terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

IDADE INCONFIÁVEL


A idade nunca foi uma determinante para garantir uma vida longa e saudável.


Depois dos oitenta anos todo o cuidado com o nosso dia a dia é pouco.


Avisei aos meus amigos que, enquanto estiverem recebendo pelo whtsap minhas crônicas diárias, significa que estou vivendo, e bem, em casa.


Os que interagem comigo também sei que estão levando a vida com cuidadores e uma farmácia de medicamentos.


Atualmente faço uso contínuo de trinta medicamentos por dia, comprados nas farmácias tradicionais e de manipulação.


São comprimidos orais e sublinguais, cápsulas, inalantes, gotas, colírios, cremes, pomadas, sprays, infusões de imunoglobulinas (nove frascos mensais de aplicação endovenosa).


Meus exames complementares estão todos normais e a doença que tenho não mata, mas não tem cura.


No início do ano enviei uma mensagem a um primo que mora no Rio de Janeiro e que recebe as minhas crônicas.


Há mais de dois meses não me mandava um alô.


Disse-lhe que diariamente ele sabia das minhas notícias pelos textos que eu encaminhava.


Gostaria de vez em quando saber das suas notícias, pois com mais de oitenta anos, estávamos numa idade nada confiável.


Ontem recebi a sua resposta telegráfica:


“Completo hoje quinze dias de CTI. ”


Pelo marcador de leitura do seu celular, verifiquei que ele atualizou a leitura de todas as crônicas que lhe enviei.


Sinal evidente que melhorou, está consciente, sem uso das máquinas e equipamentos de um CTI.


Hoje verifiquei que ele não leu à minha curta pergunta e a última crônica que lhe enviei.


Aquele célebre provérbio tão do agrado dos médicos, que diz que a falta de notícia de um paciente significa um bom prognóstico, para o caso do meu primo não funcionou.


A gravidade da saúde de quem está internado depende mais se o mesmo está no quarto ou CTI.


Enquanto estiver em Centro de Tratamento Intensivo, exigindo cuidados especiais, o caso preocupa aos médicos e familiares.


O melhor sinal para a cura, será a sua transferência da CTI para o semi-intensivo e quarto.


Enquanto espero a sua total recuperação e alta hospitalar, continuarei enviando diariamente as minhas crônicas, único sinal que tenho para mensurar a sua saúde.


Gabriel Novis Neves

20-01-2023




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

CHAPADA DOS GUIMARÃES


É uma cidadezinha de menos de vinte mil habitantes e a queridinha de todos nós mato-grossenses.


Mantêm o seu estilo colonial-rural, mas contaminado pela transformação que a tudo vai destruindo.


Suas novas casas estão sendo construídas em modernos condomínios fechados protegidos por cercas elétricas.


A cidade foi construída num altiplano de clima ameno, com nascentes, córregos, cachoeiras e proximidade com a capital do Estado para ser um ponto turístico ecológico nacional e internacional.


Suas ruas foram planejadas para o uso de cavalos, carroças, charretes e um ou outro automóvel.


Antes da descoberta da penicilina era a cidade apropriada para o tratamento da tuberculose pulmonar pelo seu clima rico em oxigênio.


Um sobrinho do meu avô Alberto Novis, chamado Álvaro Novis, advogado, construiu uma casa e foi morar com a esposa Nímia Bicudo Novis.


Morreu cedo e não deixou descendentes.


Era a cidade escolhida para passar a lua de mel.


Em 1937, o Presidente de Mato Grosso Mario Corrêa da Costa, pela segunda vez, era um médico cuiabano de família conceituada de políticos. No seu primeiro mandato em 1929, quis enriquecer Cuiabá transformando-a em cidade grande.


Construiu para isso a segunda torre da Catedral Metropolitana de Cuiabá e a Praça da República, até então Largo da Matriz.


Fez de tudo para transferir a capital do Estado para o altiplano da Chapada com o seu clima ameno e cheio de belezas naturais.


