que nunca tiveram oportunidade de ter uma profissão. São honestos e vestem a camisa do seu candidato. Não praticam a mentira. Como são pessoas humildes nem são percebidas, embora sejam numerosas. Esse era o candidato só.”

“Em sentido contrário o tampão-governador-revezamento e o seu grupo de amigos e lideranças políticas expressivas do estado queimado pelo fogo. Na retaguarda alguns cabos eleitorais profissionais e centenas de voluntários comissionados!”

Li a relação das lideranças que hipotecavam solidariedade ao maestro. Figuras conhecidíssimas do meio político, e até representantes religiosos como o nosso Bispo Símbolo Dom Pedro Casaldáliga. Interessante que no mesmo jornal, o bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro, concede uma entrevista sobre política em Mato Grosso, onde deixa claríssimo que não apóia ninguém. Só faltou dizer que são todos os políticos, farinha do mesmo saco.

Fica no ar a minha indagação. Afinal, quem estava só no arrastão?...


Gabriel Novis Neves (7.5+70)

14-09-2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Tiro no pé

Neste dia 15 de setembro a cidade de Cuiabá (ainda capital) foi acordada por um bombardeio de fogos de artifício. Estava me preparando para ir à acadêmica, após uma visita à internet, quando tudo iniciou. “Meu Deus! – pensei - o que estão comemorando a esta hora?” Sabia que estava pagando parte dos fogos, porque ninguém é besta de tirar dinheiro do próprio bolso para queimar.

Então o que seria? Fiquei pensando nos dias onde um foguetório é tradição: Ano Novo não é. Carnaval é em fevereiro. Festas juninas como o nome indica não é em setembro. São Benedito é no 1º domingo de julho. Futebol só à noite. Pensei até na inauguração de um poste de luz, aproveitando a escuridão da madrugada para o ato público. Ah! Já sei. Esses fogos são para comemorar o final das queimadas em Cuiabá (ainda capital) e no estado, mas logo descartei essa absurda idéia. Ontem à noite presenciei da janela do meu sobradinho uma super queimada atrás do Hospital Jardim Cuiabá.

Vou para a academia de ginástica carregando esse mistério. Não perguntei a ninguém na ginástica, pois nesse horário sou o aluno mais jovem. Os outros nem sabem onde estão ou o que estão fazendo. Retorno para casa passando antes na padaria para comprar meu pãozinho integral. Flagrei um adultério político, fiz de conta que não vi. Chego em casa, tomo meu café, tomo banho e, não contendo a curiosidade, abro a Internet para saber se havia algum comentário sobre essa barulheira. Não encontro nada. Nenhum comentário sobre o foguetório. Vou trabalhar. No elevador encontro um amigo que se diz revoltado pela falta de respeito, e que fez com que tivesse que pular mais cedo da cama.

No trajeto até ao hospital onde trabalho, passei pelas principais ruas, praças e avenidas da cidade. Todas elas estavam simplesmente esplendorosas. Visualmente falando. Cerca de 4 mil voluntários com bandeiras multicoloridas e fotos dos seus candidatos, com aquele preparo tecnológico, davam uma alegria incomum às calçadas. Nas ruas, carros de som no volume máximo - não permitido pelas leis do Brasil. Tive a sorte de me posicionar bem atrás de um desses carros, causadores de surdez. E o barulho da queima de fogos continuava.

Chego ao consultório e telefono para um amigo engajado na luta democrática pelo poder. Ele é muito bem informado. Sabe de tudo. Também pudera! Freqüenta as altas rodas da cidade. Explico a minha preocupação com aquilo que ouvi e vi. Pergunto a ele se por acaso sabia o motivo de tanto alarido. Do outro lado da linha ouço uma gostosa gargalhada seguida da devida explicação: “Gabriel, hoje é dia 15 e estamos comemorando a vitória do candidato de número 15!

Então é isso! O “15” é o responsável pelo não cumprimento da lei do silêncio! Engraçado como são as coisas: outro dia precisei de um operário para trocar uma simples torneira no meu apartamento, mas ele só pode subir após as oito horas. É o regimento do edifício que deve ser cumprido – por causa da lei do silêncio. Agora fazer essa barulheira toda numa região de hospitais e densa população só para lembrar que hoje é 15 pode? Comentei com meu amigo este episódio e ele respondeu: “Esqueça Gabriel, tudo é carnaval! Esqueça tá?”

