Era
um dia de carnaval. Saí de carro para um trabalho profissional e no percurso
liguei o rádio para escutar as últimas notícias. O apresentador - e âncora do
programa – narra os fatos jornalísticos da cidade de São Paulo, com
correspondentes nas principais cidades brasileiras.
Carro
e notícia iam rodando. O carro ia lentamente pelas ruas esburacadas da cidade,
mas as notícias chegavam com rapidez aos meus ouvidos.
Com
esforço conseguia desviar-me dos buracos, porém, das notícias, não. E nem
queria, pois não estava acreditando no que ouvia.
Chego
ao meu destino com uma dúvida: carnaval é equivalente à folia, alegria,
brincadeira, “tiração” de sarro, ou a uma imensa tragédia?
Explico.
No decorrer do programa, a notícia mais branda que escutei foi a de uma queda
de barreira em estrada recém-inaugurada.
O
restante das notícias se resumiu em: assassinatos, suicídios, estupros,
assaltos, roubos, enchentes, incêndios, desmoronamentos de prédios com vítimas
e violência de toda ordem contra crianças, mulheres e velhos.
Não
escutei “nadica” de nada sobre o carnaval – só desgraça. Talvez para não fugir
do nosso cotidiano.
No
carnaval os jogadores de futebol e as modelos são as atrações máximas das
Folias Momescas. Os locutores fazem das tripas coração para convencer os
ausentes da festa do que estavam perdendo. Às vezes uns derrapavam, quando, por
exemplo, comentavam que o público de Salvador era bem inferior ao do ano
passado por causa da greve dos policiais.
No
Sambódromo, parece que a receita do Joãozinho Trinta partiu com ele.
Ninguém
aguenta a exibição prolongada das escolas industriais feitas para turistas. Os
desfiles estão chatos e, se não fossem os camarotes com as suas atrações
próprias e comida e bebida da melhor qualidade possível, o sambódromo estaria
vazio na segunda escola.
Talvez
algum torcedor fanático da arquibancada, com o seu caseiro sanduíche amassado
de mortadela, conseguiria a façanha de uma noite inteira de desfile.
Crianças
abandonadas e aumento do consumo de álcool e drogas nos transmitem mais uma
situação de tragédia que de uma alegria programada pelo calendário.
Como
a mediocridade impera nesses dias! Em Salvador, uma cantora se autoproclama
presidente da Bahia e nomeia o “camisa 11” do Santos como o seu ministro.
O
camarote Vip abriga o Fenômeno e a Luiza do Canadá, em papo considerado
interessante pelo ex-jogador.
O
desfile das escolas de São Paulo foi esvaziado pela ausência, por motivo justo,
do futuro presidente do Banco Mundial.
Carnaval
é um evento cultural, e não político ou comercial.
Quando
a ausência da ministra da Cultura é sentida nessas manifestações, algo de
errado está ocorrendo. Ou a ministra já foi avisada que perderá o seu lugar, ou
o ministério da Cultura está sem dinheiro para lhe pagar diárias em seus
deslocamentos.
Aqui
em nossa cidade o dono da cidade, que é o prefeito, viajou de férias e os
políticos desapareceram, transformando, a outrora Cuiabá carnavalesca, em uma
cidade triste.
É.
Carnaval é uma falsa folia nutrida por uma triste realidade.
Não contando com as ações dos vândalos, que invadiram o local de apuração dos votos em São Paulo para a proclamação da escola vencedora dos desfiles do carnaval.
Agressões, feridos, carros alegóricos incendiados, foram os primeiros resultados dessa tragédia da folia.
Não contando com as ações dos vândalos, que invadiram o local de apuração dos votos em São Paulo para a proclamação da escola vencedora dos desfiles do carnaval.
Agressões, feridos, carros alegóricos incendiados, foram os primeiros resultados dessa tragédia da folia.
Gabriel Novis Neves
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.