Dr. Mario Corrêa da Costa possuía uma enorme chácara que embrenhava pela região da Salgadeira, na Chapada dos Guimarães.


Hoje ela não existe mais.


Era lá que ele descansava fugindo do calor de Cuiabá.


Ia montado em seu cavalo, de terno branco e chapéu, por trilhas e acompanhado por alguns auxiliares.


Foi impedido por um problema da natureza na realização do seu projeto da mudança da capital.


Chapada não possuía rios para abastecer a nova capital do Estado!


Esse problema, com a tecnologia que dispomos atualmente, quando belas cidades são construídas em pleno deserto, seria resolvido facilmente.


Assim não prosperou a cidade que chamaria Mariópolis, em homenagem ao então Presidente do Estado Mario Corrêa da Costa!


Sua pedra fundamental foi lançada em 1927 próxima ao Mirante.


Nossa Cuiabá ficaria pertencendo ao nosso Patrimônio Histórico e da Humanidade.


A arquitetura portuguesa seria mantida, com seus casarões, alguns com sobrados e quintais com árvores frutíferas.


Suas ruas estreitas e tortuosas, cheias de subidas e descidas, com córregos, tanques, buracos e morros no centro da cidade.


Restos de um antigo garimpo que existiu e foi transformado em cidade, graças a proteína do peixe encontrando em abundância no rio Cuiabá, que divide a cidade.


O bairro do Porto foi por muitos anos a entrada e saída de Cuiabá.


E a Chapada continua linda no Parque Nacional.


Gabriel Novis Neves

22-02-2023


Fotografia autoral compartilhada por @jpaes.mt no Instagram 




Casa do Dr. Álvaro Novis, Chapada dos Guimarães


domingo, 26 de fevereiro de 2023

ENTERRO DO CARNAVAL


É o domingo mais sem-graça de todos os domingos do ano, podendo muito bem o ministro que manda no Supremo Tribunal Federal (STF), aboli-lo do nosso calendário.


É uma festa mentirosa que muitos dançam e pulam nas ruas numa alegria forçada para comemorar o enterro do carnaval para alguns ou dos ossos do carnaval para outros.


Aprendi na infância que o primeiro domingo após os quatro dias de folia carnavalesca era chamado de “domingo de enterro do carnaval. ”  


No Rio de Janeiro o desfile das escolas campeãs em número de seis é realizado no sambódromo com ótimo público no sábado à noite, ficando o domingo para os blocos carnavalescos dos bairros cariocas.


Aqui em Cuiabá, o carnaval de clubes não existe mais, e o poder executivo municipal escolheu três espaços históricos para os foliões brincarem.


Dizem que no ano que vem, os desfiles das escolas de samba voltarão, e o local ainda não foi escolhido.


O carnaval de rua em Salvador é um caso à parte, com seus trios elétricos.


Inicia com as festas do Ano Novo e há um movimento para entrar na Quaresma!


Nesta sexta-feira de carnaval, assisti uma parte do desfile do “Bloco da Anitta” passar pela praia do Farol, tudo televisionado pela TVE Salvador!


Ela vestida em trajes sumários no seu trio elétrico, com seus músicos, dançarinas e dançarinos.


O povo que a seguia protegido pelos cordões de isolamento e soldados da polícia, não usavam abadas, como nos outros trios mais antigos, famosos e baianos.


Será que o “Bloco da Anitta” foi patrocinado pelo governo, ou pelas leis de incentivo à arte?


Por mais que tenha me esforçado para assistir ao desfile dessa “artista revelação “ - cantando e rebolando -, não consegui ficar mais de dez minutos, em frete a telinha da TV.


Troquei de canal.


Fiquei com o humorístico: “A escolinha do Professor Raimundo”, com Chico Anysio e seus excelentes humoristas, pelo canal Youtube!


É um programa antigo que não envelhece e nos traz alegrias.


O nosso carnaval dos sambódromos e trios elétricos, são verdadeiros shows preparados para turistas estrangeiros e nacionais.


