quarta-feira, 31 de julho de 2013

ESPERANÇA

Mesmo com o papa Francisco pedindo aos brasileiros que não percam as esperanças e lutem por elas, aqui no nosso rico Estado está cada vez mais difícil mantê-las.
Cada ato governamental para preenchimento de importantes e estratégicos cargos públicos, ao tomarmos conhecimentos pelos jornais das escolhas do nosso governador, é mais um golpe duro nessa tal da esperança.
Afinal, o que significa esse mágico substantivo feminino tão incorporado à nossa cultura?
Segundo o Houaiss, no seu mini Dicionário da Língua Portuguesa, esperança é um sentimento de que aquilo que se deseja é possível. Confiança. Fé.
Foi exatamente isso que a nossa gente, especialmente a mais humilde, perdeu.
Sabemos que um povo não pode viver sem esperanças, e temos que fazer de tudo para revertemos esse quadro maligno de grande poder de destruição dos nossos verdadeiros valores de vida.
A esperança desaparece pela ganância do poder pelo poder, das pratas e ouros.
Os nossos valores imateriais conquistados no berço, são invalidados pelo ter, e não, pelo ser.
A nação torna-se fragilizada, sujeita às intempéries e o seu povo apático.
Rui Barbosa já reclamava das inutilidades triunfando na sua Oração aos Moços.
Nunca foi levado a sério e, por duas vezes, foi reprovado pelas inutilidades para governar esta nação.
As inutilidades, tal pragas, reproduzem-se com extrema facilidade em campo sem esperança.
As últimas decisões tomadas pelo nosso educado governador são de fazer, os ainda otimistas existentes neste Estado, a abandonar essa postura.
Isso considero perder as esperanças por transformações tão reclamadas pelos ordeiros protestos das ruas.
As ruas das cidades mato-grossenses também falam, mas não são ouvidas.
Essa absurda falta de sensibilidade política constitui o poderoso fermento para o recrudescimento dos protestos, reforçados por pacíficos participantes dos movimentos de ruas, treinados para tratar da surdez de alguns políticos com poder de decisão.
Com a abundância da nossa flora medicamentosa tenho até a impressão que alguns políticos estão sob os efeitos alucinógenos das nossas plantas medicinais.
Estão vivendo no mundo da lua à procura do Nirvana.
O papa Francisco, na sua missão evangélica pelo nosso país, com muita cautela tem sido explícito ao incentivar os jovens a apoiar os protestos de rua visando justiça social.
Tem também chamado a atenção da juventude para a demagogia política que se aproveita dos mais desafortunados, como fez na favela de Varginha do Complexo de Manguinhos no Rio de Janeiro durante a sua estada naquele local de desassistidos.
Explicou aos moradores que o que o governo precisa fazer é a inclusão social daquela comunidade, e não, a pacificação, sempre transitória. Condenou o grande mal que assola este país, que é a corrupção.
Essas sábias palavras podem perfeitamente ser transplantadas para o nosso Estado, afetado por esses mesmos males.
O nosso Mato Grosso parece um barco desgovernado e à deriva.
Urge que todos nós façamos a nossa tarefa de casa, baseada no bem-estar da população, especialmente para a mais humilde, que é a que mais sofre.
Chegamos ao limite para a politicalha que tanto mal faz ao nosso Estado e à sua população briosa e trabalhadora.
O sofrimento, até então calado da nossa gente, foi o caldo de cultura para reflexões sobre o que está acontecendo, onde parece que a esperança foi ceifada pelos desacertos dos poderosos.
Autoridades do meu Estado!
Pensem em um pacto em benefício da nossa população que, em alerta, aguarda por esse momento.
A história não perdoa os mercadores do poder, assassinos das nossas esperanças.

