quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Tiro no pé

Neste dia 15 de setembro a cidade de Cuiabá (ainda capital) foi acordada por um bombardeio de fogos de artifício. Estava me preparando para ir à acadêmica, após uma visita à internet, quando tudo iniciou. “Meu Deus! – pensei - o que estão comemorando a esta hora?” Sabia que estava pagando parte dos fogos, porque ninguém é besta de tirar dinheiro do próprio bolso para queimar.

Então o que seria? Fiquei pensando nos dias onde um foguetório é tradição: Ano Novo não é. Carnaval é em fevereiro. Festas juninas como o nome indica não é em setembro. São Benedito é no 1º domingo de julho. Futebol só à noite. Pensei até na inauguração de um poste de luz, aproveitando a escuridão da madrugada para o ato público. Ah! Já sei. Esses fogos são para comemorar o final das queimadas em Cuiabá (ainda capital) e no estado, mas logo descartei essa absurda idéia. Ontem à noite presenciei da janela do meu sobradinho uma super queimada atrás do Hospital Jardim Cuiabá.

Vou para a academia de ginástica carregando esse mistério. Não perguntei a ninguém na ginástica, pois nesse horário sou o aluno mais jovem. Os outros nem sabem onde estão ou o que estão fazendo. Retorno para casa passando antes na padaria para comprar meu pãozinho integral. Flagrei um adultério político, fiz de conta que não vi. Chego em casa, tomo meu café, tomo banho e, não contendo a curiosidade, abro a Internet para saber se havia algum comentário sobre essa barulheira. Não encontro nada. Nenhum comentário sobre o foguetório. Vou trabalhar. No elevador encontro um amigo que se diz revoltado pela falta de respeito, e que fez com que tivesse que pular mais cedo da cama.

No trajeto até ao hospital onde trabalho, passei pelas principais ruas, praças e avenidas da cidade. Todas elas estavam simplesmente esplendorosas. Visualmente falando. Cerca de 4 mil voluntários com bandeiras multicoloridas e fotos dos seus candidatos, com aquele preparo tecnológico, davam uma alegria incomum às calçadas. Nas ruas, carros de som no volume máximo - não permitido pelas leis do Brasil. Tive a sorte de me posicionar bem atrás de um desses carros, causadores de surdez. E o barulho da queima de fogos continuava.

Chego ao consultório e telefono para um amigo engajado na luta democrática pelo poder. Ele é muito bem informado. Sabe de tudo. Também pudera! Freqüenta as altas rodas da cidade. Explico a minha preocupação com aquilo que ouvi e vi. Pergunto a ele se por acaso sabia o motivo de tanto alarido. Do outro lado da linha ouço uma gostosa gargalhada seguida da devida explicação: “Gabriel, hoje é dia 15 e estamos comemorando a vitória do candidato de número 15!

Então é isso! O “15” é o responsável pelo não cumprimento da lei do silêncio! Engraçado como são as coisas: outro dia precisei de um operário para trocar uma simples torneira no meu apartamento, mas ele só pode subir após as oito horas. É o regimento do edifício que deve ser cumprido – por causa da lei do silêncio. Agora fazer essa barulheira toda numa região de hospitais e densa população só para lembrar que hoje é 15 pode? Comentei com meu amigo este episódio e ele respondeu: “Esqueça Gabriel, tudo é carnaval! Esqueça tá?”

Ficou assim esclarecida para mim a história do foguetório. Dizem por aí que daqui a quatro anos, se tudo correr de acordo com o combinado entre eles, a queima de fogos será no dia 22 - se o eleitor estiver de acordo. Esse tiroteio de hoje foi um tiro no pé.


Gabriel Novis Neves (7.5+71)

15-02-2010

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