terça-feira, 30 de abril de 2013

RETROCESSO


Se há um impossível de se ignorar, por ser a paixão do nosso povo, é o futebol.
Após a conquista do pentacampeonato na Coréia do Sul e, apesar de todos os esforços dos nossos patriotas torcedores, insuflados pelo interminável, e ganhador de todos os prêmios de “simpatia esportiva” - o locutor chefe da emissora do plim-plim -, não há como esconder, no mundo globalizado de hoje, são fortes os traços de decadência no esporte no qual já fomos os melhores do mundo.
Os campeonatos nacionais dos melhores países nesse esporte são transmitidos ao vivo, a cores e em tempo real para todo o mundo.
O abismo técnico entre os chamados grande times brasileiros e os europeus, principalmente, não se discute.
Os do velho continente são infinitamente superiores, produzindo o espetáculo arte sempre em estádios lotados de torcedores.
A nossa seleção canarinho, outrora invencível, virou saco de pancadas, inclusive para seleções de países onde o futebol não é o esporte preferido da multidão.
O nosso penta Rivelino, criador do drible mais lindo do mundo e que tinha um canhão nos pés, tal a potência dos seus chutes, após assistir ao jogo do Brasil contra a modesta seleção do Chile - onde a grande especialidade é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o combate à corrupção - comentou que “sentiu dó” da seleção.
Estamos em queda livre no futebol, saúde, educação, tecnologia, inovações, segurança, infraestrutura, cidadania, qualidade de vida e outras conquistas sociais e econômicas do mundo competitivo.
Aconteceu com o nosso outrora incomparável futebol o mesmo processo biológico que acompanha os seres humanos, onde “só a vida existe e a morte acontece”.
Terminou motivado pela combinação de múltiplos fatores a vida do nosso futebol.
Interesses políticos, poder, corrupção, mercantilismo, são fatores incompatíveis com a arte.
Assim finalizou melancolicamente a vida do nosso futebol. Suas cinzas são veladas nos campeonatos regionais e nacionais com estádios vazios.
Para os meus netos embalo a seguinte historinha para fazê-los dormir:
Era uma vez um país pentacampeão do mundo de futebol, transformado em sede de torneios internacionais do esporte predileto do povo brasileiro.

Gabriel Novis Neves
25-04-2013

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Números


Os números são produtos altamente manipuláveis.
Eles são conduzidos a resultados do interesse de quem os manipulam. Políticos e marqueteiros são especialistas nessa “arte”. É uma forma elegante de mentir e iludir os distraídos e apaixonados, sempre cegos.
Os números não falam, existem. O proprietário deles é que lhes dão vida.
Jogados na mídia, seus efeitos são inesperados e surpreendentes, podendo ser positivos ou negativos.
Quando interpretados com atenção, seus resultados são, na maioria das vezes, devastadores.
Na área em que mais tenho intimidades profissionais - a saúde - esses números transformam calamidades em eficiência do poder público.
Números relatando atendimento em um posto de saúde não significam consultas realizadas, e sim, presença no local de pacientes, muitas vezes encaminhados a outros setores.
Entretanto, fica registrado que ali receberam atendimentos. E assim, os pacientes vão percorrendo a sua Via-Sacra. Muitos voltam para casa como mais um número para as estatísticas, mas, na verdade, não conseguiram atingir seu objetivo – a consulta médica.
Esses relatórios, divulgados na produtividade do mês, produzem a falsa gestão modelo, massacrada pelas campanhas publicitárias pagas pelos contribuintes.
Outro exemplo nessa mesma área de saúde: contrata-se médicos e divulga-se apenas o seu número, omitindo as reais necessidades.
Esconde-se o número de vagas existentes por motivos de desinteresse profissional, falta de condições de trabalho, salários ridículos, politicagem e outros.
A população que paga impostos tem a impressão que o setor foi reforçado, visando o oferecimento de um serviço de melhor nível, quando, na verdade, apenas peças de reposição foram feitas.
Tanto isso é verdade que a camada social utilitária desses trabalhos, continua com os mesmos problemas para conseguir usufruir de um direito constitucional, que é a saúde de qualidade, dever do Estado brasileiro.
A manipulação de números sobre os mais diversos aspectos da nossa economia é um hábito cultural.
Faltam com a verdade, sem sentimentos de culpa. Tudo pelo poder é válido, defendem os pragmáticos.
Cuiabá, neste momento de grandes obras para a Copa do Mundo, é um exemplo de como se trabalhar com números, transformando os mais desfavoráveis em motivos de alegria.
Sinto, conversando com a gente humilde da minha cidade, certa preocupação com os números otimistas que tomaram conta do mundo oficial, tão distante da realidade do nosso trabalhador.
Se esses números que circulam pelas publicações oficiais fossem confiáveis, não seríamos esse povo que sofre.
Ah! Como mudam de cores esses fantásticos números chapas brancas, para a desilusão da nossa honesta e trabalhadora gente.

