quinta-feira, 11 de abril de 2013

PÊTA


O Ministro da Saúde lançou mais um factóide nesse período pré-eleitoral.
Estamos cansados de saber que os maiores problemas da nossa saúde pública são a falta de investimento e vontade política para resolver essa situação de agressão aos direitos humanos dos brasileiros.
Pois bem. Em pleno 1º de abril sua excelência resolve lançar - com toda a pompa que um funeral de primeira classe oferece - o luxuoso “Programa Nacional de Segurança do Paciente”.
Esse programa, como tantos outros lançados ultimamente pelo Ministério da Saúde, não vai vingar. Vai morrer por inanição financeira.
Ele exige investimentos de infraestrutura em serviços hospitalares e treinamento continuado das equipes de saúde. Isso tem um custo, e não é baixo, especialmente na rede assistencial brasileira, totalmente sucateada.
O bem humorado ministro, que é infectologista, disse à seleta assistência que os médicos deveriam se espelhar nos cuidados dos nossos aviadores de modernas aeronaves.
Tudo na aviação é feito tendo como objetivo a segurança dos passageiros.
Esqueceu o ministro que esses profissionais do transporte aéreo são muito bem remunerados, recebem treinamento continuado durante toda a sua carreira, tem horas rigorosas de trabalho e de repouso.
Além do mais, estão sempre trabalhando com máquinas novas, de última geração e em constantes revisões técnicas obrigatórias.
Muito diferente das condições que o governo oferece aos seus médicos e equipes de saúde. O ministro recomenda lavar as mãos antes de qualquer procedimento médico para a “Segurança do Paciente”.
Mal sabe ele que grande parte dos postos de saúde neste imenso território, sofre com a crônica falta de água, muitas vezes cortada por falta de pagamento.
Que os espaços físicos destinados ao atendimento dos pacientes são inadequados, e muitos são hóspedes das macas e do chão dos corredores dos chamados hospitais, que são prédios caindo aos pedaços onde nada funciona.

Os equipamentos são obsoletos ou parados por falta de dinheiro para a sua manutenção.
Não há medicamentos e a limpeza desses locais é uma indignidade.
Essas são as condições oferecidas aos trabalhadores da saúde de um modo geral.
Aqui em Mato Grosso, esse “Programa Nacional de Segurança do Paciente” é a pêta do ano.
É possível exigir um trabalho semelhante aos nossos pilotos quando um médico especialista, após mais de quinze anos de estudos e renúncias, é convidado a trabalhar na rede pública recebendo de salário bruto, depois atender duzentos e quarenta pacientes mensais, cerca de um mil e quinhentos reais?
O cargo está vago. Dificilmente o governo conseguirá contratar bons profissionais para tocar esse projeto demagógico.
O serviço público no país, onde não há falta de médicos, está recrutando médicos em Cuba e na Bolívia, principalmente para tentar preencher seus cargos vagos.
Como exigir Segurança ao Paciente em um Estado onde as OSSs receberam, para atender seis hospitais regionais, cerca de quinze milhões de reais por mês ou cento e oitenta milhões em 2012 quando, nesse período, o repasse da Secretaria Estadual de Saúde para os 141 municípios mato-grossenses foi de apenas cento e cinquenta milhões de reais?
Com essa merreca de recursos é impossível investir em bons profissionais de saúde, oferecendo-lhes condições dignas de trabalho com segurança ao paciente.
Nem pensar em atender as condições mínimas exigidas pela Vigilância Sanitária, Conselho Regional de Medicina e Ministério Público.
Propostas como esse projeto de 1º de abril só servem para desmotivar ainda mais os trabalhadores de saúde que respeitam os seus pacientes e sonham com uma saúde pública de qualidade.
Enquanto isso, eles continuam utilizando os hospitais privados de São Paulo.
Triste deboche com a nossa boa e ordeira gente, que a tudo suporta.
Até quando, não sei.

Gabriel Novis Neves
02-04-2013

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