Gabriel Novis Neves
27-07-2013

Incoerência

O nosso país, que faz questão de ser chamado como pertencente ao grupo das nações mais desenvolvidas do mundo, escorrega no quesito saúde.
A revalidação de diplomas de médicos estrangeiros ou formados no exterior para o exercício da sua profissão no Brasil tem que seguir o protocolo internacional do primeiro mundo.
Isso ocorre, sem discussões, no chamado grupo dos oito países mais desenvolvidos, e até no dos vinte, onde está o Brasil.
Por que aqui deve ser diferente?
É simplesmente para esconder a falta de investimento do Estado.
Quando houver participação efetiva do governo, criando condições para o médico exercer com dignidade e humanismo a sua profissão, o problema desaparecerá.
Temos o maior número de escolas de medicina do mundo, e formamos médicos em quantidade suficiente para atender às nossas necessidades.
Nosso problema é de ausência de políticas públicas para a fixação do médico no interior.
Por que não adotar o modelo que funciona muito bem nas carreiras de juízes e promotores?
Julgo oportuno transcrever o depoimento de um médico paulista, que logo após a sua formatura foi atender no interior de Mato Grosso do Sul.
“Sentia-me quase um sacerdote, pois sem estrutura, remédios ou exames laboratoriais, o meu atendimento era quase uma benção. O paciente saía resignado, às vezes até feliz, pois, privado da sua condição de cidadania, para ele o simples aperto de mãos do “doutor” era a migalha de presença do Estado”.
“Segui em frente, vim para um grande centro, onde consigo exercer da melhor forma o que aprendi e desenvolvo minha prática em favor da saúde.”
“Ora, para participar daquele teatro não precisa revalidar diploma, não precisa sequer ser médico. Basta colocar um jaleco branco, que o prefeito aos gritos anuncia: “Pronto! O doutor chegou!”
“Nesse espetáculo já fiz o meu papel de palhaço, hoje não mais” - conclui o médico Paulo Saraceni Neto ao Jornal Medicina do Conselho Federal de Medicina.

Gabriel Novis Neves
19-07-2013

segunda-feira, 29 de julho de 2013

ENTENDER

Se a população está nas ruas protestando por mais educação, saúde, transporte público e fim da corrupção, a causa está na ineficiência do governo.
Na verdade, o governo brasileiro fica com 36% da renda dos trabalhadores e não repõe esse valor em serviços.
Mais gente está pagando salgados impostos, e o povo aprendeu a cobrar um retorno disso.
Os protestos das ruas mostram que a sociedade não vai mais tolerar que o governo a ignore.
Os políticos, com esse novo fato, estão em alerta máximo. Muitos saíram de circulação.
O Brasil perdeu credibilidade com os grandes investidores estrangeiros.
O resultado é a estagnação dos megaprojetos que exigem parceiros fortes para ajudar na adequação e modernização das obras de infraestrutura como portos, aeroportos, rodovias, ferrovias e aeroportos, principalmente.
Sem dinheiro ninguém faz nada, especialmente no país do conhecido “custo” Brasil.
Entretanto, há gente esclarecida que acredita que a saída para o desenvolvimento passa pela educação, cujo problema “não é falta de dinheiro”.
Falar que investimos o suficiente em educação, como afirmou um ex-Ministro da Fazenda, para alavancar esse setor, quando o próprio governo pressionado pelas ruas insiste em afirmar que os recursos do pré-sal serão destinados para a educação, que é uma área reconhecidamente carente de recursos financeiros e humanos é, no mínimo, uma leviandade. 

Infelizmente o pré-sal não existe e seus recursos são voláteis. A nossa histórica Petrobras está quase falida, não encontrando parceiros honestos para a aventura tecnológica de alto investimento e retorno financeiro duvidoso.

 A tendência é permanecer tudo como está se as ruas se calarem.
A nossa gente cansou de esperar e exige transformações desse exaurido modelo de gestão implantado nesta nação.
É simples entender o que se passa nos movimentos de protestos que mobilizaram todas as classes sociais: mais transparência, mais justiça social, mais competência dos nossos governantes.
Enfim, mudar a ordem social existente – sem corrupção.

Gabriel Novis Neves
23-07-2013

domingo, 28 de julho de 2013

Sinal dos tempos

Como ocorre todos os anos, a França viveu nesse último dia 14 de julho a mais uma bela comemoração pela Queda da Bastilha – um dos símbolos da Revolução Francesa.
Festividade sempre muito celebrada com fogos de artifício, iluminações especiais em monumentos históricos e, principalmente, muita gente eufórica nas ruas.
A cidade de Paris, já escandalosamente bela, engalana-se com o que há de melhor, sempre inflada pelo ufanismo de seus habitantes.
Esse ano, parisienses conservadores se irritaram com a iluminação da Torre Eiffel, que recebeu as cores do arco-íris. Imediatamente consideraram uma provocação do atual prefeito da cidade, assumidamente homossexual, que vem sendo eleito há três mandatos seguidos, provavelmente por puro merecimento.
Perguntado sobre o fato, de pronto reportou-se a uma homenagem à África do Sul, conhecida como “Nação Arco- Iris” devido à diversidade de raças, e a nação apenas para negros, na visão de muitos. Nesse momento, seu líder Nelson Mandela vive momentos difíceis de doença.
Não é de se estranhar que isso tenha acontecido, uma vez que uma grande massa de franceses conservadores foi recentemente para as ruas em manifestações contra os direitos dos homossexuais.
O fato é que a intolerância com o diferente continua no rol dos preconceitos que tanto envergonham  a humanidade.
Incrível imaginar que, em pleno século XXI, países do  primeiro mundo - altamente industrializados e politizados -, ainda convivam com uma grande parcela de seus habitantes presa a preconceitos mesquinhos de toda ordem.
Note-se que, justo hoje na Itália, uma senhora membro do parlamento italiano, de alto nível, supostamente, foi comparada por um dos colegas a um orangotango pelo simples fato de ser negra.
Estarrecedor o comportamento  preconceituoso da humanidade, independentemente  do seu nível  cultural ou sócioeconômico.
E nem falamos nos preconceitos religiosos, tão difíceis de serem destruídos e causadores de tantas guerras através dos tempos.
Aliás, o grande  Albert Einstein já dizia “que é mais fácil destruir um átomo de plutônio do que acabar com a burrice humana”.