Seus enredos são sobre nossas personalidades e riquezas naturais e imateriais.


Nossos carros alegóricos mostram nossas lindas mulheres quase nuas e bronzeadas.


Se permitirem que “artistas” como a de ontem, desfilem nos trios elétricos ou carros alegóricos, vamos enterrar de fato o nosso carnaval, no domingo após o carnaval.


Gabriel Novis Neves

25-02-2023







sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

COSTELA ASSADA


Certas comidas exigem um ritual para o seu preparo.


Não adianta ter pressa, pois não vai dar certo.


Um desses pratos é a costela de boi assada.


Dizem os fazendeiros que a melhor carne do boi é aquela mais próxima às costelas.


Porém, para prepará-la temos que deixá-la muito tempo em contato com o calor das brasas.


Sempre a rodando e hidratando para não ressecar ou queimar.


É um trabalho artesanal que dura horas.


Depois de pronta ela desmancha na boca de tão macia fica.


Temperada com sal grosso e acompanhada com mandioca cozida é o prato preferido para um domingo glorioso.


Minha filha quando almoça comigo sempre traz pratos especiais.


Hoje ela me trouxe uma porção de costela de boi comprada em churrascaria.


Nesses lugares a comida não é feita de maneira artesanal.


A carne era boa, entretanto estava muito dura, esturricada, demonstrando que ela foi queimada, e não assada.


A profissão de cozinheira de forno e fogão está desaparecendo dando lugar aos cozinheiros industriais.


A diferença está no sabor da comida preparada.


Vivemos no mundo da pressa para tudo e nossas sensações sensoriais visuais, olfativas, gustativas são as mais prejudicadas.


A comida rápida das carrocinhas de rua veio apenas para “encher a nossa barriga”.


O ritual da comida servida em mesas preenche as nossas necessidades sensoriais e fica mais prazerosa acompanhada de uma boa conversa.


Frequentei na universidade o Restaurante da Faculdade.


A comida era servida em bandejões de alumínio dividido em compartimentos e controlada por nutricionistas.


Ninguém morria de fome ou desnutrição, mas nos faltava o “sabor do prato de louça”, tão importante para a nossa digestão e satisfação.


Comida bem-feita é uma arte tão explorada atualmente pelos programas de culinária de todas as nossas televisões.


Têm audiência e, claro, patrocinadores.


Comer bem não é engordar.


O gordo não vende saúde e é um sério candidato à doença.


Ele geralmente come muito e sem qualidade.


Qualquer dia desses, e tempo disponível eu tenho, vou tentar preparar lentamente uma porção de costela com calor e hidratação até ela se desmanchar.


Tempo para vadiagem para preparar comida é saúde.


Gabriel Novis Neves

05-02-2023




SONHAR ESCREVENDO


Não é a primeira vez que isso me acontece: dormindo escrevo uma crônica inteira, assino e dato.


Quando acordo, espontaneamente, vou para o computador tentar digitar o que sonhei.


Hoje ao abrir o notebook olhei a telinha branca e não me lembrei de nada que havia escrito sonhando.


Achei esquisito, pois o assunto era interessante e o sono foi após o almoço.


Se fosse o prolongado da noite alguém poderia dizer ser efeito colateral de algum ansiolítico que uso, e sua compra exige receituário branco-carbonado com assinatura e carimbo do médico.


Ou que o dia tinha sido agitado.


Nada disso aconteceu.


Passei a manhã e almocei (pouco) em companhia da minha cuidadora dos domingos.


Depois fui tirar a “sesta”, hábito que adquiri com os meus pais e nunca abandonei.


Para não perder a viagem com o meu computador aberto, lembrei que ontem à noite eu andei segurando o antebraço da minha enfermeira e ouvia pelo Youtube uma Banda de Pagode.


Acompanhei o ritmo da Banda com o corpo e os pés abertos como se fossem de pato, e deu certo.


Disse a minha acompanhante:


“Engraçado, a minha doença que é a disautonomia, não mata, porém, não tem tratamento e cura. ”


Descobri agora que posso dançar pagode!