Ficou assim esclarecida para mim a história do foguetório. Dizem por aí que daqui a quatro anos, se tudo correr de acordo com o combinado entre eles, a queima de fogos será no dia 22 - se o eleitor estiver de acordo. Esse tiroteio de hoje foi um tiro no pé.


Gabriel Novis Neves (7.5+71)

15-02-2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

ADEUS ANONIMATO

Foi-se o tempo em que o cuiabano, ou mato-grossense viajava tranquilamente por este Brasil no mais gostoso anonimato. Sempre há curiosos por toda a parte, principalmente no hotel e na praia. Ninguém escapa da costumeira pergunta: - De onde você é? Na época em que eu viajava muito, escutava muito esta indagação. Respondia: - De Cuiabá - e a conversa ficava por aí. Ninguém sabia ao certo onde ficava Cuiabá. Então o papo não vingava mesmo.

Hoje a situação é bem outra. Outro dia um amigo, à volta de umas férias no Rio de Janeiro, me contou um episódio que retrata como as coisas mudaram neste sentido. Vou tentar reproduzir o mais fielmente possível o fato. Inicialmente ele me disse: - Nós não somos mais anônimos no Brasil. – E continuou: O anonimato termina quando pegamos um taxi no aeroporto para o hotel. O início da conversa, puxada pelo motorista é aquela velha conhecida:

- O senhor me desculpa, mas o senhor é de onde - indaga o motorista?

- De Mato-Grosso. Moro em Cuiabá, respondo.

- Ah! Então o senhor é uma celebridade?

- Eu não! – respondo surpreso.

- Mas o senhor não é da terra dos recordes? É o que leio nos jornais. Já sei: o senhor está tão acostumado com os sucessivos recordes do seu Estado, que não demonstra muita euforia, mas é assim mesmo. Quem nasce em um lugar conhecido e famoso é tão modesto, né?

Diz meu amigo que não respondeu, só deu de ombros, não sabia se o motorista estava falando sério ou tirando um sarro com a cara dele. – Sabe como são os cariocas, né Gabriel? Fazem piadas de tudo e nós devemos ser a piada da vez – concluiu meu amigo. E ficou calado para não dar corda neste assunto tão desagradável de recordes – pois, ou são recordes negativos, ou recordes bem pitorescos. Mesmo não respondendo, o motorista, segundo meu amigo, quis continuar o papo sobre Cuiabá, e comentou:

- Só mais uma coisinha doutor. Ouvi dizer que lá na sua terra tem até Rei. Lá existe Rei de tudo que é plantado, né?

Aí eu não agüentei e tive que responder:

- É, o senhor tá certo, mas também tem Rei das destruições.

Ele parece que nem ouviu meu comentário, Gabriel, que, a bem da verdade, falei meio sussurrando. E logo engatou outro comentário:

- Tinha vontade de trabalhar no Estado dos recordes. É verdade que foi construído um ginásio e agora destruído para construir um campo de futebol?

Mais uma vez não pude ficar calado. Até já estava ficando íntimo do motorista. Simpático ele! Tão bem informado sobre o nosso Estado. E fazia questão de demonstrar isso. Mas resolvi esclarecer certas coisinhas para ele. Então falei:

- Você está confundindo as coisas. O ginásio continua. O estádio de futebol é que foi demolido.

- Que bacana! – ele falou. - Será outro recorde. Qual o time de futebol do estado na 1ª Divisão do Campeonato Brasileiro? É o Goiás?

- Não – respondi seco.

Percebi que ele não conhecia assim tão bem o nosso Estado. Goiás? Puxa vida! O cara é meio ruim de geografia – pensei comigo. Mas assim mesmo respondi que só disputamos a 4ª divisão.

- Poxa! Então quando vocês forem disputar a 2ª divisão, irão construir outro estádio, que será novo recorde – respondeu ele com certo tom irônico.

