quarta-feira, 3 de abril de 2013

AFRODISÍACO


Há tempos, em conversa com um campeão em vencer eleições majoritárias aqui em Mato Grosso e também um profissional liberal de sucesso, ele me revelou que o poder tem uma ação afrodisíaca.
Na época dessa conversa eu era recém-formado em medicina e esse assunto eu conhecia apenas das aulas de farmacologia. Além disso, não fazia parte das minhas preocupações profissionais e pessoais.
A minha clientela era na maioria jovem. E, sendo jovens, os ditos hormônios do prazer eram abundantes.
Importante lembrar que a expectativa de vida anos atrás era de menos de cinquenta anos, e que, portanto, o sistema hormonal ainda estava com muito combustível, não havendo necessidades de uso de artifícios.
Os anos foram passando, o mundo mudando, a tecnologia descobrindo meios de prolongar a vida humana.
No entanto, jamais esqueci aquela aula magistral sobre a ação afrodisíaca que o poder exerce em algumas pessoas.
Comecei a entender então o motivo que levava muita gente, sem interesses pessoais ou empresariais, a procurar a política partidária como uma nova profissão. Muitas vezes, inclusive, com prejuízos financeiros e na sua qualidade de vida.
Outro velho político, depois de anos afastado da vida pública, retornou a ela. Disse-me que a casa da política só possui a porta de entrada. Quem entra nunca mais consegue sair dela. Pode demorar anos, mas a chama não se apaga jamais.
As histórias sobre o poder afrodisíaco da política são tantas que um bom pesquisador teria material suficiente para escrever uma excelente tese sobre esse assunto.
Um ex-governador revelou-me que convidou um amigo, homem simples e honesto de um pequeno município, para ser candidato a prefeito da sua cidadezinha.
O bom cidadão, após receber muito assédio do governador, resolveu aceitar a missão.
Querido no município e com o apoio oficial, a sua eleição foi quase por unanimidade.
Passado alguns meses ele procurou o seu padrinho político para revelar o seu desejo de renunciar ao cargo.
Surpreso o governador procurou insuflar-lhe o ego, dizendo que só ouvia elogios à sua eficiente e correta administração.
Disse que a sua gestão era diferente da roubalheira acintosa e sem-vergonha que lastreava em outros municípios, onde o prefeito estava apenas interessado em enriquecer.
A população estava satisfeita e era voz corrente na cidade que, pela primeira vez, o município não era entregue a um ladrão, conclui o governador, certo de ter vencido a ideia do seu amigo que a tudo ouvia no maior silêncio.
Finalmente, fala o renunciante:
      - Governador é exatamente para não roubar que estou comunicando em caráter definitivo a minha renúncia. Sinto que tomei gosto pelas propinas recebidas em nome da lei, além disso, esse tal de poder é afrodisíaco e o meu casamento corre riscos.
Isso aconteceu no século passado.
E agora, que a maioria dos candidatos escolhe a política para roubar, e isso faz parte da democracia?
Até negociações com o diabo são realizadas em nome da manutenção do poder.
Nunca esquecer que a expectativa de vida do brasileiro já ultrapassou os setenta anos, e que o poder é o melhor afrodisíaco disponível no mercado.
Tem sentido essa observação matuta feita na metade do século passado.

Gabriel Novis Neves
23-03-2013

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