segunda-feira, 1 de julho de 2013

Resposta

Até hoje me perguntam por que fiquei menos de quatro semanas como Secretário Estadual de Saúde em 2003.
Nunca declarei o motivo, pois foram inúmeros.
Para bom entendedor, meia palavra basta.  O abandono espontâneo de um cargo honroso é privilégio dos desprendidos de tutelas.
Em respeito aos funcionários da secretaria, a minha despedida foi o silêncio.
Naquele instante encerrei a minha participação na vida administrativa do meu Estado, onde colecionei fracassos.
Transformei a antiga Chácara dos Loucos do Coxipó da Ponte no Hospital Adauto Botelho, libertando os seus pacientes das correntes de ferro nos tornozelos e da praga da discriminação.
O humanismo implantado naufragou com o passar dos anos, e o hospital não existe mais.
Tentei qualificar os professores, do então ensino primário, de Mato Grosso (ainda não dividido) para acabar com o analfabetismo.
Mais uma derrota. O analfabetismo ainda nos coloca na lista da vergonha.
Participei da criação da Universidade Estadual de Mato Grosso, com sede em Campo Grande, e de Centros Pedagógicos Superiores em Corumbá, Aquidauana, Dourados e Três Lagoas - hoje unidades de ensino superior da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, mas pertencente a outro Estado da Federação.
Esforcei-me para implantar nos Centros Educacionais do Estado o ensino voltado para o trabalho.
Não consegui, e eles foram transformados numa escolona tradicional.
Com os “filhos de ninguém”, erguemos no cerrado do Coxipó as amarras do nosso maior projeto social, eliminando o “Estado Curral” e criando o de oportunidades.
Estendemos esses tentáculos para as cidades de Rondonópolis e Barra do Garças (Pontal do Araguaia).
A UFMT tinha compromissos de formar gente capacitada, promover a pesquisa e extensão e preservar a nossa rica cultura.
O seu foco inovador era o de promover o desenvolvimento da região ainda inexplorada.
Fracassei. Fui atropelado pelos defensores do progresso das motosseras, não podendo evitar a ocupação irracional da nossa Amazônia.
Hoje a independente UFMT perdeu sua autonomia e é um braço político do plantonista do Poder Central.
Vive de insuficientes recursos orçamentários, dependendo de emendas parlamentares e migalhas do governo do Estado.
Por seis vezes Secretário do Estado, vi todos os meus sonhos serem transformados em pesadelos, como a não implantação, em 1984, da indústria de medicamentos da cesta básica - com vinte e oito drogas, cujos recursos  estavam sendo liberados pelo BNDES.
Passado dez anos da minha saída espontânea da Secretaria Estadual de Saúde, o Tribunal de Contas da União explicou à minha gente um dos motivos pelo qual abandonei meu último cargo público.
A Gazeta nº 7.836 de 21/06/2013 publicou a resposta vinda de Brasília.
Estava com a razão.

Gabriel Novis Neves
21-06-2013 

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