quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

É OUTRA COISA


Ibrahim Sued foi um famoso colunista social que mandou neste país nos anos dourados. Cunhou inúmeras frases, que até hoje circulam pela comunicação escrita e falada.
Como poucos, soube fazer amigos e explorar a vaidade humana. Tinha excelentes fontes. A sua coluna, no jornal de maior prestígio no Rio de Janeiro, era muito lida, e chegou a fazer, provisoriamente, um presidente da República em plena revolução.
Essa informação me foi contada pelo ministro da Justiça da época. Era adorado e temido. Uma notinha na coluna do Ibrahim era motivo de festa e de status.
A sua fama era tanta, que o sambista Jorge Veiga gravou um sucesso homenageando o Ibrahim.
O colunista terminava as suas notinhas diárias com um bordão criado por ele: “Gente fina é outra coisa”.
O ex-governador de Mato Grosso veio a Cuiabá receber o novo ministro dos Esportes, que fez questão de visitar as doze cidades sede para acompanhar o desenvolvimento das obras da Copa 2014. 
A imprensa local estava ansiosa pela oportunidade de entrevistar o antigo governador, não com relação ao campo de futebol, menos ainda sobre o puxadinho do aeroporto.
Há tempos corre pela cidade que o Estado está quebrado. Um membro do primeiro escalão do governo atual, em conversa com jornalistas, admitiu que o governo atual recebeu uma herança maldita, escondida durante a quarentena, e agora revelada pelo corte de mais de um bilhão no orçamento do exercício financeiro iniciado.
O Estado está sem pagar os prestadores de serviços executados, sem previsão de recebimento, e o resultado está à vista de todos.
Os empreiteiros, em sua maioria, pararam com as obras. Os hospitais deixaram de realizar procedimentos, como é o dramático caso dos pacientes com câncer. O ano letivo em muitos municípios teve o seu início adiado por falta de salas de aula.
Não há dinheiro, é o que mais se ouve nas redondezas do poder.
O governador atual tem um excepcional controle emocional, e um estômago que nada lhe faz mal. 
Sabe tim-tim por tim-tim, por que estamos assim. Mesmo provocado, prefere o silêncio comprometedor a esclarecer porque vamos mal das finanças. É um político conciliador, que cede para conquistar novos espaços. Ninguém chega ao cargo que chegou por sorte. É mérito para o poder.
Na visita ao novo campo de futebol da cidade, construído onde foi implodido o Verdão, na brecha da visita, os jornalistas cercaram o ex-governador, forçando-o a responder as perguntas da pauta da mídia.
Inteligente e objetivo, logo na primeira pergunta o entrevistado desmoronou todas as demais:
“O meu governo terminou no dia 31 de março de 2010. Esse problema que o Estado enfrenta com o caixa do tesouro vazio, aconteceu após a minha saída”.
E continuou: “Em outras palavras, não tenho nada com o que hoje acontece - após quase dois anos da minha saída do governo. Quando deixei o cargo as finanças estavam em perfeito equilíbrio”.
Com relação aos precatórios, o ex-governador esclareceu que: “minha orientação foi uma. Se estourou o escândalo, batizado de cartas marcadas, não tenho conhecimento. Quem comandou as negociações da compra dos maquinários, não fui eu.”
Finalizando ele declarou: “O meu governo escolheu como transporte modal para Cuiabá o BRT, que era totalmente financiado pelo governo federal e aprovado pela FIFA. Se trocaram por um sistema três vezes mais caro, e, se para a implantação do VLT, há necessidade de pegar dinheiro emprestado, isso não é comigo”.
A entrevista acabou por aí.
Acontece que o líder do governo na Assembléia Legislativa, soltou os cachorros em cima do ex-governador. Pela primeira vez, em nove anos, alguém teve a petulância de contestar publicamente o governo passado.
O governador atual ficou na sua, de Santo da Paz. O ex, por sua vez, foi duramente atingido pelas palavras que o deputado líder jogou no ventilador.
Gente fina é outra coisa.

