Na
vida, de um modo geral, o culpado é sempre o outro.
Quando
algo não dá certo, a tendência é, imediatamente, nomear um bode expiatório. Ele
será responsabilizado pelos desmandos, e isso não tem sido diferente no setor
governamental.
No
momento, a classe médica vem sendo acusada pelo caos na saúde pública. Apesar
dos longos anos de uma política de saúde equivocada.
Jamais
se fala em medicina preventiva, mas essa é a verdadeira medicina, que só poderá
existir através de educação e saneamento básico, não só nas grandes cidades,
mas, principalmente, pelo interior desse grande país.
Isso
qualquer médico sabe. Apenas os engravatados do poder insistem em medidas
hipócritas, despidas de qualquer validade, a não ser a eleitoreira.
É
muito mais visível colocar médicos despreparados para tratar de uma população
cada vez com mais doente, do que acabar com os esgotos a céu aberto - que
envergonham as nossas favelas e muitas das nossas cidades.
Nem
os mais aplicados médicos formados nas maiores universidades internacionais,
teriam condições de trabalharem num país em que os seus governantes desprezam a
saúde de seu povo e, por conseguinte, a classe médica que para ele trabalha.
Claro,
os caçadores do poder político não se interessam por obras que não rendam
votos.
Por
que não destinar imediatamente verbas prioritárias para saneamento básico para
que a população adoeça menos?
Isso
sem falar nos traumas psicológicos a que são submetidos os menos abastados.
Enfrentam uma dura jornada de trabalho de oito horas, e levam outras cinco ou
seis para ir e vir - através de um transporte desumano - além de dormirem pouco
e comerem mal.
Aliás,
aí está o cerne do problema: os médicos são desvalorizados porque trabalham
para uma mão de obra de pouco valor, o ser humano, totalmente abandonado à sua
própria sorte.
Saúde
deve ser vista como um todo: físico, emocional e social.
A
classe médica, junto à dos professores, é a mais mal remunerada do país, e é
excelente em termos profissionais, apesar das parcas condições de trabalho a
que é submetida.
Quem
se der ao trabalho de passar um dia de plantão num hospital público vai saber
bem do que estou falando. Colegas se exaurindo em trabalho, mesmo nas mais
precárias condições de atendimento.
Nada
disso é visto por quem permanece em seus gabinetes ditando regras para
eventualidades que desconhece.
Ao
contrário, o que se tem visto através dos anos é uma fabricação maciça e
vergonhosa de doentes.
Se
nas grandes cidades assistimos de braços cruzados a essa calamidade, o que
então estará acontecendo nos longínquos rincões do país, onde nem a mídia
consegue chegar?
É
hora de parar com as hipocrisias e arregaçar as mangas para trabalhar no
viável.
Aí
sim, poderíamos contratar, com salários dignos, estabelecidos pelo poder
público, os chamados médicos de família que, com certeza, se sentiriam honrados
em acompanhar pacientes, e não um bando de desvalidos sem as mínimas condições
de sobrevivência.
No
momento, sem as condições reais de viabilidade de atendimento, os nossos
colegas, quantos forem ou de onde vierem, serão apenas pessoas compactuando com
essa vergonhosa política de doença.
Não,
senhores governantes, não foi para isso que abraçamos uma das mais nobres
profissões, em que os interesses pessoais são sempre minimizados em função do
cuidado com o próximo.
Esse
foi o juramento que fizemos, e que, com certeza, é cumprido pela esmagadora
maioria dos profissionais.
Gabriel
Novis Neves
18-07-2013
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