quarta-feira, 24 de julho de 2013

Bode expiatório

Na vida, de um modo geral, o culpado é sempre o outro.
Quando algo não dá certo, a tendência é, imediatamente, nomear um bode expiatório. Ele será responsabilizado pelos desmandos, e isso não tem sido diferente no setor governamental.
No momento, a classe médica vem sendo acusada pelo caos na saúde pública. Apesar dos longos anos de uma política de saúde equivocada.
Jamais se fala em medicina preventiva, mas essa é a verdadeira medicina, que só poderá existir através de educação e saneamento básico, não só nas grandes cidades, mas, principalmente, pelo interior desse grande país.
Isso qualquer médico sabe. Apenas os engravatados do poder insistem em medidas hipócritas, despidas de qualquer validade, a não ser a eleitoreira.
É muito mais visível colocar médicos despreparados para tratar de uma população cada vez com mais doente, do que acabar com os esgotos a céu aberto - que envergonham as nossas favelas e muitas das nossas cidades.
Nem os mais aplicados médicos formados nas maiores universidades internacionais, teriam condições de trabalharem num país em que os seus governantes desprezam a saúde de seu povo e, por conseguinte, a classe médica que para ele trabalha.
Claro, os caçadores do poder político não se interessam por obras que não rendam votos.
Por que não destinar imediatamente verbas prioritárias para saneamento básico para que a população adoeça menos?
Isso sem falar nos traumas psicológicos a que são submetidos os menos abastados. Enfrentam uma dura jornada de trabalho de oito horas, e levam outras cinco ou seis para ir e vir - através de um transporte desumano - além de dormirem pouco e comerem mal.
Aliás, aí está o cerne do problema: os médicos são desvalorizados porque trabalham para uma mão de obra de pouco valor, o ser humano, totalmente abandonado à sua própria sorte.
Saúde deve ser vista como um todo: físico, emocional e social.
A classe médica, junto à dos professores, é a mais mal remunerada do país, e é excelente em termos profissionais, apesar das parcas condições de trabalho a que é submetida.
Quem se der ao trabalho de passar um dia de plantão num hospital público vai saber bem do que estou falando. Colegas se exaurindo em trabalho, mesmo nas mais precárias condições de atendimento.
 Nada disso é visto por quem permanece em seus gabinetes ditando regras para eventualidades que desconhece.
Ao contrário, o que se tem visto através dos anos é uma fabricação maciça e vergonhosa de doentes.
Se nas grandes cidades assistimos de braços cruzados a essa calamidade, o que então estará acontecendo nos longínquos rincões do país, onde nem a mídia consegue chegar?
É hora de parar com as hipocrisias e arregaçar as mangas para trabalhar no viável.
Aí sim, poderíamos contratar, com salários dignos, estabelecidos pelo poder público, os chamados médicos de família que, com certeza, se sentiriam honrados em acompanhar pacientes, e não um bando de desvalidos sem as mínimas condições de sobrevivência.
No momento, sem as condições reais de viabilidade de atendimento, os nossos colegas, quantos forem ou de onde vierem, serão apenas pessoas compactuando com essa vergonhosa política de doença.
Não, senhores governantes, não foi para isso que abraçamos uma das mais nobres profissões, em que os interesses pessoais são sempre minimizados em função do cuidado com o próximo.
Esse foi o juramento que fizemos, e que, com certeza, é cumprido pela esmagadora maioria dos profissionais.

Gabriel Novis Neves
18-07-2013

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