Até
hoje me perguntam por que fiquei menos de quatro semanas como Secretário
Estadual de Saúde em 2003.
Nunca
declarei o motivo, pois foram inúmeros.
Para
bom entendedor, meia palavra basta. O abandono espontâneo de um cargo
honroso é privilégio dos desprendidos de tutelas.
Em
respeito aos funcionários da secretaria, a minha despedida foi o silêncio.
Naquele
instante encerrei a minha participação na vida administrativa do meu Estado,
onde colecionei fracassos.
Transformei
a antiga Chácara dos Loucos do Coxipó da Ponte no Hospital Adauto Botelho,
libertando os seus pacientes das correntes de ferro nos tornozelos e da praga
da discriminação.
O
humanismo implantado naufragou com o passar dos anos, e o hospital não existe
mais.
Tentei
qualificar os professores, do então ensino primário, de Mato Grosso (ainda não
dividido) para acabar com o analfabetismo.
Mais
uma derrota. O analfabetismo ainda nos coloca na lista da vergonha.
Participei
da criação da Universidade Estadual de Mato Grosso, com sede em Campo Grande, e
de Centros Pedagógicos Superiores em Corumbá, Aquidauana, Dourados e Três
Lagoas - hoje unidades de ensino superior da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, mas pertencente a outro Estado da Federação.
Esforcei-me
para implantar nos Centros Educacionais do Estado o ensino voltado para o
trabalho.
Não
consegui, e eles foram transformados numa escolona tradicional.
Com
os “filhos de ninguém”, erguemos no cerrado do Coxipó as amarras do nosso maior
projeto social, eliminando o “Estado Curral” e criando o de oportunidades.
Estendemos
esses tentáculos para as cidades de Rondonópolis e Barra do Garças (Pontal do
Araguaia).
A
UFMT tinha compromissos de formar gente capacitada, promover a pesquisa e
extensão e preservar a nossa rica cultura.
O
seu foco inovador era o de promover o desenvolvimento da região ainda
inexplorada.
Fracassei.
Fui atropelado pelos defensores do progresso das motosseras, não podendo evitar
a ocupação irracional da nossa Amazônia.
Hoje
a independente UFMT perdeu sua autonomia e é um braço político do plantonista
do Poder Central.
Vive
de insuficientes recursos orçamentários, dependendo de emendas parlamentares e
migalhas do governo do Estado.
Por
seis vezes Secretário do Estado, vi todos os meus sonhos serem transformados em
pesadelos, como a não implantação, em 1984, da indústria de medicamentos da
cesta básica - com vinte e oito drogas, cujos recursos estavam sendo
liberados pelo BNDES.
Passado
dez anos da minha saída espontânea da Secretaria Estadual de Saúde, o Tribunal
de Contas da União explicou à minha gente um dos motivos pelo qual abandonei
meu último cargo público.
A
Gazeta nº 7.836 de 21/06/2013 publicou a resposta vinda de Brasília.
Estava
com a razão.
Gabriel Novis Neves
21-06-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.