Os portadores dessa doença têm desequilíbrio, precisando sempre se apoiar no braço de alguém.


Andam com os pés abertos como os gansos.


Será que a “dança do pagode” não é um excelente exercício fisioterapêutico para os portadores de disautonomias?


Alguns avanços da terapêutica farmacológica vieram quando o remédio pesquisado era para uma determinada doença e os cientistas chegaram a outros resultados.


Hoje essas drogas são usadas e conhecidas no mundo todo, e indicadas para outras patologias.


Vendem, inclusive mais, que anticoncepcionais, ansiolíticos e antiácidos.


Posso citar dois exemplos mais populares: aqueles para disfunções erécteis em homens, quando se pesquisava um moderno hipotensor arterial.


O outro é um que ficou conhecido como abortivo, cuja farmacologia era para a cura da gastrite.


Essas drogas descobertas “por acaso” foram bastantes consumidas durante a folia de Momo no “kit carnaval”.


Será que terei que dançar todas às noites nas casas de pagode para me curar da doença adquirida pela idade avançada?


Se for para o bem da ciência, farei esse sacrifício (!) com prazer.


Gabriel Novis Neves

19-02-2023




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

EXPECTATIVAS


Esperávamos tantas mudanças para melhor nestes primeiros dias do ano e tudo, pelo menos até agora permanece no mesmo.


O custo da cesta básica continua alta, o desemprego e trabalhadores na clandestinidade continua crescendo.


O salário mínimo aumentou tão pouco que nem se percebe no holerite do final do mês.


Os professores há cinco anos não têm um mísero aumento nos seus salários como a maioria dos servidores públicos não pertencentes à elite desta nação (Judiciário, Legislativo e Executivo).


As inúmeras estatais deste país sempre oferecendo excelentes cabides de super empregos para os políticos e aos seus apaniguados.


Não distribuem dividendos aos seus associados por que essas estatais operam em vermelho, não produzindo lucros.


É um convite ao pequeno investidor brasileiro, para trabalhar com a especulação financeira ou guardar suas pequenas economias, para o consumo desenfreado.


O Brasil continua perdendo pontos no ranking dos países mais desenvolvidos do mundo e somos chamados pela comunidade econômica como “país em desenvolvimento. ”


Há muito tempo perdemos nossa posição de país do futebol e nosso time mais popular e rico é eliminado de campeonatos mundiais por clubes de príncipes árabes.


E tudo isso está acontecendo no segundo mês do ano!


Li nas mídias sociais, que a “emissora do carnaval” está preocupada com o carnaval em sambódromos e trio elétricos.


 A venda de patrocínios foi decepcionante nesse novo modelo de carnaval, causando enormes prejuízos às escolas de samba e à rede de televisão.


Será que, como no futebol, perderemos também o título de maiores do mundo?


Dizem que futebol e carnaval são artes, e nesse quesito – arte - estávamos bem na fotografia, embora não tenhamos conseguido um Prêmio Nobel.


Argentina, Chile, Colômbia, Peru, nossos vizinhos, já foram agraciados com o Nobel.


Não temos terremotos e guerras, possuímos dimensões continentais, falamos uma língua única, sem dialetos.


Somos o maior produtor de proteína animal e vegetal (a soja tem 81g em 100 gramas).


Vivemos com a expectativa de sempre melhorarmos e esse dia não chega nunca, criando a frustração pelo não acontecido.


Os intelectuais dizem que o Brasil não chega ao bloco dos dez países mais desenvolvidos do mundo porque a sua educação é fraca.


Outros, que o Brasil não é um país ético quando roubar do erário público não é crime.


Gabriel Novis Neves

17-02-2023




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

QUARTA-FEIRA DE CINZAS


Quando falamos em cinzas nesta época do ano lembramos do final do nosso carnaval, que acontece todos os anos, depois de quatro dias de folia carnavalesca.