Nesta altura, Gabriel, percebi nitidamente o deboche e a gaiatice do motorista. E não tirei a razão dele não. Mas a conversa já estava ficando longa e resolvi escancarar para o meu amigo, já íntimo, todos os últimos recordes de Cuiabá:

- Meu amigo, digo a ele. – Mato Grosso é o Estado brasileiro recordista em focos de incêndio. Conquistou o recorde de capital brasileira mais quente do país. Cuiabá possui mais homens solteiros que mulheres. Tem um dos piores índices de educação, saúde e segurança do Brasil. São recordes difíceis de serem quebrados.

Ele exultou com as informações, acho que aumentei o seu repertório sobre o nosso Estado, que com certeza comentará com o próximo passageiro.

Finalizando, meu amigo me disse que até no hotel foi protagonista de papo semelhante, e que dava graças a Deus que no dia seguinte retornaria para Cuiabá.

É. Cuiabá não é mais uma cidade anônima. Vamos descobrindo, magoados e tristes, que ela está em todos os noticiários escabrosos. Por isso não saio daqui. Pelo menos por aqui a gente vive no anonimato e imune a estes comentários.

E salve Cuiabá! A cidade dos recordes infelizes!


Gabriel Novis Neves (7.5+69)

13-09-2010

Amenidades

Escrevo de tudo um pouco. Afinal o nosso dia-a-dia é repleto de inspirações. Hoje o dia está tão agradável, que resolvi escrever sobre amenidades. O clima neste instante na “sala de parto” é ameno e gostoso. Mas, esclareço ao leitor, que não se trata de amenidades no sentido de escrever sobre assuntos leves e menos árduos. Falo do meu modo de escrever.

Adotei a metodologia da amenidade ao escrever – se é que isto exista. Amenidades às vezes conduzem a certas conclusões equivocadas, especialmente para quem não vive em Cuiabá. Por trás da amenidade muitas vezes encontramos verdadeiros furacões. Relatando situações verídicas e omitindo nomes e datas, acredito estar despertando naqueles que lêem o artigo, o trabalho de pesquisar informações para entender o assunto. Isso é proposital e fere a arte de escrever, que é aquela do entendimento rápido.

A Bíblia nos ensina: “Não dê o peixe, ensine o pescador a pescar.” Não me considero nesse patamar, pois não sou esquizofrênico nem débil mental. Procuro seguir a recomendação dos cientistas políticos: o grande público necessita ser bem informado para poder escolher, diminuindo a faixa de risco para o erro. Mas, é impossível transmitir informações necessárias e suficientes para uma tomada de decisão, com limitadas linhas de palavras. É necessário que elas despertem o contraditório e a procura da tradução correta de algumas frases dúbias.

Amenidade já foi, e continua sendo, o inimigo silencioso dos poderosos. Na história recente do Brasil todos se lembram das capas dos mais importantes jornais, principalmente os de São Paulo, anunciando amenidades. Receitas de bolos. Poesias de Camões. Contos infantis. Etiquetas sociais. Longos editoriais sobre a importância da música clássica na Mesopotâmia. Corridas do jóquei eram manchetes três vezes por semana. O que poderia ser amenidade era um duro recado pelo momento em que vivíamos. Portanto, não me iludo não. Por trás das amenidades, sempre me preocupo com as entrelinhas.

Uns classificam esse estilo como bate e assopra. Outros preferem a definição do doutor Brizola: “mingau quente se come pelas beiradas.” Recentemente criaram para amenidade o estilo Paz e Amor. Não existe nenhum fato inconfessável em não citar nomes quando se escreve sobre amenidades. É questão de estilo. Só isso.


Gabriel Novis Neves ( 7.5 + 27 )

02-08-2010

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

2ª FEIRA NO CONSULTÓRIO

É um bom dia quando o meu Botafogo vence. Clientes e propagandistas de laboratórios conhecem a minha paixão pelo preto e branco da estrela solitária. Sei que nas vitórias do Bota, o consultório “não rende” pelo papo prolongado sobre o jogo do dia anterior. O “desesperador” é que o Fogão não perde mais e o faturamento está indo para a segunda divisão. Já percebi que os clientes da segunda-feira, quando o Botafogo ganha no final da semana, remarcam as consultas. Nessas ocasiões só atendo urgências e emergências. E haja comentários com os representantes comerciais dos produtos farmacêuticos!