Gabriel Novis Neves
15-07-2013

PAPARICAÇÃO

Nunca uma palavra foi tão bem encaixada para descrever o comportamento de alguns líderes da América Latina com relação ao Papa Francisco.
Tem havido, literalmente, uma paparicação generalizada.
Líderes, como Maduro, da Venezuela e Rafael Correa, do Peru, já mostravam um entusiasmo velado com a figura papal, pois mantinham opiniões análogas com relação à descriminalização do aborto e aos direitos dos homossexuais.
Na Argentina, os Kirchner não gozavam da simpatia de Francisco, na época ainda cardeal, e contrário ao desempenho político do casal. No momento, a senhora Cristina se comporta como  se ela e Chico fossem amigos de infância, tantos são os paparicos.
A nossa líder aqui dispensa comentários por tudo que tem sido visto exaustivamente nas mídias.
Fato inédito foi o elogio que o líder uruguaio José Mojica, ateu e representante do primeiro país da America Latina a homologar o casamento entre homossexuais, fez a Francisco: “o primeiro papa descolado”.
Sua Santidade retrucou dizendo que Mojica é “um homem sábio.” Mojica, com a inteligência que o caracteriza, contestou falando que, “se Deus existe, não custa nada dar uma mãozinha ao papa”.
O importante é que esse pequeno país, com apenas três milhões de habitantes, já se posiciona  como um dos mais adiantados da América Latina.
Se depender de seu filho brilhante, o filósofo Eduardo Galeano, não resta dúvida quanto à veracidade disso.
A nossa dirigente aqui, vem tentando, inteligentemente, capitalizar para si o tão propalado discurso do papa, compromissado  com a humildade e com a necessidade de uma verdadeira justiça social.
Quem sabe essa visita papal não desperte nos nossos governantes a necessidade, e a vontade, de passarem para a história como os propulsores dessa tentativa de mudar a dura realidade que nos cerca, e não, como uma classe política vil, cruel, totalmente despreparada  para a função a elas delegada nos pleitos democráticos  que regem as leis desse belo e rico país chamado Brasil.

Gabriel Novis Neves
23-07-2013

Chegada papal

Decididamente estamos vivendo momentos de grandes emoções.
A chegada papal, filmada em todo o seu trajeto, foi palco de um susto inimaginável pela segurança de qualquer chefe de estado em visita a um país, principalmente da América Latina.
O papa, como bom sul-americano é, como todos nós, extremamente sensível ao toque.
Por falha do serviço de locomoção da comitiva papal, o carro que transportava Francisco viu-se preso a um engarrafamento na Avenida Presidente Vargas.  Situação absolutamente surreal para um evento cuidadosamente preparado com tanta antecedência.
Sua Santidade, ao contrário do esperado, optou por continuar com a janela do carro aberta a fim  de que pudesse ter um maior contato físico com o seu rebanho.
Momentos muito aflitivos para os seus seguranças, que apenas com seus modestos corpos impediam uma aproximação maior dos populares. Não consigo imaginar um único chefe de estado nos dias de hoje em situação análoga.
Homem inteligente que é, sabe bem que o grande sangramento de fiéis da igreja católica nesses últimos anos ocorreu muito em função desse distanciamento ocorrido entre igreja e povo.
Enquanto isso, nossos dirigentes usavam helicópteros para um   simples deslocamento de quinze minutos. Suas Excelências, com certeza, temiam se deslocar de carro no trajeto entre a Base Aérea do Galeão e o Palácio da Guanabara em Laranjeiras, onde o papa seria homenageado.
Começo até a imaginar que esse contraste tenha sido proposital, tamanho o impacto provocado. A humildade do papa atual é um soco na cara de nossa classe política, tão cheia de empáfia.
No Palácio Guanabara, a Presidente e Sua Santidade discursaram.
Dessa feita, palmas para quem escreveu o discurso presidencial, aliás, o melhor feito nesses tempos de crise. Um detalhe: foi preparado para a reunião do PT em Brasília, que a Presidente não compareceu, e não, para os milhões de peregrinos.
A presidente tentou capitalizar para si o conteúdo político social que, com certeza, imaginava vir do Papa, abordando temas como justiça social, solidariedade e direitos humanos.
O papa teve palavras elogiosas para com o Brasil, falou simples, falou para os fiéis.
Enquanto isso, apesar do enorme contingente policial, a duzentos metros do Palácio continuava os clamores de rua que insistem em protestar, apesar de toda a repressão.

