O Ministro da Saúde lançou
mais um factóide nesse período pré-eleitoral.
Estamos cansados de saber
que os maiores problemas da nossa saúde pública são a falta de investimento e
vontade política para resolver essa situação de agressão aos direitos humanos
dos brasileiros.
Pois bem. Em pleno 1º de
abril sua excelência resolve lançar - com toda a pompa que um funeral de
primeira classe oferece - o luxuoso “Programa Nacional de Segurança do
Paciente”.
Esse programa, como tantos
outros lançados ultimamente pelo Ministério da Saúde, não vai vingar. Vai
morrer por inanição financeira.
Ele exige investimentos de
infraestrutura em serviços hospitalares e treinamento continuado das equipes de
saúde. Isso tem um custo, e não é baixo, especialmente na rede assistencial
brasileira, totalmente sucateada.
O bem humorado ministro,
que é infectologista, disse à seleta assistência que os médicos deveriam se
espelhar nos cuidados dos nossos aviadores de modernas aeronaves.
Tudo na aviação é feito
tendo como objetivo a segurança dos passageiros.
Esqueceu o ministro que
esses profissionais do transporte aéreo são muito bem remunerados, recebem
treinamento continuado durante toda a sua carreira, tem horas rigorosas de
trabalho e de repouso.
Além do mais, estão sempre
trabalhando com máquinas novas, de última geração e em constantes revisões
técnicas obrigatórias.
Muito diferente das
condições que o governo oferece aos seus médicos e equipes de saúde. O ministro
recomenda lavar as mãos antes de qualquer procedimento médico para a “Segurança
do Paciente”.
Mal sabe ele que grande
parte dos postos de saúde neste imenso território, sofre com a crônica falta de
água, muitas vezes cortada por falta de pagamento.
Que os espaços físicos destinados ao atendimento dos pacientes são inadequados,
e muitos são hóspedes das macas e do chão dos corredores dos chamados hospitais,
que são prédios caindo aos pedaços onde nada funciona.
Os equipamentos são
obsoletos ou parados por falta de dinheiro para a sua manutenção.
Não há medicamentos e a
limpeza desses locais é uma indignidade.
Essas são as condições
oferecidas aos trabalhadores da saúde de um modo geral.
Aqui em Mato Grosso, esse
“Programa Nacional de Segurança do Paciente” é a pêta do ano.
É possível exigir um
trabalho semelhante aos nossos pilotos quando um médico especialista, após mais
de quinze anos de estudos e renúncias, é convidado a trabalhar na rede pública
recebendo de salário bruto, depois atender duzentos e quarenta pacientes
mensais, cerca de um mil e quinhentos reais?
O cargo está vago.
Dificilmente o governo conseguirá contratar bons profissionais para tocar esse
projeto demagógico.
O serviço público no país,
onde não há falta de médicos, está recrutando médicos em Cuba e na Bolívia,
principalmente para tentar preencher seus cargos vagos.
Como exigir Segurança ao
Paciente em um Estado onde as OSSs receberam, para atender seis hospitais
regionais, cerca de quinze milhões de reais por mês ou cento e oitenta milhões
em 2012 quando, nesse período, o repasse da Secretaria Estadual de Saúde para
os 141 municípios mato-grossenses foi de apenas cento e cinquenta milhões de
reais?
Com essa merreca de
recursos é impossível investir em bons profissionais de saúde, oferecendo-lhes
condições dignas de trabalho com segurança ao paciente.
Nem pensar em atender as
condições mínimas exigidas pela Vigilância Sanitária, Conselho Regional de
Medicina e Ministério Público.
Propostas como esse
projeto de 1º de abril só servem para desmotivar ainda mais os trabalhadores de
saúde que respeitam os seus pacientes e sonham com uma saúde pública de
qualidade.
Enquanto isso, eles continuam
utilizando os hospitais privados de São Paulo.
Triste deboche com a nossa
boa e ordeira gente, que a tudo suporta.
Até quando, não sei.
Gabriel Novis Neves
02-04-2013
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