Quando
havia programas humorísticos na televisão, lembro-me de um quadro que terminava
sempre com o seguinte bordão: “Eu só queria entender”.
Essa
é a minha situação no momento, e acredito ser também a de milhões de
brasileiros.
O
país está paralisado discutindo dois assuntos: o novo casamento da Daniela
Mercury com uma jornalista e apresentadora de TV e o caso do pastor Feliciano
na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados.
A
cantora está na curva descendente da sua carreira, precisando de forte mídia
para não ser esquecida.
O
tal do pastor foi eleito por seus colegas para a dita Comissão, e chegou ao
Congresso Nacional montado em mais de duzentos mil votos.
Enquadra-se
perfeitamente no perfil dos seus colegas e pertence à base de sustentação
política do governo de trinta e nove ministérios, por enquanto.
Sua
eleição para a Comissão foi visando tempo de televisão do seu partido e,
principalmente, a captura dos votos dos seus crentes.
Tudo
feito e combinado tendo em mira a reeleição da presidente, que para atingir seu
objetivo de permanecer mais uma temporada no Alvorada, já declarou que faz
negócio até com o demônio, inimigo do pastor.
Quando
tenho tempo, antes de dormir, não deixo de dar um passeio pelos inúmeros canais
de TV que transmitem os cultos religiosos.
Como
é fácil abrir uma igreja no Brasil! Mais simples ainda é arranjar os dízimos
para comprar uma estação de TV ou horas de programação em horários
nobres, e naqueles nem tão nobres assim.
Em
todas as religiões os dogmas estão presentes. “Os princípios dogmáticos são
crenças básicas pregadas pelas religiões, que devem ser seguidas e respeitadas
pelos seus membros sem nenhuma dúvida”.
Entretanto
a proliferação dessas crenças chega a assustar - o que é um sinal evidente que
há um enorme mercado consumidor para a aquisição da fé.
O
cenário dos programas e os conteúdos colocados à disposição do público são
sempre os mesmos:
O
pregador à frente do público falando aos gritos e enfaticamente, com a intenção
clara de emocionar os fiéis. Além disso, os pregadores se utilizam de
ingredientes que fogem do normal: milagres, sinais, prodígios, exorcismos e
curas.
Todos
esses benefícios são possíveis pela generosa doação dos dízimos.
Inúmeros
obreiros são treinados no recebimento “espontâneo” dessas doações, cobradas
repetidas vezes durante o culto.
O
pastor Feliciano repete exatamente aquilo que outros colegas de igrejas, de
nomes diferentes, pregam, e não são incomodados.
É
um pai caridoso que alerta os seus milhares de seguidores para cumprirem em dia
com os seus deveres religiosos para o bem deles.
Um
atraso no pagamento poderá anular uma graça recebida.
Lembra
que na sua igreja há muita gente que deu calote em Deus e arcou com as
consequências.
Diante
dos inúmeros protestos, com movimentos de rua, manifestação de artistas e
intelectuais contrários a sua presença na Comissão da Câmara dos Deputados - em
um país tão injusto socialmente, onde a educação e a saúde de péssima qualidade
oferecida pelo governo aos pobres não sensibiliza ninguém - e, diante da
insignificância do pastor agora famoso, fico a lembrar do bordão.
E
como ficam os outros presidentes de Comissões condenados por crimes contra o
patrimônio público e condenados pelo Supremo Tribunal Federal?
Deixo claro que jamais votaria no pastor, para deputado federal e muito menos
para a presidência de qualquer comissão.
Também
nada a censurar sobre o casamento da cantora baiana.
Eu
só queria entender o que está acontecendo no Brasil.
“É fácil defender a liberdade de expressão quando as pessoas estão
dizendo coisas que julgamos positivas e sensatas, mas nosso compromisso com a
liberdade de expressão só é realmente posto à prova quando diante de pessoas
que dizem coisas que consideramos absolutamente repulsivas." (Walter
Willians).
Gabriel Novis Neves
08-04-2013
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