Gabriel Novis Neves
23-07-2013 

quinta-feira, 25 de julho de 2013

POLÍTICOS

Nossos políticos estão tão desmoralizados perante o povo brasileiro, que encontrei nas reflexões de Francisco - o Papa das transformações - a receita perfeita para este momento em que vivemos.
“O desprestígio do trabalho político precisa ser revertido porque a política é uma forma mais elevada de caridade social”.
Nada melhor para aqueles que traíram seus eleitores, e hoje fogem dos movimentos de rua, ou melhor, não são aceitos por elas.
É preciso, e necessário, resolver com urgência esse quadro doloroso.
Precisamos de políticos mais solidários - especialmente com aqueles que mais sofrem - decidindo sempre pelos interesses maiores da nossa população, e não, atendendo reivindicações de grupos econômicos.
O diálogo com os nossos dirigentes “nasce de uma atitude de respeito pela outra pessoa” – completa Francisco, o Bispo de Roma.
Enquanto as enormes diferenças sociais forem vistas com naturalidade pela nossa traumatizada e brutalizada sociedade, não haverá paz nesta nação.
O vandalismo que o governo exerce sobre a nossa população, especialmente a mais carente, chegou ao insuportável.
Doentes em macas e colchões nos corredores dos nossos sucateados hospitais.
Filas quilométricas para marcar uma consulta médica ou simples exame laboratorial.
O sofrimento para se conseguir uma vaga para internação, cujo problema de saúde não pode esperar.
A falta crônica de medicamentos para pacientes com câncer, que muitas vezes abrevia o término da sua existência.
Crianças abandonadas perambulando pelas ruas, a grande universidade da criminalidade.
A falta de uma educação voltada para a vida, propiciando uma oportunidade aos nossos jovens.
O trabalho escravo ainda hoje existente nesta rica nação, onde impera a corrupção, desmandos administrativos e a impunidade.
Um país injusto com os idosos, cujas aposentadorias mal dão para a aquisição da sua cesta básica mensal de medicamentos.
O despreparo das forças de repressão do governo diante das manifestações das ruas, propiciando a infiltração de vândalos que, irresponsavelmente, praticam os mesmos crimes de vandalismo do condenável governo.
Urge a integração do povo com os nossos políticos.
O conselho de Francisco, o Papa, é simples para reverter o trabalho político que ele considera como um ato de caridade social - praticar políticas em defesa dos menos favorecidos, observando os princípios republicanos.  

