Só
mesmo em Cuiabá acontecem certas coisas - diz a sabedoria popular. Já tivemos
um médico otorrino surdo, um dono de Cartório de Registros de Imóveis cego, um
Arcebispo agiota e um presidente da Associação Católica desquitado.
Na
última eleição para a Câmara de Vereadores a conservadora população deste
arraial, democraticamente, fez uma verdadeira faxina, impedindo o retorno de
mais da metade dos antigos legisladores.
Motivos
devem ter havido para tamanha revolta do eleitorado. Creio eu que um deles seja
porque o eleitor estivesse ávido por transformações no jeito de fazer política
em uma cidade bastante judiada.
Verdade
seja dita: nos últimos anos muitos dos nossos representantes municipais foram
inúmeras vezes notícias das páginas policiais, aparecendo muito pouco no
noticiário político.
Dizem
que o povo sabe o que faz, e essa inusitada renovação feita na Câmara foi um
claro recado da população clamando por profundas transformações no jeito de
legislar. Leis inovadoras visando o nosso desenvolvimento, por exemplo.
Decorridos
cem dias dessa “renovação”, os “novos” eleitos não apresentaram nada que
justificasse a faxina.
Os
métodos de se fazer política dos “novos” são idênticos, ou piores, do que a dos
“velhos”, e a população tem a sensação que, mais uma vez, caiu no conto do
vigário.
Vejamos
um dos principais trabalhos dos nossos “novos” vereadores: recriaram os
famosos marajás no serviço público, mesmo correndo o risco histórico de fazer
surgir por estas bandas um caçador de marajás, cuja popularidade o conduzirá,
com certeza, aos cargos mais importantes deste país.
Por
enquanto os “novos” ficaram livres da “inoportuna” cobrança do Ministério
Público, que acha ilegal o recebimento pelos vereadores da verba indenizatória.
Esta verba vem a ser um absurdo aumento de salário camuflado, fato esse
considerado inconstitucional.
Nessa
manobra jurídica de fuga da justiça, o nosso prefeito foi envolvido com aumento
do seu salário e também da tal verba indenizatória, tudo em nome da “governabilidade”.
O
prefeito, que era contra a elevação desproporcional do seu salário - e o tinha
vetado - foi obrigado a engolir goela abaixo todas as mordomias desejadas pelos
“novos” vereadores, produzindo o espetacular efeito cascata, já que outros
servidores serão beneficiados também.
Lotaram
o executivo e o legislativo com ocupantes de cargos comissionados, que são
aqueles que não necessitam de concurso e cujos salários, na maioria das vezes,
são superiores aos do pessoal de carreira.
Uma
enfermeira de nível superior concursada no município recebe um salário de
oitocentos reais, segundo informações da própria secretaria.
Os
“novos” vereadores deram um nó cego no prefeito que, para dar um passo à
frente, foi obrigado a chamar todos os vereadores para “negociar” medidas de
interesse da população.
Para
fechar com chave de ouro os trabalhos nos primeiros cem dias da “nova” Câmara
de Cuiabá, ficamos estarrecidos ao saber da prioridade dos nossos edis: a
construção do Palácio dos Vereadores em ampla área no Centro Político
Administrativo. O Estado vai ceder o terreno e os recursos para a
monumental construção, que será o orgulho da cidade.
E
eu que pensava que os “novos” vereadores iriam priorizar a construção de um
novo Pronto Socorro. Enfim...
A
nova Câmara será uma verdadeira gaiola de ouro, onde os “novos” vereadores
terão condições decentes para receber a nossa população tão carente de
atendimento médico.
Não
sou pessimista, mas as medidas tomadas pelos nossos “novos” vereadores nesses
primeiros cem dias nos possibilitam chegar a um diagnóstico reservado sobre o
futuro de Cuiabá.
Este
é o preço da democracia, dizem os estudiosos.
Que
coisinha cara esse sistema político do jeito que é executado, hein?
Está
difícil ser feliz nesta cidade de gente tão boa!
E
os cem dias do novo prefeito?
Só
agora ele descobriu que o grande gargalho da cidade não é eficiência na gestão,
e sim, dinheiro!
A
prefeitura fica com pouco mais de 10% dos recursos públicos e só poderá
realizar o prometido em campanha se tiver ajuda da União, que fica com quase
70%, e do Estado, com 20% das receitas do contribuinte.
Pelos
primeiros cem dias, teremos que esperar, e muito, para que haja as inovações
tão desejadas nesta cidade.
Gabriel Novis Neves
07-04-2013
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