Ontem li o Jornal do Conselho - informativo do Conselho Regional de Medicina do Estado de Mato Grosso (CRM-MT), edição 104 - Junho-Julho/2010.
Nada de notícias plantadas, ou politicagem para prejudicar algum político. Depois que o incêndio que destruiu a cidade de Marcelândia, ter sido considerado pelo assessor do Governo do Estado como ato de sabotagem política, escrevo agora sobre as barbaridades que acontecem, citando a origem dos mesmos. É a velha história de matar a cobra e mostrar o pau.
O Conselho Regional de Medicina é um órgão independente cuja principal finalidade é fiscalizar o exercício profissional médico e o local onde trabalha. Aqui em Cuiabá ninguém precisa ler o Jornal do Conselho para saber das péssimas condições em que os médicos trabalham no único hospital público existente, nas policlínicas, nos programas da saúde da família e nos laboratórios do SUS. A satisfação dos usuários com o atendimento médico é matéria obrigatória da mídia.
E o atendimento no interior? Na propaganda oficial está uma maravilha! Não falta nada! Também, depois da farta distribuição humanitária de dezenas de ambulâncias- baratinhas, o governo acha que já fez a sua parte.
Vamos conhecer, superficialmente, a opinião dos nossos conselheiros do CRM-MT?
“CRM-MT participa ativamente do fechamento do Centro de Imagens de Rondonópolis.” Justificativa: falta de alvará sanitário e irregularidades na inscrição municipal. O estabelecimento não possui a blindagem nem isolamentos necessários nas salas de raios-X. Não há coletes de chumbo suficientes para a quantidade de exames que alegam fazer e os funcionários não são protegidos adequadamente. Os exames eram supervisionados somente por técnicos em radiografia e os laudos assinados por médicos de outros estados e sem inscrição em Mato Grosso.
Em Água Boa: foi contratada uma empresa de Minas Gerais para realizar “mamografias enviadas via correio, transportadora e outras.” Seu Contrato Social a desabriga de qualquer indicação, participação ou responsabilidade no tratamento do paciente. Ou seja, “os pacientes e profissionais assistentes estão desamparados em qualquer situação, pois a prefeitura assinou um documento que isenta a empresa, de sua responsabilidade em prestar assistência em qualquer caso.” Também em Água Boa, uma Clínica de Imagens de Goiânia, possui um contrato de fornecimento de profissional técnico para operar aparelho de tomografia e emissão de laudo dos exames tomográficos! Os exames são realizados sem a presença de um médico.
O CRM-MT já visitou este ano as cidades de Barra do Garças, Barra do Bugres, Nova Olímpia, Tangará da Serra, Primavera do Leste, Jaciara e Sapezal, entre outras. Ficou constatada, em todos esses municípios, a grave situação que desestimula e afasta o médico da interiorização. O cenário encontrado foi de falta de condições adequadas de trabalho, carga horária excessiva, maioria das unidades de saúde pública desestruturada e, principalmente, a falta de concursos públicos que asseguram salários condizentes, estabilidade e segurança. Sem esses quesitos o médico se torna refém das secretarias municipais.
Já os Hospitais Regionais, que deveriam garantir a oferta de assistência médica mais complexa, como: terapia intensiva pediátrica e adulta; procedimentos cirúrgicos e exames complementares de maior complexibilidade para os pacientes de cidades mais distantes da capital, não estão cumprindo com o seu papel. Esses hospitais sofrem com a falta de manutenção de equipamentos e estrutura física, escassez de materiais e falta de especialistas. Palavras do Professor-Doutor da UFMT - Arlan de Azevedo Ferreira, Presidente do CRM-MT.
Esses fatores contribuem fortemente para o caos da saúde pública do Estado e de Cuiabá. Quem se habilita a reconstruí-la?
Estranho né?
Gabriel Novis Neves (7.5 + 39)
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