sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

EDUCAÇÃO AFETIVA CONTIDA


Desde muito criança sinto enormes dificuldades em expressar por palavras e atos os meus sentimentos afetivos.


Nunca consegui vencer essa barreira, e até hoje sou assim.


Acho que o problema foi produto da minha educação caseira.


Nunca ouvi o meu pai dizer uma palavra amorosa a minha mãe, e ela a ele.


Mantinham um relacionamento educado, amoroso, de companheirismo solidário, mas não com carinhos explícitos.


Não me lembro de ser abraçado ou beijado pelo meu pai.


Existia muito amor em minha casa, mas nunca ouvi alguém dizer a palavra amor ou te amo.


Muito menos vi os meus pais acariciarem ou ninarem seus filhos, embora os amassem muito.


A minha mãe me beijava, mas era muito econômica nas suas falas e gestos sentimentais.


Percebia os momentos de felicidade dos meus pais, nunca externados em palavras.


Nossas conquistas na educação eram recebidas como obrigação, e na ocasião sempre éramos lembrados que a luta continuava.


Como primogênito, tive a oportunidade de acompanhar esse tratamento afetuoso e amoroso, porém silencioso dos meus pais com os outros meus irmãos.


O mais afetuoso dos filhos era o Olyntho, que mesmo depois de rapaz dormia na cama de casal abraçado com o meu pai.


Mamãe dormia na rede no mesmo quarto.


As mulheres naquela época tinham como costume, cumprimentarem as amigas encostando o “rosto no rosto. ”


Esse gesto feito pela minha irmã mais velha de tão forçado, era muito feio.


Pedi que mudasse esse cumprimento público para o tradicional aperto de mãos.


Não me lembro de ter beijado o meu pai e ser beijado por ele.


Minha mãe até velhinha, me beijava e me tratava pelo carinhoso apelido da minha infância que era Beleo.


Sei que dei muitas alegrias a eles.


Nosso tratamento era “seco”, com muito amor, sem adjetivos ou gestos carinhosos.


Já adulto minhas namoradas e futura esposa reclamavam desse tipo de tratamento sem carinho adjetivado.


Somos nove filhos e todos temos essa característica de “inibição afetiva. “


Interessante que os quatro filhos homens, casaram-se com moças cariocas, caracterizadas por abusar de explicitar seus sentimentos amorosos.


Um deles, o Inon, se rendeu a esposa carioca.


Alterou até a sua pronúncia cuiabana pelo chiado das cariocas.


Também só a chamava de amor e amorzinho, inadmissível para mim.


Vez ou outra chamava de meu bem ou benzinho.


Sofri muito com essa educação contida.


Sorte que elas liam o meu coração e me perdoavam, embora me tratasse de amor, meu amor.


Até hoje tenho dificuldade de comunicação amorosa com meus filhos e netos.


Mudei com os bisnetos, pois não merecem um tratamento convencional de um biso.


Mas, é tarde para corrigir o meu passado.


Amor é fazer e desejar sempre o bem para as pessoas, não esperando nunca a recompensa, às vezes material.


Não há mais tempo de retornar uma mensagem recebida, tratando a pessoa de meu amor, querida, te amo.


Acho que meus pais descobriram muito cedo, que esses termos amorosos eram fakes e não durariam.


Hoje as pessoas se chamam por um simples oi, que veio para ficar.


Gabriel Novis Neves

26-01-2023




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