Gabriel Novis Neves
26-04-2013

domingo, 28 de abril de 2013

ENCENAÇÕES


Inúmeras são as vezes em que, nos nossos delírios criativos, teríamos condições palpáveis para produzir peças teatrais que, se encenadas, teriam grande sucesso.
Durante ao longo de nossas vidas situações surreais vão se apresentando, de tal maneira frequentes, que até mesmo os mais incrédulos vão se emaranhando na sua estranheza.
Vemos-nos, não raramente, obrigados a descobrir paciência e ironia no meio de fatos e pessoas que, em condições normais, nos levariam à exasperação e ao repúdio.
Entretanto, como fomos mal educados no quesito tolerância - causas de tantos dissabores - vamos sendo treinados desde muito jovens a conviver com a hipocrisia e com o desamor, como se esses sentimentos fossem os pilares para a formação de seres equilibrados para o convívio social.
Assim, nos tornamos hábeis em encenar os mais glamorosos momentos, sejam eles cômicos ou maquiavélicos ou, até mesmo, trágicos, através do nosso Shakespeare de plantão.
Sempre que nos sentimos cercados por caminhos aparentemente de difíceis saídas, apelamos para o nosso lado irônico e começamos a debochar de nós mesmos, aliás, uma grande válvula de escape.
Percebemos, como senhores de nós mesmos, que permitimos, por alguma razão - talvez de carência - que outras pessoas tomem as rédeas de nossos destinos.
Sim, porque ninguém nos impõe nada, nós simplesmente deixamos acontecer. Somos permissivos.
A encenação da eficiência dos nossos governantes é um ato de violência a todos os brasileiros encefálicos, especialmente àqueles que lutaram pelo bem estar da coletividade.
Os estudiosos são os que mais sofrem nesses momentos em que o Estado procura tutelá-los ou, como se faz aqui em Mato Grosso, amontoá-los nos currais.
Essa apostila do programa ‘Qualifica Mato Grosso’, destinada a “instruir” motoristas, garçons e outros trabalhadores para a Copa do Mundo, é imoral e inaceitável, a não ser em palco de circo.
Foi a maior encenação de ensinar deste início de ano no nosso Estado.

