sexta-feira, 24 de setembro de 2010

ANTES SÓ...

É uma expressão popular com intenções evidentes de auto-ajuda, ou consolo. “Antes só do que mal acompanhado” foi incorporada à nossa cultura e freqüentemente a gente recorre a ela. Funciona como um placebo psicológico para aliviar a dor sofrida pelo nosso próximo.

Coloquei essa expressão, que em casos extremos utilizo, na pasta dos meus consolos. Houaiss nos explica que só é o mesmo que não ter companhia, solitário. Porém, existe a solidão na multidão, onde o profeta tem que se desviar dos beijos de Judas. Este tipo de solidão na multidão é uma doença gravíssima. Aquela sábia frase terapêutica - “antes só...” - não tem indicação nesses casos. Embora não acreditando no poder de cura do “antes só...”, em certas situações, especialmente nos desastres de forte apelo emocional, ela é muito lembrada, apesar de um pouco modificada: “Ainda bem que ele estava só.” O difícil é dizer: “Ele não estava só!”

A língua portuguesa é muito difícil, confesso. Vou morrer sem aprender. No céu, com outros professores, tenho esperanças de melhorar o meu entendimento. Também não estou com a mínima pressa de corrigir a minha forma de comunicação, mesmo sabendo-a deficiente.

Vou tentar relatar resumidamente uma notícia que outro dia li. “Dois arrastões políticos se encontram casualmente no mesmo horário em um bairro produto de uma invasão de terras. Caminhavam na estreita rua dois candidatos ao governo do estado, mas em sentido contrário. Segundo o imparcial articulista, um candidato a governador estava só com a sua esposa. Nenhuma liderança política expressiva o acompanhava, e sim cerca de três mil fanáticos cabos eleitorais. Sempre defendi a categoria de cabo eleitoral que só falta ser regulamentada para ser transformada em profissão. Na maioria são brasileiros que nunca tiveram oportunidade de ter uma profissão. São honestos e vestem a camisa do seu candidato. Não praticam a mentira. Como são pessoas humildes nem são percebidas, embora sejam numerosas. Esse era o candidato só.”

“Em sentido contrário o tampão-governador-revezamento e o seu grupo de amigos e lideranças políticas expressivas do estado queimado pelo fogo. Na retaguarda alguns cabos eleitorais profissionais e centenas de voluntários comissionados!”

Li a relação das lideranças que hipotecavam solidariedade ao maestro. Figuras conhecidíssimas do meio político, e até representantes religiosos como o nosso Bispo Símbolo Dom Pedro Casaldáliga. Interessante que no mesmo jornal, o bispo emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro, concede uma entrevista sobre política em Mato Grosso, onde deixa claríssimo que não apóia ninguém. Só faltou dizer que são todos os políticos, farinha do mesmo saco.

Fica no ar a minha indagação. Afinal, quem estava só no arrastão?...


Gabriel Novis Neves (7.5+70)

14-09-2010

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