Gabriel Novis Neves
21-07-2013

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Bode expiatório

Na vida, de um modo geral, o culpado é sempre o outro.
Quando algo não dá certo, a tendência é, imediatamente, nomear um bode expiatório. Ele será responsabilizado pelos desmandos, e isso não tem sido diferente no setor governamental.
No momento, a classe médica vem sendo acusada pelo caos na saúde pública. Apesar dos longos anos de uma política de saúde equivocada.
Jamais se fala em medicina preventiva, mas essa é a verdadeira medicina, que só poderá existir através de educação e saneamento básico, não só nas grandes cidades, mas, principalmente, pelo interior desse grande país.
Isso qualquer médico sabe. Apenas os engravatados do poder insistem em medidas hipócritas, despidas de qualquer validade, a não ser a eleitoreira.
É muito mais visível colocar médicos despreparados para tratar de uma população cada vez com mais doente, do que acabar com os esgotos a céu aberto - que envergonham as nossas favelas e muitas das nossas cidades.
Nem os mais aplicados médicos formados nas maiores universidades internacionais, teriam condições de trabalharem num país em que os seus governantes desprezam a saúde de seu povo e, por conseguinte, a classe médica que para ele trabalha.
Claro, os caçadores do poder político não se interessam por obras que não rendam votos.
Por que não destinar imediatamente verbas prioritárias para saneamento básico para que a população adoeça menos?
Isso sem falar nos traumas psicológicos a que são submetidos os menos abastados. Enfrentam uma dura jornada de trabalho de oito horas, e levam outras cinco ou seis para ir e vir - através de um transporte desumano - além de dormirem pouco e comerem mal.
Aliás, aí está o cerne do problema: os médicos são desvalorizados porque trabalham para uma mão de obra de pouco valor, o ser humano, totalmente abandonado à sua própria sorte.
Saúde deve ser vista como um todo: físico, emocional e social.
A classe médica, junto à dos professores, é a mais mal remunerada do país, e é excelente em termos profissionais, apesar das parcas condições de trabalho a que é submetida.
Quem se der ao trabalho de passar um dia de plantão num hospital público vai saber bem do que estou falando. Colegas se exaurindo em trabalho, mesmo nas mais precárias condições de atendimento.
 Nada disso é visto por quem permanece em seus gabinetes ditando regras para eventualidades que desconhece.
Ao contrário, o que se tem visto através dos anos é uma fabricação maciça e vergonhosa de doentes.
Se nas grandes cidades assistimos de braços cruzados a essa calamidade, o que então estará acontecendo nos longínquos rincões do país, onde nem a mídia consegue chegar?
É hora de parar com as hipocrisias e arregaçar as mangas para trabalhar no viável.
Aí sim, poderíamos contratar, com salários dignos, estabelecidos pelo poder público, os chamados médicos de família que, com certeza, se sentiriam honrados em acompanhar pacientes, e não um bando de desvalidos sem as mínimas condições de sobrevivência.
No momento, sem as condições reais de viabilidade de atendimento, os nossos colegas, quantos forem ou de onde vierem, serão apenas pessoas compactuando com essa vergonhosa política de doença.
Não, senhores governantes, não foi para isso que abraçamos uma das mais nobres profissões, em que os interesses pessoais são sempre minimizados em função do cuidado com o próximo.
Esse foi o juramento que fizemos, e que, com certeza, é cumprido pela esmagadora maioria dos profissionais.

Gabriel Novis Neves
18-07-2013

terça-feira, 23 de julho de 2013

MATEMÁTICA

A matemática do poder é totalmente inspirada na arte.
O artista, porém, não tem compromisso com a verdade, e sim, com a estética.
Oscar Niemayer, o gênio da arquitetura do século XX, criava seus projetos rabiscando curvas e retas em um caderno espiral de desenho.
Neste momento, nunca se preocupava com a funcionalidade das suas concepções, tampouco, com o seu custo de execução.
Suas obras estão disseminadas pelo mundo como objetos de arte de uma beleza poética.
A igrejinha da Pampulha em Belo Horizonte, a Catedral de Brasília, o museu de Niterói, entre outras obras, são legados que pertencem ao Patrimônio da Humanidade.
O mestre era um artista plástico.
Encontramos nos números do poder, situações semelhantes de arte da esperteza.
O Pronto Atendimento do maior hospital de Cuiabá, que é privado, pois o governo tem verdadeira ojeriza nesse tipo de investimento, atende de seis a oito mil pessoas por mês.
O seu similar na rede pública seriam as Policlínicas e a UPA.
Não é que no mês de junho uma Policlínica anotou em seu relatório a realização de quatrocentos e quarenta e quatro mil procedimentos?
E dizem que a demanda é de, no mínimo, oitenta mil procedimentos a mais.
Em apenas meio dia de trabalho essa milagrosa unidade pública de saúde realiza mais procedimentos que o maior e mais bem equipado Pronto Atendimento privado de Cuiabá em um mês.
Tem gente bobeando por aqui. Essa notícia merece destaque no Fantástico e a sua imediata inclusão no livro dos recordes.
Nossa capital será modelo para o mundo nessa matemática artística empregada por aqui na Saúde Pública.
Com certeza teremos turistas do mundo todo, ávidos por conhecerem esse modelo de produtividade em uma nação onde o forte é o futebol.
Curioso é que, mesmo com a greve dos enfermeiros e técnicos em enfermagem e o enxugamento da máquina pública no setor da saúde, os números de procedimentos permanecem os mesmos.
Por precaução, antes de comemorar esse fato histórico, consultarei como anda o número de procedimentos na Policlínica da cidade de Itu no Estado de São Paulo.
Esses fantásticos números são facilmente encontrados consultando o nº 7.854 do jornal “A Gazeta.”

Gabriel Novis Neves
12-07-2013

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Dá dó

Todas as vezes que a Presidente aparece na televisão para anunciar as medidas tomadas pelo seu governo em resposta às vaias e manifestações  das ruas, dá dó.
Quando tenta explicar certos protestos, piora ainda mais. Cito, por exemplo, o bloqueio das estradas escoadoras das nossas riquezas.
 
“Sou a favor das greves. Elas são um direito democrático conquistado pelo povo brasileiro. O que acho é que isso não pode ferir o direito de ninguém de ir e vir livremente”.

A credibilidade nas suas palavras tem efeito de um funeral.

É como se fosse a linha do horizonte.