Mas a provocação parte sempre do visitante. Nunca, jamais, em tempo algum (e coloque tempo nisso), iniciei a conversa. Sou obrigado a responder com prazer juvenil, perguntas tipo: “que golaço aquele do El Loco.” Basta para o grande monólogo de exaltação ao timaço iniciar. El Loco é o ídolo atual do Fogão - clube de fanáticos espalhados pelo Brasil - inclusive em Cuiabá (ainda capital).

O fanatismo, seja da origem que for, é um tipo de loucura. Todos nós botafoguenses identificamo-nos com o El Loco, somos “loco” torcedores de um time, que freqüenta mais a linha abaixo da linha dos melhores. Quando em cima, como agora, ficamos “loco” pelo título. Em baixo da tabela também ficamos “loco” com o rebaixamento que já experimentamos. Existe tamanha euforia no Bota, agora que a diretoria está estudando a possibilidade de disputar simultaneamente, o campeonato carioca e o paulista. Time para vencer as duas competições nós temos. Aos que não acompanham futebol, o ídolo atual do Glorioso (como é conhecido o Bota no exterior) é reserva do time titular, que só possui ídolos! Como dá pena encarar os meus filhos e neto, torcedores do urubu! Andam tristes, irritados, mal humorados com o seu time, que é racista. Mandaram embora o técnico campeão por ser negro, e agora estão pagando com a aproximação do rebaixamento. Sorte do pessoal de Tesouro (MT) que assistirá aos jogos do Fla na sua cidade. Rebaixado, jogará uma partida na casa do adversário. Em Tesouro será no campo da igreja.

Como é gostosa uma segunda-feira com o Fogão vencendo!


Gabriel Novis Neves (7.5+70)

14-09-2010

domingo, 19 de setembro de 2010

Aqui e lá

No último final de semana recebi uma correspondência de um apaixonado filho de Cuiabá (ainda capital), que uma vez por mês, por motivos familiares, visita a ex-Cidade Maravilhosa. Contrariado com o que viu por lá, aproveitou para fotografar a causa da sua indignação. As fotos enviadas não me causaram nenhuma surpresa. Já estou acostumado a ver nossos mitos cuiabanos serem alvo de tanto menosprezo! Transcrevo parte do desabafo do doutor Carlos Eduardo Epaminondas:

“Visitei e fotografei a Escola Municipal Dom Aquino Correa. Fica localizada em Copacabana na Praça Cardeal Arcoverde, ao lado do Metrô Arcoverde, no mesmo prédio do Teatro Glauco Gil. Como está feia a fachada da escola! A pintura de cal, quase apagada. Nunca soube de nenhum cuiabano com o poder nas mãos (embora o manda-chuva (!) do Ministério das Cidades seja daqui), se preocupando em, pelo menos, dar “uma guaribada” naquela lembrança tão importante para o povo mato-grossense! E é ignorada pela prefeitura do Rio de Janeiro!”

Prosseguindo o seu desabafo ele relembra: “Dom Aquino passava metade do ano na antiga capital federal hospedado no Colégio Santo Inácio, para conseguir do seu amigo Getúlio Vargas, e amigos empresários, recursos financeiros para as obras sociais da Arquidiocese de Cuiabá. Quando da inauguração do Jockey Clube Brasileiro na Gávea, o Cardeal do Rio se negou a comparecer à solenidade para as bênçãos de praxe. Estava criado um sério problema político. O Cardeal alegava que o Clube era de jogo de azar e em hipótese alguma iria abençoar a casa de satanás. Dom Aquino, o conciliador, foi chamado para a difícil missão. Após longo debate com a cúpula da Arquidiocese do Rio, utilizando argumentos que nem o Rui Barbosa empregou em Haia, por unanimidade o humilde cuiabano representou o clero carioca naquela ocasião, sem fazer concessões, e agradando a gregos e troianos, evitando uma grave crise institucional. Até há pouco tempo no aniversário do Clube havia um páreo de corrida de puro-sangue, denominado Dom Aquino Correa.”

Finalizando o desabafo, o meu colega de primário, ginásio, científico e faculdade de Medicina, falou que teme a praga que jogaram em Cuiabá, como a terra do “já teve” - inclusive personalidades ilustres.