As cinzas são originárias dos ramos que são abençoados e queimados durante o “Domingo de Ramos” do ano anterior.


No caso das cinzas do carnaval elas renascem todos os anos.


É a única vez que as cinzas renascem de alguma coisa prazerosa, que é o carnaval.


Não esquecemos também que um dia retornaremos às cinzas, e nos reencontraremos na Ressureição.


Quarta-feira de Cinzas para os católicos marca o início da Quaresma, que termina quarenta dias após o carnaval, no domingo da Páscoa.


O Carnaval é considerado uma festa pagã e pecaminosa.


A missa católica na quarta-feira de Cinzas é para os católicos receberem o perdão pelos pecados cometidos nos dias de carnaval.


O sacerdote coloca cinzas na testa dos fiéis imitando o sinal da cruz.


Essa missa é chamada de Missa da Quarta-feira de Cinzas.


No domingo já na Quaresma, temos os festejos do enterro do carnaval ou dos ossos, que serão transformados em cinzas.


Esta “despedida de carnaval” é menos festejada que no período dos quatro dias.


Assim mesmo há festas após o carnaval.


Quando o “homo sapiens” morre seu corpo é enterrado, e a fé religiosa espera que um dia, corpo e alma, irão se reencontrar.


Seu corpo será transformado em cinzas e pó, até a Ressureição para os católicos.


Com a inovação tecnológica da cremação, a matéria é imediatamente transformada em cinzas.


Só as cinzas da quarta-feira de Cinzas, são renovadas em matéria após o Ano Novo, quando tudo é carnaval.


O carnaval é uma festa popular, e no Brasil é considerada pecaminosa.


Sua origem na Antiguidade é católica, e nasceu na Babilônia.


Seu término marcava o início da Quaresma, que proibia prazeres da carne e obrigava o jejum, como forma dos pecadores alcançarem o perdão dos pecados cometidos no carnaval.


Nos próximos anos teremos novos carnavais com quatro dias oficiais de folia e um feriado nacional.


Depois vem a quarta-feira de Cinzas com a Semana Santa e a Ressurreição de Jesus Cristo aos Céus.


Jesus era filho de Maria e José, por obra do Divino Espírito Santo.


Depois, no final do ano, comemoramos o nascimento de Jesus, que veio ao mundo para nos salvar!


Gabriel Novis Neves

12-02-2023




terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

TERÇA-FEIRA DE CARNAVAL


Não estava pensando em escrever sobre o carnaval deste ano.


É uma festa anual de quatro dias oficiais e já escrevi muito sobre esse evento, o maior da nossa cultura popular.


Quem primeiro me estimulou este ano a escrever sobre esse tema foi a minha revisora.


Depois, um amigo jornalista que lê as minhas crônicas, perguntou se eu não tinha nada sobre o carnaval.


Cuidadoso ele me disse que estava gostando delas, mas que alguns assuntos, estavam envelhecidos.


Minha rotina de trabalho é muito diferente do jornalista profissional, especialmente de jornal.


Quem escreve uma coluna diária em jornal, sendo o assunto político, esportivo, de entretenimento, policial, a notícia tem que ser do dia, salvo raras exceções.


Como escrevo sobre minhas memórias e o cotidiano, eles não envelhecem.


A história da minha primeira bicicleta daria uma excelente crônica, que poderá ser lida na Páscoa.


É o relato verídico de um fato que aconteceu há setenta e três anos e não está envelhecida na minha memória.


Escrevo mais sobre os temas que me tocam o coração, e mantenho sempre um bom estoque de crônicas.


Achei razoáveis os pedidos solicitados e escrevi cinco textos para publicar na sexta, sábado, domingo, segunda e quarta-feira de cinzas, preenchendo todos os dias de carnavais e entrando na quaresma.


Já estava pronto para iniciar a escrever sobre as padarias de Cuiabá da minha infância quando me dei conta que ainda não havia escrito nada sobre a terça-feira de carnaval.


Esse dia é conhecido como a “terça-feira gorda” do carnaval, e o último que precede a Quaresma.