Gabriel Novis Neves
06-02-2012

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Contradição


Houaiss define contradição como afirmação do contrário afirmado anteriormente, refutação, desacordo. Mas isso quem diz é o dicionarista da nossa difícil língua portuguesa.
Todo brasileiro que se preza, além do pai genético, tem sempre à mão o pai dos burros, como é conhecido entre nós o dicionário, em vias de extinção, substituído pelo doutor Google.
Como cidadão, é impossível viver constantemente em contradição, embora habitemos o país das contradições.
Os exemplos de contradições são diários. Devem existir muitos livros sobre esse assunto, embora não me lembre de nenhum, o que não é novidade alguma na minha idade.
Em uma nação de quase duzentos milhões de habitantes, são pouquíssimos aqueles que suportam as contradições, especialmente dos donos provisórios do poder.
Só os que fazem parte dessa minoria de privilegiados, têm razões para suportar e, o pior, defender as contradições - onde a palavra empenhada assemelha-se a uma nuvem passante.
Aqui em nosso Estado, aqueles que defendem com unhas e dentes as contradições humilhantes dos poderosos, são muito bem recompensados. Com toda certeza ficarão milionários.
Os milionários adeptos das contradições irão frequentar a lista dos homens mais ricos do planeta. É uma questão matemática, sem margem para erros de custo-benefício.
Lembro-me da campanha, “A Petrobrás é nossa.” Era. Hoje, o petróleo tem dono muito bem aceito lá, pois ele é um dos maiores financiadores de campanhas políticas para permanecer tudo como está.
Um sindicalista deputado federal, há vinte anos, da tribuna do Congresso Nacional, defendeu uma greve dos policiais militares do Estado que o elegeu, inclusive, batalhando posteriormente pela anistia concedida.
Esse deputado vira governador do Estado, e a polícia militar, sem condições de trabalho e salários vis, faz uma greve.
O ex-defensor de greves pegou uma carona e foi visitar a República Socialista Democrática de Cuba.
Ao retornar solicitou forças federais para garantir a ordem no seu Estado, modelo de gestão compartilhada.
Não aceitou negociar, é contra a anistia aos militares que ganham uma merreca, prendeu os grevistas, demitiu, e fez tudo que ACM nunca pensou em fazer.
Grande parte dos ocupantes dos cargos importantes hoje no Brasil foi beneficiada pela lei da anistia - ampla, geral e irrestrita dos militares – e, recentemente, por uma enormidade de leis casuísticas e manobras jurídicas de protelamemto combinadas.
Todos, sem exceção, de bolsos cheios de “reparos” de uma anistia, são contrários à anistia dos soldados da Bahia, sendo que, há menos de um ano, houve anistia para os bombeiros do Rio, que reclamavam do salário de novecentos reais.
O governo diz que não pode mexer na Constituição para aumentar percentuais para a saúde, a educação e a segurança, mas tacou a tesoura nela para atender interesses da FIFA, que estão distantes dos interesses do povo brasileiro.
De contradição em contradição, a credibilidade do homem público foi parar nos programas humorísticos.
Haja contradições! Infelizmente, morando nos túmulos das taxas de zelo.

Gabriel Novis Neves
14-02-2012

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

PENSÃO


Depois que o Marimbondo do Maranhão começou a mexer na unificação do idioma português, a nossa língua – outrora tão linda, poética e musical - desapareceu.
No entanto, o imortal Marimbondo acha que prestou um incomensurável serviço à literatura dos países de língua portuguesa. Na África ganhou um apelido carinhoso - linguinha única.
A gramática mudou. Tudo bem. Mas, observo que certas palavras também mudaram de sentido. Ganharam um peso diferente – quase obsceno. Aquele vocabulário da minha infância e juventude não existe mais, embora persistam as mesmas palavras. Cito aqui duas delas a título de ilustração: pensão e merenda.
Recentemente fomos bombardeados pela mídia com escândalos cujo significado os meus netos entendem, mas eu tenho que consultá-los para compreender melhor as notícias.
No meu tempo, pensão era um local simples, barato, com pouco conforto, apropriado para gente pobre que estudava e trabalhava. Já morei em pensão. Alugava vaga no quarto. Quanto mais gente melhor, para controlar os poucos trocados que tinha para passar o mês.
Morar em pensão, no Rio ou qualquer outro grande centro, era sinal da presença de estudante do interior atrás de uma formação profissional. Meus netos riem quando conto essas coisas. Não sei se de mim, ou para mim.
Os pobres do Brasil, após anos contribuindo para a Previdência Social, são aposentados e recebem por mês um salário. Aquele mesmo, tão bem interpretado por Chico Anysio durante anos num programa de humor.
Meus netos disseram-me que um político, após assinar um ato governamental qualquer, no impedimento do governador, receberá uma polpuda pensão - sem descontar a Previdência - pelo resto da sua vida, estendendo esse benefício para o seu cônjuge.
A pensão do meu tempo era um excelente centro de vivência, ética e aprendizado.
A pensão que a mídia vem falando significa maracutaia, abuso do poder em benefício próprio. Todos os beneficiários desse tipo de pensão - e não aposentadoria - são devotos de São Francisco de Assis. Diariamente oram a oração consagrada ao santo - “É dando que se recebe”.
Esse é o moderno significado de pensão. Tudo amparado por leis menores!
Outra palavra da moda é merenda, que também teve mudada a sua compreensão. No meu tempo, era o lanche que minha mãe preparava e eu levava para comer no intervalo das aulas.
Hoje merenda é uma supergratificação paga aos senhores legisladores. É a merenda mensal, que não aparece nos rendimentos recebidos pelos nossos representantes, para que não haja complicações.
Tanto aquelas fantásticas e anticonstitucionais pensões, como as sinistras merendas, são produtos do trabalho do Marimbondo, no seu mais amplo sentido.
Na verdade, pensão e merenda, para essa gente, deveriam ser excluídas do novo dicionário da língua portuguesa, e incluídas no Código de Direito Penal.

