segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Quatro vezes

Em recente artigo escrevi que a Marina “salvou-se do analfabetismo aos 16 anos, e depois fugiu da morte.” Muitos contestaram a minha segunda afirmação. Estamos familiarizados, infelizmente, com o analfabetismo, e temos inúmeros exemplos de pessoas que conseguiram se salvar deste flagelo até com mais idade. Agora, um médico dizer que alguém fugiu da morte? Causou espanto e incredulidade em muito leitores. As críticas vieram de todos os lados. Até de leviano e antiético fui chamado. “Ah! Dá licença! Já é demais! Esse tipo de comentários eu recebi aos montes.

Agora, digo a vocês que a Marina não enganou e fugiu da morte somente uma vez, mas quatro vezes. E, depois dessa incrível façanha, teve um enterro simbólico – vejam só a ironia do destino.

Conheço bem a história da minha vizinha amazônica seringueira. O seu jogo de trapacear a morte começou quando ela tinha apenas 16 anos. Depois foi vencedora do mesmo jogo aos 19 anos. A seguir, já adulta em 1991, quando exercia o mandato de deputada estadual, outra vitória. E por fim em 1994, como senadora, malogrou a intenção da senhora morte pela quarta vez. E em 2007 teve o seu enterro simbólico em Belo Horizonte organizado pelos ambientalistas que a acusavam de traidora da causa. Um delírio deles!

Em rápidas palavras relatarei o calvário da Marina. Aos 16 anos teve uma hepatite, mas foi tratada como malária. O caso era grave e uma tia de Marina escutou o prognóstico do médico: “A alma dessa menina já está no inferno”. Ao saber disso Marina falou: “Eu não morro de jeito nenhum.” Após um ano de tratamento em casa, com o fígado destruído, mudou-se para Rio Branco, capital do Acre, abandonando o seringal em que trabalhava extraindo borracha. Curou-se.

Aos 19 anos, foi acometida por nova hepatite. Diante da gravidade do caso, foi internada. Outra vez o prognóstico negativo do médico: “Ela tem cirrose e vai morrer”. E Marina novamente disse: “Vou morrer nada!” Saiu do hospital, após assinar um termo de responsabilidade, e, com a ajuda de um religioso, mudou-se para São Paulo para tratar da saúde. Curou-se.

Como deputada estadual, em 1991, nova provação. A morte outra vez sondava a sua vítima. Depois de inúmeros exames foi diagnosticado contaminação por mercúrio. Resultado dos pesados remédios tóxicos que tomara para curar uma leishmaniose. Muito debilitada mudou-se para a casa da sogra em Santos. Durante o tratamento Marina fica grávida. Sentenciada de novo pelos médicos: “Ela não vai sobreviver ao parto.” E a resposta: “Não morro de jeito nenhum”. Teve parto prematuro, e salvou-se.

Como senadora, em 1994, o estado de saúde de Marina continuava merecendo atenção. Muito debilitada foi para os Estados Unidos e internou-se no Massachusetts Hospital. Não melhorou. Retornou ao Brasil e escutou de seu médico particular: "A senhora não precisa de um médico. A senhora precisa de um milagre".

Um milagre realmente salvou Marina das quatro mortes profetizadas. Mas, neste milagre, a participação de Marina foi fundamental. Criou o seu mantra – “não morro de jeito nenhum”. De acordo com Mahatma Gandhi “o mantra se torna o cajado da vida de uma pessoa e a carrega através de cada provação. Tem o poder de alterar o nosso estado de consciência e entrar nos planos espirituais superiores e fazer as coisas virem em nossa abonação, ou seja, controlar o nosso próprio destino.”

Uma seringueira, nascida a 70 km da cidade de Rio Branco, em casa construída sobre palafitas, que conseguiu vencer a morte por quatro vezes, dona de uma fé inabalável, de uma determinação invejável, de condutas éticas inquestionáveis - está preparada para ser a Presidente do Brasil.


Gabriel Novis Neves (7.5+82)

26-09-2010

Em Belo Horizonte, no dia 23 de março de 2007, o caixão de Marina Silva percorreu algumas ruas da cidade num cortejo fúnebre promovido por ambientalistas. Tratava-se de uma encenação contra a transposição das águas do rio São Francisco.

O inferno astral de Marina Silva

A ministra do Meio Ambiente enganou a morte quatro vezes para ser enterrada simbolicamente por militantes ecológicos. Os desenvolvimentistas a acusam de inimiga do progresso. Os ambientalistas, de traidora da causa. Afinal de contas, quem é ela?

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