Todos nós a vemos, e nunca chegamos lá. Quanto mais caminhamos em sua direção, mais ela se afasta. O que passou não volta mais. 

Seria prudente, neste momento de intranquilidade por que passa o povo brasileiro, um aconselhamento melhor para a presidente antes das suas falas, especialmente quando o assunto é saúde.

Os planejadores de janelas dos gabinetes de Brasília conhecem a nossa saúde pública por aí.
Nunca pisaram em um equipamento físico do SUS, tampouco entraram em contato com um enfermo.
O doutor do Sírio, que é professor-doutor da USP, está contra as decisões governamentais para sanar o complexo problema do atendimento médico no Brasil, assim como a totalidade da comunidade científica médica brasileira.
Para agravar ainda mais a situação dos médicos, a senhora Presidente deu um tapa na cara desses profissionais ao vetar o projeto aprovado pelo Congresso Nacional sobre o Ato Médico.
Presidente!
Siga o exemplo do seu guru. O momento não é para aparecer.

O seu objetivo de convencer a nossa população, jamais será conseguido.

Uma peregrinação pelos países miseráveis da África e do Caribe lhe fará bem.
Deixe a Barbie tomando conta da cozinha do poder, e o “Inho” recebendo o Francisco.
São amigos, pois foram colegas no Seminário.
Dá dó! 

Gabriel Novis Neves
13-07-2013

AGENDA

Na falta do que fazer, e para se livrar do stress, muita gente recorre à leitura daquelas agendas que possuem pequenos lembretes históricos.
Como é bom, de vez em quando, fazer essa leitura linear!
Quase ninguém se lembra de que no dia 06 de janeiro de 1963 houve um plebiscito no Brasil. Na ocasião o povo foi chamado às urnas para saber se queriam um sistema de governo presidencialista ou parlamentarista para o Brasil.
O presidencialismo obteve cerca de 9 milhões de votos, e o parlamentarismo apenas 2 milhões, verdadeira vitória por goleada.
Coincidência ou não, um ano depois houve o golpe militar, que terminou com a posse do Sarney na Presidência da República.
Para “redemocratizar” o Brasil, quis o destino que o líder civil dos militares fosse o escolhido.
Justiça se faça ao recém-nascido Partido dos Trabalhadores (PT) que, na época, era sangue puro e não aceitou a imoralidade.
Na ocasião, o “Sapo Barbudo” utilizava termos de baixo calão para se referir ao “Bigode” da Academia de Letras, e as declarações estão gravadas.
Hoje ele é líder do partido que sempre combateu o seu e do qual era presidente.
Faz parte do seleto grupo de brasileiros que não é qualquer um, na visão atual do ex-metalúrgico, hoje um próspero empresário e articulista do maior jornal americano.
Tudo isso com as bênçãos do velho ditador do Caribe.
O seu partido está contaminado pelo vírus do poder, onde tudo é permitido para o exercício continuado do poder.
O desejo dessa gente é que o timinho de futebol do Brasil seja campeão do mundo.
Voltando ao assunto do parlamentarismo. De vez em quando esse tema volta à tona, sobrevivendo nos noticiários apenas por alguns dias.
O presidencialismo no Brasil sempre foi exercido de forma imperial: manda quem pode, obedece quem tem juízo.
É o jeitinho brasileiro de exercer a democracia.
Existe independência entre os poderes? Só na Constituição. O legislativo é totalmente manipulado pelo poder executivo.
Os últimos exemplos dados pelo Congresso Nacional confirmam a sabedoria popular: - para que elegemos como nossos representantes deputados e senadores?
Esses ocupantes de poltronas caríssimas poderiam, perfeitamente, em número bem menor, serem substituídos por funcionários menos onerosos do poder executivo.
Será que é esse presidencialismo que o Brasil necessita para o seu desenvolvimento?

