Muita
gente pensa que na aposentadoria vai descansar e usufruir o bom da vida. Mas,
após alguns dias, se estrepa.
Esquece
que o trabalho é também um hábito de difícil descondicionamento.
Na
minha idade já me aposentei meia boca, pois sei que mudar de hábito é perigoso.
Ninguém
em condições perfeitas de saúde física e emocional consegue suportar um corte
violento nos seus afazeres diários e se acostumar a ficar em casa bestando e
sem ter o que fazer.
Para
ficar calmo o aposentado tem que ser, no mínimo, síndico do edifício onde mora.
Recomendo
essa função, que produz aborrecimentos o dia todo, para a prevenção da Doença
de Alzheimer.
O
idoso perde milhares de neurônios diariamente e, para repô-los, a indicação é
estimular a fabricação de novos.
Nada
melhor que uma contrariedade permanente de intensidade forte.
É
o santo remédio.
O
aposentado sofre descriminação dos mais jovens, que o julga como uma espécie de
trânsfuga, merecedor de repulsa, especialmente pelos seus colegas de trabalho
da ativa.
Então,
o ex-servidor ou profissional liberal, agora aposentado, começa a fazer o
supermercado, frequentar a feira, passear com os netos e, principalmente, ficar
em casa.
O
velho parece pijama, banco de praça, bengala, chapéu e jornal na banca.
Quando
tira férias ninguém acredita. Pensam em ausência para tratamento de saúde.
Na
vida é preciso saber subir e também saber cair.
Aposentadoria
é coisa complicada.
Tem
que se preparar para atividades alternativas.
O
grande perigo que ronda a vida do aposentado é ser transformado em moleque de
recados, babá dos netos, contínuo da mulher.
É
um excelente companheiro para carregar compras.
Quase
todo o seu tempo é destinado a realizar obrigações domésticas.
Cuida
da cozinha, limpeza da casa, manutenção dos eletrodomésticos, jardim, animais
pequenos e o pagamento dos inúmeros tributos para viver com dignidade.
Enfim,
considero a aposentadoria como ela é uma conquista indesejável.
“Nada
há pior que gente vadia - ou aposentada, que é a mesma coisa. O tempo cresce e
sobra, e se a pessoa pega a escrever, não há papel que baste”, já dizia Machado
de Assis.
Gabriel Novis Neves
19-04-2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.