Há
tempos, em conversa com um campeão em vencer eleições majoritárias aqui em Mato
Grosso e também um profissional liberal de sucesso, ele me revelou que o poder
tem uma ação afrodisíaca.
Na
época dessa conversa eu era recém-formado em medicina e esse assunto eu
conhecia apenas das aulas de farmacologia. Além disso, não fazia parte das
minhas preocupações profissionais e pessoais.
A
minha clientela era na maioria jovem. E, sendo jovens, os ditos hormônios do
prazer eram abundantes.
Importante
lembrar que a expectativa de vida anos atrás era de menos de cinquenta anos, e
que, portanto, o sistema hormonal ainda estava com muito combustível, não
havendo necessidades de uso de artifícios.
Os
anos foram passando, o mundo mudando, a tecnologia descobrindo meios de
prolongar a vida humana.
No
entanto, jamais esqueci aquela aula magistral sobre a ação afrodisíaca que o
poder exerce em algumas pessoas.
Comecei
a entender então o motivo que levava muita gente, sem interesses pessoais ou
empresariais, a procurar a política partidária como uma nova profissão. Muitas
vezes, inclusive, com prejuízos financeiros e na sua qualidade de vida.
Outro
velho político, depois de anos afastado da vida pública, retornou a ela.
Disse-me que a casa da política só possui a porta de entrada. Quem entra nunca
mais consegue sair dela. Pode demorar anos, mas a chama não se apaga jamais.
As
histórias sobre o poder afrodisíaco da política são tantas que um bom
pesquisador teria material suficiente para escrever uma excelente tese sobre
esse assunto.
Um
ex-governador revelou-me que convidou um amigo, homem simples e honesto de um
pequeno município, para ser candidato a prefeito da sua cidadezinha.
O
bom cidadão, após receber muito assédio do governador, resolveu aceitar a
missão.
Querido
no município e com o apoio oficial, a sua eleição foi quase por unanimidade.
Passado
alguns meses ele procurou o seu padrinho político para revelar o seu desejo de
renunciar ao cargo.
Surpreso
o governador procurou insuflar-lhe o ego, dizendo que só ouvia elogios à sua
eficiente e correta administração.
Disse
que a sua gestão era diferente da roubalheira acintosa e sem-vergonha que
lastreava em outros municípios, onde o prefeito estava apenas interessado em
enriquecer.
A
população estava satisfeita e era voz corrente na cidade que, pela primeira
vez, o município não era entregue a um ladrão, conclui o governador, certo de
ter vencido a ideia do seu amigo que a tudo ouvia no maior silêncio.
Finalmente,
fala o renunciante:
- Governador é exatamente para não roubar que estou comunicando em caráter
definitivo a minha renúncia. Sinto que tomei gosto pelas propinas
recebidas em nome da lei, além disso, esse tal de poder é afrodisíaco e o meu
casamento corre riscos.
Isso
aconteceu no século passado.
E
agora, que a maioria dos candidatos escolhe a política para roubar, e isso faz
parte da democracia?
Até
negociações com o diabo são realizadas em nome da manutenção do poder.
Nunca
esquecer que a expectativa de vida do brasileiro já ultrapassou os setenta
anos, e que o poder é o melhor afrodisíaco disponível no mercado.
Tem
sentido essa observação matuta feita na metade do século passado.
Gabriel Novis Neves
23-03-2013
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