segunda-feira, 8 de abril de 2013

Ressarcimento


Com a falência quase total do sistema público de saúde, é normal que haja uma migração em massa de muitos dos seus pacientes para os planos de saúde privado.
Estes, por sua vez, apresentam os mais variados preços para atender essa clientela sempre crescente.
Existem planos para todos os bolsos. Desde aqueles que oferecem apenas duas consultas anuais e sem exames complementares, até os de cobertura total, só acessível a uma minoria de milionários. Existe também o plano do Cartão Corporativo para os altos funcionários do governo.
Lamentavelmente tive a oportunidade de utilizar, sem sucesso, o meu plano de saúde top de linha para os médicos da cooperativa, em São Paulo e Rio de Janeiro na vã tentativa de salvar a vida da minha mulher.
Sei como é o atendimento feito por esse plano fora de Cuiabá. Os bons médicos e hospitais não o atendem. Resta ao necessitado pagar as contas hospitalares, laboratoriais e honorários médicos, e tentar o ressarcimento dos gastos efetuados.
Há pouco tempo fui acidentado. Fui muito bem atendido pelo médico e pela clínica do meu convênio. Entretanto, necessitava de um medicamento que o plano de saúde não cobria. Paguei e depois tentei o ressarcimento, que me foi negado. O valor era de quatro mil e quinhentos reais.
Todos esses procedimentos foram realizados em Cuiabá. Aliás, nunca precisei de tratamento fora da minha cidade, e já tenho setenta e oito anos.
À vezes, o plano de saúde faz o reembolso pelo valor da sua miserável tabela, e felizes são aqueles que conseguem essa façanha.
O plano de saúde do Estado, o “famoso” MT-SAÚDE, faliu. Milhares de pequenos funcionários públicos ficaram sem atendimento médico.
O escândalo foi tamanho que a Assembléia Legislativa criou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as causas da falência do recém-nato plano.
Alguns ressarcimentos monstruosos de gente graúda foram descobertos.
O maior beneficiário ficou na moita. Outro, devido a sua grande visibilidade política, justificou o fantástico reembolso dizendo que era um direito seu. E teve ainda aqueles com seus nomes na mídia que não viram obrigação de darem uma explicação.
A CPI detectou quatro casos de gente muito importante.
Que vergonha!
A hipocrisia parece que faz bem a certas pessoas.
Gostaria que um dependente do MT-SAÚDE tentasse o ressarcimento de uma consulta especializada de trezentos reais realizada em Cuiabá. Jamais passaria da portaria do prédio do plano falido, exatamente por falta de critérios éticos.
Quando entra a politicagem do “sabe com quem está falando”, o resultado é sempre prejudicial aos pobres.
Paulo Freire tinha toda razão:
“A educação não acabará com as desigualdades sociais, mas educa pessoas capazes de fazê-las.”
Falta educação neste país, cada vez mais de propriedade daqueles que não gostam de escolas.

Gabriel Novis Neves
 02-04-2013

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