Gabriel Novis Neves
26-01-2012

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Desprezo


Não sei se é comum acontecer com pessoas da minha idade, mas não tenho nenhuma dificuldade em desprezar algo que por muitos anos me causou alegria.
Vários prazeres eu deixei pelo caminho da minha existência, sem o menor sacrifício. O último deles foi o futebol - após a eliminação do meu ex-Bota dos jogos da Taça Guanabara.
“Loco” pela vergonhosa cobrança de um pênalti, desliguei a televisão e chamei o técnico para desconectar o sinal da minha TV do grupo de assinantes do meu condomínio.
Bendito pênalti perdido pelo “Loco”!
Ganhei paz, tranquilidade, e, principalmente, tempo para ler, pelo menos, os livros que Papai Noel me deu no Natal.
Viciado em programas esportivos, além de assistir aos jogos do Fogão, era obrigado a “secar” seus adversários.
Em caso de vitória, uma enormidade de tempo eu perdia - ouvia mesas redondas de vários canais de TV e até replay dos jogos. Este tempo perdido só foi avaliado e percebido com a vergonhosa derrota.
Lambendo as feridas abertas por aquele pênalti perdido, vejo que fiz um bom negócio, em todos os sentidos, inclusive monetários.
Ganhei espaço para outros prazeres e, principalmente, fiquei livre da obrigatoriedade de assistir aos infinitos jogos - quase diários -, verdadeiros consumidores de tempo que, com toda a certeza, será, de agora em diante, melhor aproveitado.
Na pior das hipóteses, voltarei a curtir o ócio.
É irracional sofrer e estimular as suprarrenais por causa de um desses milionários do futebol.  Não fazem nada que justifique o ganho de tanto dinheiro em seus holerites e as homenagens recebidas - até da Academia Brasileira de Letras - pelo exemplo de vencer na vida sem ter nunca lido um livro.
Sei que certas coisas só acontecem ao Botafogo, mas tudo na vida tem um limite.
Colocar um “Loco” para decidir um jogo, foi a gota d’água na paciência deste velho ex-torcedor.
Temo por uma recaída, mas vou apelar aos meus santos para me livrar desse mal.  
A decisão está tomada: desprezo pelo futebol e agregação de novos prazeres. 
Narasimha Rao, ex-primeiro ministro indiano, ajudou-me na decisão em relação ao meu ex-Fogão: “Decisões são mais fáceis quando não há mais escolhas.”

Gabriel Novis Neves    
24-02-2012

sábado, 25 de fevereiro de 2012

MEU BAMBUZINHO


Frequento, por puro prazer, uma chácara de floricultura, ou melhor, um viveiro de plantas. Não é lojinha ou boutique da moda.
É uma imensidão de área plantada, sempre com novidades. Plantas nativas, ornamentais, enormes, nanicas, de cores as mais diversificadas, desde as cores agressivas na sua coloração até as que parecem desbotadas.
Elas transmitem vida, alegria e deslumbramento.
Terra preta, adubo, pedrinhas ornamentais e uma gente apaixonada pelas belezas da natureza.
Não sou consumista. Não frequento lojas, shoppings, mercados e restaurantes, por absoluta falta de necessidade.
Agora, quando vou resolver um problema para o meu jardim entro no pior consumismo, que é o irresponsável.
Há poucos dias fui comprar um vaso. O antigo de cimento tinha se quebrado, pois não suportou o tsumani que se abateu sobre Cuiabá anunciando o verão.
Uma das proprietárias do viveiro, assim que ouviu a história do tsumani foi às gargalhadas.
Ah! Se todos os dias tivesse um vento forte!
Os vasos antigos eram feitos de cimento, e ao menor tombo se espatifavam. Os novos não. São bem mais caros, mas bem mais resistentes, principalmente aos ventos.
No momento do pagamento do vaso, da terra preta para completar o preenchimento, do adubo e das tais pedrinhas, notei em uma das enormes bancadas de flores, uma caixinha de vidro com um pequeno conjunto de bambuzinhos.
Foi amor a primeira vista! Trouxe o bambuzinho, com toda orientação necessária para a sua manutenção. Coloquei a caixinha com meus bambuzinhos no centro da mesa redonda que acabei de comprar para o puxadinho. Daí para frente foi só namoro. O conjunto de bambu até já cresceu.
Moro só, e na passagem do ano, espontaneamente, apareceu uma querida voluntária para dar um ambiente alegre à minha casa.
A colaboradora da boa vontade trouxe-me o melhor dos presentes: muitas flores - e fez a decoração.
A mesa nova onde estava meu bambuzinho ficou com uma superdecoração de flores. E ele foi despejado de seu local.
Após uma semana da decoração, de saída para o consultório e já na porta do elevador, minha ajudante caseira pergunta-me até quando o bambuzinho iria permanecer dentro do cinzeiro.
Corro para vê-lo. Ainda o encontrei com vida. Estava sem água, único alimento do bambu. A caixa de vidro, que era a sua incubadora estava cheia de flores. As plantas da caixa do bambu estavam em morte cerebral.
Depois de voltar ao seu local de origem, parece que conseguimos salvar o bambuzinho.
Seu estado de saúde inspira cuidados. Confio na sabedoria chinesa que diz que o bambu enverga, mas não quebra.
Ajudar, às vezes, nas melhores das intenções, pode prejudicar.