Amigo, aqui como lá, é assim que são tratados os heróis que construíram esta grande nação. Andando por Cuiabá (ainda capital), os monumentos, avenidas, ruas, escolas, conjuntos habitacionais, hospitais, enfim qualquer obra pública construída nos últimos anos, com o nosso dinheiro, têm cada nome... Não dá para acreditar o que os políticos profissionais fazem com o poder político nas mãos - tão transitório!

Cruz credo! Os verdadeiros mato-grossenses que fizeram história aqui foram condenados ao esquecimento. Convivemos com nomes de homenageados que nunca fizeram nada de útil a este estado ou nação. É uma vergonha! Um trator passou em cima da nossa história, e “em terra arrasada só cresce árvore daninha”.

Aqui como lá, é Brasil.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 62)

06-09-2010

sábado, 18 de setembro de 2010

LÍDER

“O líder não é alguém que nasce para ser líder, mas aquele que trabalha para que todos se transformem em líderes.”

Citarei alguns tipos de líderes:

Líder ditatorial - é o que segura todo o poder em suas mãos. É ele quem tudo planeja, pensa e determina.

Líder paternalista - como o ditatorial, é ele quem tudo faz. Mas é pior que o ditatorial, pois amarra as pessoas a si pela afetividade. É o “monitor bondoso”. Cria uma dependência infantil da patrulha.

Líder liberal - é o que quer “deixar tudo como está, para ver como que fica.”

Foi isso que aprendi quando fiz um cursinho sobre Recursos Humanos. Encontra-se em qualquer “sebo” da cidade.

Hoje à tarde vejo uma foto na internet, tirada no gabinete de um funcionário público na hora do expediente com um alegre grupo de pessoas. Tudo bem. As leis aqui não são cumpridas. A legenda oficial do ato de adesão política é pelo menos intrigante: “Líderes (funcionários públicos DAS, ou pretensos DAS), foram ao Palácio sem “nenhum” interesse pessoal, apenas por amor a esta terra hipotecar o seu apoio ao candidato-funcionário!” Acontece que esses desconhecidos líderes, pertencem a um partido que inclusive detém o poder municipal. Qual a leitura que faço desse ato de civismo dos líderes? Não conseguiram satisfazer fisiologicamente os seus apetites na Prefeitura. Recorreram então, a instância superior.

Os “líderes” fotografados não possuem votos. Esses “líderes” confiam nas pesquisas iniciais, e já correram pra garantir o seu empreguinho ou futuro emprego. Fidelidade partidária que se dane!

Há também uma cota de gratidão...

É engraçado. Os “líderes” mentem, falam e dizem asneiras e nós somos obrigados a ouvi-los.

Quando interpretamos as cenas que nos chegam em casa pela internet, ficam aborrecidos. É a contraditória democrática! Neste pequeno texto não existe uma inverdade. São fatos e imagens que encontrei na mídia.

Oh! Deus. Oh! Vida. Oh! Política, diria o Vila.


Gabriel Novis Neves (7.5+65)

09-09-2010

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Taxas

Sei que pago ao governo inúmeras taxas. Isso representa cinco meses de salário ao ano. Fico revoltado com a contra partida que o governo nos oferece: escândalos. Sei que essas absurdas taxas, as mais altas do mundo são apropriações indébitas, ou em bom português, um verdadeiro assalto. Tenho em meus arquivos a relação completa das taxas que pago. Desconhecia completamente a recente criação, não publicada no Diário Oficial, da taxa de sucesso. A sua autora é uma funcionária comissionada, com direito a casa no Lago, carro preto com motorista e cartão corporativo. Olha só que delicadeza da moça, autora da “taxa de sucesso,” e que tem grandes possibilidades de continuar a servir ao Brasil no 1º escalão do governo. A “taxa de sucesso” tão necessária para aumentar as verbas para os programas sociais do governo consiste praticamente no seguinte: todo empresário que procura o governo para uma parceria, jamais consegue chegar a um funcionário da gigantesca máquina burocrática, com poder de decisão, para analisar o seu projeto. Por essa razão foi criada a novíssima “taxa de sucesso” de excelentes resultados familiares. O interessado é aconselhado a procurar um dos numerosos escritórios “credenciados” para essa negociação. Surge outro problema que também precisa de gente especializada. Alguém para indicar um “consultor” para a escolha correta do escritório que realizará o trabalho. Feito isso, o empresário contará com técnicos para ajudá-lo. É exigido um pré-contrato de módicos 6% da operação, chamado de “taxa de sucesso.” Serve essa taxa, para resguardar o salário de muitos profissionais qualificados. A experiência do escritório escolhido é de 100% de aprovação. Mas e se não der certo? Não é justo toda essa equipe trabalhar de graça. Correto. O trabalho do escritório é coroado de êxito em tempo recorde. Novo e definitivo contrato é assinado, após recebimento integral da “taxa de sucesso.” Dizem que são contratos que envolvem muitos recursos, e a parte que o “escritório” recebe ou abocanha como dizem os cuiabanos, é o suficiente para os donos do escritório não se preocuparem mais com o leite das crianças. Tomei conhecimento da “nova taxa,” lendo a Revista Veja da Editora Abril, edição 2182-ano 43-nº 37 de 15 de setembro de 2010.

