segunda-feira, 8 de julho de 2013

Aniversário

Nada a reclamar nesses setenta e oito anos  de circulação pelo  planeta terra, muito ao contrário, o acaso tem sido bastante favorável, proporcionando-me  inúmeros momentos de raro encantamento.
Amores vieram, amores foram, todos sempre intensos, deixando marcas importantes em sua passagem, mas nunca cicatrizes dolorosas.
Por desenvolver empatia com pessoas do bem, poucas vezes me deixei assediar por quem não o fosse e isso me livrou dos grandes dissabores por que passam inúmeras pessoas.
Amigos sempre poucos e muito especiais, adotados como verdadeira família, me mostraram a grandeza desse sentimento e me cobriram de carinhos nos momentos em que deles precisei. 
Filho primogênito de uma família de nove, fui educado em lar honrado, para ser modelo  de integridade, amizade e abnegação. 
Portador de uma saúde invejável, somente aos setenta e sete anos fui ter o meu primeiro embate com  um corpo que já não obedecia ao desgaste dos anos.

Mais uma vez a sorte me bafeja  ao escolher minhas articulações dos joelhos, para me avisar que o meu tempo tinha chegado. 

Encontrei colegas maravilhosos, aqui mesmo na minha cidade que demonstraram interesse e conhecimento científico para a minha reabilitação.
São aqueles médicos, com o qual todos sonham.
Por ter um compromisso absoluto com a felicidade, sempre me atenho às palavras do grande mestre Vinícius de Moraes, cuja grande sabedoria era  eternizar as coisas belas da vida, “enquanto elas durassem".
Não consigo imaginar nada mais verdadeiro que isso!
A felicidade me parece fácil, desde  que nos livremos das coisas ruins antes que elas apodreçam.
Infelizmente, isso não nos é ensinado durante a vida.
Para culminar essa longa viagem, quis mais uma vez o acaso, me premiar através da comunicação digital, com o reencontro de um grupo de colegas que o tempo parecia ter apagado da minha memória. 
Após 53 anos de ausência, que nem nós supúnhamos tão doloridas, lá estavam intactos, impregnados íntegros, todos os sentimentos que nos uniram na adolescência. 
Muito mais forte que o passar dos anos, é a impressionante chama da vida que nasce da distância.
Terminado o curso médico, quis a vida  que tomássemos rumos diversos uns dos outros. 
Eram amigos de verdade, espalhados por este Brasil.
Alguns permaneceram no glamour aflitivo do Rio de Janeiro, cidades do Centro Sul e países vizinhos.
Eu mergulhei na zona de transição entre o cerrado e a mata alta. Nossas realidades eram absolutamente opostas.
Vidas retalhadas, filhos formados, viuvezes sofridas, colegas partindo prematuramente para a eternidade.
Restavam ainda na turma de 1960 de Medicina da Praia Vermelha, elos que nunca haviam se fechado.
Numa faixa etária em que menos oferecemos e muito mais exigentes nos tornamos, nada poderia ser mais gratificante.
Como numa reação química abortada, esse reencontro foi tsunâmico, graças a uma homenagem a mim prestada pelo Jornal do Conselho Federal de Medicina.
Descoberto no cerrado, a reação de carinho foi muito mais consistente já que  agregada estava uma sabedoria que só a maturidade consegue trazer.
 
Claro que as inseguranças, os medos, as somatizações  persistiam, apenas mais facilmente metabolizadas.

Enfim, só por esses momentos que temos desfrutado, já valeria a pena e muito, ter vivido.
Que a Mãe Natureza nos mantenha todos juntos, até o Juízo Final.

Gabriel Novis Neves

01-07-2013

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