Gabriel Novis Neves
06-01-2012 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Vizinhança


Antigamente a vizinhança era um fator decisório em muitas situações. O velho ditado - “Diz-me quem são seus vizinhos, só assim terei condições de oferecer a minha opinião”, contribuiu, em parte, para que isso fosse visto como verdade.
Cresci com a cultura da boa vizinhança, pois são com os vizinhos que, pelo menos antigamente, tínhamos mais contatos, chegando mesmo a formar uma grande família.
O meu Estado tem uma enorme vizinhança, e, por incrível que pareça, fomos instrumentos de algumas desavenças.
Com os nossos amigos paraguaios (antes da divisão do Estado), lutamos naquela guerra que a Inglaterra mandou o Brasil fazer, para destruir um país emergente na América do Sul.
Esse conflito está na lista dos documentos secretos que jamais serão revelados a nós.
Alguns detalhes dessa guerra, aprendi com o Rubens de Mendonça, que nunca publicou a verdadeira história da Guerra do Paraguai porque a sua ótica era totalmente diferente da história oficial, ensinadas às crianças nas escolas.
Segundo o historiador, que não tinha papas na língua nem reservas nas suas conversas comigo, a verdadeira história jamais poderá ser do domínio público por uma razão muito simples - o que iremos fazer com os nossos heróis, e como iremos justificar a nossa presença nessa briga?
Com a Bolívia, temos aquela história do Barão do Rio Branco, que deu um trecho da estrada de ferro Madeira-Mamoré, logo transformada em elefante branco, e ficou, com o hoje, Estado do Acre.
A presidente aceitou os conselhos do Sarney e do Collor em não tornar públicos esses documentos, que morrerão secretos para não reabrir feridas em nossos vizinhos.
O Chile, outro vizinho, ocupa posição estratégica para as nossas ambições. Com um pouquinho de entendimento e sem guerras, poderemos ter a sonhada saída para o Pacífico pelo porto de Arica (Peru).
Como o planeta Terra, dizem, ainda é redondo, os países do oriente do trópico úmido, necessitam basicamente da nossa produção maior, que é  o alimento. Essa saída para o pacífico é estratégica para Mato Grosso.
O nosso problema hoje é com o vizinho presidente cocaleiro.
Depois de encampar uma refinaria de petróleo da Petrobrás na marra, sem nenhuma resistência do governo brasileiro passado, agora resolveu legalizar os veículos roubados no Brasil.
Converte, do dia para a noite, um carro roubado, ou trocado, pelo seu principal produto de exportação (drogas), em apto para uso em seu território.
Só para se ter uma idéia do que representa a indústria de carros roubados de brasileiros na capital boliviana, os números oficiais falam em mais de dez mil.
Além do roubo dos veículos, os nossos vizinhos são os maiores abastecedores do comércio de drogas, que está destruindo as nossas gerações.
E grande parte desse negócio entra e sai pelo nosso Estado.
O governo sabe de tudo, e a fiscalização e a proteção das nossas fronteiras com o cocaleiro, parecem que estão sendo realizados por aqueles aviões invisíveis da última campanha presidencial. Já esqueceram que foi até dito que o Brasil já havia adquirido?
O governo mete o nariz onde não deve, e esquece-se de fazer a lição de casa, que é patrulhar as nossas fronteiras.
O Brasil se cala diante dessa bandalheira do nosso vizinho em nome de quê?
Será o arrependimento tardio pelo que fizemos no passado com eles?
A vizinhança tem que ser boa!

Gabriel Novis Neves
20-01-2012

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

TAUBATÉ


A Velhinha de Taubaté é um personagem de humor criado pelo escritor Luis Fernando Veríssimo quando Figueiredo era presidente da República.
Era a única pessoa que acreditava no governo. O sucesso da Velhinha foi imortalizado em livros, centenas de crônicas, programas de televisão e consagrada pelo gosto popular. Virou um bordão nacional, repetido de norte a sul, de leste a oeste.
Especialmente em períodos eleitorais, onde abundavam promessas, a Velhinha de Taubaté era muito lembrada quando a mentira era escandalosa: “Essa nem a Velhinha acredita”. Quando razoável diziam que a Velhinha acreditava.
Ela faleceu em 2005, em tempos de crise de mensalão, decepcionada com o quadro político brasileiro.
Dizem que ela estava em frente à televisão assistindo ao noticiário da noite, quando foi vítima de um choque decorrente sobre uma notícia envolvendo a Presidência da República. Não suportou - o que ela chamava de bandalheira dos políticos -, e faleceu fulminantemente. Poucos suspeitam em suicídio motivado pela vergonha cívica.
A cidade de Taubaté não nasceu para frequentar o ostracismo de milhares de municípios brasileiros. O poder criativo do seu povo não tem limites.
Neste santo primeiro mês do ano 2012, ressurge a terra da Velhinha com toda a sua força de ocupar espaços na mídia nacional e internacional.
Surge, como por encanto, uma pedagoga com um enorme abdome, alegando estar grávida de quadrigêmeos. A gravidez múltipla com a inseminação artificial é encarada como fato corriqueiro e não produz sensação como antigamente.
O que realmente chamou a atenção foi o volume descomunal da barriga da futura mãe. Taubaté é uma cidade tranquila, com idosos andando de bicicleta e usando chapéu de palha. Os moços cantando e dançando músicas sertanejas. Considera motivo de orgulho ser chamada de capital dos caipiras.
Com esse barrigão da professora, alguém se lembrou de chamar os idosos da cidade de Itu (São Paulo), onde tudo é enorme e picolé de groselha, de tão grande, é transportado em bitrem, para opinar sobre o rumoroso caso da gravidez de quatro fetos.
A turma de Itu não acreditou no que viu e voltou apavorados para casa. Durante semanas o comentário era um só: “Itu não é mais a mesma. Taubaté nos roubou o troféu”.
Mesmo com o retorno da menina paraibana do Canadá, em Taubaté ninguém falava da nova sensação brasileira, que é a Luiza. Com orgulho comentavam na praça: “essa Luiza voltou, mas, grande coisa com esses aviões modernos de agora. Pequenininha coube em uma estreita poltrona da classe turística. Quero ver levar a nossa grávida para o Canadá. Só se for naquele jato do Qatar, que um dia desses pousou de madrugada em Guarulhos, único aeroporto do Brasil em condições de recebê-lo. O negócio é saber se ele consegue transportar a nossa gestante.”
Taubaté produziu filhos famosos, sendo o mais conhecido, o autor do Sítio do Pica-Pau Amarelo, Monteiro Lobato. Hebe Camargo e Cid Moreira também são de lá.
Tudo que é bom, dura pouco. A gravidez era de mentirinha. A descomunal barriga era produto da fértil imaginação de uma jovem professora, que com silicone e roupas montou o espalhafatoso cenário, tudo com o beneplácito do marido que é vasectomizado.
Taubaté será ainda lembrada durante alguns dias. A professora e o seu marido irão prestar esclarecimentos, com direito a um bom cachê nos nossos programas de auditórios.
Depois será estudar um novo personagem, para que o Brasil não se esqueça de Taubaté.
O espaço cultural brasileiro pelos próximos meses é da Luiza, que voltou do Canadá. Com certeza desfilará nas principais escolas de samba para frustração da grávida de Taubaté.