Gabriel Novis Neves
06-07-2013

Engraçado

Em resposta ao nunca, jamais visto movimento de protestos nas ruas deste país, o governo federal anunciou uma das medidas de estímulo para a nossa Saúde Pública – a criação de mais vagas para residência médica.
Coisinha mal feita essa medida!
Para a criação de novas vagas, há primeiro que se ampliar e melhorar a qualidade da nossa sucateada rede pública de saúde com aumento dos leitos hospitalares.
É necessário também contratar novos professores e trabalhadores de saúde, que darão suporte a esse aumento de ofertas.
Só assim formaremos profissionais qualificados para atender a nossa população trabalhadora, maioria nesta nação.
Teremos, com esses cuidados, condições de atender os cidadãos de primeira classe - que hoje fogem do SUS e procuram hospitais privados - com médicos brasileiros e formados em Escolas de Medicina do Brasil.
Notícia importante para nós seria o anúncio da criação pelo governo federal do Hospital de Clínicas de Cuiabá. Depois de testes, seria entregue à população de Mato Grosso, como se faz com as Arenas da FIFA.
Acontece que os recursos anunciados para esse programão intitulado “Cala Boca”, é de apenas cem milhões de reais para todo o país.
Traduzindo em moeda da Copa - menos de um décimo dos recursos do Tesouro Nacional gastos no Estádio Mané Garrincha, aquele das vaias.
Lembro ainda que faz parte do “Programa Mais Médicos” a criação e ampliação das vagas para a graduação em Medicina.
Sem contar com a importação de mais de seis mil médicos cubanos, inicialmente.
O correto é tão mais simples!
Primeiramente: decisão política para criar a carreira de médico de Atenção Primária de Saúde. O projeto existe, e está encalhado no Congresso Nacional há mais de dez anos.
A segunda providência, não demagógica, seria a ampliação dos Programas Saúde da Família (PSFs), Unidades de Pronto Atendimento em Urgência e Emergência (UPAS) e Policlínicas, com investimento forte nos recursos humanos.
Com tristeza vejo como mais um engodo essas notícias eleitoreiras e irresponsáveis, que tentam ludibriar o bom e ordeiro povo brasileiro.
A população que ocupa as ruas pedindo saúde de qualidade para todos, continuarão sem ter acesso aos serviços médicos frequentados pelos formatadores dessa espúria solução para um grave problema social.
Engraçado!
O governo necessita de mais incentivos da rua.
Acorda Brasil!

Gabriel Novis Neves
24-06-2013

sexta-feira, 19 de julho de 2013

PARTIDO POLÍTICO

Quem não gosta de partido político é ditadura - Mário Magalhães.
Talvez, por isso, a Presidente não aceita a criação do partido da Marina Silva.
Partido político, hoje, representa quadrilha, onde se reúnem os “homens de bem” desta nação.
Em todas as manifestações de protestos que assolam este país, os manifestantes escorraçam os militantes portando bandeiras, estandartes, símbolos de partidos políticos, centrais sindicais, entidades estudantis e movimentos sociais.
O que se discute neste momento é o direito democrático de seus integrantes participarem das manifestações.
É legítimo derrotar siglas nas urnas.
Condenável é partido político tentar se aparelhar aos movimentos de protestos, embora a presença de agremiações políticas seja uma tradição democrática.
Nada mais natural do que achar que um ou outro é oportunista - o que não falta no mundo.  
Hoje não há vínculo do eleitor com os seus senadores, deputados federais e estaduais e vereadores.
Analisar agora essa onda de protestos é tarefa para os videntes.
Daqui a alguns meses tudo será esclarecido.
Muitos acreditam ser um movimento espontâneo da população brasileira, cansada de presenciar tantos desmandos administrativos - função dos executivos.
É um movimento mundial de insatisfação com os modelos políticos vigentes, uma descrença com as pessoas eleitas para nos representarem, e que, na verdade, não o fazem.
Tem sido assim com o movimento dos "indignados" na Espanha, na Turquia, na  Síria, no Egito, e mesmo nos EUA.
As pessoas desejam uma nova proposta de democracia, com maior participação popular.

Enfim, uma gestão mais progressista de fazer política e menos arcaica.


Gabriel Novis Neves
03-07-2013

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Manifestos distintos

Diferenças cruciais separam as chamadas manifestações do “Passe Livre”, ocorridas em junho, dessas últimas de 11 de julho, organizadas pelas centrais sindicais e pelos partidos.
As primeiras, desencadeadas através das redes sociais, sem bandeiras políticas, sem carros de som, apenas movidas pela emoção e pelo desencanto de todo um povo com a sua classe dirigente.
As últimas, voltadas, principalmente, para direitos pessoais e trabalhistas, contaram com a organização e a parafernália dos grandes partidos e, mesmo assim, não conseguiram levar para as ruas nem a quantidade nem o impacto emocionante de uma massa cônscia de seus reclamos.
Aliás, o Brasil é um dos únicos países do mundo em que os próprios partidos do governo saem às ruas para reivindicar as suas próprias pautas. Cômico e inusitado.
O que se observou foi um movimento esvaziado, bem aquém das expectativas de seus organizadores, que apenas conseguiu tumultuar em todo  o país o livre ir e vir de seus habitantes, ávidos pelo cumprimento de mais um dia de trabalho.
Realmente, a avaliação dos nossos políticos anda muito falha, eu ousaria dizer até, despida de sensibilidade.
Esquecem-se de que o poder é muito fugaz, e está sujeito a um jogo de forças, nem sempre coerente com as suas próprias perspectivas e aspirações.
É justo contra isso, esse poder explícito e não representativo que a todos ignora, que a sociedade,  como um todo, tenta se rebelar.
Urge que se estabeleça um real equilíbrio entre a sociedade civil e o poder, e que seus representantes, legalmente eleitos em bem menor número, possam entender que o mundo clama por mudanças e que seus pequenos reinados se tornaram obsoletos.
Não somos mais súditos de reis ou de rainhas e exigimos o surgimento de uma sociedade participativa  em que a maioria opine em relação ao que é melhor para ela.
Nós, que  rejeitamos o título de pertencentes ao terceiro mundo, porque não copiamos, por exemplo, de uma Inglaterra em que, justo agora, sua classe política rejeita um aumento salarial para 2014 por considerá-lo injusto e desnecessário.
E olha que eles ainda têm um regime monárquico.
Toda uma cultura tem que ser mudada e acho, como bom otimista que sou, que estamos caminhando para lá.

