quinta-feira, 2 de setembro de 2010

ESQUISITO

Até 1958 o Brasil não possuía o título de Campeão Mundial de Futebol, embora jogasse um bolão. O presidente da então CBD escolheu para técnico da seleção o treinador do São Paulo Futebol Clube, que à época ganhava tudo que disputava. Os jogadores foram convocados e partiram para a missão inédita de conquistar pela primeira vez a Copa do Mundo. No treino tático na Suécia o Feola coloca todos os jogadores sentados no meio do campo para as instruções. Começa pelo Mané Garrincha:

- Você jogará com a camisa número 7 da seleção. Quero que fique o tempo todo em cima da linha de cal, da lateral direita do campo. Mesmo quando formos atacados não precisa voltar para ajudar os seus companheiros, tá? Quando o Didi estiver com a bola nos pés fará um perfeito lançamento para você. Ai continua avançando no campo inimigo correndo com a bola em cima da linha de cal. Aparece o lateral direito para lhe dar combate. Dê-lhe aquele drible desmoralizante, deixando-o sentado no chão. Surgirá o quarto zagueiro inimigo para roubar-lhe a bola. Novo drible desmoralizante. No desespero o zagueiro central deixa o seu posto em direção a você. Nesse momento conduza a bola em direção ao gol. Quando o louro se aproximar, cruze a pelota para o Vavá e o Pelé que estarão totalmente sem marcadores. Depois sai para os abraços comemorando o gol. Certo Mané?

-Tudo bem, seo Feola. O senhor já combinou tudo com o adversário?

Nesta aparente ingenuidade do gênio Mané Garrincha, quanta sabedoria ele nos ensina!

Após as eleições o assunto que predominará na mídia será a preparação da equipe do Brasil para a Copa de 2014. Todas as atenções estarão voltadas para este acontecimento. Prioridade primeira e única! Os investimentos serão enormes. Por exemplo: o estado de São Paulo, o mais rico do Brasil, não tem condições financeiras para construir uma moderna e padronizada arena multiuso. Mato-Grosso conseguiu aprovar uma lei extraordinária na subalterna Casa do Povo, para conseguir um empréstimo bancário de um bilhão de reais! Com relação aos outros estados, a situação é parecida – repito, com a exceção do estado mais rico do Brasil. Lá a arena será construída pelo Corinthians Esporte Clube!

O governo federal ficará responsável pelas obras de infra-estrutura e aeroportos. As prefeituras das cidades sede não têm condições de colocar recursos financeiros nesse projeto. Este é o cenário de prioridades e endividamento que vejo para os próximos quatro anos.

Ligo a TV para a programação local. Todos os candidatos, sejam a cargo majoritário ou proporcional, repetem sem parar os seus compromissos para os próximos quatro anos: resolver todos os problemas da saúde, educação, segurança, transporte, infra-estrutura, agricultura familiar, abertura de novas universidades federais e estaduais, reforma fiscal e diminuição de impostos. Será que os nossos ilustres transformistas, principalmente alguns que ficaram tanto tempo com a faca e o queijo do poder em suas mãos, merecem outra oportunidade para fazerem aquilo que não fizeram? Se o nosso estado, com o empréstimo para demolir o Verdão e para a construção da arena azul, já estourou a sua cota de endividamento, eu acho que esses compromissos de campanha estão mais para conversa mole prá boi dormir.

É o caso de perguntar a todos os prometedores do caminho do paraíso, se já combinaram as estratégias com o porteiro do céu - o nosso querido São Pedro.

Esquisito essas promessas, né? E aqueles que fogem do encontro com os médicos? Será uma confissão explícita da ineficiência pública na área da saúde? Tudo muito esquisito povoando o nosso futuro. Que São Benedito nos proteja!


Gabriel Novis Neves (7.5 + 54)

31-08-2010

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