Gabriel Novis Neves 
21-01-2012

Folia ou tragédia?


Era um dia de carnaval. Saí de carro para um trabalho profissional e no percurso liguei o rádio para escutar as últimas notícias. O apresentador - e âncora do programa – narra os fatos jornalísticos da cidade de São Paulo, com correspondentes nas principais cidades brasileiras.
Carro e notícia iam rodando. O carro ia lentamente pelas ruas esburacadas da cidade, mas as notícias chegavam com rapidez aos meus ouvidos.
Com esforço conseguia desviar-me dos buracos, porém, das notícias, não. E nem queria, pois não estava acreditando no que ouvia.
Chego ao meu destino com uma dúvida: carnaval é equivalente à folia, alegria, brincadeira, “tiração” de sarro, ou a uma imensa tragédia?
Explico. No decorrer do programa, a notícia mais branda que escutei foi a de uma queda de barreira em estrada recém-inaugurada.  
O restante das notícias se resumiu em: assassinatos, suicídios, estupros, assaltos, roubos, enchentes, incêndios, desmoronamentos de prédios com vítimas e violência de toda ordem contra crianças, mulheres e velhos.
Não escutei “nadica” de nada sobre o carnaval – só desgraça. Talvez para não fugir do nosso cotidiano.
No carnaval os jogadores de futebol e as modelos são as atrações máximas das Folias Momescas. Os locutores fazem das tripas coração para convencer os ausentes da festa do que estavam perdendo. Às vezes uns derrapavam, quando, por exemplo, comentavam que o público de Salvador era bem inferior ao do ano passado por causa da greve dos policiais.
No Sambódromo, parece que a receita do Joãozinho Trinta partiu com ele.
Ninguém aguenta a exibição prolongada das escolas industriais feitas para turistas. Os desfiles estão chatos e, se não fossem os camarotes com as suas atrações próprias e comida e bebida da melhor qualidade possível, o sambódromo estaria vazio na segunda escola.
Talvez algum torcedor fanático da arquibancada, com o seu caseiro sanduíche amassado de mortadela, conseguiria a façanha de uma noite inteira de desfile.
Crianças abandonadas e aumento do consumo de álcool e drogas nos transmitem mais uma situação de tragédia que de uma alegria programada pelo calendário.
Como a mediocridade impera nesses dias! Em Salvador, uma cantora se autoproclama presidente da Bahia e nomeia o “camisa 11” do Santos como o seu ministro.
O camarote Vip abriga o Fenômeno e a Luiza do Canadá, em papo considerado interessante pelo ex-jogador.
O desfile das escolas de São Paulo foi esvaziado pela ausência, por motivo justo, do futuro presidente do Banco Mundial.
Carnaval é um evento cultural, e não político ou comercial.
Quando a ausência da ministra da Cultura é sentida nessas manifestações, algo de errado está ocorrendo. Ou a ministra já foi avisada que perderá o seu lugar, ou o ministério da Cultura está sem dinheiro para lhe pagar diárias em seus deslocamentos.
Aqui em nossa cidade o dono da cidade, que é o prefeito, viajou de férias e os políticos desapareceram, transformando, a outrora Cuiabá carnavalesca, em uma cidade triste.
É. Carnaval é uma falsa folia nutrida por uma triste realidade.

Não contando com as ações dos vândalos, que invadiram o local de apuração dos votos em São Paulo para a proclamação da escola vencedora dos desfiles do carnaval.

Agressões, feridos, carros alegóricos incendiados, foram os primeiros resultados dessa tragédia da folia. 