Gabriel Novis Neves
18-04-2013

sábado, 27 de abril de 2013

Aposentadoria


Muita gente pensa que na aposentadoria vai descansar e usufruir o bom da vida. Mas, após alguns dias, se estrepa.
Esquece que o trabalho é também um hábito de difícil descondicionamento.
Na minha idade já me aposentei meia boca, pois sei que mudar de hábito é perigoso.
Ninguém em condições perfeitas de saúde física e emocional consegue suportar um corte violento nos seus afazeres diários e se acostumar a ficar em casa bestando e sem ter o que fazer.
Para ficar calmo o aposentado tem que ser, no mínimo, síndico do edifício onde mora.
Recomendo essa função, que produz aborrecimentos o dia todo, para a prevenção da Doença de Alzheimer.
O idoso perde milhares de neurônios diariamente e, para repô-los, a indicação é estimular a fabricação de novos.
Nada melhor que uma contrariedade permanente de intensidade forte.
É o santo remédio.
O aposentado sofre descriminação dos mais jovens, que o julga como uma espécie de trânsfuga, merecedor de repulsa, especialmente pelos seus colegas de trabalho da ativa.
Então, o ex-servidor ou profissional liberal, agora aposentado, começa a fazer o supermercado, frequentar a feira, passear com os netos e, principalmente, ficar em casa.
O velho parece pijama, banco de praça, bengala, chapéu e jornal na banca.
Quando tira férias ninguém acredita. Pensam em ausência para tratamento de saúde.
Na vida é preciso saber subir e também saber cair.
Aposentadoria é coisa complicada.
Tem que se preparar para atividades alternativas.
O grande perigo que ronda a vida do aposentado é ser transformado em moleque de recados, babá dos netos, contínuo da mulher.
É um excelente companheiro para carregar compras.
Quase todo o seu tempo é destinado a realizar obrigações domésticas.
Cuida da cozinha, limpeza da casa, manutenção dos eletrodomésticos, jardim, animais pequenos e o pagamento dos inúmeros tributos para viver com dignidade.
Enfim, considero a aposentadoria como ela é uma conquista indesejável.
“Nada há pior que gente vadia - ou aposentada, que é a mesma coisa. O tempo cresce e sobra, e se a pessoa pega a escrever, não há papel que baste”, já dizia Machado de Assis.

Gabriel Novis Neves
19-04-2014

sexta-feira, 26 de abril de 2013

PAC


Depois de prolongado silêncio provocado pela total paralisação das suas obras aqui em Cuiabá, eis que o PAC ressurge, gloriosamente, no encontro dos prefeitos de Mato Grosso com a Ministra do Planejamento.
Para quem deseja conhecer o significado de PAC, vai aqui a tradução: “Programa Abuso de Continuidade”.
Tanto os recursos do PAC I, como os dos PAC II, sempre chegaram com reduzida quantidade para suprir as necessidades contratuais.
Vários fatores são alegados para o desaparecimento das liberações dos recursos desses Programas.
A má gestão de muitos prefeitos, a demora na liberação dos mesmos - onde o critério sempre foi político e não técnico - e os cortes produzidos pelo Governo Federal em todo o Brasil para os seus diferentes programas de investimentos, principalmente o básico.
Em dia de festa na reunião com os cento e quarenta e um prefeitos do Estado, houve promessas de recursos. Já estamos em campanha eleitoral e promessas fazem parte do cardápio.
A Ministra deixou claro que a Prefeitura de Cuiabá só poderá receber recursos desse velho programa, como dos novos, se estiver adimplente com o Governo Federal.
Essa advertência deveria servir a todos as prefeituras brasileiras. Porém, existem exceções concedidas aos Estados de forte representatividade política, o que não é o nosso caso.
Aí começa a desaparecer a esperança para novas captações, pois a nossa prefeitura, como a maioria das brasileiras, está quebrada e devendo explicações ao Ministério do Planejamento e ao Tribunal de Contas da União (TCU).
Se não existir um ato político de anistia geral, ampla e irrestrita dessas dívidas passadas, continuaremos a ver navios.
Enquanto isso, o Governo Federal faz média com os prefeitos, dando a entender que não faltarão para eles recursos federais.
Até quando comportamentos desse tipo serão aceitos?
Muitas das obras desses Programas tiveram o seu cronograma paralisado por falta de liberação dos tais recursos existentes em Brasília no prazo determinado.
A reunião foi toda orquestrada visando a reeleição da Presidente. E o estribilho era um claro chamamento à prorrogação do mandato governamental.
“O Governo da Presidente está cumprindo com a sua meta de dotar o país das condições para a sua consolidação como nação desenvolvida, disse a Ministra aos prefeitos de Mato Grosso”.
Até parece.

