Confesso
que tive dificuldade para escolher um verbo para o título deste artigo. Não
gosto do modelo Lupi na escolha de verbos para se defender.
O
verbo amar, que utilizou no Congresso para tentar impedir a sua demissão a
pedido, foi simplesmente desrespeitosa para com a presidente.
Existe
uma liturgia para quem exerce funções públicas de alto nível. Imagine um
ministro declarar à presidente da República: “Eu te amo Dilma.”
Na
mais benévola observação, essa declaração exprime uma cafajestada de quem não
está absolutamente preparado para respeitar o cargo que ocupa. Quem não
respeita a liturgia do cargo, no cargo não deve continuar.
Li
na revista “Veja” uma entrevista do atual ministro da Saúde, causa da minha
dificuldade para o título do artigo.
Entre
os atos de enganar, ocultar, esconder a verdade, mentir, escolhi o suave
iludir. Ao responder uma pergunta do jornalista Otávio Cabral, o ministro não foi
sincero. Utilizou-se de artifícios para esconder a verdade que dói. Respondeu
ao repórter que o ex-presidente não escolheu um hospital do SUS para tratar o
seu câncer, pois há mais de trinta anos paga um plano de saúde particular e
nada mais correto que o utilizasse agora.
“Veja”
lembrou ao ministro que existe uma corrente na internet dizendo que seria bom
se o antigo metalúrgico experimentasse na própria pele o que o povo brasileiro
sente quando procura a rede pública de saúde, que ele classificou como
excelente, chegando a recomendar ao Obama que implantasse o nosso modelo nos
Estados Unidos da América do Norte.
Para
concluir, perguntou ao ministro da Saúde se o SUS é tão ruim assim. Respondeu o
professor que o SUS está preparado para tratar de câncer. Os medicamentos que o
ex-presidente está recebendo no Sírio Libanês são os mesmos fornecidos pelo
SUS.
Ah!
Dá licença, assim é abusar da nossa paciência! O ministro precisa conhecer o
SUS e como funciona a sua Farmácia de Alto Custo. E saber, também, que o plano
de saúde que o Sírio Libanês aceita, é aquele que o ex-presidente conquistou em
oito anos de mandato.
Vagas
hospitalares e profissionais de oncologia para o SUS faltam em todo o Brasil.
No próprio Estado de São Paulo, em centro de excelência como Barretos, e outras
cidades, inclusive na capital, em 24 horas é impossível marcar uma consulta
oncológica, encontrar vaga em UTI, fazer biópsia, obter o resultado e no outro
dia iniciar a quimioterapia.
O
ilusionista ministro contraria as pesquisas que mostram que o brasileiro
considera a saúde o pior serviço prestado pelo governo. Para quem tem o plano
de saúde do Planalto, falta apenas obsessão pela qualidade.
Qualidade
requer investimentos, e o ministro foi mais realista que a presidente, quando
afirmou que sem financiamento público não haverá qualidade.
Acho
que o presidente agiu acertadamente procurando o melhor, pois conhece muito bem
o funcionamento do SUS.
Sei
como funciona o SUS, e, principalmente, o setor oncológico - como médico e
vítima dessa doença em pessoa da minha família, tratada com recursos próprios
nos melhores hospitais do Brasil.
Até
medicamentos utilizados em todo o mundo, a ANVISA proibia o seu uso no Brasil,
para que os pobres não tivessem acesso.
Com
o plano de saúde do planalto, tudo é possível.
Ministro,
o povo brasileiro não suporta tanto sofrimento com a pílula dourada que o
senhor nos quer jogar goela abaixo.
Saia
de Brasília, anonimamente, e visite os hospitais de Câncer que atendem o SUS.
O
resto é ilusão.
Gabriel
Novis Neves
14-11-2011
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