Com
a falência quase total do sistema público de saúde, é normal que haja uma
migração em massa de muitos dos seus pacientes para os planos de saúde privado.
Estes,
por sua vez, apresentam os mais variados preços para atender essa clientela
sempre crescente.
Existem
planos para todos os bolsos. Desde aqueles que oferecem apenas duas consultas
anuais e sem exames complementares, até os de cobertura total, só acessível a
uma minoria de milionários. Existe também o plano do Cartão Corporativo para os
altos funcionários do governo.
Lamentavelmente
tive a oportunidade de utilizar, sem sucesso, o meu plano de saúde top de linha
para os médicos da cooperativa, em São Paulo e Rio de Janeiro na vã tentativa
de salvar a vida da minha mulher.
Sei
como é o atendimento feito por esse plano fora de Cuiabá. Os bons médicos e
hospitais não o atendem. Resta ao necessitado pagar as contas hospitalares,
laboratoriais e honorários médicos, e tentar o ressarcimento dos gastos
efetuados.
Há
pouco tempo fui acidentado. Fui muito bem atendido pelo médico e pela clínica
do meu convênio. Entretanto, necessitava de um medicamento que o plano de saúde
não cobria. Paguei e depois tentei o ressarcimento, que me foi negado. O valor
era de quatro mil e quinhentos reais.
Todos
esses procedimentos foram realizados em Cuiabá. Aliás, nunca precisei de
tratamento fora da minha cidade, e já tenho setenta e oito anos.
À
vezes, o plano de saúde faz o reembolso pelo valor da sua miserável tabela, e
felizes são aqueles que conseguem essa façanha.
O
plano de saúde do Estado, o “famoso” MT-SAÚDE, faliu. Milhares de pequenos
funcionários públicos ficaram sem atendimento médico.
O
escândalo foi tamanho que a Assembléia Legislativa criou uma Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as causas da falência do
recém-nato plano.
Alguns
ressarcimentos monstruosos de gente graúda foram descobertos.
O
maior beneficiário ficou na moita. Outro, devido a sua grande visibilidade
política, justificou o fantástico reembolso dizendo que era um direito seu. E
teve ainda aqueles com seus nomes na mídia que não viram obrigação de darem uma
explicação.
A
CPI detectou quatro casos de gente muito importante.
Que
vergonha!
A
hipocrisia parece que faz bem a certas pessoas.
Gostaria
que um dependente do MT-SAÚDE tentasse o ressarcimento de uma consulta
especializada de trezentos reais realizada em Cuiabá. Jamais passaria da
portaria do prédio do plano falido, exatamente por falta de critérios éticos.
Quando
entra a politicagem do “sabe com quem está falando”, o resultado é sempre
prejudicial aos pobres.
Paulo
Freire tinha toda razão:
“A
educação não acabará com as desigualdades sociais, mas educa pessoas capazes de
fazê-las.”
Falta
educação neste país, cada vez mais de propriedade daqueles que não gostam de
escolas.
Gabriel Novis Neves
02-04-2013
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