Gabriel Novis Neves
20-04-2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A CARA


Nosso prefeito colocou como prioridade deste seu mandato melhorar a saúde pública de Cuiabá.
Certíssimo na escolha da prioridade.
Ele tem demonstrado com ações que fará tudo para construir um novo Hospital de Pronto Socorro para as urgências e emergências e Alta Complexidade.
Seu primeiro ato público, após a sua posse, foi visitar o sucateado hospital.
Depois se deslocou até Brasília para sensibilizar o Ministério da Saúde para a importância da obra.
A insuportável injustiça tributária, onde todo o esforço nacional é sequestrado pelo governo federal, obriga o prefeito a essas situações.
Quase setenta por cento do que arrecadamos ficam nos cofres do Tesouro Nacional, e a sua distribuição é realizada segundo critérios políticos do dono do cofre.
O prefeito sabe perfeitamente que sem o aval do governo federal e um empurrãozinho do Estado, jamais esse projeto sairá do papel.
Irá como tantos outros povoar o paraíso dos nossos sonhos.
Mesmo viabilizando esse projeto, que é uma necessidade para a nossa cidade e para o Estado, ele terá uma paternidade bastante discutida.
O empenho é do prefeito, porém os recursos maiores serão federais, e um tantinho estadual.
Quem trabalha com saúde pública - principalmente os prefeitos -, sabe que só terá a sua marca registrada por este setor e, assim, ser a cara da saúde, se tiver competência para resolver os problemas na sua atenção primária.
Atenção primária da saúde é da responsabilidade do prefeito.
A atenção secundária e a terciária são executadas em verdadeiras sociedades, com recursos federais, estaduais. A gestão é do município. 

Política no Brasil está muito relacionada a gigantescas obras físicas e de grande visibilidade, mesmo que o seu destino seja se transformar em luxuosos elefantes brancos, quando não em esqueletos.

Aqui encontramos materializados esses dois exemplos.
Um dorme no CPA há mais de trinta anos. Outros estão no Bairro do Verdão.
Poucos prefeitos têm a percepção do verdadeiro papel do município no Sistema Único de Saúde (SUS), que é cuidar dos Programas de Saúde da Família (PSF).
Devem construir unidades para o PSF com alta resolutividade, presença de equipes multidisciplinares e apoio laboratorial, tanto de bioquímica como de imagens.
Alguns pacientes necessitarão de um atendimento de urgência e emergência, mas toda a população de um município sempre precisará cuidar da sua saúde.
O local desse procedimento é exatamente em um PSF, feito para funcionar bem.
Aqui na nossa cidade, se o prefeito investir nos sessenta e cinco PSFs existentes, dando-lhes condições humanas e materiais para que a população readquira a confiança nesses programas, o resultado logo será percebido nas pesquisas de opinião.
Isso não significa desistência do projeto do novo Pronto Socorro, que só será entregue à população daqui a quatro anos.
Esses anos serão suficientes para que o prefeito, ao final do seu mandato, entregue à população carente, que é a mais numerosa, a esperança por uma saúde melhor e de qualidade.
Ainda irá desafogar o fluxo de pacientes para as policlínicas e, principalmente, para o Pronto Socorro.
O PSF é a cara do prefeito.
Um bom trabalho nesse segmento, onde os investimentos não são altos, consagrará o seu mandato, garantindo-lhe a reeleição por quase unanimidade, já que a saúde pública é prioridade de todos.

Gabriel Novis Neves
16-04-2013 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Vacina