Gabriel Novis Neves
12-07-2013 

quarta-feira, 17 de julho de 2013

IMPOSSÍVEL

Ser secretário de estado nas condições atuais, especialmente de saúde, significa a tal da missão impossível.
Não conheço o atual responsável pela saúde pública no nosso Estado.
Se houver um culpado pelo fracasso administrativo da nossa saúde e, se nadica de nada é feito para minorar o sofrimento dos cidadãos de segunda classe, o último responsável é o secretário.
Seu pecado foi o de aceitar esse tipo de trabalho e passar todo o seu mandato tentando esconder o sol com a peneira para encobrir falhas do governo.
Ficamos encasquetados com a dedicação de certos secretários em proteger os verdadeiros culpados pelos desmandos administrativos.
Isso se aplica no plano municipal e no federal, de onde vem o grande exemplo.
Ficou famosa no Brasil a resposta padrão dos nossos executivos quando pilhados em alguma falcatrua: “não sei, não vi, nunca ouvi falar nisso”.
Esse grupo fraseológico substituiu o famoso “nada a declarar”, de um antigo ministro da justiça.
O povo foi às ruas pedindo reformas institucionais, sem as quais tudo continuará como dantes.
Dessas, a mais importante é a reforma administrativa do autoritário Poder Executivo.
Em uma nação com: quarenta ministérios e os penduricalhos inerentes ao cargo; milhares de funcionários não concursados com salários árabes; uma frota de modernos jatos transcontinentais para servir apenas ao gerente número um deste país e, que faz maquiagem dos gastos públicos, facilmente descobertos pelas auditorias privadas e escondidas do público pela dinheirama e favores às grandes mídias - o resultado é o protesto generalizado pelo Brasil.
Em governo, loteado pela politicagem sem escrúpulos, com ocupantes despreparados para o exercício de funções públicas - o que esperar em benefício da coletividade?
Mato Grosso vive em estado permanente de tragédia na saúde, e o culpado foi o sistema que elegeu o executivo caolho para o exercício do poder.
Quem libera, corta, faz maquiagem com as contas da saúde, fecha hospitais, farmácia de alto-custo, contrata as OSSs, amamentam quilométricas filas para consultas médicas e procedimentos hospitalares, paga salários aviltantes aos trabalhadores da saúde, atrasam repasses institucionais aos hospitais beneficentes e toda a sorte de crueldade social, é o executivo estadual.
Muitos funcionários de carreira, que eventualmente passaram pela secretaria de saúde, como prêmio recebe processos.
Isolados e sem recursos, terão que trabalhar o resto das suas vidas para honrar com as despesas da sua defesa.
Em compensação, o verdadeiro responsável pela ética não republicana no trato com a coisa pública, vestirá a roupagem de empresário vitorioso com cartão da impunidade.
Como mentem esses homens!
Onde está o hospital de transplantes de órgãos, cuja metade da parcela dos recursos já havia saído do Ministério da Saúde há três anos?
Têm-se notícias do hospital da mulher? E o da criança?
Em janeiro deverá ser inaugurado o novo Hospital Universitário na estrada de Santo Antonio. Irá com os seus duzentos e cinquenta leitos dar suporte à Copa de 2014. Mas, ainda não saiu da prancheta.
E o banco de pele? E as equipes treinadas para retirada de órgãos para transplantes? O banco de ossos?
A estadualização do antigo Hospital Geral?
A conclusão do esqueleto da vergonha no CPA?
Essas perguntas devem ser respondidas pelo governador, o grande responsável por essa baderna, e não, o secretário de saúde que executa o que decide o Palácio.
Por essas e outras é que o povo permanece em protesto nas ruas.

Gabriel Novis Neves
03-07-2013