sábado, 27 de abril de 2013

Aposentadoria


Muita gente pensa que na aposentadoria vai descansar e usufruir o bom da vida. Mas, após alguns dias, se estrepa.
Esquece que o trabalho é também um hábito de difícil descondicionamento.
Na minha idade já me aposentei meia boca, pois sei que mudar de hábito é perigoso.
Ninguém em condições perfeitas de saúde física e emocional consegue suportar um corte violento nos seus afazeres diários e se acostumar a ficar em casa bestando e sem ter o que fazer.
Para ficar calmo o aposentado tem que ser, no mínimo, síndico do edifício onde mora.
Recomendo essa função, que produz aborrecimentos o dia todo, para a prevenção da Doença de Alzheimer.
O idoso perde milhares de neurônios diariamente e, para repô-los, a indicação é estimular a fabricação de novos.
Nada melhor que uma contrariedade permanente de intensidade forte.
É o santo remédio.
O aposentado sofre descriminação dos mais jovens, que o julga como uma espécie de trânsfuga, merecedor de repulsa, especialmente pelos seus colegas de trabalho da ativa.
Então, o ex-servidor ou profissional liberal, agora aposentado, começa a fazer o supermercado, frequentar a feira, passear com os netos e, principalmente, ficar em casa.
O velho parece pijama, banco de praça, bengala, chapéu e jornal na banca.
Quando tira férias ninguém acredita. Pensam em ausência para tratamento de saúde.
Na vida é preciso saber subir e também saber cair.
Aposentadoria é coisa complicada.
Tem que se preparar para atividades alternativas.
O grande perigo que ronda a vida do aposentado é ser transformado em moleque de recados, babá dos netos, contínuo da mulher.
É um excelente companheiro para carregar compras.
Quase todo o seu tempo é destinado a realizar obrigações domésticas.
Cuida da cozinha, limpeza da casa, manutenção dos eletrodomésticos, jardim, animais pequenos e o pagamento dos inúmeros tributos para viver com dignidade.
Enfim, considero a aposentadoria como ela é uma conquista indesejável.
“Nada há pior que gente vadia - ou aposentada, que é a mesma coisa. O tempo cresce e sobra, e se a pessoa pega a escrever, não há papel que baste”, já dizia Machado de Assis.

Gabriel Novis Neves
19-04-2014

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