Procurei o posto de saúde do bairro em que trabalho para me vacinar contra a gripe.
Oportuno lembrar que essa vacina foi fabricada com os vírus que nos atacaram há dois anos.
Esses vírus sofrem constantes mutações e, por essa razão, entre outras, uma pessoa vacinada poderá contrair essa chata doença, que não tem tratamento específico.
No postinho - nome carinhoso para as Unidades de Atenção Primária de Saúde, - chamou a minha atenção a ausência de pacientes para consultas de rotina e somente dois para a vacinação.
Aproveitei a tranquilidade do ambiente para conversar com o médico responsável. O seu companheiro (médico residente) tinha se ausentado por estar com a tarefa concluída, imagino.
Recebi uma verdadeira aula prática, atualizada e real da situação precária da nossa saúde pública, que não é diferente do resto do país.
Muitos dos atuais prefeitos têm conhecimento de que o SUS funciona em três grandes níveis de atendimento, com complexidade crescente.
O primeiro, mais amplo e mais importante, é o da Atenção Primária de Saúde, onde estão distribuídos os PSF com a sua ação preventiva.
Também fortalece esse trabalho os Centros de Saúde.
Recentemente o governo federal criou o PROVAB (Programa de Valorização de Atenção Básica), com dois objetivos.
Preencher as vagas existentes com os médicos recém-formados e oferecer créditos para o ingresso em um curso de Residência Médica. Recebem uma bolsa cuja duração é de um ano, podendo ser prorrogada por mais um.
A carga horária dos médicos do PROVAB é de trinta e duas horas semanais, para que tenham tempo de se prepararem para as provas da residência médica.
O valor da bolsa é de oito mil reais mensais.
Nosso município possui três PSFs (Programa Saúde da Família) para atender a zona rural (Guia, Rio dos Peixes e Aguaçu). Cuiabá tem sessenta e cinco PSFs, sem autonomia para realizarem um atendimento com terminalidade.
Seus médicos possuem perfis, cargas horárias e vencimentos diferenciados.
As equipes da atenção primária de saúde só encontram dificuldades para desempenharem com eficiência as suas tarefas.
A estrutura física é inadequada: faltam biombos, lençóis, as torneiras estão enferrujadas, os telhados arrebentados, falta espaço para o trabalho e até material para simples exames e medicamentos.
As mulheres que dependem do PSF para um exame de prevenção do câncer de colo uterino, fogem do posto, pois os mesmos, na sua maioria, não lhes oferecem condições de dignidade para a coleta do material.
É triste saber que isso acontece na cidade da Copa.
Os recursos nunca são suficientes ao ponto cruciante, que é a atenção primária.
O segundo nível de atendimento é a Atenção Secundária de Saúde, destinada a resolver os problemas de média complexidade. Para auxiliar nessa tarefa, recentemente foram criados as UPAS, que são unidades de Pronto Atendimento, não atendendo a alta complexidade. Muitos não trazem resolutividade para a baixa complexidade.
Nós temos uma UPAS ainda em construção, e outra em discussão. Programada pelo governo federal mais duas.
As policlínicas deveriam dar terminalidade aos problemas básicos da saúde, encaminhando ao Pronto Socorro apenas os casos de alta complexidade.
Temos seis policlínicas, todas desfalcadas de recursos humanos e materiais. Funcionam quase como passagem para o Pronto Socorro.
O terceiro nível atende a saúde terciária. É o pico da pirâmide, onde temos o hospital do Pronto Socorro.
Já os médicos das policlínicas e do hospital do Pronto Socorro têm salários e cargas horárias de acordo com a sua especialidade.
Eles já perceberam que sem uma priorização da rede básica, pouco resolverá a construção de um novo Pronto Socorro.
Casa de taipa com cobertura de vidro não transmite segurança ao seu usuário.

Gabriel Novis Neves
16-04-2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

MENTIRINHA


Quando um político está descontente com o partido que o elegeu procura o mais rápido possível deixá-lo por outro que lhe ofereça melhores prendas.
Sem a menor cerimônia faz uma consulta prévia ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para ter certeza que não perderá o seu mandato.
Por si só, essa conduta é uma ofensa aos bons princípios, pois o mandato pertence aos partidos, e não, aos eleitos.
Enfim, essa lei da fidelidade partidária veio para frear um pouco a sem-vergonhice de pula-pula de partidos, tudo por vantagens pessoais.
Muitos políticos, em várias eleições, nunca se reelegeram pela mesma agremiação partidária.
Na verdade, a política é uma grande empresa de negócios, onde existem inúmeros produtos.
Falar em ideologia, ideal, vocação para a vida pública, é piada das boas nesse mundo de interesses pessoais e negócios inexplicáveis.
Quando as portas mais confortáveis estão fechadas para determinadas ovelhas, elas criam os seus próprios partidos.
Neste momento, estamos assistindo ao nascimento de um novo rebento, embora o governo faça tudo para abortá-lo.
É um conglomerado de gente rodada pelos mais diversos partidos existentes no mercado, e que procura o seu ponto de sucesso.
“Arca de Noé” fica como sugestão para ajuntamento de descontentes, que sempre existirão em todos os desestruturados partidos existentes na praça.
O que menos preocupa aos trânsfugas é como ficarão os seus correligionários, aqueles militantes que enfrentaram o bom debate com o adversário, e hoje, prováveis aliados.
Por favor, não venham me justificar tais atitudes com essa história de que os meios justificam os fins.
Pureza ideológica nós encontramos nos torcedores de futebol, onde jamais um flamenguista mudará para vascaíno.
Um país sem ideias é um país estéril, onde só vigorará seres produtos de inseminação artificial, quando a fisiologia é substituída pela mentirinha.
Diante desse quadro de imaturidade política, resta-nos o silêncio covarde e reprovador.
O pior é que temos que dizer que tudo vai bem no país da mentirinha.
Para ser popular, que é o caso do político, “tem que ser medíocre”.