Como tudo que é bom dura pouco, a comissionada acaba de “pedir demissão” do cargo.

O seu sucessor indagado sobre a “taxa de sucesso” afirmou que ela continuará para o bem do Brasil.


Gabriel Novis Neves (7.5+71)

16-09-2010

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

TIRIRICA

Já repararam que em toda eleição aparece pelo menos um candidato “esquisito” e que logo ganha à simpatia de toda a Nação? Este ano temos o Tiririca. O que eu escuto dizer é que ele vai ser o candidato a deputado federal mais votado da história do Brasil. Mas, como a política atualmente no Brasil está uma palhaçada só, nada mais coerente os paulistas elegerem um palhaço para representá-los. Um palhaço profissional. O que já o coloca em nível bem mais alto do que o de qualquer político – como diria Charles Chaplin.

Palhaçada por palhaçada deveríamos chamar o Tiririca para fazer uma visita aqui em Cuiabá para dar sugestões para a erradicação do fogo que há meses devora o nosso Estado. E ainda faria um favor ao seu partido, o mesmo do governador. Chegaria à Cuiabá (ainda capital) no jatinho de um forte empresário mato-grossense, e imediatamente visitaria Chapada dos Guimarães.

Coitado do Tiririca! Fico imaginando a cena. Tiririca chega à Chapada e percebe que o fogo está sem controle nenhum. Sufocaria e se transformaria em cinzas, se não fosse o serviço de reboco. Mas ele percebe também que o governo do seu partido tomou, após o incêndio, algumas providências: recrutou e treinou agentes para utilização de meios braçais para o trabalho, como bomba costal, abafadores e até moto-bomba. Ah! Aí ele encontrou a sua praia – palhaçada. Cadê os equipamentos para combate ao fogo? Cadê o Corpo de Bombeiro qualificado? Cadê o trabalho preventivo? Não tem... Palhaçada! Parece que estou escutando ele dizer: “Pessoar do markin, vamo gravá.” Se aproxima do fogaréu e lasca seu novo slogan: “Não ponha a mão no fogo votando em políticos que não previnem as queimadas. Vote em Tiririca, inimigo do fogo, e garanta boas gargalhadas.”

Feito o comercial ele vai se reunir com a cúpula do partido para discutir soluções. E encontra uma magistral: “Pessoar, tá simples de se arresolvê o pobrema: é só proibi queimadas enquanto tivé fogo na região.” Foi muito aplaudido por todos e logo virou manchete de jornal. Com relação ao iminente desabamento do Portão do Inferno, prometeria recursos do DNIT, assim que tomasse posse, para as preventivas obras de engenharia. Mas avisou: “Segura ele até lá, não dexa ruir não!”

Depois de ter feito o seu comercial e garantir pelo menos mais meio milhão de votos, pois São Paulo também está ardendo, Tiririca retornaria à Cuiabá no único helicóptero do estado em condições de trafego e ficaria por algum tempo hospitalizado em um hospital privado. Simples como ele é iria logo reclamando: “Pessoar, num carece de hospital particular não, me leva pra um do SUS – tô mais acustumado.” Então lhe informariam que Cuiabá é a única capital do Brasil que não tem hospital público. Aí é demais! Ele chora. Até o palhaço chora! Depois de ter se hidratado e se recuperado no balão de oxigênio, ele iria embora. Voltaria no mesmo jatinho que o trouxe, com direito a Buffet de grife. Logo após a decolagem, sumiria na fumaça das queimadas.