Gabriel Novis Neves
21-02-2012

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

CARNAVAL DOS IDOSOS


Li uma matéria oficial, com abundâncias de fotos, sobre o Baile de Carnaval para Idosos organizado pela prefeitura de Cuiabá. O evento foi realizado no ginásio do bairro Dom Aquino e reuniu os integrantes dos quatro Centros de Convivência para Idosos da capital.
Segundo a matéria, o pessoal da terceira idade - ou da melhor idade – (como os órgãos públicos costumam classificar os idosos), se divertiu muito, compareceu à caráter e dançou a tarde toda. Para os organizadores essa festa promoveu alegria e fez com que os idosos esquecessem-se dos seus problemas.
Pois bem. Quero abordar dois pontos com relação a este evento.
Primeiro: a Organização Mundial de Saúde (OMS) não adota os termos “terceira idade” ou “melhor idade” quando se refere aos idosos. Isto é uma invenção genuinamente brasileira.
De acordo com a OMS, esta etapa da vida – que começa aos 65 anos de idade – é chamada de velhice. E seus integrantes são os velhos, ou idosos.
Se analisarmos melhor aqueles termos, facilmente chegaremos à conclusão que se trata de um eufemismo. Ninguém rotula com eufemismo algo ou alguém que seja bom. Só o que é ruim merece um título delicado.
Sempre lutei contra qualquer tipo de discriminação. A expectativa de vida aumentou no planeta. Hoje é frequente encontrar profissionais liberais, empresários, políticos, escritores, artistas e jornalistas, em plena atividade produtiva após os oitenta anos.
Alguns países aumentaram a idade de aposentadoria para setenta e cinco anos, e o Brasil pensa seriamente nessa solução.
Apesar de a prefeitura ter colocado ônibus à disposição dos idosos, notava-se facilmente, pelo número de cadeiras vazias e alguns pares no salão, o fracasso da empreitada.
Os próprios organizadores do carnaval dos idosos, confessaram a sua surpresa frente à pequena adesão da turma da melhor idade.
Segundo ponto: seria até louvável por parte dos governantes a organização desses eventos para idosos, desde que, paralelamente, as leis existentes em benefício deles fossem rigorosamente cumpridas.
Mas, como os idosos são praticamente esquecidos pelas ações sociais públicas, torna-se vergonhosa essas ações demagógicas.
Ações como: assistência médica, distribuição de medicamentos, asilos ou casas de repouso, programas de lazer com fisioterapia, orientação familiar, nutricional e psicológica, não constam na cartilha do nosso idoso, embora previsto em lei.
Na verdade o idoso só tem direito à própria morte e a essas festinhas pejorativas.
A imagem que me passou dessa festa, que é o símbolo maior da alegria do brasileiro, foi a de um funeral.
Suspeito que os organizadores realizaram esse baile na melhor das intenções. Talvez na crença de que a fantasia do carnaval fizesse a turma da melhor, ou, da terceira idade, esquecer-se dos inúmeros problemas vindos com esta etapa da vida. E, o mais dramático – que se esquecesse dos direitos que lhe é devido.
Idoso é idoso, com as suas peculiaridades e limitações. Não há necessidade de rotulá-los com eufemismos – que nem eles acreditam. O que é necessário fazer é respeitá-los – dando a eles os direitos que a lei lhes concede.
Vamos rever alguns conceitos, começando com o idoso?

Gabriel Novis Neves
18-02-2012

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Lembrança


Um amigo meu esteve, neste final de ano, visitando seus familiares no interior de São Paulo, em sua cidade natal  - cujo nome não consta em mapa algum, muito menos nas estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De lá me trouxe uma pequena lembrança. Existe uma sutil diferença entre presente e lembrança.
Segundo um sociólogo, além de demonstração de afeto, o presente tem uma característica de cerimonial e até envolve um certo caráter de obrigação. É puramente cerimonial e simbólico.
Já a lembrança é algo que uma pessoa nos oferta, pensando exclusivamente em nós. A originalidade é uma das características da lembrança.
É fundamental conhecermos essa sutil diferença, para prevenção de aborrecimentos.
Na redundância, nem todo presente é lembrança, assim como uma lembrança não significa sempre presente.
Às vezes, a lembrança está mais para uma ofensa. E demonstra,  desta forma, o caráter duvidoso daquele que escolheu o objeto da lembrança.
Estava em meu consultório, que fica em um hospital muito movimentado, quando sou avisado pela recepcionista de que uma jovem, com um pacote de presente, estava à minha espera na recepção.
Terminei a consulta e pedi que entrasse.
Recebi uma caixa enorme de papelão em forma de coração, toda enfeitada com suave papel em cores delicadas e desenhos de pequeninas rosas.
Fitas com muita arte cruzavam a caixa que era arrematada por um coração, feito de delicado material vermelho, onde estava escrito: “Te amo”.
Pedi ajuda à minha enfermeira, pois não estou acostumado a receber presentes assim, especialmente com esse volume, e tão bem elaborados.
Aberta a caixa, abundante papel finíssimo importado escondia a lembrança.
Enfim, surge um pinico com sinais de uso.
Era o retrato da personalidade do meu amigo.
Essa lembrança, com certeza, é um apelo para que eu nunca me esqueça de que é naquela porcelana que ele vive sentado os momentos mais felizes da sua vida.