Gabriel Novis Neves
27-03-2013

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Blindagem


O termo em si nos arremete, prioritariamente, a armamento pesado e guerra. Isso até há algum tempo atrás.
Atualmente, de imediato, associamos o termo à política escusa vigente em nosso país.
Práticas políticas pouco transparentes, e a perda cada vez maior de posturas éticas, vêm fazendo com que seus praticantes, aliás, em grande número, se preocupem com a blindagem no tocante à opinião pública.
Com relação aos sentimentos, a blindagem progressiva que vem ocorrendo nada mais é do que um aprofundamento do embotamento afetivo ocorrido no mundo pós-moderno.
Imagino que o termo sofrimento, que tanto inspirou nossos poetas em eras não tão distantes, esteja sendo proscrito do nosso dia a dia.
Não só drogas poderosas são usadas como antídoto, mas também a propalada atitude de alegria perene vinculada nas diversas mídias. Ambas igualmente perigosas.
É impressionante a tentativa subliminar, e atualmente nem tanto, de impedir que nos entreguemos aos nossos verdadeiros sentimentos.
O sofrimento é válido na medida em que nos permite, através dele, exorcizar todas as nossas mágoas e assim metabolizar todas as enzimas prejudiciais por ele geradas.
Impossível querer impedir o livre escoamento das emoções, e muito menos blindá-las.
Como se já não bastasse, “arrebentar”, “detonar”, “arrasar”, “bombar”, símbolos atuais de sucesso, também agora estamos nos acostumando a tudo “blindar”, inclusive a nós mesmos.
Que tristeza, não?
Será essa a solução para um mundo melhor?
Tudo leva a crer que não, uma vez que as doenças só fazem aumentar, apesar do grande desenvolvimento tecnológico.
As drogas inundaram as grandes cidades, a fome continua dizimando países e a guerra é uma ameaça constante para a humanidade.
Altas potências se preocupam no momento em “blindar” os seus territórios.
Círculo vicioso de difícil desmonte.

Gabriel Novis Neves
01-04-2013

domingo, 21 de abril de 2013

MANEQUIM


De uns anos para cá, na dificuldade de utilizar cadáveres humanos para as aulas práticas de anatomia, a academia vem recorrendo ao uso de manequins.
Hoje, grande parte do material dos laboratórios anatômicos é produzido com impressionante perfeição pela indústria.
Com relação às práticas com pacientes vivos nos Hospitais Universitários, os professores realizam os procedimentos ambulatoriais, de enfermaria e no Centro Cirúrgico sempre orientando seus alunos e depois lhes auxiliando.
Há muito cuidado com a segurança desses pacientes, que em ato de extrema generosidade, muitas vezes nem percebem o benefício que estão prestando à humanidade.
Geralmente são os pobres os mais sensíveis a esse ato de doação.
Durante a minha longa vida profissional esse foi o cenário do meu trabalho.
Impressionava-me o despojamento do paciente na formação de nossos futuros médicos, sempre atentos à solidariedade na sua aprendizagem.
Recentemente tive o privilégio de ser sondado para participar de uma aula prática para profissionais na área de saúde. Eu seria o objeto de estudo.
Aceitei o convite. Após duas horas de aula desta experiência primeira, sugiro a todos que tiverem esta oportunidade de socializar conhecimento, que não se neguem a esse chamamento.
É indescritível a sensação vivida pelo manequim humano. Impossível não se emocionar diante de uma classe de alunos ávidos pelo saber da cura, entregar-lhes a sua patologia e corpo para ser transformado em terapêutica para muitos.
Aquele silêncio diante da descrição do professor para os problemas a serem corrigidos e a atenção transmitida pelos olhares fixos e umedecidos dos jovens, me fez rever muitos pontos esquecidos na relação ensino-aprendizagem.
Nasce nesse momento o tão reclamado humanismo no atendimento aos pacientes, especialmente aos portadores de lesões.
Deixei o local da aula prática pensando nos benefícios que um sofrimento traz de alívio a tanta gente.
Esqueci completamente as penosas e dolorosas aulas de fisioterapia.
Não há maneira mais gratificante, mesmo na doença, saber que estamos ajudando alguém a aprender, com manobras em seu corpo, técnicas modernas de reabilitação motora.
É chegada a hora de passarmos do discurso para a prática, ajudando o nosso próximo.
Só a solidariedade poderá nos colocar em condições de seres humanos.

