sexta-feira, 10 de setembro de 2010

VANTAGEM?

Estava no barbeiro quando um jovem entra e me cumprimenta: “olá, reserva moral!” Fiquei constrangido, claro! Mas na minha idade, dizem, a gente perde a vergonha de tudo, até de relatar esses fatos. Então vamos lá. Também escuto cumprimentos que falam: “alô história viva”; “patrimônio”; “lenda viva”; “fundador de Cuiabá”; “quero chegar a sua idade”. Tudo carinho explícito desses jovens que vi chegar ao mundo. É carinho? Então aceito. Mas a minha predileta, a saudação que mais me deixa vaidoso é: “como você está bem para a sua idade.”

Em todo o mundo aumentou a expectativa de vida das pessoas. Isso não significa só avanço da Medicina. Existem inúmeras outras causas agregadas. Mesmo em países arrasados pela guerra como o Iraque, a expectativa de vida aumentou, como também em Cuba.

A minha indagação é a seguinte: vale à pena a gente viver um pouquinho de anos a mais? Estou na lista daqueles que já ultrapassaram o limite programado. É uma resposta que para mim, há empate entre as coisas boas e más. Citarei apenas um exemplo do momento. A mídia escrita, falada e televisada, vinte e quatro horas por dia noticia como avanço inédito na educação brasileira, a questão das cotas nas universidades. Os políticos (todos) brigam pela paternidade da novidade pedagógica: “foi no meu governo”. “Não, foi no meu”, e vai por ai. Para os jovens é uma inovação revolucionária, que só foi conquistada pelo arrojado governo dos pobres. Como pensam os idosos?

Ah! As cotas foram implantadas no Brasil pelo governo dos militares em 1974! E começou pela parte mais sensível da pirâmide educacional - a pós -graduação. Até então as vagas para a pós-graduação no Brasil, privilégio de poucos, eram financiadas principalmente pelo Conselho Nacional de Pesquisas (CNPQ), e pela Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (CAPES). Os centros maiores de pós-graduação ficavam principalmente no eixo Rio-São Paulo, com ramificações discretas nos Estados do Sul, Minas e Nordeste. Em Manaus uma referência internacional - o Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA).

Para o professor brasileiro de ensino superior poder ter acesso a esses centros de excelência, era necessário submeter-se a um teste nacional. Os resultados todos sabem. Só eram aproveitados os professores da região onde estavam instalados esses cursos. E os professores desta imensa e desigual nação? Frustrados, com sede de conhecimento e totalmente excluídos dos avanços do conhecimento.

Houve então uma arrojada decisão dos militares, abrindo oportunidade a todos os professores universitários, dos mais distantes grotões deste Brasil. Foi abolido o antidemocrático teste de seleção. A partir daquele momento o Brasil ficou mais igual.

Os primeiros professores da Universidade Federal de Mato-Grosso (UFMT), não fizeram o teste de seleção e foram matriculados nos cursos escolhidos por eles. Não havia também limites no número de bolsas. Os alunos encontravam dificuldades durante o curso. A maioria extrapolou o período das bolsas. A UFMT nunca os abandonou. Hoje são poucos os nossos professores sem a titulação de mestres e doutores. Inclusive muitos que ainda estão em atividade deram condições a nossa UFMT de oferecer no seu campus o mestrado, e agora doutorado. Hoje os que deixam a UFMT para uma pós-graduação no Brasil ou no exterior enfrentam os testes e são brilhantemente aprovados. A não seleção para o ingresso do professor universitário do interior do Brasil nos cursos de pós-graduação foi abolida, por se tornar inútil nos tempos atuais. Hoje eles estão preparados, para competir.

Ah! Como seria bom para a democracia, se os bolsistas que participaram das cotas, dessem os seus depoimentos! A história é feita de fatos existentes e não construídos pela imaginação e cegueira de alguns. Cota no ensino de graduação é conquista? E o nome da abertura da fechadíssima porta da pós-graduação? É vantagem viver muitos anos com saúde física e mental?

O leitor tire as suas conclusões. Eu já tenho a minha.

Gabriel Novis Neves (7.5 + 58)
02-09-2010

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