quarta-feira, 10 de abril de 2013

Cem dias


Só mesmo em Cuiabá acontecem certas coisas - diz a sabedoria popular. Já tivemos um médico otorrino surdo, um dono de Cartório de Registros de Imóveis cego, um Arcebispo agiota e um presidente da Associação Católica desquitado.
Na última eleição para a Câmara de Vereadores a conservadora população deste arraial, democraticamente, fez uma verdadeira faxina, impedindo o retorno de mais da metade dos antigos legisladores.
Motivos devem ter havido para tamanha revolta do eleitorado. Creio eu que um deles seja porque o eleitor estivesse ávido por transformações no jeito de fazer política em uma cidade bastante judiada.
Verdade seja dita: nos últimos anos muitos dos nossos representantes municipais foram inúmeras vezes notícias das páginas policiais, aparecendo muito pouco no noticiário político.
Dizem que o povo sabe o que faz, e essa inusitada renovação feita na Câmara foi um claro recado da população clamando por profundas transformações no jeito de legislar. Leis inovadoras visando o nosso desenvolvimento, por exemplo.
Decorridos cem dias dessa “renovação”, os “novos” eleitos não apresentaram nada que justificasse a faxina.
Os métodos de se fazer política dos “novos” são idênticos, ou piores, do que a dos “velhos”, e a população tem a sensação que, mais uma vez, caiu no conto do vigário.
Vejamos um dos principais trabalhos dos nossos “novos” vereadores: recriaram os famosos marajás no serviço público, mesmo correndo o risco histórico de fazer surgir por estas bandas um caçador de marajás, cuja popularidade o conduzirá, com certeza, aos cargos mais importantes deste país.
Por enquanto os “novos” ficaram livres da “inoportuna” cobrança do Ministério Público, que acha ilegal o recebimento pelos vereadores da verba indenizatória. Esta verba vem a ser um absurdo aumento de salário camuflado, fato esse considerado inconstitucional.
Nessa manobra jurídica de fuga da justiça, o nosso prefeito foi envolvido com aumento do seu salário e também da tal verba indenizatória, tudo em nome da “governabilidade”.
O prefeito, que era contra a elevação desproporcional do seu salário - e o tinha vetado - foi obrigado a engolir goela abaixo todas as mordomias desejadas pelos “novos” vereadores, produzindo o espetacular efeito cascata, já que outros servidores serão beneficiados também.
Lotaram o executivo e o legislativo com ocupantes de cargos comissionados, que são aqueles que não necessitam de concurso e cujos salários, na maioria das vezes, são superiores aos do pessoal de carreira.
Uma enfermeira de nível superior concursada no município recebe um salário de oitocentos reais, segundo informações da própria secretaria.
Os “novos” vereadores deram um nó cego no prefeito que, para dar um passo à frente, foi obrigado a chamar todos os vereadores para “negociar” medidas de interesse da população.
Para fechar com chave de ouro os trabalhos nos primeiros cem dias da “nova” Câmara de Cuiabá, ficamos estarrecidos ao saber da prioridade dos nossos edis: a construção do Palácio dos Vereadores em ampla área no Centro Político Administrativo. O Estado vai ceder o terreno e os recursos para a monumental construção, que será o orgulho da cidade.
E eu que pensava que os “novos” vereadores iriam priorizar a construção de um novo Pronto Socorro. Enfim...
A nova Câmara será uma verdadeira gaiola de ouro, onde os “novos” vereadores terão condições decentes para receber a nossa população tão carente de atendimento médico.
Não sou pessimista, mas as medidas tomadas pelos nossos “novos” vereadores nesses primeiros cem dias nos possibilitam chegar a um diagnóstico reservado sobre o futuro de Cuiabá.
Este é o preço da democracia, dizem os estudiosos.
Que coisinha cara esse sistema político do jeito que é executado, hein?
Está difícil ser feliz nesta cidade de gente tão boa!
E os cem dias do novo prefeito?
Só agora ele descobriu que o grande gargalho da cidade não é eficiência na gestão, e sim, dinheiro!
A prefeitura fica com pouco mais de 10% dos recursos públicos e só poderá realizar o prometido em campanha se tiver ajuda da União, que fica com quase 70%, e do Estado, com 20% das receitas do contribuinte.
Pelos primeiros cem dias, teremos que esperar, e muito, para que haja as inovações tão desejadas nesta cidade.

Gabriel Novis Neves
07-04-2013

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