Gabriel Novis Neves
04-04-2013

sábado, 20 de abril de 2013

Apostila


Certos fatos que acontecem neste Estado só mesmo uma inteligência superior para decifrá-los.
O assunto polêmico do momento são as cartilhas encomendadas pelo governo estadual a uma empresa privada e pertencente ao programa de capacitação “Qualifica Mato Grosso”.
Essa cartilha ou apostila foi feita com o objetivo de “instruir” a população sobre elementos da história de Mato Grosso.
Desprezo e despreparo são as marcas desse trabalho.
Povoam as suas páginas citações preconceituosas, agressivas, debochadas, verdadeiras ofensas intoleráveis e inaceitáveis aos municípios de Santo Antonio do Leverger, Poconé, Barão de Melgaço e Cáceres.
Palavrões são usados para denegrir a nossa história.
O complicado é entender porque um governo que possui uma excelente universidade (UNEMAT) recorra aos préstimos de uma empresa privada para a elaboração do documento feito para “instruir”.
Mato Grosso possui profissionais de competência reconhecida nessa área e que poderiam perfeitamente ser convocados para essa tarefa.
O governo do Estado não aprova as nossas instituições.
Qual o currículo dos empresários que detonaram, com sua sabedoria e eficiência, o saber das universidades, do Instituto Histórico, dos membros da Academia de Letras e tantos estudiosos do nosso passado?
Por isonomia fica esclarecida a privatização da nossa saúde pública. 
Por trás dessas linhas da apostila para “instruir” existe a intenção de privatizar a nossa cambaleante educação.
Triste constatação da nossa realidade.
Mais importante que descobrir o autor ou autores desse crime, é saber o critério usado para a escolha da empresa para a realização de um trabalho acadêmico.
Está claro que, além da grosseria com nossos municípios, o governo demonstrou que não confia em nossa educação.
Aguardemos as desculpas esfarrapadas que virão.

Gabriel Novis Neves
17-04-2014

sexta-feira, 19 de abril de 2013

CORRETO


Tudo está saindo como planejado nas obras da Copa do Mundo em Cuiabá.
Nesta terra todos sabiam, desde que a nossa cidade foi escolhida como uma das subsedes, que na reta final o cronograma das obras estaria inviabilizando as entregas em prazo útil para o mega evento.
Com precisão cirúrgica a execução foi correta.
As trincheiras principais, após quase dois meses sem nenhum operário trabalhando, motivaram o tão esperado chamamento de novas construtoras, que prometem cumprir os prazos apertadíssimos para a sua entrega. Tudo isso sem licitação.
Evidente que o valor das obras aumentou, oficialmente, 10% daquele licitado. Ninguém por aqui ficou surpreso, pois o fato de há muito era esperado.
Outro grande legado modal, que é o moderníssimo VLT, o Ministro dos Esportes, no programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo, explicou que essa obra não é para a Copa do Mundo.
Nossos dirigentes insistem em contrariar o Ministro, garantindo que nos primeiros dias do próximo ano o novo sistema de transporte coletivo estará em teste.
O Verdão precisa urgentemente de aditivos em suas obras, pois o presidente da FIFA estará por aqui no início do próximo mês dando uma de São Tomé – ver para crer.
O Secretario Geral da entidade máxima do futebol mundial foi veemente na Suíça, afirmando que o prazo último da entrega da Arena Pantanal para os jogos da Copa será no dia 31 de dezembro deste ano.
“Bejô, bejô, quem não bejô, não beja mais”, cutuca o cuiabano.
Nada abala a opinião pública, porque o atraso que estamos assistindo em relação ao legado da Copa estava previsto há dois séculos, como diria Nelson Rodrigues.
Enfim, não acredito nos profetas do atraso e naquilo que os meus olhos veem.
Todas as obras e obrigações do caderno da FIFA estarão concluídas e entregues nos prazos previstos.
Com relação à majoração dos preços das obras, é outro assunto.