Gabriel Novis Neves
03-02-2012

sábado, 18 de fevereiro de 2012

BREVES NOTÍCIAS DO SAMBA


Leandro Narloch nos relata que "os primeiros sambistas, considerados hoje pioneiros da nossa cultura popular, tinham formação em música clássica, plagiavam canções estrangeiras e largaram o samba para montar bandas de jazz."
Costuma-se contar a história do nosso samba em dois momentos opostos:
"O primeiro, quando os sambistas eram perseguidos pela polícia - que reprimia manifestações culturais dos negros - e obrigados a tocar escondidos, em vielas dos morros e fundos dos quintais."
"No segundo momento - acontece o contrário, e o governo passa a incentivar o carnaval e as músicas populares."
O antropólogo Hermano Viana revelou que "o samba, em sua origem, tinha muito pouco do folclórico ou nacionalista."
"A cara que o samba tem hoje, de símbolo de “autenticidade brasileira” e de resistência da cultura negra dos morros cariocas, é uma criação mais recente, que de certa forma abafou a primeira."
Afirma Viana, em “O Mistério do Samba, que “nunca existiu um samba pronto, autêntico, depois transformado em música nacional.
"Um exemplo de que o primeiro samba não tinha nada de folclórico são os dois primeiros personagens desse estilo musical: Pixinguinha e Donga, que em 1917 registrou o primeiro samba gravado na história."
"Os dois começaram a tocar juntos na década de 1910, provavelmente na casa da baiana Hilária Batista da Silva, a tia Ciata, na Praça Onze, centro do Rio de Janeiro."
"O quintal dessa casa é apontado frequentemente como “o berço do samba,” o lugar que abrigou o nascimento mítico desse novo estilo musical."
"Nessa época “samba” significava um evento, uma festa, e não um tipo de música."
O novo estilo saiu da criatividade daquele grupo de amigos que, à noite e nos finais de semana, iam para a casa da tia Ciata.
"O samba ali produzido lembrava mais o maxixe. “Pelo telefone,” lembra mais o maxixe que a percussão das escolas de samba." Estourou no carnaval de 1917.
Em 1919, Donga e Pixinguinha criaram a banda os Oito Matutos.
Durante mais de um ano tocaram em Paris - onde Pixinguinha ganhou um saxofone -, e em Buenos Aires (1922-1923).
Os Oitos Batutas ficaram apaixonados pela música internacional, "como o músico Sinhô, que foi uma espécie de Roberto Carlos da década de 20. Sinhô tinha o apelido de “o rei do samba.”
Escreveu o poeta Manuel Bandeira sobre o sambista: “Sinhô encantou o Rio de Janeiro compondo valsas, maxixes, fox, charliston, toadas, fados, e chegou a gravar samba com orquestras. Suas marchinhas carnavalescas eram quase cópias de canções européias.”
Assim era o samba brasileiro - inspirado nas novidades européias e americanas.
Futuramente surge o samba nacionalista, onde predominava a patrulha ideológica.
Finalizo essas breves citações com um rápido, porém delicioso, debate entre Donga - o rei  do primeiro samba - e Ismael Silva, o cofundador do segundo estilo.
      - Qual o verdadeiro samba? - Pergunta Ismael
      - Ué - responde Donga - samba é isso há muito tempo: “O chefe da polícia, Pelo telefone, Mandou-me avisar, Que na Carioca, Tem uma roleta para se jogar...”
      - Isso é maxixe – contesta Ismael.
      - Então o que é samba?
      - “Se você jurar, Que me tem amor, Eu posso me regenerar, Mas se é, Para fingir, mulher, A orgia, assim não vou deixar.” – responde Ismael.
      - Isso é marcha! – brada Donga.
Maxixe, marcha, samba... não importa como eles nomeavam as suas músicas – todas tinham uma bela musicalidade e letras impecáveis.
Pensar que o grande sucesso deste carnaval é: “Ai, se eu te pego...”