É. A visita do Tiririca seria bem interessante. E confirmaria uma das frases célebres de De Gaulle – “A política é um assunto sério demais para se deixar com os políticos.” E eu me atreveria a completar: “É preferível deixar nas mãos dos palhaços profissionais.”


Gabriel Novis Neves (7.5+67)

11-09-2010

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Agora de quê?

Como de hábito ligo o rádio do meu carro a caminho do trabalho. Esperava ouvir música ou algum noticiário interessante. Mas qual! Entrava no ar o tal Programa Eleitoral Gratuito. Gratuito, modo de dizer, alguém paga por este espaço, ou seja – o contribuinte.

Tinha intenção de desligar o rádio, mas resolvi escutar o que os políticos estavam espalhando por aí.

O programa começou com a fala do candidato furador de fila, aquele que desagregou um partido. Diz ter luz própria. Colocou na escuridão interesses do estado. Está agora sendo premiado pelo controlador do partido, que tem sede em São Paulo, pelos relevantes e impopulares projetos que defendeu. O maior de todos foi o de enterrar uma CPI moralizadora. Sabem o que ele defendeu no programa de rádio? A união de todos os parlamentares eleitos para conseguir recursos para Mato-Grosso. Ganhei o dia! Não é sempre que nos divertimos logo pela manhã! A verdade que rola nos bastidores, e que os seus próprios companheiros de partido e coligação sabem, é que – se for eleito - ele fará parte de uma bancada de cinco ou seis senadores para receber ordens de São Paulo.

O comandante, que fez cirurgia plástica e mestrado no Caribe, precisa eleger senadores para pressionar, e mesmo chantagear, o próximo presidente, especialmente se for a guerrilheira que o substituiu no cargo de ministro. Mato-Grosso deve participar com dois senadores, já considerados eleitos pela mesma coligação. Obtive essas informações de fonte segura.

Ganha o candidato que fez abortar no Congresso a CPI da corrupção. Também o seu companheiro de coligação que ficou oito anos aumentando de dois mil para sete mil o número de funcionários comissionados, e criou, justiça seja feita, o ótimo programa estradeiro com os amigos. Agora se eleito for, prometeu dar continuidade com recursos de Brasília, aos excelentes programas sociais que criou. Por exemplo: o maior casamento comunitário do mundo, e a chegada do Papai Noel. Por falar nisto, este ano ouvi dizer que o Papai Noel vai aterrissar no Estádio Lutero Lopes em Rondonópolis. O Verdão desapareceu, e o premiadíssimo projeto da Arena Pantanal (que secou) só ficará pronto após a Copa de 2014. Cheguei ao meu destino, e não assisti o final da ladainha dos servos do senhor.

À tarde recebo em casa os técnicos de uma empresa privada para conclusão de um serviço eletrônico. Conversando com o líder do grupo - muito aborrecido com a derrota do Flamengo – ele me confessou que vai votar em um candidato Ficha Suja. E desdenhosamente me explicou com toda calma: “Estou consciente doutor que o cara não vale nada. Acontece que me dará dinheiro para a gasolina, e outras pequenas despesas não programadas. Todos aproveitam de nós, agora vou aproveitar deles. Lá no meu bairro todo mundo tá assim. Dá cá, toma lá.”

Diante dessa confissão fiquei um tanto quanto abalado – mas não surpreso. Cheguei a ensaiar um esclarecimento, mas desisti. É o que digo sempre, a consciência política de um povo passa pela educação. Não temos educação, logo, o povo não tem consciência política. Triste cenário! Mas é a pura realidade.

O mais triste, entretanto é essa história de transparência, trabalho e eficiência. Transparência? Trabalho? Eficiência? Onde estão? Se alguém encontrar, por favor, me avisem.

Apesar de parecer em vão, quero aqui fazer um apelo: acorde eleitor! Vote no Brasil!

O filme que vimos nos últimos anos, bem que poderia ter sido consumido com as queimadas em Mato-Grosso.


Gabriel Novis Neves (7.5 + 48)

23-08-2010