Gabriel Novis Neves
10-04-2013

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Queria entender


Quando havia programas humorísticos na televisão, lembro-me de um quadro que terminava sempre com o seguinte bordão: “Eu só queria entender”.
Essa é a minha situação no momento, e acredito ser também a de milhões de brasileiros.
O país está paralisado discutindo dois assuntos: o novo casamento da Daniela Mercury com uma jornalista e apresentadora de TV e o caso do pastor Feliciano na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
A cantora está na curva descendente da sua carreira, precisando de forte mídia para não ser esquecida.
O tal do pastor foi eleito por seus colegas para a dita Comissão, e chegou ao Congresso Nacional montado em mais de duzentos mil votos.
Enquadra-se perfeitamente no perfil dos seus colegas e pertence à base de sustentação política do governo de trinta e nove ministérios, por enquanto.
Sua eleição para a Comissão foi visando tempo de televisão do seu partido e, principalmente, a captura dos votos dos seus crentes.
Tudo feito e combinado tendo em mira a reeleição da presidente, que para atingir seu objetivo de permanecer mais uma temporada no Alvorada, já declarou que faz negócio até com o demônio, inimigo do pastor.
Quando tenho tempo, antes de dormir, não deixo de dar um passeio pelos inúmeros canais de TV que transmitem os cultos religiosos.
Como é fácil abrir uma igreja no Brasil! Mais simples ainda é arranjar os dízimos para comprar uma estação de TV ou  horas de programação em horários nobres, e naqueles nem tão nobres assim.
Em todas as religiões os dogmas estão presentes. “Os princípios dogmáticos são crenças básicas pregadas pelas religiões, que devem ser seguidas e respeitadas pelos seus membros sem nenhuma dúvida”.
Entretanto a proliferação dessas crenças chega a assustar - o que é um sinal evidente que há um enorme mercado consumidor para a aquisição da fé.
O cenário dos programas e os conteúdos colocados à disposição do público são sempre os mesmos:
O pregador à frente do público falando aos gritos e enfaticamente, com a intenção clara de emocionar os fiéis. Além disso, os pregadores se utilizam de ingredientes que fogem do normal: milagres, sinais, prodígios, exorcismos e curas.
Todos esses benefícios são possíveis pela generosa doação dos dízimos.
Inúmeros obreiros são treinados no recebimento “espontâneo” dessas doações, cobradas repetidas vezes durante o culto.
O pastor Feliciano repete exatamente aquilo que outros colegas de igrejas, de nomes diferentes, pregam, e não são incomodados.
É um pai caridoso que alerta os seus milhares de seguidores para cumprirem em dia com os seus deveres religiosos para o bem deles.
Um atraso no pagamento poderá anular uma graça recebida.
Lembra que na sua igreja há muita gente que deu calote em Deus e arcou com as consequências.
Diante dos inúmeros protestos, com movimentos de rua, manifestação de artistas e intelectuais contrários a sua presença na Comissão da Câmara dos Deputados - em um país tão injusto socialmente, onde a educação e a saúde de péssima qualidade oferecida pelo governo aos pobres não sensibiliza ninguém - e, diante da insignificância do pastor agora famoso, fico a lembrar do bordão.
E como ficam os outros presidentes de Comissões condenados por crimes contra o patrimônio público e condenados pelo Supremo Tribunal Federal?

Deixo claro que jamais votaria no pastor, para deputado federal e muito menos para a presidência de qualquer comissão.

Também nada a censurar sobre o casamento da cantora baiana.
Eu só queria entender o que está acontecendo no Brasil.

 “É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas." (Walter Willians).


Gabriel Novis Neves
08-04-2013