É a despedida do carnaval, e seus foliões chegam a se esbaldar com mais intensidade nesse dia que nos três dias anteriores.


Sabem que os próximos dias de folia irão acontecer somente ano que vem.


É o único final de festa de carnaval em que os foliões ficam tristes, após várias despedidas dos músicos das orquestras que animaram a noite toda sem interrupções.


Tenho a impressão que esse sentimento de tristeza seja mais frequente entre os adolescentes.


Talvez algum deles tenha encontrado seu primeiro amor nesse baile de terça-feira gorda, mas, muitas vezes, nem seu nome foi guardado.


“Será que ela (ele) guardou pelo menos a minha fisionomia e no outro ano voltaremos a nos encontrar no mesmo local, no baile da terça-feira do carnaval? ”- muitos devem se perguntar.


Gabriel Novis Neves

21-02-2023






segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

SEGUNDA-FEIRA DE CARNAVAL


Com exceção dos funcionários públicos que estão dispensados de trabalhar na segunda-feira de carnaval, muita gente trabalha nesse dia.


Bem antigamente os bailes famosos eram realizados na segunda-feira.


No Rio de Janeiro o “Baile do Cabide” era realizado em um clube chique às duas horas da tarde e terminava às oito da noite.


Seus participantes, na sua maioria eram homens casados, solteiros e mulheres sem compromissos.


Assim que os convidados chegavam, recebiam nas chapelarias um cabide e penduravam a camisa.


Era bem guardado e a camisa devolvida no final da festa, sem mancha de batom ou impregnada de odor de perfume.


Quando terminava a festa, alguns tomavam banho de corpo todo, escovavam os dentes e usavam o secador de cabelo dos banheiros para evitar chegar em casa com os cabelos molhados.


Usavam colírio lubrificante, tomavam antiácidos e pastilhas para a garganta.


O buffet era maravilhoso, sortido e abundante.


Os vinhos e whisky importados da melhor qualidade eram servidos à vontade.


As lindas mulheres dançavam fantasiadas no salão com um copo do escocês em uma das mãos, ou em cima das mesas.


Esse baile era patrocinado por multinacionais e seus convites cobiçadíssimos.


Ganhava um convite do meu tio que era advogado, solteiro e chefe da Alfândega!


Era paquerado pelo cargo que ocupava, estando sempre prestando favores àqueles que viajavam para o exterior e retornavam com “quinquilharias”.


Outro baile de carnaval famoso que era realizado na Segunda-Feira de Carnaval era o baile do Teatro Municipal, o mais elegante do Rio de Janeiro.


Toda a elite brasileira o frequentava, e o traje era à rigor para os homens e vestidos longos para as mulheres.


Também eram permitidas aos homens e mulheres fantasias de muito luxo e altíssimos preços.


Personalidades estrangeiras, artistas famosos internacionais eram convidados para abrilhantar esse baile.


Os homens usavam smoking com gravata borboleta e as mulheres, vestidos longos em tecidos nobres (brocados, tafetás), confeccionados por costureiros famosos.


Pelas redondezas do Teatro Municipal havia muita gente que ia “sapear” a entrada das celebridades.


Muitos chamavam esses bisbilhoteiros de “pessoal da garoa. ”


Nunca fui ao baile de Segunda-Feira de Carnaval do Teatro Municipal por não possuir recursos financeiros para comprar o traje de gala, nem a mínima curiosidade em estar lá.


Gabriel Novis Neves

20-02-2023






domingo, 19 de fevereiro de 2023

SEMANA DE CARNAVAL


Estamos em plena semana do carnaval brasileiro - a maior expressão da nossa cultura popular.


Muita coisa mudou nos carnavais de tempos atrás até os nossos dias atuais.


Os antigos blocos carnavalescos desapareceram e deram lugar às riquíssimas e suntuosas Escolas de Samba.


O Brasil é de dimensões continentais e temos diversos tipos de carnavais.