Gabriel Novis Neves
17-02-2012

O lado oculto do carnaval


Pesquisei sobre as origens do Carnaval no pai dos burros - doutor Google -, no livro de Leandro Narloch e em fontes alternativas. Interessei-me pelo lado, propositalmente esquecido, das folias de Momo.
Existem pesquisadores que acham possível enterrar uma história. É fascinante a procura de uma segunda opinião, como se faz diante de um caso complexo na medicina.
Diz o Narloch que "um traço comum no carnaval de diferentes épocas e países, é o de virar as regras pelo avesso. Escravos e seus senhores, na época da festa considerada pagã, invertiam os papéis: por um dia, eram os servos que mandavam."
"As pessoas comuns faziam missas e procissões cômicas  no lugar dos padres, onde guiavam as cerimônias religiosas e personagens bizarros, como o Rei Momo.
A ordem era tirar um sarro dos costumes da época dessas festas pagãs da Roma Antiga."
Prossegue o pesquisador: na maior parte da história do Brasil, o nosso carnaval foi uma algazarra deliciosamente sem noção.
"Quem regulou essa bagunça que era o carnaval europeu, com grandes repercussões aqui no Brasil, foram dois ditadores: Hitler e Mussolini!"
"O objetivo do nazi-fascismo era transformar essa festa em motivo de orgulho nacional. Aparece então o carnaval organizado, onde só eram permitidas músicas edificantes e patrióticas. A melodia só poderia ser executada por instrumentos considerados da cultura nacional."
Se adicionarmos algumas celebridades seminuas ou nuas e muita plumagem, o cenário fica parecido com a Sapucaí.
Foi mais ou menos assim que nasceu o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro, na narrativa de Narloch.
"Seu formato atual deve-se muito aos costumes e às ideologias de 1930. Já havia desfiles em sociedades carnavalescas no começo do século XX, é verdade, mas a maioria das regras da apresentação moderna nasceu em 1937, ano em que Vargas torna-se ditador, e instituiu que todos os sambas enredos deveriam homenagear a história do Brasil."
Pedro Ernesto, na época Interventor Federal no Rio, começou a dar dinheiro para as escolas.
"A apresentação ocorria na Avenida Rio Branco, mesmo local onde os militares comemoravam com um desfile a Independência - todo dia 7 de setembro."
"Os instrumentos de sopro foram proibidos e os grupos festeiros aderiram, espontaneamente, ao carnaval organizado pelo governo."
“A Deixa Falar”, primeira escola de samba de que se tem notícia, desfilou em 1929, usando na comissão de frente cavalos da Polícia Militar do Rio de Janeiro.
"Não fosse a influência de Mussolini, o famoso desfile de carnaval brasileiro não existiria, afirmam estudiosos desse período."
E sem ele o samba que conhecemos hoje seria também muito diferente.
"O mesmo patriotismo que deu um empurrão ao desfile de carnaval provocou a folclorização do samba."

Gabriel Novis Neves
16-02-2012 

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

DANÇA DAS CADEIRAS


O carnaval está chegando. O desfile das escolas de samba na Avenida Marquês de Sapucaí e dos trios elétricos de Salvador, serão suplantados em criatividade por uma novidade.
Segundo especialistas em folias de Momo, o troféu criatividade pertencerá aos sambistas de Brasília, com a sua incrível Dança das Cadeiras.
É irresistível o ritmo alucinador e animado que embala essa dança, embora a letra da marchinha seja muito repetitiva.
O enredo conta a história de como apear do poder com dignidade, sempre com uma carta modelo de pedido de demissão.
A rainha da bateria lamenta a decisão do sambista desertor e diz que a escola perdeu muito com a saída do componente - todos, por coincidência, da ala dos compositores.
Esses gênios deixam um acervo riquíssimo de composições e os mais diferentes modelos de como desfilar com apetrechos do povo.
Jamais serão esquecidos pelos estudiosos que habitam as modernas casas de aprendizado de segurança máxima.
Como expectadores do desfile da Dança das Cadeiras, tivemos oportunidades de assistir o troca-troca de dançarinos, como a saída do Palocci e a entrada de Gleisi.
Ideli e Luiz Sérgio trocam de cadeiras, sendo que o dançarino ocupa a cadeira da dançarina e, esta, o do dançarino. É uma das modalidades da Dança das Cadeiras. Os integrantes da escola continuam desfilando, apenas em posições trocadas. Ficou mais harmonioso o conjunto, pois todo político é peixe de alguém e possui o seu.
Paulo Passos tira o lugar do Alfredo Nascimento, e toda a sua ala de índios. Nessa dança saiu gente daqui.
Nelson Jobim não dançava e falava mal dos seus colegas. Saiu por falta de disciplina, substituído pelo conhecidíssimo passista Celso Amorim, que durante oito anos desfilou no bloco Gaviões do Planalto.
Wagner Rossi, bom carnavalesco, por pressão da torcida, deixa a Dança das Cadeiras para Mendes Ribeiro Filho.
O veterano Gastão Vieira substitui, por cansaço, o velhinho dançarino e boêmio Pedro Novais, que aprontou muito nas festas que promovia.
Orlando Silva, embora jovem, não suportou o ritmo da Dança das Cadeiras e deixou o seu lugar para o premiadíssimo Aldo Rebelo.
Carlos Lupi, mesmo morrendo de amores pela presidente da escola da Dança das Cadeiras, deixou, com pesar, o seu lugar para Paulo Roberto dos Santos Pinho.
Fernando Haddad vai desfilar em São Paulo e provocou uma dupla mudança nos dançarinos. Em seu lugar ficou o Aloísio Mercadante e, no lugar deste, Marco Antonio Raupp.
Mario Negromonte vai ser homenageado no carnaval cuiabano, no luxuoso carro alegórico VLT. Para ocupar o seu lugar na Dança das Cadeiras foi chamado o Aguinaldo Ribeiro.
Tudo indica que, com a injeção de sangue novo, misturado com algumas trocas de posição na escola, a Dança das Cadeiras tem tudo e, principalmente, a simpatia popular, para acabar com a hegemonia do carnaval do Rio e Salvador.
Este ano Brasília conseguiu inovar, e as atenções do mundo estão voltadas para a cidade dos sonhos de Dom Bosco.
Ficarei em Cuiabá, assistindo pela televisão o desfile da escola das Danças das Cadeiras.

Gabriel Novis Neves
03-02-2012