No Rio de Janeiro e São Paulo os desfiles das Escolas de Samba são realizados nos sambódromos que são “passarelas do samba”.


Foram idealizados pelo antropólogo, intelectual, professor e político Darcy Ribeiro.


Também introduziu a palavra sambódromo à nossa língua portuguesa.


O do Rio de Janeiro foi construído no primeiro governo de Leonel Brizola para o carnaval carioca na Avenida Marquês de Sapucaí zona central do Rio de Janeiro, em 1984, há quase trinta anos.


Ganhou o nome de “Passarela do Samba Professor Darcy Ribeiro”.


O sambódromo do Anhembi em São Paulo foi construído em 1991.


Disputa com o Rio de Janeiro a primazia dos desfiles das luxuosas escolas de samba no Brasil.


Depois surgiram sambódromos em Florianópolis, Vitória, Santos, Porto Alegre e Manaus.


O carnaval de rua também é muito festejado em Salvador e Recife.


O carnaval de Salvador é realizado pelos “Trios Elétricos” puxados por artistas-cantores famosos.


Algumas pessoas alugam vagas em seus camarotes para personalidades brasileiras e estrangeiras.


Na Bahia o povo com “abadas” que são fantasias vendidas segue atrás dos seus trios elétricos preferidos.


É o mais longo e antigo carnaval do Brasil.


Tem a duração de aproximadamente, uma semana de desfile e demora oficialmente uma semana de desfile na rua.


Em Recife, a terra do frevo, todos dançam esse ritmo acompanhados com uma sombrinha, parte importante da coreografia da música.


Não há como dançar o frevo sem pensar nas sombrinhas!


Na quarta-feira de cinzas o espetáculo do encerramento do carnaval fica por conta dos “Bonecões de Olinda”.


O “Bloco do Batata” é o mais tradicional do carnaval pernambucano.


O carnaval se transformou em uma festa cara, sofisticada e tecnologia, ao alcance de poucos.


O carnaval este ano em Cuiabá será distribuído em três pontos históricos e populares diferentes: na Praça da Mandioca, na Praça 8 de Abril e no Calçadão da Ricardo Franco.


Com atrações variadas e em dias diferentes.


Os locais foram escolhidos pelo poder público da capital que garante segurança e de forma gratuita aos foliões.


O desfile das nossas Escolas de Samba está programado somente para o carnaval do ano que vem.


Na Cuiabá de antigamente tínhamos os blocos dos mascarados (frequentado pela minha mãe), dos sujos e dos diversos bairros da capital.


O corso carnavalesco também era muito popular em Cuiabá.


Surgiu no carnaval de 1907.


Era um desfile de carros abertos e ornamentados que circulavam pelas ruas da cidade.


As moças, geralmente fantasiadas, desfilavam em cima dos carros e jogavam confete, serpentina e esguichos de lança perfume nos outros carros e no público.


Havia também as Escolas de Samba, a maioria era do bairro do Porto e Várzea Ana Poupina, comandada por Nhozinho e Chupapaia, naquela época policiais civis.


À noite em todos os clubes recreativos, havia animados bailes carnavalescos à fantasia.


Quando reitor da nossa universidade federal criei a “Escola de Samba Mocidade Independente Universitária”.


Foi vencedora de todos os desfiles que disputou, e hoje não existe mais.


Quando fui estudar no Rio, os desfiles carnavalescos aconteciam na avenida Rio Branco.


Depois foi para a avenida Presidente Vargas e Sambódromo da Marquês de Sapucaí.


Assisti a um desfile num badalado camarote VIP da Sapucaí como convidado.


Foi o primeiro e último.


O desfile é demorado, cansativo e todas as escolas apresentam enredos e sambas diferentes, porém, similares.


O bom negócio do carnaval é vender o espetáculo para as televisões.


Mais de cento e cinquenta países compraram e assistiram o nosso último carnaval, com as suas lindas mulheres quase nuas.


Assim passarei o próximo carnaval, em casa com a TV desligada.


Gabriel Novis Neves

19-02-2023